A Concepção do Setup: Madeiras

2016-04-11 - FB

Olá pessoal, tudo bem?

Meu nome é Éric Paulussi e fui convidado pela SANTO ANGELO para complementar as matérias técnicas sobre instrumentos musicais (principalmente, a guitarra) junto com o Kleber K. Shima. Espero que gostem da minha abordagem e me garantam outros convites da marca para escrever novamente. Portanto, comentem se não gostarem e compartilhem com os amigos se acharem úteis essas informações, OK?

Hoje, abordo o início de tudo: a madeira, como o ingrediente básico das guitarras. Dessa forma, pretendo ajudá-lo a encontrar a guitarra perfeita, entendendo a sonoridade dos vários tipos de madeira atualmente disponíveis pelos fabricantes nacionais e internacionais. E quem quiser saber mais, é só ler esse post ou esse outro já publicados aqui no blog.

Com certeza não é uma tarefa fácil escolher a guitarra que mais se adequará ao nosso timbre desejado (ou uma que desenvolva o seu som, caso esteja começando), tendo em vista que o mundo da guitarra tem variantes extremamente extensas e repletas de possibilidades. Assim, entender as características de cada madeira ajudará, em muito, nesse processo de seleção e escolha.

Antes de tudo é imprescindível estabelecer que o resultado final do som em questão é nada mais, nada menos do que uma somatória de fatores: amplificador, pedais, fontes, cabos, madeiras, construção, captadores, etc.

Mas para começar, é possível sim traçar um mapa de sonoridades que nos guiarão ao longo dessa jornada. O dinâmico mercado atual de guitarras provou que o músico está cada vez mais informado e exigente em relação ao seu instrumento e equipamentos. Por isso, percebe-se cada dia mais o crescimento das marcas “Custom Shop” dentro e fora do país, um assunto interessantíssimo a ser abordado nas próximas matérias.

A informação muito mais acessível permite que possamos averiguar com propriedade tudo o que é colocado a nossa disposição. Para começarmos, logo abaixo, segue um resumo dos tipos de madeira mais utilizados (alguns nem tão conhecidos), mas com uma aplicação interessantíssima.

Mogno (Mahogany)

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Possibilita um som “encorpado”, pois prioriza as frequências graves e médias. De cor castanho avermelhada, usada em violões devido sua ressonância e as características de frequências que destaca. Muito utilizada nas guitarras das marcas: Gibson, PRS, Music Maker e Suhr entre outras. Essa característica permite a criação de um instrumento versátil e bem característico, geralmente determinado pela interação com outras madeiras que equilibram o som (como já citamos nesse post). Temos um exemplo marcante disso em guitarras “Super Strato” que geralmente unem o Mogno ao tampo e braço de Maple.

Entre quem gosta dessa madeira, podemos citar grande guitarristas como Gary Moore, Guthrie Govan, Andre Nieri, Tom Quayle, entre tantos outros que utilizando o mogno combinado a outras madeiras, proporcionam-nos ouvir resultados sensacionais de timbre.

Alder

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Madeira dura, com som bem equilibrado e boa sustentação. É utilizada principalmente no corpo das guitarras Stratocaster, Telecaster e em algumas Super Stratos. Devido a esse equilíbrio, nota-se maior utilização desse tipo de madeira no corpo de guitarras com concepção de “One Piece Body” (corpo de uma peça só), como podemos encontrar na Fender, Suhr, Tom Anderson, Music Maker entre outras marcas.

É comumente vista nas mãos de gênios da guitarra como Steve Ray Vaughan, Scott Henderson, Jeff Beck e Eric Clapton. Também é possível encontrar incríveis modelos dessa madeira interagindo com tampos em Maple.

Basswood

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Madeira de sonoridade extremamente equilibrada, utilizada no corpo das guitarras em grandes marcas como Fender, Music Man, Suhr, Music Maker, Ibanez e Schecter. Caracteriza-se por apresentar um equilíbrio de frequências tão grande a ponto de alguns a considerarem o tipo mais neutro de madeira usada nos corpos de modelos Stratocaster, Axis, Silhouette, e até nas Signatures de grandes artistas como John Petrucci.

Ash

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A madeira Ash é dura, densa e porosa, possuindo um som estridente com agudos bem evidenciados. Marcante principalmente nas guitarras modelo Telecaster, pode ser encontrada em algumas Stratos também. É possível ter boa referência desse tipo de madeira nas mãos de artistas de Country como Brent Mason e Andy Wood e um dos gigantes do Blues: Buddy Guy.

Em todos esses casos é possível notar a evidencia dos timbres mais abertos dos estilos citados acima. No entanto existe uma característica em questão a ser ressaltada: como naturalmente a madeira carrega um timbre mais agudo, é indicado que, na questão da construção, o corpo seja escavado, gerando um corte dessas frequências mais “ardidas”. Outra possibilidade é também é uso de um potenciômetro de 250k ao invés do padrão 500k (já tratado nesse blog com o tema “pots” nesse post aqui).

Maple

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Madeira extremamente resistente e estável, por esse motivo, muito utilizada como braço para os instrumentos.

Essa madeira de cor clara se consagrou com grandes marcas como Fender e Ibanez que ao longo dos anos utilizaram em seus modelos.

Outra aplicação para essa madeira é o seu uso como tampo de instrumentos em mogno (ou outras madeiras). Devido a essa interação, temos a criação de um equilíbrio entre as frequências, como nas Music Maker Custom Pro, Gibson Standard ou Custom, Suhr Modern e grande maioria das PRS, já que no exemplo do Mogno temos a “abertura” de um timbre originalmente mais fechado nesse “casamento” com o tampo.

Além é claro da beleza das madeiras que podemos encontrar em tipos de Maple como Quilted, Burl, Flammed, Spalted, Curly, Bird’s Eye (esse último tipo imortalizado nos braços das guitarras do gênio Eddie Van Halen tanto nas Music Man Axis, como Peavey Wolfgang e EVH Wolfgang).

Algo importante a ser ressaltado é que a variação de timbres entre várias espécies de Maples é mínima, o que difere realmente um do outro é sua estética, idade e corte da madeira. Quando utilizada também na escala, confere a guitarra uma sonoridade mais aberta e aguda.

­ Ébano (Ebony)

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Madeira densa e escura, utilizada nas escalas dos instrumentos Gibson, Fender e ESP devido à sua estabilidade e beleza, por ser uma escala escura, caracterizando o instrumento em questão de forma a “aveludar” o seu timbre, ofuscando agudos mais estridentes de madeiras como Maple, por exemplo.

­ Rosewood

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É uma madeira escura e densa. Sua sonoridade apresenta excelente resposta de frequências, contendo graves cheios e médios equilibrados. Tem cor escura (em tom mais claro que o Ébano), avermelhada e com tons de marrom e preto, com uma sonoridade bem próxima ao do Ébano. Excelente estabilidade.

­ Cedro

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Madeira brasileira de sonoridade encorpada e equilibrada, porém com peso menor que o mogno. Tem timbre marcante e estética muito bonita, sendo utilizada comumente em corpos a tampos. Facilmente encontrada em modelos nacionais de guitarra.

Anotou tudo?

Agora que conhecemos as características de cada madeira, o próximo passo e traçar um plano de pesquisa, entendendo quais as sonoridades mais te agradam. Isso pode ser feito pesquisando um pouco da história dos nossos ídolos e referências, qual setup utilizavam, desde os maiores equipamentos ate os menores e de que maneira tudo era ligado.

Os cabos, sem dúvida, fazem toda diferença e é por isso que uso e não abro mão dos meus cabos SANTO ANGELO, uma marca que preza pelo respeito ao músico e tem em cada linha de seus produtos, cabos que não perdem sinal e empurram o timbre do seu instrumento, devido aos materiais empregados na sua manufatura.

Essa pesquisa pelo som perfeito não é rápida nem fácil, no entanto, permite que criemos nossos conceitos e possamos entender tudo o que nos agrada em cada aspecto. E esse início, ao meu ver, precisa ser nas madeiras.

No próximo post vamos conhecer um pouco mais das marcas Custom Shop ao redor do mundo, seus conceitos e formas de trabalhar com o instrumento nesse mercado que cresce e se consolida a cada dia mais.

A gente se vê em breve.

Éric Paulussi é guitarrista profissional há 10 anos. Atua também como sideman e professor de Setup de instrumento nas licenciadas do EM&T do interior de São Paulo. Endorsee de marcas nacionais e internacionais, Éric desenvolve workshops passando conhecimentos sobre assuntos envolvendo guitarra e tecnologia.




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