Luthier: a arte de criar instrumentos musicais

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Temos postado, aqui no blog, várias matérias sobre como alguém pode viver da Música, sem necessariamente tocar em uma grande banda como Rockstar.

Não que isso seja impossível de acontecer porque o Brasil já tem um guitarrista que chegou em uma das grandes bandas mundiais, mas convenhamos: que tal colocar os pés no chão e encarar o que é possível de acontecer com qualquer um?

E se uma dessas possibilidades fosse trabalhar como luthier?

Calma, não precisa responder agora. Continue lendo e depois comente o que achou.

A palavra luthier é de origem francesa e significava “fabricante de alaúde”. Nós já falamos desse instrumento em um e-book sobre a História do Violão e num post sobre Fingerstyle que você pode relembrar clicando aqui.

Com o passar do tempo, a palavra “luthier” ganhou novos significados e hoje é relacionada aos profissionais que constroem, além dos instrumentos musicais de cordas, também os de sopro e percussão.

Um bom luthier domina uma técnica que foi passada de geração em geração, mas que não ficou estagnada tornando-se cada vez mais relevante e aprimorada na medida que novos instrumentos e sonoridades foram se desenvolvendo.

Antigamente, o ofício de Luthieria só era ensinado nas industrias do ramo, mas hoje além das poucas fábricas que sobraram fabricando violões e guitarras em larga escala, existem vários cursos independentes que ensinam essa arte para leigos.

Uma delas é a B&H Escola de Luthieria fundada pelos luthieres Marcio Benedetti e Henry Ho em 1998 na cidade de São Paulo/SP.

Outras escolas ou cursos podem ser encontradas nos fóruns de discussão online, como os do Cifra Club.

Existem até vários vídeos no Youtube mostrando as várias técnicas conhecidas para aqueles que conseguem aprender autodidaticamente, como verão mais adiante na entrevista com Renato Moikano.

Independentemente de onde ou como resolver estudar, uma das características fundamentais da profissão, sem dúvida, é o perfil generalista, o domínio de conhecimentos variados para atingir a perfeição no som e a busca constante pela satisfação dos músicos.

Além da sensibilidade musical, conhecimento em matérias primas, marcenaria, pintura, matemática, pintura e eletrônica, os luthiers (ou luthieres em Espanhol) são verdadeiros apaixonados por Música.

Infelizmente, muitos músicos ainda acreditam que instrumentos produzidos por grandes marcas são superiores ao trabalho minucioso e dedicado daquele pequeno luthier do bairro ou de uma cidade brasileira.

OK, tem muito aventureiro nessa profissão, mas nem todos luthiers são maus profissionais.

Por isso, convidamos Renato Moikano que é jornalista, luthier e proprietário da Major Tone Guitars para nos contar sobre a profissão.

Nossa ideia é apresenta-lhe o universo rico da profissão daquele que se dedica diariamente a viver da Música por meio da criação e desenvolvimento de instrumentos musicais.

Vamos nessa?

SANTO ANGELO: Quem é o Renato Moikano?

RENATO MOIKANO: Sou jornalista e luthier. Antes de me dedicar em tempo integral à construção, regulagem, reparos e customizações de instrumentos musicais, trabalhei quase 15 anos como jornalista, principalmente na área de cultura.

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Hoje sou proprietário da Major Tone Guitars, que atua principalmente na construção e manutenção de guitarras, baixos e violões na cidade de São Paulo/ SP. Um dos nossos principais focos no momento é a construção de cigarbox guitars, as guitarras feitas com caixas de charuto que podem ter 3, 4 ou 6 cordas.

Quem desejar conhecer mais de perto o meu trabalho é só me procurar nas redes sociais, Facebook, Instagram, ou no site, acesse aqui 

SA: Como e quando decidiu seguir a carreira de luthier?

RM: O primeiro impulso da luthieria veio um dia depois de comprar minha primeira guitarra. Era uma Jennifer tão ruim que eu precisei aprender truques para melhorá-la literalmente um dia depois de comprar.

Ainda a tenho no meu acervo. A partir daí, o interesse pela anatomia da guitarra foi evoluindo à medida que eu ampliava minha coleção de guitarras e violões.

Assim, desse hobby fui evoluindo até que em 2012 comecei a me dedicar profissionalmente na construção de instrumentos musicais.

SA: Na sua opinião, o mercado de luthieria é muito restrito ou está em expansão?

RM: Se nos compararmos com o mercado americano concluiremos que estamos estagnados. Evidentemente, com a economia brasileira sofrendo uma retração sem precedentes, todos os negócios são afetados. Principalmente na parte do ferramental da oficina, já que, além de componentes e ferragens, também dependemos muito de ferramentas importadas.

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Mas mesmo sem se considerar uma crise, nos EUA há um nicho bem consolidado para os instrumentos custom shop reconhecido pelos músicos de lá.

Dessa forma, o instrumento construído por um luthier carrega uma grife de qualidade que se reflete de forma mais efetiva no custo final.

Aqui ainda é difícil convencer os consumidores de que o instrumento totalmente customizado tende a ser tão bom ou melhor do que uma guitarra ou baixo de linha de produção de uma fábrica.

É uma tarefa demorada e trabalhosa desconstruir a impressão de que carregar um nome consagrado no headstock é garantia de um instrumento impecável.

SA: Quais são os maiores desafios da profissão?

RM: No Brasil, acredito que seja o que citei anteriormente: difundir a ideia de que o instrumento construído pelo luthier é uma grife também.

Outro desafio é ousar mais no design original de instrumentos, sobretudo guitarras.

Ainda estamos muito presos a modelos já consagrados: Les Paul, Telecaster, Stratocaster… Para os luthiers especializados na construção de baixos, essa questão já está mais desenvolvida. É mais comum encontrarmos baixos com design original do que guitarras.

SA: Quais são as competências técnicas e comportamentais essenciais para se destacar na área?

RM: Todo conhecimento pode ajudar na hora de desenvolver um instrumento. Mas conhecimentos na área de matemática, geometria e física são imprescindíveis para compreender o funcionamento completo de um instrumento de corda, que é a minha especialidade.

Quanto ao comportamento, é preciso lembrar sempre que ao trabalhar com construção ou manutenção de instrumentos, estamos lidando com paixões.

Tanto nossas quanto dos clientes. Parece uma coisa simples, mas que acaba se tornando muito complicada porque estamos tratando com seres humanos especiais: os músicos.

Não existe luthier que não seja apaixonado por música. Nem cliente.

Gosto de me lembrar constantemente disso para que, ao atender meu cliente, essa afinidade esteja clara. Quero que ele saiba que o instrumento dele vai ser tratado com a mesma paixão que ele nutre. Seja na construção ou no reparo.

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SA: Existe algum tipo de kit básico que todo luthier deve ter?

RM: Existe uma série de ferramentas de precisão que auxiliam muito no trabalho, especialmente na regulagem.

Mas o principal é trabalhar com ferramentas de qualidade. Por exemplo, serrotes, formões, raspilhas: se de boa qualidade e bem afiados facilitam demais o trabalho e evitam erros.

Uma questão importante para quem se interessa em enveredar por essa profissão é saber realizar cada uma das etapas da construção manualmente.

É evidente que máquinas facilitam o processo, mas o trabalho manual ajuda o profissional a dominar melhor o material que ele está trabalhando.

A madeira, por exemplo, é uma matéria prima viva que segue reagindo ao ambiente à medida que é cortada, lixada.

E para quem acha que é impossível fazer tudo sem ferramentas elétricas, Antônio Stradivari,(Antonio Giacomo Stradivari, famoso construtor italiano de violinos, nasceu e viveu em Cremona/Itália entre 1644 e 1737) talvez um dos mais notórios luthiers da história, construiu totalmente à mão os violinos mais valiosos do mundo entre os séculos 17 e 18.

SA: Qual mensagem você deixa para quem almeja seguir na carreira de luthier?

RM: O estudo deve ser um norte permanente. Novas técnicas, ferramentas, sempre estarão surgindo. Por isso, é preciso estar sempre aprimorando o conhecimento teórico e prático, atento às novidades e treinando constantemente.

É o estudo aliado à prática que vão manter o profissional em desenvolvimento, dominando as ferramentas e processos de construção.

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Obrigada Renato Moikano por dividir conosco sua trajetória profissional. Desejamos ainda mais sucesso e reconhecimento do seu trabalho e marca pelos músicos brasileiros.

Animado com a carreira de sucesso do nosso entrevistado? Fique tranquilo que o Renato Moikano vai escrever 2 posts logo mais falando sobre regulagens. Fique ligado!

Dúvidas? Comentar aqui no blog e nas redes sociais da SANTO ANGELO.

Abraços e até a próxima!

Lygia Teles, é Relações Públicas e pós-graduanda em Gestão de Marketing pelo SENAC-SP. Desde janeiro/16 integra a equipe de Marketing e Comunicação da SANTO ANGELO.




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