MEU TESTEMUNHO SOBRE O MECENATO

Por Roberto Torao

Roberto Torao

O Patreon nasceu em maio de 2013 nos USA, fundado pelo youtuber Jack Conte que estava insatisfeito com a política de monetização do Youtube. Para quem não sabe, o sistema de pagamento dessa rede social é baseado em visualizações e não por conteúdo, ou seja, se uma menina, que fez um vídeo queimando os cabelos, tiver milhões de visualizações, pode ganhar mais do que um autor, como eu ou você, que somos especialistas em algum assunto, com know-how e expertise e que gastou muitas horas pra produzir um vídeo com conteúdo de qualidade de imagem e áudio.

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O leigo acredita que os técnicos que geram conteúdo no YouTube (os Youtubers como são mais conhecidos) sobre guitarra e homestudio no Brasil ganham milhões de reais fazendo vídeo, mas a verdade é bem diferente. Quem ganha é a empresa Google, proprietária da rede social Youtube e seus anunciantes, que pagam milhares e até milhões de dólares por terem suas propagandas impregnadas nos nossos vídeos.

Para o criador do conteúdo, dependendo de sua importância, a remuneração varia em torno de 1 a 7 centavos de dólares para cada 2.000 a 3.000 views por vídeo e mesmo assim, só receberá essa “fortuna” se alguém clicar na propaganda. Se tiver algum “blocker” instalado no navegador, o criador nada recebe sobre a respectiva visualização, independente do internauta clicar ou não na propaganda.

No ramo da música / homestudio / guitarra, podemos considerar a média de um bom vídeo de um vídeo de um determinado canal, alcança 2.000 views, enquanto que um canal de bobagem / comédia / animais fofinhos / erotismo, as visualizações podem chegar a centenas de milhares de views e até milhões. Estes sim, realmente pode-se dizer que ganham grana na plataforma do Youtube. Em outras palavras, seu vídeo precisa ser “viral” para monetizar bem e dar algum retorno para seu criador ou autor!

O site Patreon veio para tentar deixar as remunerações mais justas, mas mesmo assim somos gravados por taxas de manutenções do site, operadoras de cartão de crédito ou o sistema Paypal e até por calotes de alguns usuários. No entanto, vale a pena criar conteúdo no Patreon porque é um crowdfunding (fundo coletivo) diferente. Ao invés de juntar uma grana para um projeto especifico, ele pega uma plataforma já existente como Youtube, e cria uma campanha mensal ou por conteúdo novo. Em seguida, o assinante ou patrono pode até estipular um teto para não pagar mais do que seu orçamento mensal ou até cancelar quando achar necessário.

No Brasil ainda estamos engatinhando neste sistema de mecenato, pois existe uma cultura anti-monetização dos artistas brasileiros, principalmente os músicos, porque a cultura estabelecida diz que tudo deve ser fácil e de graça.

Todos já se acostumaram em não investir mais em músicos nacionais, mas basta vir uma banda “gringa” e aqueles que exigiam informações gratuitas dos autores nacionais, dispõe-se a pagar com maior prazer de R$300,00 a R$600,00 por um ingresso, sem contar com estacionamento e ainda eventuais viagens com passagem e hotel quando o show for em outras cidades.  Mas pagar R$ 2.20 para assistir um conteúdo de valor, isso nunca.

Em países mais avançados, o crowdfunding é uma realidade e os fãs apóiam os artistas independentes que gostam. Se não gostam, simplesmente ficam indiferentes e não contribuem. Em países de menores oportunidades, alem de não doar, as pessoas fazem questão de azucrinar a vida dos criadores de conteúdo, alardeando que isso é um absurdo, onde já se viu, e outras justificativas sem sentido. A questão não é ter grana ou achar caro, pois o valor é simbólico R$ 2.20 (ou US$1.00 mensal).  Realmente não se quer pagar nada e ao invés de não efetuar qualquer doação, partem para agressão pura e simples dos autores.

A maioria dos mais jovens acha que vai tocar guitarra e, logo em seguida, conseguirão apoio de empresas que patrocinarão instrumentos, acessórios e equipamentos musicais, receberão salários altíssimos, terão produtores financiando suas gravações, gravadoras pagando as despesas prensagem, filmagens e de shows e outros devaneios típicos dos adolescentes. Bom, sabemos que a Realidade é bem diferente e mais cruel, mas os fãs são os maiores parceiros dos artistas. Sem eles não há Música, porque o mercado já deu o que tinha que dar, faliu e está abaixo do fundo do poço.

Eu pago o preço pelo pioneirismo de estar no Patreon, que começou no Projeto DOZE e onde mostro os novos caminhos de renda para os músicos. No entanto, acho que tudo é uma questão de tempo para que eu deixe de ser o foco de ofensas de algumas pessoas e, com a participação de outros músicos e profissionais da área, o crowdfunding seja considerado como a forma mais justa real de remunerar tanto o tempo do autor como os custos das produções.

Roberto Torao

Depois de 3 meses postando material de valor no site, acredito que o Patreon é uma forma certa para os fãs apoiarem seus ídolos. Claro que nada é 100% perfeito ou eterno, e sempre existe o que melhorar, mas, felizmente, está dando super certo para o meu caso onde todas as doações são revertidas para aprimoramento do meu canal no Youtube, seja para comprar cordas de guitarra, seja para plugin’s que uso nas edição de áudio ou vídeo. E a vantagem adicional é que me aproxima mais dos fãs leais ao meu trabalho e que alguns sequer conhecia, antes de iniciar o meu Patreon.

Acho que falei demais, mas, por favor, peço também que apoiem o Rodrigo Itaboray, Gustavo Guerra, o Ozielzinho ou algum outro artista que vocês curtam, pois, o caminho está aberto para o mecenato de qualidade.

 

Nota SANTO ANGELO

Mecenato é um termo que indica o incentivo e patrocínio de artistas e literatos, e mais amplamente, de atividades artísticas e culturais. O termo deriva do nome de Caio Mecenas (68–8 a.C.), um influente conselheiro do imperador Augusto que formou um círculo de intelectuais e poetas, sustentando sua produção artística

Um comentário em “MEU TESTEMUNHO SOBRE O MECENATO

  • 15 de maio de 2014 em 10:32 AM
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    Excelente matéria, não sabia que existia esse serviço e achei o incentivo extremamente interessante para nós músicos continuarmos produzindo material de valor. Parabéns pelo artigo.

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