Molas que não “amolam” a nossa paciência musical

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por Dr. Alexandre Berni

Para quem acompanha os vídeos do canal SANTO ANGELO no YouTube, sabe que vez ou outra sempre aparece uma pergunta ou dúvida sobre pontes flutuantes de guitarra. Eu já escrevi sobre isso nas paginas 23 a 27 do ebook gratuito “A Saúde da Guitarra”, mas no post de hoje abordaremos outro assunto de fundamental importância, mas pouco comentado para o bom funcionamento das pontes flutuantes: as molas.

Porem, antes de seguir falando sobre a função das molas, vamos recordar, para quem ainda não baixou o ebook, quais são os tipos de pontes mais comuns para guitarras. Elas são diferentes em diversos aspectos e podemos separá-las em pontes fixas e móveis. As pontes fixas são utilizadas tanto em guitarras e contrabaixos, mas as pontes móveis só em guitarras.

Alguns modelos mais conhecidos:

Ponte Fixa

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A ponte fixa também chamada de Hardtail é muito comum nas guitarras modelos Stratocaster e Telecaster e nos contra-baixos. Caracterizam-se por manter a afinação por mais tempo, sendo essa a sua principal vantagem. No entanto, como o nome já sugere, a ponte fixa não permite ação de qualquer movimento que altere a tonalidade das cordas e, portanto, não contém molas na sua estrutura. A regulagem é feita pelos parafusos dos saddles (carrinhos).

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Outro modelo de ponte fixa é a “Tune-o-Matic” que se divide em duas partes, sendo uma delas responsável apenas pela fixação das cordas. Os modelos mais comuns de guitarras que utilizam este tipo de ponte são as Les Paul. A regulagem é feita por parafusos nas duas laterais, que impossibilita as cordas serem reguladas individualmente. Também não utilizam molas.

Ponte Móvel – “Flutuante”

O dois modelos mais conhecidos das pontes móveis são os Trêmulos ou Vibratos e o Tremulo tipo Floyd Rose.

Trêmulo/Vibrato

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Este tipo de ponte é a mais comum nas guitarras modelo Stratocaster. Sua regulagem é realizada pelos parafusos dos saddles. Contém molas que são responsáveis pela “flutuação” da ponte.

Tremulo Tipo Floyd Rose

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Este modelo de ponte é muito conhecido e amplamente utilizado. Eu mesmo já conversei com o presidente da empresa deles na NAMM 2013 e quem quiser ler mais é só clicar aqui. A característica principal deste tipo de ponte é permitir alavancar para frente e para trás. Elas possuem ajustes dos carrinhos para oitavas e um grande diferencial é a micro afinação, que nada mais é que um ajuste fino para a afinação do instrumento musical. Existem vários modelos licenciados dessa patente entre os mais diversos fabricantes. É bom lembrar que o nome Floyd Rose advém de seu criador e primeiro fabricante. Ao passar dos anos os fabricantes passaram a obter a licença para uso ou até mesmo desenvolver modelos próprios baseados na mesma ideia.

Uma das principais vantagens do sistema Floyd Rose é sem dúvida o duplo bloqueio das cordas, o que permite que a guitarra se mantenha afinada por mais tempo e até mesmo em situações de uso “extremo” da alavanca. Este bloqueio ocorre graças à trava Lock Nut (Nut = Capotraste ou pestana) que prende as cordas através de parafusos e retira a tensão das tarraxas. Este modelo de ponte também permite a regulagem de altura das cordas e ajuste das oitavas individualmente em cada saddle. A microafinação é realizada através de pequenos parafusos localizados na parte traseira da ponte.

Agora que vocês já estão bem informados vamos ao que interessa: como lidar com as molas. Respondam: qual a função delas?

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A figura acima demonstra claramente a diferença entre as guitarras com pontes fixas e com trêmulos. Trata-se de pura Física, uma vez que o equilíbrio da ponte, por ser flutuante, se dá através de “tensões” opostas, ou seja, a tração exercida pelas cordas na ponte deve ser anulada pela tração que as molas exercem de forma contrária também na ponte.

Lembrando dos tempos do 2º grau escolar, uma mola é um objeto elástico flexível usado para armazenar a energia mecânica e geralmente feitas de aço endurecido. Também sabemos que todo corpo sofre deformações ao ser submetido a qualquer tipo de força. Entre outros tipos de deformações, temos a deformação elástica. Assim, a deformação elástica é a capacidade que toda mola tem de, após a deformação, retornar ao seu estado inicial de repouso ou equilíbrio. Com base nesses princípios, o equilíbrio entre cordas e molas se mantém e, portanto, a guitarra não desafina facilmente.

É evidente que para manter o equilíbrio entre molas e cordas, os demais materiais que compõe a guitarra devem ser de boa qualidade, assim como tarraxas, ponte, nuts e “string retainers”.  Atingir este equilíbrio entre cordas e molas, proporcionando o paralelismo entre a ponte e o corpo da guitarra faz parte da regulagem adequada do instrumento musical.

Na figura abaixo você observará duas situações de desequilíbrio:

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Com o que você já sabe sobre o comportamento físico das molas, qual seria a solução correta para regular uma guitarra e atingir o equilíbrio da posição I, seja de trêmulos normais ou tipo Floyd Rose? Vejamos as opções:

Opção 1: Colocar várias molas com desenhos e materiais diferentes até atingir o equilíbrio?

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Como sabemos que molas iguais e de boa qualidade apresentam deformações iguais, sempre retornando juntas à sua posição inicial, se colocarmos molas com materiais diferentes este mecanismo não funcionará corretamente. Alternativa falsa.

Opção 2: Colocar mais molas melhor do mesmo material e desenho?

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Quanto mais molas colocar, mesmo sendo iguais em material e desenho, a função de alavancadas ficará mais “dura” e difícil. Geralmente conseguimos este equilíbrio com três molas em uma guitarra bem regulada.

Opção 3: Desistir de regular a ponte móvel, vender a guitarra e comprar uma outra com ponte fixa?

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Claro que não e é por isso que você acompanha as minhas dicas. Para garantir que minha ponte retorne na posição original em uma alavancada, uma das alternativas de menor custo para tentar limitar o movimento da ponte é colocar um pedaço de madeira cortado na medida do espaço que fica entre o bloco da ponte e o corpo da guitarra, seja anterior ou posterior a este bloco. Muitas vezes precisamos colocar dos dois lados como na figura abaixo.

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Existem alternativas comerciais e de custo alto para estabilizarmos pontes tipo trêmulo, algumas de construção simples e outras mais complexas, como nas figuras abaixo:

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Mais sempre existe espaço para novas soluções, porque a criatividade dos construtores de guitarras e dos músicos é formidável, como demonstrado na figura abaixo. Acredito ser este um dos estabilizadores de menor custo, excetuando os “tocos” de madeiras. Ele consiste em usar um parafuso (ou barra roscada) cortado e um berço de trinco de porta facilmente encontrado em qualquer loja de materiais para construção.

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Se quiser, pode usar o próprio trinco de porta, para estabilizar a ponte como nessa outra foto.

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Algumas marcas e modelos de guitarras já saem de fábrica com um sistema mais complexo de molas deixando claramente como este mecanismo é importante para o instrumento. Veja um exemplo:

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Enfim, comprovamos que as molas são muito importantes para o bom funcionamento das pontes móveis e por extensão, para os modelos de guitarras que as adotem. Se forem de boa qualidade e adequadamente reguladas, certamente sua guitarra funcionará muito bem. Agora, mãos a obra e tente fazer a regulagem se perceber que as molas estão desestabilizando seu instrumento musical, usando um dos truques acima demonstrados.

Um grande abraço e até a próxima.




3 comentários em “Molas que não “amolam” a nossa paciência musical

  • 20 de março de 2016 em 10:29 PM
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    MUITO BEM EXPLICADO PORÉM ESQUECIDO QUE AS PONTES
    FLUTUANTES ACESSÍVEIS QUE TEMOS NO BRASIL SÃO DE FABRICAÇÃO ASIÁTICA E A MAIORIA EMPREGA LIGA DE ZINCO NOS SADDLES – CARRINHOS E NO BLOCO. LIGA DE ZINCO É UM MATERIAL DE CUSTO BARATEADO CUJA FRÁGIL RESISTÊNCIA E LEVEZA NÃO SE COMPARA AO AÇO E AO BRONZE UTILIZADO NAS PONTES ORIGINAL FLOYD ROSE, SCHALLER, GOTOH, KHALLER E ENTRE OUTRAS, AFORA QUE A PRODUÇÃO ASIÁTICA EM LARGA ESCALA SE VALE DE MÃO DE OBRA BARATA E CONTROLE DE QUALIDADE DUVIDOSO. NINGUÉM TEM GABARITO PARA DIVULGAR E VENDER UMA PONTE FLUTUANTE DE QUALIDADE COMPROVADA E PREÇO ACESSÍVEL NO BRASIL.

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    • 30 de março de 2016 em 7:58 AM
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      Agradecemos novamente o elogio. E como dito no texto, essa postagem teve como intuito apresentar, para novos guitarristas que estão estudando mais sobre o instrumento, os tipos de pontes que eles podem encontrar no mercado (tanto nacional como internacional), para que façam suas escolhas pensando no que melhor irá atendê-los.
      Um grande abraço.

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  • 6 de dezembro de 2016 em 3:07 AM
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    Obrigado, graças ao seu artigo resolvi meu problema. Embora no meu caso, a parte onde prende a ponte do tipo trêmolo com os parafusos estava quebrado. Mas depois de colar vou seguir sua dica da madeira, achei simples e genial. Eu achei que minha guitarra já era.

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