Quem faz a Iluminação ser espetacular?

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Olá pessoal, tudo bem?

Já comentamos que a área de Iluminação Profissional é um mercado amplo e essencial para quem busca diferenciar um show do outro. Por isso, se você ainda não viu meu post anterior, recomendo que o acesse aqui antes de continuar a leitura porque vamos falar das pessoas que fazem tudo acontecer.

Com a chegada das grandes turnês internacionais ao Brasil, o público passou a exigir cada vez mais das empresas locais de Iluminação e seus profissionais.

Assim, não basta mais espalhar algumas lâmpadas Par pela estrutura e ligar tudo de qualquer jeito, sem técnica nem segurança do público.

Hoje existem um pessoal altamente especializado nesse negócio, que até bem pouco tempo atrás, era formado muitas vezes na base da experiência. Hoje existem escolas e professores de alto gabarito, que assumiram a responsabilidade de formar novos iluminadores para o mercado.

Uma dessas escolas é a nossa parceira de muito anos, a IATEC ,localizada no estado do Rio de Janeiro, que além de Iluminação, ainda promove cursos de Áudio, Eventos, Vídeo, Produção e Pós-Produção, enfim, uma quase universidade dedicada ao showbiz.

Entrevistamos o coordenador do curso de Iluminação na IATEC e sócio proprietário da KN Projetos de Iluminação, para que nossos leitores pudessem entender um pouco mais sobre esse fascinante mercado.

Conheçam o professor Naldo Bueno.

SANTO ANGELO: Quem é Naldo Bueno e qual sua experiência nessa área?

NALDO BUENO: Antes de tudo, é um grande prazer falar com vocês do blog SANTO ANGELO sobre esse assunto que tanto sou apaixonado. Quem sabe consiga convencer algum de vocês a se apaixonar também pela Iluminação?

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(Naldo Bueno na abertura das Olimpíadas no Brasil em 2016)

Sou Light Designer, (como é chamado um profissional do segmento de iluminação) há mais de 30 anos, sócio-proprietário na empresa KN Projetos Iluminação, estudioso de tecnologia em LEDs, professor de iluminação cênica e arquitetural pelo IATEC, palestrante em workshops de iluminação em geral.

Meu último workshop de iluminação aconteceu em Portugal no dia 09/março/2018 – pela World Academy. Confira aqui sobre a masterclass de iluminação.

SA: Como você vê hoje o estágio da iluminação cênica brasileira em relação aos Países mais adiantados?

NB: Com a globalização e a rápida disponibilidade de encontrarmos no Brasil equipamentos recém-lançados no mundo, fez com que o país se atualizasse rapidamente no cenário mundial em relação à disponibilidade de equipamentos e entrega de serviços, principalmente, em alguns estados onde os maiores eventos acontecem.

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(Projeto de Iluminação nos shows do Reveillon em Copacabana/2017)

Entretanto, pela falta de visão dos prestadores de serviços nesse setor, nós assistimos uma grande briga predatória para ver quem é o mais barateiro.

Dessa forma, podemos ver iluminações de eventos sendo realizadas com valores de locação e prestação de serviços baixíssimos, resultando numa concorrência muito destrutiva para todos, cuja pior consequência é o investimento quase zero na formação de mão de obra qualificada.

Além disso, o investimento em equipamentos baratos de um só modelo, por exemplo, o que vemos muitos, os moving lights Super Beams 5R em 15R de péssima qualidade em todos os eventos.

Sem contar o uso de cabos baratos de microfones ao invés dos cabos digitais solicitados pelo protocolo DMX 512, ou seja, o formato em que todos os equipamentos usados em Iluminação se comunicam entre si.

Geralmente o público não se dá conta, mas o emprego dos mesmos tipos de equipamentos e acessórios, seja para qual for a necessidade de iluminação, somente para as empresas poderem concorrerem na questão de preços, muitas vezes têm levado a entregas medíocres dos serviços, conceitualmente falando. 

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(Projeto de Iluminação para Tocha Olímpica durante as Olimpíadas em 2016)

SA: Já que mencionou cabos digitais e o protocolo DMX 512, poderia nos explicar um pouco mais sobre eles?

NB: Esse protocolo é o principal, mas não o único para controles de equipamentos de iluminação. No protocolo DMX 512, os dados que são enviados por um sistema de cabos (normalmente balanceados) e conectores tipo XLR (de 5 pinos e em alguns casos de 3 pinos, macho e fêmea), interligam equipamentos de controle vários equipamentos a serem comandados.

Não por acaso, cada saída (universo) do protocolo DMX 512 pode controlar até 512 canais individualmente, contando com variação de 0 a 255 níveis em cada um dos 512 canais.

Uma boa forma de pensarmos nos 256 níveis possíveis de cada canal disponível no Protocolo DMX 512, seria imaginar que temos um equipamento (projetor de luz) em LED com as três cores básicas disponíveis, VERMELHO, VERDE e AZUL (RGB).

Para cada cor, nós temos o Zero e mais 255 níveis, ou seja… dai vem as mais de 16 milhões de possibilidade de tons possíveis (256 X 256 X 256 = 16.777.216). Esse é o mesmo princípio encontrado nas telas de TVs, Smartphones e projetores de luz em LED com sistema (RGB).

Nos controles de iluminação mais modernos é possível encontrar modelos com quantidades diferentes de saídas (universos) DMX 512.

Podem variar entre 04 a até 16 saídas  por controle, com possibilidade de inversão e intercambio eletrônico de todas as saídas, como por exemplo: qualquer saída pode se transformar em outra, ou até mesmo todas as saídas disponíveis em um controle de iluminação podem trabalhar como a saída 01.

Cada equipamento de iluminação pode consumir ou precisar de uma quantidade razoável de canais DMX 512 para fazer todas as suas funções, como por exemplo: equipamentos que tenham muitos motores internos, como, Dimmer eletrônico, sistemas de cores, sistema de formas e muito mais…

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( Projeto de Iluminação para os Jogos Nacionais Indígenas)

Cada um deles precisaria de um canal de DMX 512 para cada uma das suas funções, podendo chegar aos 48 canais consumidos somente um equipamento.

Por esse motivo, cada dia mais os controles precisam de mais saídas porque aumentam o número de equipamentos demandados pelos Light Designers.

Hoje em dia, os grandes eventos somente usam o protocolo DMX 512, para a parte final do sistema de transmissão de sinal para os equipamentos de iluminação a serem controlados, sendo mais comum o uso de protocolo ARTNET com transmissão por fibra óptica ou cabos de rede entre os controles X decoder ARTNET que transformam o protocolo ARTNET em protocolo DMX 512 na parte final do circuito (palco) e daí para os equipamentos (refletores inteligentes). 

O motivo do uso de protocolo ARTNET é de fácil explicação, pois o protocolo DMX 512, não deveria caminhar por um cabo por mais de 300 metros de comprimento, porque apresentam atrasos (latência) acima desse limite.

Mesmo que fossem colocados amplificadores para empurrar o sinal ainda mais á frente, cada vez aumentaríamos o atraso entre o comando enviado e a recepção pelo equipamento a ser comandado, tornando-se inviável a operação de sistemas mais complexos de Iluminação.

Nos eventos em estádios de futebol, por exemplo, entre o controle e alguns equipamentos, podemos alcançar facilmente 1.500 metros.

Nesses casos, fazemos a maior parte do percurso com fibra óptica no protocolo ARTNET e, somente a parte final, atuamos com o protocolo DMX 512.

SA: Na sua opinião, o que falta para melhorar o nível de iluminação cênica brasileira?

NB: Essa pergunta é bem difícil, mais tenho algumas sugestões:

O desmembramento completo da entrega dos orçamentos aos clientes. Não mais enviar um valor único para o transporte, equipamentos, mão de obra, operação, enfim, separar as partes para que o cliente possa ter o real conhecimento da complexidade da entrega do serviço e nunca mais pedir um desconto grande no valor global e sim descontos somente o uso ou não de determinados equipamentos.

Os prestadores de serviços de Iluminação devem mudar a visão que têm hoje, deixando de acreditar que pessoas “quase técnicos” desqualificados e descompromissados com a entrega, com valor de caches muito baixos, são a solução.

Dessa forma, eu acredito que pagando melhor, cobrando mais a entrega, os técnicos cada vez mais seriam obrigados a entender o mercado como uma profissão de verdade, melhorando muito o nível de uma forma geral.

No Brasil nós temos uma cultura de técnicos se transformarão em empresários do setor, normalmente sem uma visão de tempo para retorno do investimento, desconsideração de vida útil dos equipamentos para formular o valor de locação, sem conhecimento dos impostos e outros gastos da empresa.

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( Projeto de Iluminação no Reveillon de Copacabana/2017)

Eu acredito que também ajudarias, se tivéssemos essas mesmas pessoas mais humildes em sua abordagem, focando na condução técnica da empresa e deixando para um outro gestor (ou sócio que poderia ou não, ser o esposo, esposa ou filhos com conhecimento de administração) para conduzir os valores de locação em relação ao custo dos equipamentos e tempo de vida útil, investimentos e pagamentos em dia de impostos e demais compromissos.

Em minha opinião, o nível somente vai melhorar com a verdadeira profissionalização das empresas.

SA: Quais os conselhos que você daria para quem deseja ser um iluminador profissional a partir de agora.

NB: Minhas dicas e conselhos para as pessoas que tem o desejo de ser um iluminador profissional ou ”Light Designer” é que fazer Iluminação sempre desperta emoções e um grande prazer.

Porém, explicar emoção com palavras nunca é fácil.

Nos dias de hoje, é preciso um bom conhecimento e domínio de programas de desenvolvimento de plantas elaboradas em 2D e 3D, de preferência com possibilidade de renderização e visualização de programação em 3D em tempo real, para que o cliente se sinta mais seguro, bem como, estudar e conhecer lâmpadas, resposta de rendimento e ângulos de abertura de iluminação dos equipamentos a serem utilizados em cada projeto.

Em outras palavras, é preciso estudar, estudar e estudar.

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( Projeto de Iluminação para os palcos do Rock in Rio em 2017)

Mais que efeitos visuais, tão comuns em alguns shows e eventos que assistimos, esses conhecimentos proporcionam ao Light Designer enorme segurança na entrega dos projetos.

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Obrigada, Naldo Bueno, por dividir com nossos leitores sua experiência como professor e profissional na área de Iluminação. Desejamos ainda mais sucesso e reconhecimento pelo seu trabalho.

Animado com a carreira de sucesso do nosso entrevistado? Qualquer dúvida é só comentar aqui no blog, nas redes sociais da SANTO ANGELO, do IATEC ou com o próprio Naldo Bueno.

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Lygia Teles, é Relações Públicas e especialista em Gestão de Marketing pelo SENAC-SP. Desde janeiro/16 integra a equipe de Marketing e Comunicação da SANTO ANGELO.

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