Videogame e música podem andar juntos?

2015-11-13 - FB

por Dan Souza

Cá entre nós…

Depois de um dia lotado de trabalho estressante (e muitas vezes sem graça) nada melhor do que chegar em casa, tirar o tênis e ligar o videogame para relaxar, não é mesmo?

Se você não concorda com isso, pule para o 4º parágrafo agora mesmo, mas se concorda, seguimos adiante em nossas divagações.

Para que tirar a guitarra do bag, afinar, aquecer, ligar o ampli, plugar o instrumento e estudar antes de tocar qualquer coisa, sem contar com alguém (parente ou vizinho) reclamando do som alto? É muita coisa para qualquer mortal, porque, afinal, no console é só apertar um botão e pronto: tudo ali só aguardando um herói, um jogador de futebol profissional ou mesmo um especialista em táticas de guerra. E sem ninguém para te “encher o saco!”

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Fala pessoal, Danilo (RA da SANTO ANGELO) retornando. Você se lembra do post passado, onde conversamos sobre o desperdício de alguns talentos musicais devido à tecnologia e facilidade dos videogames? Se não, dê uma olhada nele clicando aqui.

Já sabemos que a curva de aprendizado dos games é muito diferente e nos consoles tudo é mais fácil, exigindo pouco esforço físico ou estudo. Logo, em tempos de “velocidade virtual”, o que é mais fácil acaba sendo mais atrativo. certo?

Vendo esse cenário, percebemos a Música perdendo. E muito. O que fazer então?

Hoje, um console de última geração custa o mesmo que uma boa guitarra, ou seja, o preço não é argumento que possamos usar para encontrar a resposta. Facilidade de compra é a mesma em ambos os casos (quase todo mundo parcela em 10 ou 12 vezes sem juros).

Então, qual o motivo desse quase abandono do instrumento musical?

Stephen Barton, Los Angeles, California. 3 August 2013.

Vamos ver a questão de outro ângulo. Eu enxergo uma oportunidade imensa com a ascensão dos jogos e aumento do numero de jogadores: mercado certo para pequenas produtoras ou grandes franquias de jogos, algumas até baseadas no Brasil.

Poucos tiveram o “insight” (ideia que vem em um estalo) de juntar Música e Games. Além de uma oportunidade de negócios, o fato de trabalhar com esse tipo de entretenimento é muito recompensador, inclusive em remuneração ($$$) que é o que interessa, não é verdade? Você pode não chegar a ser um rockstar, mas nesse nicho, você corre o risco de ficar marcado e ser lembrado pela história.

Eu não estou falando de fazer covers de músicas existentes nos jogos. Falo de composição!

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Quem começou essa grande excursão pelas músicas de jogos em 1984 foi Kōji Kondō, compositor das famosas músicas de “Super Mario Bros” e “The Legend of Zelda”. Ele, apesar de não estar em palcos com muitas luzes em si, marcou completamente uma geração. Vai me dizer que você não conhece nenhuma música do Mario?

Naquela época, além do criar a música, eles precisavam “traduzi-la” para a linguagem dos bits, mas a essência da composição sempre esteve ali. Hoje, está bem mais fácil com interfaces, arquivos .wav e todo o aparato digital.

Nessa leva, surgiram outros compositores, sendo que a maioria esmagadora deles oriundos do Japão, que tem uma política para o ensino de música muito interessante. Entre eles estão Koichi Sugiyama (Dragon Quest), Hirokazu Tanaka (Metroid), Martin Galway (Times of Lore), Yuzo Koshiro (Ys) e um dos grandes nomes desse mundo: Nobuo Uematsu (Final Fantasy).

Nobuo, que trabalhava para a Square (hoje Square Enix, produtora de jogos como Final Fantasy, Chrono Trigger, Kingdon Hearts e Hitman) elevou o conceito dessas musicas, compondo verdadeiras peças clássicas. Entre seus maiores sucessos estão as músicas de “Final Fantasy”, que o tornaram imensamente conhecido e cultuado nesse mundo dos games e música.

E como sempre foi fã de Rock, usando suas composições, Nobuo montou uma banda chamada “The Black Mages”, que aproveitou sua fama e fez muito shows, angariando fãs pelo mundo todo até o ano de 2010.

E isso tudo nos idos da década de 90.

Nos últimos anos, as composições exclusivas para videogames continuam fortíssimas e ainda se misturam com músicas de bandas já existentes. Um caso interessante de se acompanhar é o do jogo “League of Legends” para computador.

A cada ano os eventos desse e-sport crescem e criam espetáculos de encher os olhos. A banda “Imagine Dragons”, em parceria com a Riot, produtora do jogo, criou “Warriors”, uma música exclusiva para o jogo. E isso mostra cada vez mais que por mais que os jogos sejam um mercado imenso (lotando até estádios), ele não se dissocia da Música de maneira alguma.

E não pense que isso é só lá fora. Aqui no Brasil, na final do campeonato regional do jogo, eles fecharam o “Allianz Park” (antigo Parque Antártica) para a final com direito a um show de abertura com tudo que um músico tem direito: luzes, sistema de som profissional e total atenção de todos os presentes.

Até pediram para o Jaques Molina (colaborador da Revista Guitar Player) para que construísse uma guitarra exclusiva para o evento, inspirada na arma de um dos personagens do jogo (Draven), tocada na abertura pelo guitarrista Christian Rentsch. Alias tem uma curiosidade nessa apresentação: o transmissor da guitarra deu problema e a produção correu para plugar um cabo na “arma”.

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E nesse final de post que te faço um desafio:

Não abandone seu instrumento pelo videogame.

Use o know-how de horas de jogo em horas de estudo e composição. Pense que além de diversão: isso pode se tornar uma oportunidade única na sua vida como músico. Separe um tempo para o seu instrumento: relaxe com ele assim como você relaxa com o videogame.

Imagine que, em um dia no futuro, você vai conversar com seus amigos “gamers” e dizer:

“Olha, essa música é composição minha”.

Aproveite, então, todas as oportunidades que esse novo mercado oferece e corra ao lado dele com a sua música e talento.

Na música, os créditos são infinitos.

Um abraço forte e até a próxima.

*Foto de capa: Artwork by Zeldauniverse




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