Bateria Eletrônica x Acústica: dúvidas que perseguem um baterista

Links - Bateria 28-08-15

Por Dé Repetto

Olá pessoal, tudo bem?

Meu nome é Dé Repetto, sou baterista e convidado especial da SANTO ANGELO para escrever posts sobre bateria aqui no blog da empresa. Sei que as guitarras dominam o imaginário musical da grande maioria dos músicos, mas o baixo, teclado e bateria também têm vez quando o assunto diz respeito às bandas. E quem pensa que uma bateria não usa cabos, se engana completamente.

Neste post já inicio com uma polêmica: acústica ou eletrônica?

Não muito tempo atrás, a única opção para quem queria seguir como baterista era comprar uma bateria acústica. Gigantesca, barulhenta e muito mais cara do que os outros instrumentos. Sempre vejo bateristas como heróis, pois nosso “set” é muito maior do que o de qualquer guitarrista que conheço.

Com o avanço da tecnologia, surge então a bateria eletrônica. No início, produzindo apenas aqueles sons quadrados, muito diferentes da bateria convencional, mas com o tempo ela evoluiu muito, com timbres que hoje chegam absurdamente próximos, na questão de sonoridade, como os de uma bateria acústica. Lembra muito as pedaleiras que simulam amplificadores de guitarra, dado o acesso aos modernos processadores digitais disponíveis atualmente.

Bateria 1 - acústicaBateria acústica

Diversas melhorias foram feitas continuamente para que cada vez mais o timbre digital se aproximasse do real. Algumas das mudanças foram:

  • Pad de mesh head (tela) com ajuste de tensão que simula uma pele normal;
  • Pad de bumbo com espaço para dois batedores (pedal duplo);
  • Pedal de chimbal capaz de reproduzir a técnica de foot splash (movimento realizado com o pé para extrair som de chimbal aberto);
  • Pad de tambor capaz de produzir três sons (pele, rimshot e side stick);
  • Pad de prato com três sons (corpo, ping e cúpula), além de ser possível utilizar a técnica de choke (quando você toca um prato e abafa com a mão).

Desta forma, com a qualidade do projeto e pesquisas sonoras aumentando, assim como as técnicas de adaptação trazendo cada dia mais “realismo” à bateria, os preços começaram a variar muito entre os fabricantes e respectivos modelos.

Em primeiro lugar, pense na bateria eletrônica como um computador (aliás, o módulo dela é um computador), você não vai conseguir alto desempenho com um computador modelo de entrada, mas dependendo do seu propósito, ele vai lhe atender bem. Com a bateria eletrônica é a mesma coisa, quanto mais tecnologia ela tiver (o que vai deixar seu preço mais alto), mais próximo de uma bateria acústica seu som vai estar. Agora, se for apenas para você se divertir, como um hobby, compre a que tenha valor que caiba no seu bolso e seja feliz!

Bateria 2 - eletrônicaBateria eletrônica

Mas a bateria eletrônica é mais cara do que a bateria acústica?

Isso depende muito. A bateria de entrada convencional costuma ser mais barata do que a eletrônica, mas a diferença não chega a ser arrasadora. Já no topo da cadeia das baterias, os preços podem ser muito diferentes. Em pesquisa rápida pela web, a mais cara bateria eletrônica que encontrei custava R$ 12.500,00. Se você acha muito, já cheguei a ver alguns modelos de baterias acústicas “custom” pela “bagatela” de R$ 25.000,00.

A diferença fica maior por duas questões que enxergo mais facilmente: as madeiras têm melhor qualidade (e um pedaço de Maple AAA é bem mais caro que uma placa de efeitos) e o glamour (dificilmente você vê um grande baterista tocando com as irmãs digitais).

E pensando nas dúvidas que possam surgir, criei um guia para ajudá-lo (a) a decidir qual bateria adquirir. Assim, pergunte a si mesmo:

O local onde vou tocar/colocar a bateria tem problemas com volumes altos e barulhos?

Se a resposta for sim, nem precisa responder as outras. A melhor escolha seria a bateria eletrônica, pois esse é um dos grandes motivos pelos quais os “bateras” acabam optando por esta compra. Os vizinhos e familiares sabem bem do incomodo de um baterista iniciante, mas a opinião deles não pode ser motivo para fazê-lo desistir de tocar esse instrumento musical. Aliás, quer ver um baterista feliz? Coloque-o em um local onde não tenha vizinhança por perto (rsrsrs).

Mas nada na vida é tão simples quanto parece. Temos que levar em consideração o local onde vai montá-la. Se você mora em casa térrea, sem problemas, apenas feche a porta do seu quarto, compre um bom fone de ouvido e “sente a madeira” (a baqueta, ok?). Agora se você reside em um sobrado ou apartamento, quando o bumbo ou o chimbal forem acionados, seu vizinho do andar de baixo ou alguém da sua família vai ouvir. Minha dica é: construa um tablado (madeira, EVA e Lã de Rocha) e coloque a bateria em cima, assim, o impacto será amenizado. Seu vizinho agradece!

Bateria 3 - tocando no quarto

Qual a minha necessidade? Apenas para estudo ou vou usá-la também em apresentações ao vivo?

Se você for apenas estudar com a eletrônica, sem problemas. Agora se você for utilizá-la para shows, talvez possa ter problemas pelos motivos abaixo:

  • Preconceito – Por mais evoluída que a tecnologia esteja, operadores de áudio e também o público podem “torcer o nariz” ao ver um kit eletrônico no palco. O operador talvez não saiba como fazer a ligação de uma bateria na mesa de som e o público quer ver aquele “monstro” cheio de pratos.
  • Sistema Completo de P.A. (Mesa de som, Caixas, Subwoofer) – A bateria eletrônica necessita de equipamento que amplifique seu som, e como ela produz frequências que vão das graves (bumbo) às agudas (pratos), é necessário um P.A. muito bom e bem alinhado para ouvir com clareza todas as peças. E não para por aí. Com certeza os músicos da sua banda irão querer ouvir sua bateria. A casa de show oferece caixas de retorno ou, então, um sistema de fone para cada músico?

Pensou que fosse mais simples?

Já sou usuário de baterias eletrônicas há alguns anos e essa escolha me ajudou muitas vezes como nesse meu breve testemunho abaixo.

Quando comecei a tocar bateria, morava com meu pai em um apartamento, (sim, sei que sou maluco em querer ter uma bateria acústica dentro de um apartamento). Em três meses veio a 1ª. frustração: meu pai me intimou dizendo “ou você vende a bateria ou volta para casa da sua mãe”. Escolha feita, fui para a casa da minha mãe. Durante um tempo, nenhum vizinho reclamou, mas como não tinha tratamento acústico no local, um belo dia fui surpreendido por algumas viaturas policiais no portão de casa. Eles quase foram meus primeiros fãs, mas me trouxeram a 2ª. frustração. Por mais estranho que possa parecer, os policiais me abordaram da seguinte forma: “você toca bem, estávamos curtindo seu som, mas infelizmente está incomodando seus vizinhos”.

Já me prevenindo para que não ocorresse uma 3ª. frustração, fui em busca do meu primeiro kit eletrônico. Mesmo com pouco dinheiro, acabei comprando um modelo de entrada usado. Durante muitos anos, essa bateria serviu para estudo e até para alguns shows onde o palco tinha que ser “mudo” (nenhum amplificador no palco, todo equipamento ligado em linha, e todos os músicos utilizando fones). Quem diria, uma bateria eletrônica em um show.

Anos se passaram e me estabeleci como músico. Decidi vender a minha “velha de guerra” e comprar uma bem melhor. O investimento foi surpreendente: os estudos rendiam muito mais e passei a usá-la nos ensaios da banda. Neste meio tempo, me aventurei com produção e gravação e como não tinha um estúdio montado, ficava difícil montar e captar uma bateria acústica. Descobri que conseguia ligar a bateria via cabos MIDI na minha pequena interface de dois canais e depois mixar usando VST (Virtual Studio Technology de softwares como Ezdrummer, Superior Drummer entre outros). Vitória!

Bateria 4 - bateria do Dé Repetto

Hoje montei meu estúdio em casa, na minha garagem, com o isolamento acústico que absorve cerca de 80% do SPL (Sound Pressure Level). Posso estudar em minha bateria acústica, mas continuo usando a eletrônica também, tanto pelo silêncio como pela ajuda que ela me deu no decorrer da carreira.

Este guia e o testemunho são apenas para mostrar que, acústica ou digital, a melhor bateria é aquela que se adequa as suas necessidades de estudos, carreira, volume ou mesmo de espaço. Escolha bem e pratique, mas não se esqueça de comentar e dar sua opinião também. Como eles dizem aqui no blog: todos nós podemos evoluir juntos se quisermos.

Grande abraço!

Anuncio - Dé




6 comentários em “Bateria Eletrônica x Acústica: dúvidas que perseguem um baterista

  • 28 de agosto de 2015 em 2:15 PM
    Permalink

    Parabéns Dé Repetto! Excelente Matéria.
    Explicação útil e fácil de entender, espero que tenha mais matérias sobre bateria.
    Abraço!

    Resposta
    • 5 de setembro de 2015 em 3:25 PM
      Permalink

      Fala Lucas
      Obrigado, com certeza teremos mais
      Abraço

      Resposta
  • 28 de agosto de 2015 em 7:41 PM
    Permalink

    Muito bom! Tenho mais a acrescentar. Sou produtor e líder de banda. O Marcelo da Leimar um dia em 2000 recebeu uma eletrônica “sensível” usando tecnologia Yamaha mas modificada para “sentir” velocity (só!). Eu comprei para o meu baterista, o famoso ator Milton Levy. Todos pixaram e quase detestaram mas o Levy topou porque achou mais portátil “Vamos ver”.
    Ela era uma porcaria de construção, quebrava sempre (e a Yamaha me consertava na faixa). Depois a Yamaha me vendeu uma deles, renovada.
    Aí vem:
    No primeiro ensaio com ela, à primeira passada, eu falei: “Hey, a base está uma merda, o som do baixo não é este!” – foi daí em diante que percebemos (e corrigimos) que o barulhão – nos ensaios – da bateria acústica, não permitia aperfeiçoar a “limpeza” das execuções. A partir disso, a banda cresceu muito. hoje tanto faz qual bateria nos apresentamos, porque todos aprenderam a “respeitarem-se”.

    Resposta
  • 28 de agosto de 2015 em 11:25 PM
    Permalink

    Você é um excelente baterista!
    Parabéns pela ótima explicação.
    Abraço.

    Resposta
    • 5 de setembro de 2015 em 3:25 PM
      Permalink

      Olá Fernando, Muito OBrigado

      Resposta

Deixe um comentário para André Repetto Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *