A Saúde de seu Instrumento: Temperatura e Umidade
Olá pessoal!
Após algum tempo longe de vocês, estou de volta para falar mais uma vez sobre a “saúde” do seu instrumento de cordas, desta vez indo mais fundo nas influências climáticas que interferem diretamente em instrumentos musicais constituídos em madeira. Para quem desejar relembrar o meu post anterior sobre esse assunto é só clicar aqui para comprovar que:
Tanto a temperatura como a umidade do ar são fatores que podem causar reações trágicas na estabilidade e na aparência do seu instrumento.
No dia-a-dia conturbado dos músicos o transporte mais comum de instrumentos é, por facilidade, o porta-malas do próprio carro ou da van da banda. Afinal, considerando a violência no país em que vivemos, não podemos deixar nada exposto dentro de veículos, sob pena de que, quando voltarmos, não encontrarmos nem a sombra de instrumentos ou equipamentos, se tivermos sorte. Porque, se não tivermos, nem o carro encontraremos.
Surge então, uma das principais situações causadoras de problemas ocorridos com instrumentos de madeira como guitarras, contrabaixos e violões. Quando um músico “esquece” ou deixa seus instrumentos no carro estacionado por algum tempo sob sol intenso ou calor, a alta temperatura que o instrumento fica exposto é o suficiente para “empená-lo”, principalmente o braço, independente da forma que foi unido ao corpo. Leia mais sobre isso nesse meu outro post.
Vale a pena lembrar que alguns tipos de bags (e hardcases) preveem esta situação porque são construídos com revestimento ou camadas internas de isolantes térmicos. No entanto, para mantermos instrumentos musicais sempre bem cuidados, além da preocupação com a temperatura, também devemos nos preocupar com a umidade
“Como assim umidade? Acho que vou deixar meu instrumento musical numa lavanderia ou banheiro?
Claro que não, mas quando deixamos os instrumentos em ambientes por muito tempo, podemos procurar por pontos de mofo ou bolor tanto fora dos cases ou bags como também no ambiente (paredes e móveis). Este deve ser um ponto de alerta para acender uma luz vermelha na sua mente.
O limite aceitável da Umidade Relativa do Ar (saiba o que é isso clicando aqui) deve ser de 50% para menos. Violões têm uma recomendação geral de serem mantidos em 50% de umidade e, se a umidade for superior a isso, os trastes podem sofrer micros deslocamentos e a oxidação de todas as partes metálicas (hardware + trastes + cordas) é mais acentuada.
Se o ambiente possui uma porcentagem de umidade inferior a 50%, podemos ter problemas desde um simples “craquelamento” do verniz ou abaulamento do tampo dos violões, até o aparecimento de trincas na madeira. As juntas coladas (exemplo: trastes, braços, escalas) podem ser enfraquecidas, principalmente as pontes (pela tração contínua das cordas) causando até mesmo a sua soltura como na figura abaixo.
No caso das guitarras, por serem instrumentos sólidos, certos fabricantes admitem armazenamento abaixo de 50%, mas recomendam que o índice de Umidade Relativa do Ar permaneça entre 30% a 50%. E não pense que tais medidores custam uma fortuna, como explico logo mais abaixo.
Mas não é só o cuidado com o armazenamento que vai te ajudar…
Para muitos músicos, a rotina de preparo para um show consiste em “aclimatar” os instrumentos antes de uma apresentação, simplesmente deixando-os algumas horas no local onde acontecerá o show mais tarde. Considerando ambientes com ar condicionado ou com altas temperaturas, é muito comum que a regulagem do instrumento se altere, podendo apresentar trastejamento ou ação alta das cordas.
Considerando que o intuito dos meus posts desde o primeiro escrito em janeiro/2013, veja aqui, foi manter a qualidade da informação, devo alertar a todos os leitores que “secar a umidade ou “abaixar a temperatura” é um conceito errado, pois a falta de umidade também provoca danos aos instrumentos. Seguem “dicas” importantes para controle.
Uma dúvida comum a todos é como poderemos saber sobre a umidade de um ambiente, uma vez que sobre temperatura é fato mais comum verificarmos. Existem aparelhos com preços baixos que nos ajudam a identificar estes parâmetros. São os Termo Higrômetros. Uma rápida busca no Google pode te ajudar a encontrar tais medidores por menos que R$100,00.
Limpem todo o instrumento, assim que acabarem de tocar. A transpiração humana, deixada nas cordas, no braço e no corpo do instrumento, além de outras substâncias “engorduradas” eventualmente aderidas às mãos (inclusive o já conhecido ácido úrico) aceleram a oxidação das cordas e das partes metálicas dos instrumentos.
Um produto fácil de se encontrar em lojas de componentes eletrônicos é a Sílica Gel. Geralmente é usada dentro de cases e bags. Quem nunca viu estes “saquinhos”? Vale a pena lembrar que eles absorvem unidade e por isso não são “Lifetime” (para toda a vida). Dependendo do ambiente onde estão, devem ser trocados com periodicidade.
Em algumas lojas de instrumentos musicais podemos encontrar desumidificares construídos especificamente para colocar na “boca” do violão. São bem eficientes no controle de umidade e vendidos com a possibilidade de troca de refil após perda da efetividade
Para ambientes com muita umidade, principalmente locais sem janelas, como estúdios e ambientes improvisados para guardar instrumentos musicais, eu aconselho o uso de um desumidificador de alta eficácia com controle da taxa de umidade desejada no ambiente.
Eu tenho um equipamento semelhante ao da figura abaixo funcionando ininterruptamente há mais de 10 anos e que resolveu todos os problemas com a umidade do local onde armazeno meus instrumentos de cordas.
Existem aparelhos simples, baratos e muito eficazes na identificação da temperatura e umidade colocados diretamente na “boca” e no headstock do instrumento. Alguns apresentam alarmes quando a temperatura e umidade estão em níveis acima do permitido para determinados instrumentos.
Em suma, o máximo de umidade que uma sala, onde se armazenam instrumentos musicais, deve ter é de 55%.
Há fabricantes que aconselham por volta de 42% de umidade para uma temperatura de 24 °C. Há quem diga que se pode ir até aos 60%. Estes valores são a referência para que as condições de armazenamento sejam o mais próximo possível das de construção do instrumento. Assim, reduz-se o risco de problemas com madeiras e partes metálicas, mantendo-se a integridade sonora original do instrumento por mais tempo.
E não se esqueça de checar, antes de comprar um instrumento de cordas, se as lojas onde você costuma comprar, mantem ambientes “climatizados” para exposição dos instrumentos de corda. Pode até parecer “frescura”, mas lembro que a taxa de umidade relativa do ar, muito difundida na previsão do tempo, representa a quantidade de água existente no ar da sua cidade ou região.
Se estiver entre 35% e 40%, significa que o ar está seco e, quando acima dos 70%, o ar está úmido. Nestas situações, o ar é prejudicial para a nossa saúde e a dos instrumentos. De um modo geral, se você está bem em um ambiente, provavelmente seu instrumento também estará. É mais uma garantida que fará um ótima compra do seu próximo instrumento musical.
Bem pessoal, espero ter ajudado e espero que igualmente dividam seus conhecimentos com toda a nossa galera. Vamos evoluir todos juntos?
Grande abraço e até a próxima.
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Alexandre A. Berni é cirurgião geral, músico, produtor musical e entusiasta da Guitarra. Escreve regularmente para o blog SANTO ANGELO com o pseudônimo de DOUTOR SANTO ANGELO.