Calculando os custos do Crowdfunding
por Dan Souza
Olá pessoal, tudo bem? Danilo, RA SANTO ANGELO, falando novamente sobre o tema do financiamento coletivo, mecenato, ou como é mais conhecido, “crowdfunding”, palavra de origem inglesa. Já foi tratado disso aqui no blog e se tiver interesse, clique aqui e aqui.
Parece fácil, mas não é.
Hoje, o papo é mais matemático e empreendedor, que pode parecer chato para alguns, mas altamente necessário para quem deseja ter sucesso em uma futura campanha de crowfunding. Vamos à pesquisa.
Antes, alguns dados extraídos da plataforma Catarse.me:
- A maior concentração de apoiadores (Backers) está na região Sudeste do Brasil (63%);
- O público é bem misturado na questão de gênero (Masculino e Feminino), a maior parcela está entre os 25 e 30 anos, com nível superior de escolaridade de rende de até R$ 6.000,00;
- Esse pessoal, em sua maioria, trabalha com Comunicação, Jornalismo, Administração, Tecnologia, Artes, Educação, Marketing e Publicidade e já apoiaram entre 2 e 5 projetos esse ano;
- A média de contribuição por pessoa é de R$ 128,00 (alta até, não acham?);
- Detalhe: 52% desse público gostam de apoiar projetos artísticos (olha a Música ai);
- As áreas preferidas para apoiar são (em ordem de contribuição) Educação, Cinema & Vídeo e Música (olha ela aparecendo novamente);
- Entre os fatores que fazem as pessoas apoiarem, a identificação com a causa (88%), confiança no potencial do idealizador (71%) e a qualidade do projeto (70%) são os mais cotados;
- Para 72% dos pesquisados, transparência é fundamental (como já disse o Marcelo Barbosa nesse post);
- E de todos os criadores de projetos, 22% estão no ramo artístico.
Surpreso? Analisando esses dados, é completamente possível criar uma campanha de sucesso, porém, chegou a hora de deixar a arte um pouco de lado por um tempo e pensar com cabeça de empreendedor: nos números.
A primeira coisa que temos que levantar é: quanto nós queremos para realizar o projeto.
Definimos, no nosso exemplo, que desejamos fazer a gravação de um CD autoral de um artista (imaginando que o mesmo já tenha uma base de fãs). Que tal: 10 faixas e 1.000 cópias?
Para fazer isso, provisionaremos um valor de R$ 10.000,00, um pouco abaixo do que normalmente se gasta em um álbum independente, mas já estabelecendo que parte do investimento sempre acabe saindo do bolso do próprio artista.
Logo, temos o seguinte:
Deixamos a média de investimento, por apoiador, bem mais baixa do que o Catarse informa em sua pesquisa (R$ 128,00 por pessoa).
Hora de definir quais as faixas de recompensas.
Nessa hora é necessário pensar com calma e criar recompensas atrativas em troca da colaboração ($$$) dos apoiadores. Deixamos claro que não deve-se pensar apenas nos custos das recompensas de forma a criar valores mais altos, mas incluir também uma previsão dos custos da plataforma escolhida, impostos cobrados (MEI e Notas fiscais) e um fundo de emergência que nomeamos como “Contingência”.
Mão na massa: Começando pelo próprio álbum, logo, quem contribuir, poderá ouvi-lo.
Na primeira faixa de recompensa, a pessoa poderá fazer o download do álbum e receber um adesivo (para guardar de recordação). A impressão do adesivo mais a postagem da carta simples deverão sair por volta de R$ 0,50 em média. Essa será a recompensa de quem contribuir com R$ 10,00, por exemplo.
Contribuindo com R$ 20,00, outro apoiador levaria um álbum físico. Essa recompensa é mais legal, porém, você deve somar a recompensa anterior, logo Download + adesivo + CD. Somamos R$ 2,30 ao CD que a média de prensagem para 1.000 cópias. Logo, curto total R$ 2,80. Confira a tabela (clique para aumenta-la):
Perceba que a próxima faixa de recompensa (R$ 25,00) contará com um álbum autografado por R$ 5,00 a mais. A recompensa agrega grande valor pelo autógrafo e não agrega custos (a não ser que você queira adicionar tempo e a tinta da caneta), mas geralmente, entre as faixas que adicionam custos monetários ao projeto você deve inserir faixas que valorizem o produto/serviço sem custar.
Confira a evolução das recompensas e os custos na tabela acima.
Uma recomendação legal é não limitar as faixas de preço baixo e médio, mas limitar as de maior investimento. Nossa recompensa mais cara é a de R$ 1.500,00 que garante a participação no álbum (como guitarra base ou outro instrumento). Se você não limitar essa recompensa, as 10 faixas do álbum podem ser prejudicadas (ou você precisará compor mais faixas ou encaixar dois ou três músicos à cada faixa caso tenha sucesso).
O ideal seria liberar 5 participações (para que tenha 5 músicas sem influência externa), 10 créditos na produção e 50 ingressos para o lançamento. Outras faixas ficarão sem limite.
Mas e a coluna distribuição? De onde vocês tiraram esses dados?
Esses dados derivam de um estudo feito pelo Meiea (Music Enterteinment Industry Educators Association) de autoria de Peter Alhadeff da Berklee College of Music e Luiz Augusto Buff da University of California Los Angeles School of Law (que hoje, ministra aulas de Music Business em cursos no Conservatório Souza Lima em São Paulo/SP e CEO da 1M1Art).
Perceberam que a maior quantidade de apoiadores estará nas faixas médias?
Analisando os motivos, chegaremos à conclusão de que as faixas mais baixas não têm valor emocional envolvido (mas é necessário tê-las) e as mais altas esbarram em condições financeiras normalmente (também necessárias pois, caso sejam escolhidas, contribuem para um crescimento rápido para chegar à meta).
Temos a campanha pronta. Quanto devo colocar de meta?
Já vimos que os R$ 10.000,00, de meta na campanha, seriam insuficientes e pelas contas o valor para o projeto ter sucesso e se auto financiar seria de R$ 20.878,48. Como valores quebrados não são atrativos arredonde para R$ 21.000,00.
Feito, essa é a sua meta.
Agora, como já dito no post anterior (clique aqui e leia) você deve se esforçar para deixar a comunicação visual legal, ser transparente e divulgar “como se não houvesse amanhã”. Sim, é fato, ela só terá sucesso se você tiver uma boa base de fãs e se for devidamente (e exaustivamente) comunicada.
Alcance e frequências são as palavras chave.
Agora é colocar a cabeça para funcionar, pensar no que o seu público gostaria de ouvir e executar. Pode ser que você ainda não tenha esse público, mas fazer uma simulação e pesquisar custos vai te deixar preparado para quando tiver uma base bacana de fãs, concorda?
Uma boa ideia, se não executada, não passa de uma ideia, certo?
Até a próxima e um grande abraço!