Outros detalhes práticos para gravação em linha.

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Aproveitando o mês de agosto, quando acontece o concurso cultural “Meus Riffs Inspiradores” promovido pela SANTO ANGELO nas redes sociais, com a devida aprovação da Caixa Econômica Federal, e somando aos dois primeiros vídeos  da série “Homestudio” do Danilo Gustavo, ensinando noções básicas de gravação de guitarras em linha, resolvi  dividir com vocês alguns conhecimentos, que na minha humilde opinião, são bem práticos para quem deseja gravar instrumentos em linha em seu computador.

A gravação de uma guitarra não é tão fácil como pode parecer, porque o sinal elétrico emitido pela guitarra resulta do movimento das cordas metálicas sobre um ou mais captadores magnéticos e raramente isso é aceitável como fonte geradora quando você a conecta diretamente em uma placa de som. A minha primeira experiência foi desastrosa em qualidade do som produzido por uma placa de áudio onboard há alguns anos atrás. Hoje em dia com o avanço da tecnologia, existem as interfaces de áudio que corrigiram em partes o sinal elétrico gerado pela guitarra.

Eu resumo a gravação de guitarra em linha em 5 tipos:

1) A opção mais simples é ligá-la diretamente à entrada de linha da placa de som utilizando um cabo/conector adequado, geralmente um adaptador de P10 do cabo da guitarra  para P2/mono da entrada da placa de áudio do computador. A vantagem é que você não precisará comprar nenhum equipamento adicional (exceto talvez o adaptador P10/P2), mas o som não vai ser o ideal, provavelmente com muito ruído.  A razão deste resultado é devido a uma incompatibilidade de Impedâncias, conceito que explico melhor abaixo:

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Impedância: mais conhecida como Impedância elétrica ou simplesmente Impedância é o resultado da oposição (impedimento, resistência, força contrária) ao fluxo de elétrons (Corrente Elétrica) que percorre um circuito (“caminho” da energia elétrica percorre entre os pólos positivo e negativo). Todo material apresenta uma Impedância característica, em maior ou menor grau. Materiais condutores apresentam baixa Impedância, ou seja, são facilmente atravessados pela corrente elétrica, enquanto materiais isolantes (não condutores) apresentam altas (ou altíssimas) Impedâncias, apresentando muita resistência ou mesmo não deixando que a corrente elétrica os atravesse.

A Impedância é medida em Ohms e seu símbolo é uma simpática ferradura (Ω), símbolo originário do alfabeto grego, indicativo da letra Ômega.

A entrada da placa de som é projetada para aceitar a entrada de aparelhos elétricos que têm sinal de condução adequada, e uma guitarra não tem sinal suficiente. Em outras palavras, significa que a Impedância de entrada de uma placa de som é da ordem de alguns milhares de ohms (kOhm), muito menor que o sinal da guitarra que você está injetando de cerca de um milhão de ohms (1 mega ohm). Não vai dar certo, né?

2) Outra opção é usar um Direct Box, mais conhecido como DI ou “casador” de Impedâncias. É um dispositivo elétrico que pode ser usado para ajustar (“casar”) a Impedância de entrada da placa de som ou interface de Áudio com a Impedância de saída da guitarra, mas já aviso que um bom DI não é barato. Para gravar, basta plugar sua guitarra no DI e conectá-la diretamente na entrada de linha do computador (Line-In), uma vez que geralmente os DI apresentam entradas e saídas P10 e XLR. Nesta opção, você notará a melhoria do resultado, com menos ruído quando comparado à opção anterior.

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3) A terceira opção é  a  “gambiarra”, o que provavelmente não vai te custar nada, caso você já possua um pedal de guitarra qualquer de Distorção, Chorus, Delay, etc. O importante os pedais não sejam do tipo True Bypass e  alimentados por fontes 9V direto das tomadas, devendo ser usados em bypass. Você deve ligar o pedal diretamente na entrada de linha (Line-In) na placa de som. Ajuste os níveis de saída do pedal e entrada de linha. Desta forma o pedal estaria funcionando como um primitivo “Direct Box”. Em alguns casos, as pessoas ligam pedaleiras direto na placa de áudio ou interfaces, obtendo bons resultados também.

4) A quarta opção é você comprar um “cabo de interface de áudio para guitarra e contra baixo”. Existem algumas marcas sendo vendidas no mercado. No vídeo “Sincronizando Áudio e Video by Danilo Gustavo”, que está no canal Youtube da SANTO ANGELO, a gravação foi feita com esse tipo de cabo / interface. Na minha opinião pessoal, é uma opção de qualidade sem onerar tanto o nosso bolso. Já consegui realizar ótimas gravações com este tipo de produto.

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5) A quinta e última opção que conheço, considerando a gravação em linha é utilizar uma interface de áudio digital de qualidade. Existem várias opções e marcas no mercado, mas procure por um dispositivo com um sistema conhecido como ASIO (Audio Stream Input Output) driver, que é um padrão de driver da indústria mundial. Basta ter em mente que a maioria das interfaces de áudio para o ASIO operam de forma semelhante e o painel de controle de cada interface permiti alterações de ajustes que proporcionam resultados com mais ou menos Latência (mais explicada adiante). Geralmente, quanto menor o tamanho do buffer, menor será a Latência. No entanto, você deverá experimentar os diversos tamanhos de buffer para encontrar a configuração ideal para o seu computador, baseado na velocidade do processador e na quantidade de memória livre – RAM. É sempre indicado usar o driver ASIO do fabricante, que vem com a interface de áudio. Caso não possua um, tente o ASIO4ALL facilmente encontrado na web.

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6) Conhece outra opção não citada?

Vale a pena explicarmos mais sobre a “Latência” porque é um termo técnico que significa, basicamente um lapso de tempo (atraso) entre tocar uma nota e ouvi-la após percorrer todo o sistema. É o famoso “retorno”. Ao utilizar um plugin tipo Guitar Rig, Amplitube, Revalver e outros, em sua opção stand-alone, ou seja, não inserido dentro do software de gravação, você precisará definir a Latência para um valor tão baixo quanto permitido pelo seu computador. Se você estiver usando um PC ou Mac com placa de som original de fábrica (placa onboard), você certamente terá problemas de Latência. Para adequar  a Latência no modo stand-alone, você deverá definir o número adequado no driver da interface de áudio. É aconselhado deixar a latência entre 128-256 samples.

Caso o som apresente umas “pipocadas”, “atrasos” e demais alterações você deverá experimentar trocar o buffer no drive da interface entre os valores padrões: 64, 128, 256, 512, 1024, 2048. É aconselhável começar com um número menor e aumentar gradualmente até que o som não fique mais instável.

Perguntas comuns que costumam surgir nesse pontos:

a)    Devo gravar a guitarra já com efeitos?

É uma questão de preferência. Eu prefiro colocar os efeitos depois, dependendo do efeito.

b)   Devo usar compressores de hardware, distorção ou outros efeitos antes de gravar o sinal?

Eu sempre responderei que depende do seu gosto pessoal. Mas quando se trata de compressão, equalização, reverbs e outros efeitos especiais que poderiam ser produzidos via software, eu prefiro reproduzi-los dentro do  software ou do plugin. Dessa forma, você sempre pode mudar de idéia depois. Para acessar totalmente todas as tonalidades possíveis, você deve tirar proveito de um processo chamado de “re-amplificação” (re-amp). Em poucas palavras, re-amplificação significa, simplesmente, gravar a guitarra limpa, e depois usar um plugin para alterar os efeitos e timbres. E se você estiver sempre buscando “aquele som de distorção”, meus parabéns porque possui o verdadeiro “espírito” de guitarrista. O caminho que percorrerá entre a saída do som limpo e o retorno na interface de áudio é sem limites, mas lembre-se de usar cabos de boa qualidade, caso contrário, seu som irá aos poucos se perdendo pelo caminho. Este sistema de re-amp também pode ser usado para captação de áudio do amplificador via microfones, mas vamos deixar as explicações mais detalhados para outro post.

c)    O que devo saber sobre 16 bits ou 24 bits de amostragem?

Muitas placas de som ou interfaces de áudio oferecem 24bits enquanto o padrão de CD de áudio é apenas 16bits. Eu procuro usar a maior quantidade de bits que minha interface pode suportar, lembrando que poderá chegar até aos 96bits, não sendo muito aconselhado para a maioria dos computadores comerciais vendidos nas lojas, lembrando sempre que o arquivo digital fica com tamanho considerável.  No caso de usar 16bits, atingiremos  cerca de 96 dB de alcance dinâmico. Em 24bits, haveria o adicional de 48 dB. Um preset de ganho elevado no seu plugin amplifica o sinal provavelmente entre 40 – 80 dB, e com esses níveis você começará a ouvir, da sua placa de som/interface, um ruído de quantização, mais conhecido como “bit noise”. A regra básica é quanto maior a quantidade de bits usados, haverá menos ruído digital na gravação.

d)   Devemos usar 44.1/48kHz, 96kHz ou maior?

Normalmente a regra do quanto maior, melhor, costuma funcionar, entretanto vai depender do software de modelagem ou amplificação considerando a capacidade da sua CPU, se não for exigida além da capacidade. Você deve considerar também que a maioria dos bons timbres de guitarra estão em 44.1 kHz e muitas vezes não percebemos a diferença no “ouvidômetro”. Eu prefiro gravar em 48kHz porque posso converter o áudio para 44.1kHz / 16 bits facilmente, sendo este o padrão do áudio dos CDs.

Fico por aqui, sempre lembrando que estou a disposição para esclarecer  dúvidas ou quaisquer outros comentários adicionais porque sempre podemos aprender mais juntos.

 

Grande Abraço

Alexandre Augusto Berni


2 comentários em “Outros detalhes práticos para gravação em linha.

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