Posso tocar nas ruas como já vi nos filmes?
Afinal, quantas vezes andamos pelas ruas e, perdidos entre consultas nos celulares ou atentos à segurança, nossos ouvidos são surpreendidos com sons de diferentes estilos? A vontade era de parar e escutar melhor, mas a correria ao próximo compromisso nos impede de aproveitar um pouco mais daquele momento e de certa forma prestigiar o artista.
Quem já passou por essa situação sabe onde queremos chegar.
Meu nome é Lygia Teles e hoje refletiremos sobre as ruas serem um palco eclético, dinâmico e sem preconceitos para músicos de todas as origens.
Talvez essa imagem só faça parte do cenário daqueles que vivem em grandes metrópoles como São Paulo, principalmente na região da Avenida Paulista, conhecida como cartão postal da cidade. Para quem é de longe, fica a informação que em todos os domingos esta cena se integra a outras diversas apresentações que acontecem ao mesmo tempo, normalmente até o fim do dia.
Inspire- se: “Enquanto o Sinal não Abre”
Produzido e roteirizado para o Banco Itaú, o mini documentário conta a trajetória do músico de rua, Elzo Henschell, que é levado para a realização do seu sonho: Tocar no Rock in Rio, assista:
Mas, nem sempre foi assim…
Infelizmente, vários músicos sofreram para alcançar um ambiente sem stress para se apresentarem. Um deles foi Carlos Adriano de Oliveira, agredido em 2015 no Rio de Janeiro, por um funcionário do Metrô quando tocava flauta transversal dentro de uma estação.
Além disso, foi arrastado pelo funcionário até a saída e hostilizado publicamente. Logo em seguida, o Procon atuou a concessionária, conforme relatado aqui.
Outro episódio, com grande repercussão na mídia foi do guitarrista Rafael Pio, que tocava na Avenida Paulista em 2010. Abordado pela PM, os policiais exigiram que ele se retirasse do local. O músico insistiu, bateu com a guitarra na viatura e acabou jogado ao chão, algemado e levado à delegacia, conforme noticiado aqui.
Mas, como um músico pode se apresentar na rua sem passar por isso?
Infelizmente, como vimos acima, existem algumas restrições e a arte de rua não é difundida (e nem incentivada) aqui no Brasil. Mas soluções existem.
Para melhor orientar nossos leitores, entrei em contato com assessoria de imprensa da Secretária de Cultura do Estado de São Paulo e fui informada que existe uma lei específica, a de N°15.776, publicada em 29 de Maio de 2013, cujo objetivo é regulamentar e garantir apresentação de músicos e artistas de rua em espaços públicos.
Essa lei disciplina a apresentação de músicos nas ruas com a garantia de que não serão hostilizados nem presos. Ou ainda pior: terem confiscados seus instrumentos musicais.
No Rio de Janeiro, uma lei similar (a de 5.429/12) veio um pouco antes, em 2012. Belo Horizonte e Porto Alegre também já contam com suas próprias leis específicas para os artistas de ruas. No Congresso Nacional foi protocolado um projeto de lei em setembro de 2014 para nacionalizar a Lei nº 15.776/13, do Município de São Paulo.
Você achava que seria fácil? Saiba mais sobre as restrições dessas leis.
O artista não pode obstruir o trânsito e passagem de pedestres, devendo respeitar a integridade dos espaços públicos. Além disso, a apresentação deve ser gratuita, porém doações espontâneas estão permitidas. Deve-se respeitar instalações e áreas verdes do local e obedecer aos níveis máximos de ruído da Lei 13.885/2004, entre outros artigos. Saiba mais nesse link.
Essas leis valem também para trens e estações do Metrô?
Como vimos acima, além das ruas, outro espaço comum de manifestações artísticas e que podem gerar confusões é dentro de trens e Metrô ou nas respectivas estações. Por isso, entrei em contato com a assessoria de imprensa dessas companhais e de acordo com o regime interno fica expressamente proibida qualquer apresentação dentro do Metrô e em suas intermediações.
Segundo a assessoria, músicos ou artistas que desejarem se apresentar dentro do Metrô devem procurar o departamento de marketing da concessionária local dessas linhas e entregar um pequeno projeto com detalhes sobre o evento pretendido.
De acordo com as informações que me deram, estas medidas visam a segurança dos usuários, evitando tumultos e impedimento da livre circulação dos pedestres.
Mas, fora do Brasil existem regulamentações parecidas?
A realidade lá fora é bem diferente. A educação musical é apreendida logo cedo nas escolas e as crianças desenvolvem um potencial incrível de inteligência e criatividade.
E essa cultura se espalha em toda a sociedade, talvez, por isso seja uma prática comum encontrar músicos tocando nas ruas e estações de Metrô com poucas restrições legais. Assim, os artistas, de forma geral, são valorizados e prestigiados pelo público.
Para quem já teve a oportunidade de viajar para o exterior, certamente presenciou que em Londres/UK e em Nova York/USA, por exemplo, os músicos ficam nas plataformas e são proibidos de tocar dentro dos vagões do metrô, porém nas ruas, o espaço é totalmente liberado para quem desejar se apresentar.
Para se inspirar:
Conheça o ensaio fotográfico da Faculdade Cásper Líbero com músicos de rua espalhados por várias cidades do mundo clicando aqui.
Acha essa realidade muito distante?
Nosso endorsee gaúcho, Bruno Mello, guitarrista conhecido principalmente pelo seu trabalho no YouTube como professor e crítico do mercado, já passou por essas experiências. Em viagem de intercambio, durante seis meses divulgou seu trabalho nas ruas de Sydney, capital da Austrália.
Segundo Bruno, foi uma experiência muito valiosa para a sua carreira e importante para amadurecer o seu trabalho e interação com o público. Além disso, financeiramente ajudou bastante para manter seus custos com a viagem e estudos. Quando retornou ao Brasil, percebeu como o período que esteve fora agregou para a sua carreira e crescimento pessoal.
E aí? Quer divulgar seu trabalho tocando nas ruas brasileiras?
Recomendamos a plataforma “Artistas na Rua” que é um espaço democrático para promover online a arte de rua (além da Musica, eles ainda têm espaço para Artes Plásticas). Para participar é simples: forneça informações como nome, agenda de apresentações, foto e vídeos.
Além disso, como apreciador dessas demonstrações, você pode ficar por dentro de outras agendas e de tudo que acontece nas ruas de São Paulo, cadastrando-se aqui.
Resumindo.
A rua não é um ambiente fácil: exige adaptação e muita resiliência, além do trato com as pessoas passantes.
É um palco sempre aberto para todos e que não faz distinções sociais, assim como, pode proporcionar possibilidades de divulgação e de maior interação com o público.
Por último, lembro que muitos cantores têm histórias de superação antes de conquistarem o sucesso, mas a trajetória de “Seu Jorge” impressiona, pois durante sete anos morou e se apresentou nas ruas do Rio de Janeiro/RJ. A vontade de viver de música sempre o fez seguir em frente.
Ou seja: dedicação, estudo e perseverança são palavras chaves para superar desafios e obstáculos.
E se você tem uma história dessas para nos contar, não hesite: faça desse post sua “rua” para nos mostrar sua experiência.
Abraços e até a próxima!
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Lygia Teles, é Relações Públicas e pós-graduanda em Gestão de Marketing pelo SENAC-SP. Desde janeiro/16 integra a equipe de Marketing e Comunicação da SANTO ANGELO.