Pozzoli – a póstuma evolução do ensino musical
Fala meu querido leitor ou leitora: tudo bem com você?
Como você deve se recordar, avisamos nesse post que haveria uma mudança no nosso time de Comunicação com referência aos conteúdos aqui no blog.
Isso não justifica, no entanto, uma mudança no compromisso do nosso blog com a divulgação de bons conhecimentos, certo?
Por isso, os próximos posts serão de responsabilidade de um conhecido nosso, que já assinou várias matérias legais no blog SANTO ANGELO quando fazia parte do nosso time.
Lembra do Dan Souza?
Mesmo depois de sair e enfrentar outros desafios no mercado musical e de áudio profissional, o Dan está de volta e só depende de você para ele continuar escrevendo o conteúdo.
Comente, elogie ou critique esse e os próximos posts para sabermos sua opinião ou quais outros temas ele poderia abordar, combinado?
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E aí pessoal, tudo bom? Que saudade dessa convivência.
Quem fala é o Dan Souza, sim, aquele músico sofredor e entusiasmado como você, que escreveu no blog SANTO ANGELO de 2013 até 2016.
É um prazer estar aqui novamente e só depende de você que eu continue. Por isso seu comentário e opinião é muito importante no final, OK?
E que tal dar continuidade ao grande trabalho que o time de Comunicação da marca estava fazendo nos últimos meses sobre Métodos de Aprendizado Musical?
Da minha parte, a Missão está aceita, mas se prepare porque vou começar pelo começo, ou seja, pelos métodos clássicos de ensino que metem medo em muita gente que deseja tudo para ontem.
Muito se falou do Bona, um dos livros mais clássicos no Ensino Musical, quase centenário em resultados para os grandes músicos que conhecemos, certo?
Mas como é comum em qualquer mercado, a concorrência iria aparecer e com o Bona não foi diferente.
Nesse caso, estou falando do pianista e compositor Ettore Pozzoli, nascido em 1873 – cinco anos antes da morte de Pasquale Bona – e falecido em 9 de novembro de 1957, formado pelo exclusivo Conservatório de Milão.
Analisando o cenário musical italiano da época, é bem possível que o método Bona, de seu antecessor, provavelmente tenha sido usado em sua alfabetização musical, já que a obra estava bem solidificada no ensino daquela época.
Porém, Pozzoli, “disruptor” que era, entendeu que, antes de uma leitura melódica era necessário entender os ritmos – mesmo tendo lançado 7 estudos sobre melodia antes de chegar à essa conclusão.
Em 1904 – sim, mais um método centenário – nosso querido compositor lança o “Sunto di Teoria Musicale” em 3 tomos: uma pequena revolução no “como ensinar” a tão temida partitura que, antigamente, era a única forma de aprender Música Erudita.
Pensando em como deixar o passo-a-passo mais fluido, Pozzoli ensina, nesses livros, como a Música era (e ainda é) dividida.
O intuito dele não era o ensino do tão conhecido Solfejo, mas do ditado musical, como forma de mostrar conceitos separadamente para uni-los ao final.
Esses conceitos são separados em três parte: rítmico, melódico e harmônico.
Iniciando com o ditado rítmico, Pozzoli resolveu explorar as subdivisões, durações e pausas, sem foco em notas e alturas.
As unidades de tempo são explicitadas, ritmos binários e ternários estudados, sinais de notação (valores simples e pontuados) aprendidos (e decorados, por favor) compassos simples e compostos aprofundados e, por fim, grupos e proporções rítmicas.
Parece muita coisa e de fato é, porém, durante o ensino, percebe-se que são conhecimentos extremamente necessários para que cada passo seja concluído com êxito.
Um dos grandes acertos dessa obra são os grupos rítmicos, que são inseridos aos poucos durante cada uma das dezessete séries do ditado.
Bater palmas, estalar os dedos ou mesmo produzir qualquer som (independente de nota ou afinação) com a boca, por exemplo, são as únicas ferramentas que você precisará para essa primeira parte do estudo.
Muitos músicos fazem isso no transporte público, em seus quartos, na sala de aula e quiçá, no banheiro.
Como as séries são curtas, você pode fazê-las em qualquer intervalo de tempo que tiver, mas recomendo a repetição constante até que fique muito fluido.
Assim, tente evitar a famosa “decoreba” para forçar a leitura das figuras.
Aconselho também o estudo desse livro a qualquer tempo, independentemente de você já tê-lo zerado. É sempre bom exercitar.
Seguindo a GIG, o livro entra no ditado melódico: uma básica explicação sobre as Notas, Andamento (Alegretto, conhece?) e sobre o italianíssimo Legato vão te preparar para o pesadelo a seguir.
Um parêntese: chamo de pesadelo pois é um aprendizado moroso e difícil, que fez muitos músicos, meus conhecidos, ficarem pelo caminho.
Porém, todos aqueles que foram com foco e perfeição até o final são músicos mais cheios das nuances rítmicas e com os floreios mais bonitos (e não só na Música Erudita) que eu também conheço.
São vinte e quatro séries com a média de dez exercícios cada porque um Estudo mais longo exige concentração e atenção.
Todos os grupos rítmicos da fase anterior são explorados e aprofundados, tornando a sua leitura de partitura mais fluida a cada exercício que você supera.
Pensando em termos mais atuais, o método Pozzoli era um tipo de gameficação, onde o prêmio era você conseguir ler as peças mais clássicas do mundo e executá-las.
Para um período, onde o imediatismo no ensino não existia como hoje é tanto desejado, era um achievement (progresso) e tanto na Aprendizagem Musical mais sofisticada.
Nessa fase, pode ser muito interessante fazer o ditado tanto no vocal quanto com seu instrumento, porque ajuda muito a se localizar melhor onde estão as notas, as alturas e entender as claves de sol (G) e fá (F) e suas armaduras de Clave – Bemóis e Sustenidos.
Após o longo estudo da segunda parte, finalmente a chegada se aproxima, mas não se apresse, pois esse método não é uma corrida de 100 metros.
A terceira parte entra, finalmente, no Dettato Armonico (em italiano, pra ficar mais legal): porque é nessa hora que instrumento será 100% necessário, visto que teremos 2 ou 3 vozes nos exercícios.
Claramente, o método Pozzoli foi desenvolvido para pianos, mas a adaptação para instrumentos de corda é tranquila, enquanto que para Sopro e voz já são histórias diferentes.
Que tal agora, criar aquele momento de fazer um estudo em grupo?
Hoje, esses 3 tomos se tornaram 2 livros divididos em 2 partes cada, cujo título traduzido é Guia Prático e Teórico e sempre foi publicado pela Editora Ricordi, com a capa laranja é clássica, fica fácil de achá-lo nas prateleiras.
Se não quiser gastar, já aviso que a obra tornar-se-á de domínio público em 2028.
Mas como sei que você respeita o Direito Autoral, também aviso que consegue encontrá-la em muitos sites, com a primeira parte bem baratinha, custando no máximo R$ 20,00 nas pesquisas que diz até a data de publicação desse post.
A segunda parte, por ser maior, deve ficar em torno de R$ 50,00, mas se quiser ser mais tecnológico, a obra também está disponível para vários e-readers.
O interessante de analisar é que temos, ainda hoje, esses livros como alicerce de estudo em conservatórios – ou livros baseados neles.
Eles foram, por mais de 100 anos, a única saída que músicos tinham de um estudo formal, fato esse que, nos últimos 20 anos, têm mudado drasticamente.
Mesmo integrando o cosmo dos grandes nomes da música que já se foram, os métodos Bona e Pozzoli estão muito presentes no dia-a-dia de um músico.
Observamos professores no Brasil (muitos deles integrantes do time SANTO ANGELO de endorsees) entenderam esses clássicos e os usaram para desenvolver seus próprios métodos.
Entende-se, também, que nem todo o estudante de Música quer se tornar erudito, dada essa universalização do conhecimento musical, sendo que várias pessoas querem apenas tocar músicas que amam, outros que querem compor, outros que querem ensinar, enfim, cada tem seu objetivo particular no universo musical.
O fato é que o conhecimento de partituras e a sua leitura nunca será um conhecimento ultrapassado e digo o motivo: você consegue conversar com o ocidente inteiro e parte do oriente com essa linguagem.
Um músico consegue comunicar uma ideia ou um sentimento para outro músico usando só a partitura. Não precisa saber inglês, mandarim ou português. A notação musical é universal.
E isso possibilita que uma obra musical possa ser ouvida e sentida por diferentes públicos ao ser executada por outro músico, ou seja, um entendimento que transcende culturas e vai além das palavras e idiomas.
Assim como o Bona, o método Pozzoli sofre do problema de ser lento no ensino.
Em um momento de “tudo pra ontem” ele não é tão atrativo, causando a evasão de possíveis promissores músicos que iniciam o contato através desses métodos. Por outro lado, a Tablatura, para os instrumentistas de cordas, nesse quesito é extremamente mais atrativa.
Fala pra mim: quanto tempo você dedica a um livro na semana e quanto tempo você dedica ao Youtube?
Inclusive uma pausa, porque se você preferir, ao invés de ler esse post, temos também outra opção aos nossos leitores: você poderá ouvi-lo clicando no link abaixo. Depois me conte como foi essa experiência.
Essa discrepância no tempo demonstra o quanto os métodos de ensino evoluíram. Vídeos e aplicativos hoje são portas de entrada bem mais largas e convidativas, e você sabe disso.
Não estou dizendo que são ruins, mas são a prova de que o ensino está avançando e, agora, a passos mais largos que antigamente.
E você, utiliza algum método diferente dos falados até agora?
Não se esqueça de comentar aqui embaixo e fomentar essa discussão tão importante. É com gente diferente e mentes ímpares que a gente constrói um ensino musical melhor e mais qualitativo pra todo mundo.
No próximo post, falaremos sobre a era das vídeo aulas e como elas evoluíram até o Youtube nosso de cada dia.
Espero que tenham curtido e nos vemos em breve.
Abração!
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Valeu Dan por compartilhar seu conhecimento com a nossa galera e eu mesmo perdi o medo de estudar Música por esse método clássico. Será que consigo?
Sei que você leitor, ou leitora, está com essa indecisão na cabeça e enquanto a gente não se decide, que tal comentar o tema que o Dan escolheu para esse post logo abaixo ou nas redes sociais da SANTO ANGELO?
Conto com sua participação.
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Dan Souza (IG: @danhisa) é músico e profissional de Marketing, Relações Artísticas, Branded Content, Performance e Music Business, formado pela UNINOVE.