Equalizando a sonorização ambiente

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por Denio Costa

Olá, meu nome é Denio Costa, sou consultor em projetos de acústica, áudio e vídeo na empresa DGC Áudio e instrutor na escola Núcleo de Formação Profissional – NFP de Belo Horizonte/MG. No post anterior, falei sobre caixas acústicas e taxa de cobertura em ambientes. Você fez a lição de casa, visitando vários locais, ouvindo e procurando saber mais sobre os respectivos fabricantes? Muito bem, hoje vamos avançar um pouco nos conceitos de sonorização profissional começando pela equalização.

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O termo equalizar vem de equilibrar, igualar. Um sistema de sonorização bem equalizado é aquele com grande equilíbrio entre as frequências. Isto permitirá que reproduza um determinado programa (shows, palestras, etc.) de áudio sem inserir alterações indesejadas.

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Basicamente temos dois tipos de equalização, sendo uma técnica e outra artística. A técnica busca este equilíbrio no espectro de frequências dos graves aos agudos. A artística é como uma assinatura no programa musical. No caso da música, o operador de áudio viabiliza a entrega dos objetivos do artista para o público. Para vocês me conhecerem melhor, informo que comecei vida de profissional de áudio em locadoras e posteriormente como operador de áudio de diversos artistas (14Bis, Pato Fu, Ana Carolina, Flávio Venturini, Roy Rogers, Biquíni Cavadão, Ivan Lins, Gláucia Nasser e Sol Alac) e sei bem o que significa entregar o som de estúdio para um show ao ar livre com dezenas de variáveis acontecendo ao mesmo tempo.

Voltando ao nosso tema, para simplificar farei uma analogia com a pintura. Se entregarmos a mesma imagem para que diversos artistas a pintem, certamente teremos quadros completamente distintos. O que não quer dizer que um seja mais ou menos bonito que o outro, mas que simplesmente são diferentes.

Um técnico pode equalizar o sistema de sonorização que será operado por outro técnico.

Muitas vezes para se obter toda a extensão na resposta em frequência desejada, é necessário o uso de caixas acústicas complementares, como os graves ou subgraves. Neste caso ela atua em uma determinada região de frequências que complementa outra que atende as demais regiões.

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Outra forma de complementação é quando se usa caixas acústicas com amplo espectro de frequências, mas para cobrir áreas distintas no ambiente. É o caso de galerias e camarotes. Muitas vezes as caixas acústicas principais, montadas próximas ao palco, não conseguem entregar energia suficiente nestes espaços, logo, as complementares são utilizadas.

Um cuidado especial que deve se ter nestes casos é o uso de equipamentos digitais capazes de inserir atraso de tempo no sinal de áudio que alimentará estas caixas. Isto leva para o ouvinte a sensação de que há apenas um som sendo gerado e que a imagem sonora está no palco e não na caixa acústica próxima do ouvinte. Quando este recurso não é utilizado, a qualidade da sonorização fica prejudicada já que, dependendo do local no ambiente, o mesmo som poderá ser ouvido uma ou mais vezes, dando uma estranha impressão. O primeiro sendo gerado pelas caixas acústicas principais e os demais sendo gerados pelas caixas acústicas complementares e até mesmo pelas reflexões no ambiente.

Assim, observamos que além da equalização, o ajuste de tempo se faz necessário, quando o desafio é otimizar o sistema de sonorização.

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Alguns cuidados na otimização de sistemas de sonorização ambiente

Eu uso o termo otimização no lugar de alinhamento porque entendo que alinhar nem sempre é possível. Otimizar é fazer o melhor possível com os equipamentos disponíveis. Alguns equipamentos apresentam limitações que, dificilmente, serão resolvidas. Isto porque, às vezes, o problema é de projeto e para resolve-lo, só utilizando outros equipamentos. Algumas pessoas acreditam que otimização de sistemas se resume no uso de equalizadores gráficos ou paramétricos. Mas esta é apenas uma das etapas.

A otimização parte do programa para o equipamento e não o caminho contrário.

De posse das dimensões e características arquitetônicas do ambiente e tipo de programa que utilizará no sistema, parta para a especificação dos equipamentos mais adequados. Este estudo indicará a disposição básica dos equipamentos dentro dos diversos ambientes. Serão considerados SPL (Sound Pressure Level – Nível de Pressão Sonora), cobertura, resposta em frequência e inteligibilidade.

Claro que os cálculos não serão feitos a mão, certo? Os dados citados devem ser inseridos em softwares de predição mecânica e acústica, como o EASE Focus. Existem diversos outros disponíveis no mercado. Cada fabricante de equipamento disponibiliza os dados de seus equipamentos para um determinado software. Inclusive alguns possuem o seu próprio software dedicado como a Bose e D&B.

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É necessário o uso de um sistema de medição eletroacústica baseado em FFT (Fast Fourier Transform – algoritmo que você pode pesquisar nesse link)  como o Smaart, SIM, Systune, SpectraFoo ou SatLive. Estes sistemas de medição são compostos de software, interface de áudio com, ao menos, duas entradas de áudio balanceadas e com controle de ganho, microfone calibrado para medição e os cabos para áudio para interconexões.

O sistema de medição precisa de dois canais, onde um é o de referência e o outro é o de medição. O sinal de referência pode ser gerado pelo próprio software e é capturado na saída da interface. Para quem puder experimentar ou já trabalha na área, recomendo os procedimentos a seguir.

Sugiro que façam as medições de todos os equipamentos na cadeia do áudio e não apenas das caixas acústicas. Isto irá garantir que estes equipamentos não interfiram, indesejadamente, nos sinais medidos.

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Meçam a console de mixagem. Já encontrei situações em que haviam controladores de dinâmica, efeitos e equalizadores no canal do sinal de testes ou nos masters da console. Digo nos masters porque otimizamos não só o sistema de reforço sonoro da platéia (PA) mas também os monitores. Por isso é necessário medir as saídas Main Master e Aux Out (Bus).

Façam a medição dos demais equipamentos no fluxo dos sinais, como; equalizadores, compressores, cabos e gerenciadores de sistemas.

Considerando que você já tenha feito toda a predição mecânica e que tenha instalado o sistema de forma adequada, usando como base os dados destes estudos, partirá para a medição das caixas acústicas.

O posicionamento do microfone no ambiente é algo muito importante. Deve-se evitar proximidade de superfícies refletoras como paredes, teto, piso, pilares, balcões etc. Elas podem mascarar suas medições em função dos cancelamentos gerados por reflexões.

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Meça no campo direto, onde se tem mais energia direta do que refletida.

Muito bem, voltando ao nosso tema central, lembro que todo o cabeamento utilizado, tanto no sistema de sonorização quanto no sistema de medição é muito importante. Eles podem enganar te enganar.

Os cabos de áudio são dielétricos e possuem características elétricas como Reatância, Capacitância e Indutância. Assim sendo, podem funcionar como filtros em seu sistema.

Vocês já podem ter passado pela situação de encontrar um sistema de sonorização onde um bloco de caixas possuía resposta em frequência diferente de outro bloco. Problemas assim podem ter origem nos drivers, alto falantes, filtros nos equipamentos que você não verificou, mas também podem estar nos cabos.

Muitos se assustam quando digo isso por não consideram cabos importantes perante a complexidade dos equipamentos, mas já encontrei situações em que um único cabo com conectores XLR adulterava a resposta de agudos em um PA. Não só por uma inversão de polaridade durante a montagem do cabo, mas, principalmente, por sua limitação na resposta em frequência. Recomendo a leitura desse link bem fácil de entender sobre os conceitos de filtros passa-faixa.

Ao medir os cabos identifiquei esta limitação. Um dos cabos possuía um roll off na resposta das altas frequências. O dono da locadora não acreditou quando lhe mostrei e disse que jogaria os cabos no lixo e trocaria todos. Claro que eu o orientei a medi-los antes de tomar decisões drásticas. Ele poderia ter apenas um cabo com esta limitação e que, infelizmente, foi exatamente o que estava sendo usado no master da console de mixagem.

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Outro fator que altera a qualidade dos cabos é o excesso de umidade e variação de temperatura do meio ambiente. Elas podem acelerar a oxidação na malha dos cabos que alteram suas características elétricas. Como devem saber, a extrusão da capa de PVC desse tipo de cabo, libera gases ácidos que se não forem devidamente controlados podem atacar a blindagem de Cobre que fica logo baixo da capa. Já encontrei cabos com um pó esverdeado no interior, como um zinabre daqueles vistos nos contatos dos cabos e terminais das baterias veiculares.

Meçam tudo e garanto que não se arrependerão.

Utilizem o software de medição eletroacústica para saber a resposta de frequência e fase de todos os cabos de seu sistema.

Por hoje vamos parar por aqui. Sugiro que até o meu próximo post, você converse com vários operadores e técnicos de som para checar como eles fazem a medições de acordo com as informações que te passei nesse post. E não esqueçam de comentar a experiência que tiveram porque tenho certeza que também vou aprender muito com vocês.

Um abraço e até a próxima.




3 comentários em “Equalizando a sonorização ambiente

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