Nossa audição pode e deve ser treinada

Fala meu querido leitor: tudo bem com você?

Faz algum tempo que o blog SANTO ANGELO não fala sobre Áudio Profissional como nesse primeiro post  assinado pelo especialista Dênio Costa de junho / 2015.

Hoje você vai conhecer um outro especialista, igualmente competente, mas muito pouco conhecido no meio por ter dedicado muitos anos de sua vida como consultor em projetos especiais para igrejas de todos os portes.

Conheçam Pedro Duboc e o interessante assunto que ele escolheu como seu primeiro post aqui no blog. Tenho certeza que irá gostar e aplicar no dia a dia da sua profissão de músico, técnico ou produtor musical.

Fala pessoal, tudo beleza?

Hoje muito se fala sobre as novidades tecnológicas do mercado de áudio: mesas digitais com recursos fantásticos, novos modelos de microfones, fones, caixas e por aí vai…

Percebo, e com certeza você deve também perceber, que cada vez mais precisamos estar correndo contra o tempo para nos atualizar quanto a todas essas inovações e nos manter, desta forma, atualizados no mercado de trabalho.

Hoje precisamos conhecer os softwares do momento (como Smaart, WWB entre outros) como ferramentas que nos ajudam a desempenhar um trabalho de excelência.

Porém, será que a ferramenta mais importante está sendo bem utilizada?

Lembro-me bem de uma história sobre a diligência em gastarmos tempo amolando o machado, para que a missão de derrubar a árvore seja mais rápida e eficiente.

Do contrário, se formos derrubar a árvore com o machado sem ser amolado, certamente levaremos muito mais tempo e gastaremos muito mais energia para atingir o mesmo resultado.

O que essa lição nos ensina?

Assim como o machado é a ferramenta mais importante de um lenhador, nossos ouvidos são a nossa ferramenta mais importante.

Você jamais fará um som bom se não desenvolver (afiar) os seus ouvidos, e é sobre isso que falaremos hoje, sobre como treinar nossos ouvidos.

O mundo do Áudio é dominado por equipamentos e acessórios tais como amplificadores, caixas de som, periféricos, cabos, conectores, entre outros que nos fazem reconhecer que o nosso precioso sinal de Áudio será degradado quando passar por eles.

Ao final de toda a cadeia de áudio, usaremos nossos ouvidos para responder a pergunta mais importante: a qualidade do som está aceitável?

O Maestro, o Engenheiro de Gravação e o crítico musical experiente têm em comum a Audição (ou ouvidos, como mais comumente se fala) suficientemente treinada para esse julgamento, mas e os estudantes que estão aprendendo sobre os mistérios do Áudio?

Os ouvidos do maestro, do engenheiro de gravação, do crítico musical e do aluno provavelmente tem a mesma sensibilidade se formos examinar através de um teste audiométrico, como bem explicado nesse outro post aqui no blog

A diferença é que o estudante não experimentou uma Audição crítica, como os outros profissionais, e é exatamente isso o que eu tratarei a seguir.

Seria esse o treinamento auditivo que imaginou?

Embora o blog SANTO ANGELO já tenha falado sobre os benefícios da Musculação para tocar melhor nesse post  para a minha sugestão de treinamento auditivo você vai precisar somente de um app no seu celular ou smartphone. Eu recomendo esse, disponível tanto para as plataformas iOS como Android, sem custo algum.

Em primeiro lugar precisamos conhecer as Frequências, limitando o Range, talvez num primeiro momento, entre 100Hz a 10.000 Hz.

Começaremos, então, com um tom puro de 100Hz, em seguida 10.000 Hz. Em seguida podemos usar 260Hz, que seria o Dó central do piano (claro que sem a beleza harmônica do instrumento).

Depois, podemos saltar para 520Hz, ou seja, uma oitava acima. Esses são apenas exemplos de exercícios de tons puros que poderemos fazer.

Vencida essa fase, vamos exercitar nossa sensibilidade para mudanças de intensidade sonora. Iniciaremos, por exemplo, com 1.000Hz em um nível constante. Em seguida uma mudança de nível de 10dB, lembrando que 10dB é o dobro de Loudness, como explicado nesse link

Com o nível constante em 1000Hz, mudamos apenas 5dB e, em seguida 2dB. Pode parecer difícil em um primeiro momento perceber a mudança de 2dB, porém, com o tempo de exercício, verá que é possível.

É mais fácil perceber a mudança de 2dB em níveis mais altos de sinal e, portanto seria interessante nesse exercício, subir mais 10dB antes de iniciar a percepção de 2dB.

Com esse exercício vemos que a mínima mudança percebida pelos ouvidos, depende do Loudness do tom de 1000Hz e o Loudness depende da frequência.

Em seguida, fazemos o mesmo exercício com 100Hz. Percebemos que é muito menos perceptível a mudança em 100Hz do que em 1000Hz. A menor mudança perceptível depende da Frequência e do Nível de Som.

Ainda nos exercícios de níveis sonoros, é interessante fazer o mesmo treinamento utilizando uma música bem dinâmica, assim como com a Fala.

O terceiro exercício é com limitação de Banda. Primeiro colocamos uma Música para tocar sem filtros. Em seguida colocamos um filtro Passa-Alta (Lo-Cut) em 200Hz, depois 500Hz e 1000Hz logo após.

Assim criaremos uma referência dos cortes em nossa Audição.

Depois disso, faremos o mesmo com filtros Passa-Baixa (Hi-Cut) em 8k, 5k e 2k e sempre voltando ao Full Band.

Em seguida faremos o exercício de irregularidades na Resposta de Frequência, lembrando que nos exercícios anteriores experimentamos cortar as altas e as baixas. Agora, trabalharemos com alterações no espectro.

Com a mesma faixa de Música, que utilizamos nos outros exercícios, vamos agora dar 10dB com Q fechado em 8K.

Percebemos que mesmo com Q fechado, algumas Frequências acima e abaixo de 8k são afetadas. Em seguida uma mudança de 5dB em 8k.

Agora você conseguirá fazer um julgamento da Qualidade Sonora.

Como tudo na vida, alguns sons são descritos como simples e outros como complexos. Estar apto a distinguir entre o simples e o complexo, ambos no tipo de diferença e na quantidade da diferença é extremante necessário no trabalho com Áudio.

Conseguimos fazer isso, utilizando uma Sine Wave de 1000Hz e, em seguida, uma Onda Triangular de 1000Hz. Consegue distinguir bem a diferença?

A Onda triangular soa diferente por causa dos Harmônicos que contem. Os harmônicos são múltiplos da frequência fundamental de 1000Hz.

A Sine Wave não contém Harmônicos por ser um tom puro, já a Onda Triangular de 1000Hz contém um fraco terceiro harmônico de 3000Hz, outro de 5000Hz e outro de 7000Hz.

Se ouvirmos a Frequência Fundamental de 1000Hz, juntamente com seus harmônicos, então perceberemos a diferença entre a onda pura e a triangular.

Esses são apenas alguns exercícios para aprimorarmos nossa audição. Posso citar dezenas de outros onde poderemos treinar a detecção de distorção, efeitos de reverberação, sinal x ruído, Coloração vocal, mascaramento, percepção de delays entre diversos outros.

O importante é que você desperte para o fato de que nossa mais importante ferramenta de Áudio é o nosso sistema auditivo e, assim como tudo na vida, precisamos exercitá-lo continuamente para melhor aproveitamento.

Outro lado importante quando falamos de nossos ouvidos é o cuidado que devemos ter para não perdermos nossa Audição, como foi muito bem explicado em um dos primeiros posts  aqui do blog SANTO ANGELO.

É bom lembrar que a perda auditiva é irreversível e exposição a níveis sonoros muito altos por longos períodos causa perda auditiva, como podemos ver na tabela de Fowler utilizada pelo Ministério do Trabalho.

É isso aí galera, vamos seguir cuidando e treinando os nossos ouvidos, afinal dependemos deles para ganhar o pão de cada dia!

Grande abraço e até a próxima!

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Obrigado, Pedro, pelas dicas sobre Treinamento Auditivo e tenho certeza que nosso leitor procurará segui-las para continua evolução da carreira profissional.

Lembro ainda que dúvidas, comentários e sugestões (elogios também são bem vindos) podem escrever aqui embaixo, ou se preferir, nas redes sociais da SANTO ANGELO.

Pedro Duboc é técnico de áudio e membro da SOBRAC (Sociedade Brasileira de Acústica) ABPAAudio (Associação Brasileira de Profissionais de Áudio) ASA (Acoustical Society of America) e AES ( American Engineering Society)

Lygia Teles, é Relações Públicas e especialista em Gestão de Marketing pelo SENAC-SP. Desde janeiro/16 integra a equipe de Marketing e Comunicação da marca SANTO ANGELO.

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