8 Mandamentos para seguir antes de comprar um instrumento musical usado.

07-11-17 (1)

Fala pessoal, beleza?

Quase um ano sem escrever para o blog SANTO ANGELO, aqui estou eu, Renato Moikano, mais uma vez trocando ideias com vocês quando o tema é instrumento musical. Quem ainda não me conhece, pode clicar no link  para saber mais sobre mim e meu trabalho como luthier.

Vamos ser sinceros: todos nós, amantes das cordas, gastamos horas e horas navegando por sites e páginas de revistas, namorando novas guitarras, tocando com os olhos fechados, desejando aquele baixo, guitarra ou violão em nosso acervo.

Mas muitas vezes, nosso objeto de desejo é muito caro para ser adquirido novo, ou ainda, saiu de linha, ou simplesmente nos apaixonamos por um instrumento musical antigo e usado.

É nessa hora que precisamos começar a dosar melhor razão e emoção.

Note que não estou te pedindo para ser mais racional ou emocional, nem para eliminar ou outra, mas sim colocar as duas para trabalharem lado a lado.

Dessa forma, a emoção vai te dar prazer na escolha do instrumento e a razão vai te manter focado para que a guitarra, baixo ou violão escolhido atenda suas expectativas, estando em boas condições de uso e por um preço bacana.

Acredito que tenho pouca influência na emoção de cada um. Afinal, ajudar alguém a se empolgar com uma Fender Stratocaster ou uma Gibson Les Paul sempre vai depender do que aquela pessoa gosta de tocar, que referências históricas musicais ela traz, entre tantas outras razões que a nossa vã filosofia desconhece.

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Mas quero tentar contribuir para o lado racional e acredito que, com a experiência na minha profissão, posso ajuda-lo com dicas práticas de como escolher um instrumento usado, além de como avaliar, presencial ou virtualmente, sua “tocabilidade”, seu estado de conservação e o mais importante:

Sua funcionalidade primordial: fazer boa música.

Por isso o título desse post fala sobre mandamentos. Mais do que leis pétreas, eles funcionam como guias na hora da escolha.

Lembre-se que essas dicas funcionam tanto para instrumentos que você viu em sites online de vendas (como Mercado Livre, OLX, MusicJungle, entre outros marketplaces) como para lojas físicas.

Como em qualquer negócio é importante manter a razão em alerta na hora de identificar o vendedor, principalmente no caso das vendas online.

A maioria dos sites oferecem meios de verificar a reputação do vendedor. Avalie seu histórico de vendas e, principalmente, sua postura na resolução de problemas com outros clientes.

Transparência e cordialidade são essenciais. Na dúvida, pule fora.

Dito isso, pronto para os Mandamentos? Vamos lá!

1. Observarás atentamente a construção!

Os instrumentos de corda dependem primordialmente de quão criteriosa foi sua construção. No caso dos sólidos, os componentes elétricos e ferragens podem ser facilmente trocados.

Mas, se a construção não foi bem executada, aí o problema é mais sério. Para isso avalie bem (ou peça fotos) a junção do braço.

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No caso dos instrumentos com braço parafusado, atente para folgas que possam prejudicar a boa regulagem do instrumento.

Muitas vezes elas podem ser corrigidas facilmente por um luthier. Mas essas “gambiarras” tiram um pouco do valor de mercado de qualquer instrumento musical usado.

2. Procurarás por marcas de quebra e rachaduras em instrumentos de mão angulada

Quantas vezes já vimos cenas de terror e fotos de uma guitarra Gibson com a mão (ou headstock) quebrado? Infelizmente isso é comum e tem conserto.

Mas esse é o tipo de reparo que também tira muito valor de mercado do instrumento. Isto vale para guitarras, baixos e violões também.

Uma técnica muito comum na hora de consertar a mão da guitarra é cobrir a área com uma pintura, no estilo sunburst, ou degrade. Fique esperto!

Observe se a parte traseira está coberta com esse estilo de pintura apenas na região do ângulo entre braço e mão do instrumento. Ele pode significar uma quebra ou rachadura reparada.

3. Conferirás a medida da escala e posição da ponte: os harmônicos não mentem

Pasme! Existem instrumentos antigos, muitas vezes de fabricantes consagrados, que saíram da fábrica com problemas sérios na medida da escala e posição da ponte ou rastilho. A posição dos trastes estava correta, mas o ângulo da ponte não.

Uma boa forma de conferir isso é com harmônicos. Se eles estiverem bem alinhados com os trastes 12 e 19, sucesso. Isso significa que a posição da ponte está correta e bem instalada.

 4. Fugirás de braços empenados

Quase todo braço de instrumento conta com um tensor. Para os que não sabem, tensor é uma barra que travessa longitudinalmente o braço, logo abaixo da escala, em uma cavidade justa. Essa barra pode ser apertada ou solta para dar uma curvatura côncava ou convexa ao braço. Isso serve para acomodar melhor a corda que faz um movimento elíptico quando tocada.

Entretanto, a forma como o instrumento foi conservado ao longo dos anos pode afetar tensor e as madeiras do braço, fazendo com que a curvatura do braço, chamada de alívio ou relief, tenha evoluído para um quadro mais drástico, chamado “empeno”.

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Uma forma prática de conferir o alívio é com um cartão de crédito e um capotraste.

Posicione o capotraste na primeira casa da escala, pressione a corda na última casa e calcule mais ou menos a metade da distância entre as duas casas (normalmente está em torno do traste 7).

Com o cartão, confira a distância entre a corda e o traste. O cartão deve passar com dificuldade.

Se a folga foi muito grande, tome cuidado: pode se tratar de um braço empenado. O reparo de um braço empenado muitas vezes é possível, mas custará muito para um bom luthier reparar.

 5. Fugirás mais rápido ainda de escalas torcidas

É quase a mesma lei anterior: uma escala torcida quase sempre tem cura. Porém é um processo caro de conserto.

Para observar isso é preciso erguer o instrumento à altura dos olhos e observar longitudinalmente a parte superior da escala. Os trastes e a luz vão ajudar e ver se a escala está reta ou torcida para algum dos lados.

Mas lembre-se: torção é diferente da curvatura da escala que quase todo instrumento tem. Por isso, para aprimorar essa técnica, treine seu olho.

Faça esse exercício com instrumentos musicais que você já tenha em casa e de amigos. Isso vai ajudar bastante na hora de observar um modelo usado que seja oferecido.

 6. Verificarás a instalação dos trastes

Em algum momento da vida, você terá que enfrentar a troca de trastes. É preciso aceitar que eles são peças metálicas que se desgastam e se deformam com o uso.

Traste não gasto é sinal que não foi usado.

O processo de troca é trabalhoso, mas corriqueiro dentro de uma oficina de luthieria. Por isso, quando for escolher um instrumento usado, observe o estado e instalação dos trastes.

Utilize a técnica da lei anterior para procurar folgas entre o traste e a escala, e deformidades. Veja se eles estão amassados e se têm material suficiente para um retifica.

Todas essas observações podem virar moeda de barganha na hora de fechar o negócio, garantindo algum tipo de desconto.

 7. Procurarás sinais corrosão e oxidação nos componentes e ferragens

Observar as cavidades dos componentes elétricos em instrumentos usados é passo obrigatório no processo de compra. É aqui que você vai poder ver o estado de potenciômetros e soldas, além de procurar por sinais de oxidação ou corrosão dos componentes.

A chamada solda fria (quando o ponto de solda está opaco) e a oxidação são responsáveis em grande parte pelo ruído produzido por captadores. A troca desses componentes é um processo simples e de custo variável, mas é sempre um motivo para pedir um desconto em um instrumento que precise de revisão elétrica.

No caso de instrumentos acústicos, voltarás toda a tua atenção ao tampo. Os instrumentos acústicos e semi-acústicos, obviamente, têm uma construção mais frágil que os instrumentos sólidos.

As marcas (ou relics) em instrumentos sólidos, muitas vezes, podem mascarar um problema mais sério quando se apresentam em instrumentos acústicos.

Por isso é importante observar com cuidado o tampo desses instrumentos à procura de rachaduras e fissuras que possam comprometer sua estrutura física e o som próprio de cada instrumento musical.

Uma das minhas técnicas favoritas é tentar fotografar a parte interna do violão com um smartphone para observar também com está a estrutura interna do instrumento.

8. Lerás tudo o que for possível sobre seu instrumento musical predileto.

Não estou dizendo para você comprar livros e revistas especializadas sobre instrumentos musicais, mas estudar os ebooks e posts aqui mesmo no blog SANTO ANGELO, nos quais tive a honra de contribuir. Anotem:

Meu violão e nosso cachorro

Manutenção de Baixos: Faça você mesmo

Manutenção de Guitarras: Faça você mesmo

Conclusão:

Independentemente de você ou não fechar negócio, o importante é avaliar bem todas essas questões expostas como “mandamentos”.

Essas questões vão ajudar a te proteger numa compra e garantir que você faça um bom negócio para seu bolso e para a sua música e não esqueça de comentar ou compartilhar com seus amigos, caso essas dicas o tenham ajudado.

Forte abraço e até a próxima oportunidade.

Renato Moikano é jornalista de formação e hoje é proprietário da Major Tone Guitars. Apaixonou-se pelo ofício no começo dos anos 90 quando comprou sua primeira guitarra e hoje se dedica em tempo integral à luthieria.

 

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