Afinal, o que é o Fingerstyle?
Por Tácio Cabral
Olá pessoal, como vão?
Retorno ao blog da SANTO ANGELO para complementar o tema Fingerstyle, que cada vez mais atrai os músicos do violão e toma de assalto o YouTube com a perícia e musicalidades desses violonistas. E para relembrar, já introduzi o assunto, falando sobre as possibilidades da afinação DADGAD em um post anterior, que você pode conferir clicando aqui.
Muitos vêem o Fingerstyle como um estilo diferente, porém, ele não pode se enquadrar apenas nesta restrita definição. Explico o motivo: Fingerstyle é uma técnica que abrange todo e qualquer gênero musical.
Achou abrangente demais essa definição?
Então acrescento: o Fingerstyle consiste em fazer a base e o solo ao mesmo tempo no violão, explorando, além das cordas, os recursos percussivos que o instrumento oferece. Você provavelmente já esbarrou com o seu violão em algumas situações. Em cada lugar diferente que ele batia, ocorria uma percussão diferente, certo? Se não estiver tão certo, teste isso: com o punho cerrado (como se fosse dar um soco), dê pequenos cascudos em cada parte do violão, tanto em regiões distintas do tampo (que dará sons diferentes se for ou não maciço) como nas laterais (mais próximo ou mais distante do braço).
Somando com as notas musicais (em um violão de 19 casas, sendo três oitavas e sete notas) você encontra possibilidades bem maiores usando esses recursos de percussão, digamos assim. Bata à vontade. E se estiver a fim de começar a tocar nesse estilo, aprenda um pouco no canal do YouTube da SANTO ANGELO com um vídeo do Breno Bernardes, basta clicar aqui.
E você se engana redondamente se pensa que o Fingerstyle é algo novo.
No violão clássico (ou erudito), tocar a harmonia e a melodia já é mais do que corriqueiro, sem contar que pianistas automaticamente já pensam dessa forma (apesar de ainda não termos visto nenhum deles batendo no tampo do piano de cauda).
Visto isso, vemos que o Fingerstyle torna o violão um instrumento capaz de fazer a melodia, a harmonia, os baixos e o ritmo. E você pensando que ele só servia para tocar Legião Urbana com os amigos no luau, não é mesmo?
Esta técnica de dedilhar as cordas veio do alaúde e da vihuela, primos distantes do violão. A vihuela foi um instrumento semelhante ao alaúde, “remoldurada” em forma de 8 em meados do século XV. Se quiser saber mais dos ancestrais do violão, adquira o ebook “Saúde do Violão” (clique aqui para adquirir) e aprenda sobre essa linda história (além de dicas para regular e fazer a manutenção do seu instrumento).
Durante os anos 40, as pessoas ouviram em seus rádios algo que as deixou hipnotizadas: os sons mágicos saídos do violão de Chet Atkins. Como não estavam vendo, concluíram que havia pelo menos dois guitarristas tocando. A gente sabe da verdade.
Tanto Chet Atkins, como também Andres Segovia, mostraram ao mundo o verdadeiro nível musical de um guitarrista e violonista habilidoso. Mostraram muito estilo absorvendo cada ensinamento dos mestres antigos do Violão.
A técnica Fingerstyle foi aperfeiçoada por guitarristas de Blues e Country, criando no ouvinte a sensação de vários guitarristas tocando simultaneamente. Alguns dos adeptos a esta técnica, além do Chet, foram: Igor Presnyakov, Tommy Emmanuel, Doyle Dykes e Preston Reed.
Hoje, o Fingerstyle tem crescido bastante. Atualmente, as performances estão mais ousadas, mais complexas e com técnicas inovadoras, surpreendendo a cada vídeo novo que você abrir no YouTube. Como já citado acima, os sons de percussão, as novas ideias com o uso da mão direita e esquerda e as afinações diferentes dão sons mais ricos aos acordes e ao baixo do violão (cordas mais graves).
Você já deve ter percebido que há uma imensa gama de violonistas que usam o Fingerstyle. Dentre os principais (e que estão bombando no YouTube) estão: Andy Mckee, Antoine Dufour, Jon Gomm, Daniel Padim (um dos precursores brasileiros), Sungha Jung, Luca Stricagnoli (que faz uma versão de “Thunderstruck” do AC/DC que deixará você boquiaberto) e muitos outros.
E como não poderia deixar de ser, a SANTO ANGELO destacou, em seu canal do Youtube, um vídeo feito pelo Breno Bernardes, finalista do 1º Concurso Cultural de Música Gospel, ensinando a música “Drifting” do Andy Mackee. Aceita o desafio?
É interessante destacar que o Fingerstyle não consiste em apenas mudar a afinação ou fazer a percussão. Como citei, é um conjunto de técnicas que visam a execução de base e solo em um único instrumento, adicionando as nuances que o músico desejar.
Um bom exemplo é o próprio Tommy Emmanuel, que não usa muito as afinações diferentes. Às vezes ele muda a 6ª corda para D e a 5ª para G, ou afina todas as cordas em 1 tom ou 1 ½ abaixo.
Em entrevista ao site Guitar Messenger, Tommy disse: “Eu já escrevi canções para afinações alternativas diversas vezes. A afinação alternativa que eu mais uso é DGDGBE ou a 6ª corda com um baixo D. Eu tenho essa afinação de Chet Atkins e é um ajuste de som encantador. Eu não toco nada em DADGAD, BAGDAD, ou BADDAD. Estou tendo problemas suficientes com ajuste normal”.
Algumas dicas
Para você que deseja aprender essa técnica ou está começando, não é preciso mudar a afinação do violão ou se desesperar por que não consegue fazer a percussão e tocar ao mesmo tempo. A primeira e melhor dica para um bom começo é tentar a afinação padrão, tocar uma música, solo e base, ao mesmo tempo, usando os seus dedos ao invés da palheta tão glorificada por guitarristas. E isso já é Fingerstyle. As percussões e experiências você deve ir inserindo aos poucos, treinando-as separadamente antes de incorporar à sua técnica geral.
Procure na internet mais informações e vídeos ensinando como tocar a música que você escolheu. E se realmente quer dar um passo mais largo, procure por sua partitura e adapte-a a sua vontade (é difícil, mas um exercício teórico fenomenal).
Não há um estudo especial para o Fingerstyle. Muitos não se dedicam o necessário na prática e acabam desistindo devido ao alto nível de complexidade das músicas de Jon Gomm, Ewan Dobson, Antoine Dufour, etc. O melhor a se fazer, para quem está começando, é estudar por partes e uma técnica por vez. Para quem já está acostumado, treine agilidade nas mãos, percepção musical, construção de acordes com a afinação escolhida, escalas e técnicas como Tapping e Staccato (que já tratei aqui no blog, só clicar aqui). São coisas fundamentais que irão te ajudar a dominar essa técnica.
E adiantando: você vai suar muito, mas o resultado te fará muito bem (e a quem te ouvir, claro).
Dedique-se e leve a Música para mais pessoas.
Valeu galera, até a próxima. Grande abraço!