Amplificadores Valvulados para Guitarras: Modelos, Conceitos e Opiniões.
Por Professor SANTO ANGELO
Olá, meu nome é Andre Corales, engenheiro e Ph.D em Circuitos Digitais e aqui, no blog da SANTO ANGELO, vou desenvolver alguns temas bem controversos, para que juntos possamos aprender sempre. Começaremos por amplificadores valvulados para guitarras, compreendendo sua história e fatos consagrados. Já peço que fiquem a vontade para sugerir, questionar e até mesmo criticar meus pontos de vista. Afinal, não gerar polemica sobre assunto tão passível de gosto pessoal seria uma utopia.
Nos anos 50/60 (época de ouro para a Musica) um fabricante de equipamentos musicais (Leo Fender) propôs uma arquitetura não muito usual para amplificadores da epoca, com um pré de 2 canais e uma saida com pentodos de áudio em Push Pull. Uma das características inovadoras desta arquitetura era a existência de dois canais com ganhos individuais e de níveis diferentes. Enquanto um canal tinha um ganho “10”, por exemplo, o outro tinha um ganho “100” com um corte de frequencias baixas e um acrescimo nas frequencias mais altas (Canais HI/LO).
Não muito distante (em data pelo menos) do outro lado do Atlântico, mais precisamente na Inglaterra , uma oficina de reparos em amps resolveu copiar a arquitetura de Fender , porem com algumas modificações em função dos componentes disponíveis no mercado europeu. Surgia assim, outro icone entre os amps valvulados que, juntamente com o modelo criado por Fender, ditariam o mercado de amps para guitarras desde as decadas de 50/60 ate os dias de hoje. Jim Marshall , o pai deste digamos “invento” acabava de criar o famoso JTM45 ou como mais comumente é conhecido no meio musical “PLEXI”.
Basicamente, as modificações implementadas por Marshall foram substituir as válvulas de saída de 6L6 originais no projeto Fender pelas EL-34 (os unicos pentodos disponiveis na Europa na ocasião) e no pré , ao invés de usar uma 12AY7 e uma 12AX7 (a primeira com um ganho um pouco menor do que a 12AX7) usar duas 12AX7 proporcionando um ganho um pouco maior em volumes mais baixos.
Por caracteristicas de construção e de tensão de operação e de polarização, as EL-34 tendem a evidenciarem frequencias medias altas e suprimirem as frequencias mais baixas que, ao contrario das 6L6, evidenciam as frequencias mais baixas. Pronto! Estavam criados os dois estilos que ditariam os timbres musicais dos próximos anos: o “American” e o “English”. Estes estilos foram copiados posteriormente por varios fabricantes como
American: Peavey, Winfield, Ampeg, Rivera etc
English: Orange, Vox, Matchless, Hi Watt etc.
Agora que você já conhece um pouco da historia destes classicos, vamos entender um pouco mais sobre o timbre de cada um e respectivos efeitos que tanto causam divergências e polemicas entre os guitarristas.
Conceitos
Mergulhemos um pouco no tema técnico destes amps e os conceitos por trás destas arquiteturas.
Overdriver: esse efeito tão desejado pelo guitarrista pode ser conseguido de duas formas
1- Via saturação no Pré
Vantagens :
- Fácil implementação (pois a arquitetura básica pode ser mantida e apenas se muda a polarização das válvulas).
- Baixo custo
- Resultados satisfatorios
Porem, a saturação no Pré tem como principal desvantagem o fato do efeito gerar um excesso de compressão (pois o sinal já chega clipado na entrada e sofre uma segunda clipagem no estagio do Power, podendo gerar uma serie de harmonicos indesejados) descaracterizando um pouco o timbre do amplificador. Em outras palavras, soa como um simples pedal na entrada do amp, ou segundo alguns puristas “Fake” ou falso.
2- Saturação no Power
A saturação no Power traz justamente o que mais se deseja num amplificador valvulado, pois o sinal entra limpo no Pré e sai no limite da clipagem (mas ainda sem clipping) e quando entra no Power no limite, o circuito se encarrega de gerar o clipping, produzindo tambem os harmonicos pares e de forma linear. Em consequência disto, obtém-se um efeito de Overdriver real e muito agradável, mantendo-se completamente a característica de “timbre” do amplificador.
Porem nem tudo são flores nesta topologia, pois para se obter este efeito dependemos de fatores criticos como transformadores de saída, fontes de alimentação e polarização de bias correta. Outra questão para obtermos o efeito Overdriver de Power é a necessidade de trabalhamos em altos volumes o que para um grande numero de guitarristas é um fator limitante, pois nem todo musico tem um estúdio com isolamento acústico adequado para abrir todo o “gás” do amplificador.
Ate este momento resumimos o que aconteceu nas décadas de 50 e 60, porem em meados dos anos 70 e inicio dos anos 80 , surgiram alguns novos conceitos sobre amplificação valvulada para guitarras, conceitos estes dirigidos por dois fabricantes que inovaram o mercado e acabaram por criar um novo “Estilo” alem dos “American” e “English” styles. Randall Smith e Mike Soldano são os nomes das feras que causaram esta nova revolução no mercado, que respondem pelas empresas Mesa Boogie e Soldano Amps respectivamente.
O Conceito
Basicamente o conceito estava baseado em implantar um novo estagio de pré amplificação nas topologias existentes, causando com isto uma brutal amplificação e em consequencia um ganho estupidamente muito elevado, o que causou um frenesi nos amantes dos estilos mais pesados do rock. Randall foi alem, criando monstros como os Rectifiers com varios canais e com sistemas de retificação de estado solido e valvulado (alterando as caracteristicas das fontes para gerar efeitos como SAGs) chaveados pelo usuario de acordo com a necessidade.
Outra inovação foi a implementação de saidas duplicadas com valvulas 6L6 e EL-34 , que podem ser chaveadas de forma independente, tendo o melhor dos dois mundos. Pronto! Estava criado um novo conceito e um novo “Estilo”: o “Californian”. Apesar de alguns fabricantes não serem californianos como Peavey, Egnater e Soldano, o precursor desse estilo é californiano de uma pequena cidade chamada Petaluma, distante 90km de San Francisco.
Resposta dos tradicionais
Diante deste novo conceito e de uma nova demanda no mercado (Heavy Metal ) os tradicionais fabricantes de amps Marshall e Fender , foram obrigados a reverem suas topologias. A Marshall em um primeiro momento, sugeriu um sistema com vários amps em cascata , performando somente o Power do ultimo amp no sistema.
Porem esta tecnica muito utilizada (bandas Ramones, Motorhead etc) se mostrava pouco eficiente para os musicos em estudio pois o fator preço e espaço eram determinantes para dificultar esta topologia.
Desta forma, a primeira resposta da Marshall foi o JCM800/900 , onde se manteve as mesmas valvulas no pré, porem ao inves de ter um triodo (12AX7) utilizou em um dos canais 3 triodos ou 2 ½ 12AX7 (uma 12AX7 é composta por 2 triodos ou seja duas válvulas em um único tubo). Com isso obteve um maior ganho (gerando um overdrive de pré) porem a familia JCM ficou conhecida pelo excesso de compressão em altos ganhos. Apos isto vieram os Rivera, Egnater, EVH, etc.
Você deve estar se perguntando: o que a Fender fez então? Nada, pois na filosofia da Fender , o “estilo” Tweed American é imutavel ou “imexivel” como diriam certos políticos brasilerios. Para a Fender, quem usa essa marca usa porque se identifica com o “Estilo” e ponto final.
Opiniões
Bem na humilde conclusão deste que escreve estas mal traçadas linhas, no final das contas o que conta é o gosto pessoal de cada um e não se fala mais nisso. Porem preciso alertar para as “armadilhas” do mercado, no qual alguns fabricantes, visando baratear os custos de produção e aumentar os lucros, oferecem amplificadores híbridos (com o pré valvulado). Em minha opinião, isto é somente para o usuario final ter um gasto desnecessario e ficar com uma solução muito inferior. Quanto a gosto pessoal, para quem ainda não me perguntou, tenho uma preferência especial pelos amplificadores do estilo American.
Bem, espero ter contribuído em este pequeno texto para aumentar a gama de conhecimento geral dos que nos lêem e fico a disposição para responder quaisquer duvidas que possam ter, assim como aceito sugestões e temas para os próximos posts.
Abraços e até lá.
Muito bom!
CARA#%O… muito bom post… Ph.D (tenso hein – rs)
Só acho que os Híbridos, são uma grande solução quando se fala em custo de manutenção e transporte, analisando pelo lado da realidade brasileira. E a depender do Hibrido ele pode ser sim uma solução bacana. Eu por exemplo uso um com duas 12ax7 no pré e power transistor. E Tiro um timbre que me agrada bastante, e pro que eu busco em Timbre Tanto em Hibrido e como em All Tube ficam muito próximos. Eu só achei um pouco errado esse ultimo paragrafo em relação aos híbridos. teu mais o resto do testo é excelente. Só para pontuar existem dois tipos de amplificadores Híbridos os que usam apenas uma 12ax7 no canal sujo do pré e os que usam 1,2 ou ate 3 12ax7 que funcionam em ambos canais esses que todo o pré passa pelas 12AX7 pra mim são os bons Híbridos. Foi Citar apenas como referencia o Laney LV300 a Valvula só atua no canal sujo e o Clean é Transistor ou seja um amplificador 100% Transistorizado no canal limpo.
Já a Meteoro tem o MCK200 que vem ou vinham originalmente com duas 6BQ7, um timbre bem bonito porém nada estável por consequência do tipo de válvula. Porém no projeto é previsto uma mudança para que o Amp receba as 12ax7 e ai se tem um bom timbre e boa confiabilidade no equipamento. No caso as Válvulas atuam nos dois canais.
Nesse mesmo formato porém mais raro no mercado a Marshall tinha os Valvestate, esses atuam com uma 12AX7 no pré atuando em todos os canais.
Colocando ambos(ValveState e MCK200) em uma caixa 4×12 soaram bem próximo o Meteoro tem um pouco mais de ganho e com um clean mais convincente porém tem duas Válvulas.
Outro dado interessante é que quase 50% som de um amplificador dependem do tipo e qualidade dos Falantes creio que seja um ótimo assunto para um novo post.
Eu particularmente amo o som dos All Tubes mais minha realidade não me permite manter um. Então uso um Hibrido no meu caso foi uma ótima solução.
Um Abraço.