III Guerra mundial: Analógico X Digital

2016-03-23 - FB

Olá pessoal, como vão?

A rima, no título, não foi proposital, mas ela ilustra um confronto de opiniões que eu posso comparar como fosse uma guerra de preferências. Assim, após falarmos (em duas partes, acesse a parte 1 aqui e a parte 2 aqui) de Onda, Amplitude, Frequência e Harmônicos na formação dos timbres, hoje conversaremos um pouco sobre essa diferença e um pouco sobre gostos pessoais.

Você prefere efeitos digitais ou analógicos?

A galera purista ama o que é analógico por trazer aquele gosto de realidade. O pessoal mais novo, ligado em tecnologia, é apaixonado no digital e nas suas facilidades. Mas afinal, qual é melhor? Antes de continuarmos, vamos à alguns conceitos.

O som analógico é gerado quando um determinado corpo vibra. Essas vibrações são passadas pelo ar na mesma frequência em que o corpo está vibrando, causando o fenômeno físico de compressão e descompressão. Esses, por sua vez, formam uma onda sonora, fazendo as pequenas membranas (como se fossem sensores) dos nossos tímpanos se moverem, causando a sensação sonora.

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A palavra “analógico” vem do Grego… brincadeira, viu? Só queria testar seus conhecimentos linguísticos. Na verdade, “Analógico” deriva de “Analogia” ou “Semelhança”. Dessa forma, não existiriam alterações entre as vibrações da corda e as ondas transmitidas do alto falante para o nosso ouvido. Em termos guitarrísticos, quando o sinal da sua guitarra passa por uma cadeia analógica (sem entrar em processadores digitais), a forma da onda continua intacta (a famosa Senóide, que você já conhece bem dos meus posts acima).

Já o som digital é formado a partir de uma vibração analógica que ao passar por um processador digital (uma pedaleira digital, por exemplo), que conta com um conversor AD/DA (Analógico Digital / Digital Analógico) dentro de si, transforma o sinal tipo Senóide (produzido pela guitarra) em sinal Digital, elevando drasticamente as frequências para acima dos 100.000 Hertz.

Mas a cadeia do sinal ainda não acabou.

Após sofrer as alterações nos circuitos eletrônicos digitais, o sinal passa novamente pelo processador AD/DA do dispositivo, convertendo-se novamente em sinal analógico.

O som digital, apesar de refazer a conversão, não recria a curva da onda perfeitamente, gerando uma onda quadrada (squase wave), chamada de bit.

Mas como sabemos que a qualidade desse sinal digital ficou melhor ou pior que o analógico original?

O que irá definir a qualidade do áudio processado será a quantidade de bits e a taxa de amostragem. Agora, um linguajar da galera que gosta de um PC.

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O conceito de Bit, que está presente nos computadores, é utilizado porque nas placas de processamento o som não é caracterizado por uma onda, mas sim por sequência de valores, o conhecido código binário, transformando som em números.

Nesse código binário, um bit pode representar apenas dois valores: 0 (zero) e 1 (um). Quanto mais bits, maiores as combinações.

Dois bits – Combinações possíveis: 00 / 01 / 10 / 11

Três bits – Combinações possíveis: 000 / 001 / 010 / 011 / 100 / 101 / 110 / 111.

Essa maior quantidade de combinações representa uma maior qualidade no áudio final, ou seja, quanto maior for a taxa de bits, mais a onda vai ser parecida com a onda analógica (serão muitos pontinhos que deixarão ela quase uma Senóide perfeita).

Para ilustrar de forma simples, é como se fossem os pixels de uma foto digital, que quando ampliamos, conseguimos ver os “quadradinhos” da foto. O bit é para a onda senoidal o que o pixel é para a fotografia digital.

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Como referência na música, em um CD de áudio, a qualidade é de 16 bits/44,1Khz.

Hoje em dia podemos encontrar pedaleiras, efeitos digitais e sistemas de gravações digitais de 24 bits/48Khz.

Todo efeito digital possui um conversor AD/DA, o AD (analógico/digital) transforma sinais elétricos (oscilações na voltagem) em números. O DA faz o contrário, recriando o som analógico depois de ele ter sido processado pelo equipamento para que o alto falante possa nos mostrar o resultado.

Enfim, chegamos à Taxa de Amostragem

Quanto maior a taxa de amostragem, maior será a reprodução do espectro sonoro. Num CD físico industrial, usa-se a taxa de amostragem de 44,1 Khz. Significa que temos 44.100 ciclos por segundo sendo convertidos em amostras digitais. Para que a amostra tenha a mesma qualidade que o som original, ela dever o dobro de ciclos do som original.

Por exemplo, 44,1 Khz foi definido como padrão da indústria por ser o dobro de 20 Khz, que é o máximo de frequências do espectro sonoro que o ouvido consegue ouvir. Loucura, não é? É só Física.

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E com todas essas informações conseguimos nos pautar para escolher.

Na guitarra, como sabemos, é muito comum utilizarmos pedaleiras, simuladores e efeitos digitais incrementando nosso timbre. Eles são mais baratos (devido à produção em massa) e geram bons resultados.

Mas nada como aquele reverbezinho antigo de mola, certo?

Se colocarmos alguns pontos a serem discutidos sobre o digital, frente ao analógico, teremos como vantagens: a praticidade, as várias possibilidades, alguns ajustes diferenciados e timbres muito legais quando falamos de efeitos como Chorus, Reverb, Delay e Harmonizer.

Porém, nem tudo são flores.

Algumas desvantagens podem ser vistas no digital como a impossibilidade de reproduzir certas dinâmicas (com ataques às cordas mais leves ou mais pesados) e toda riqueza harmônica de um amplificador valvulado (que é tão buscada pelos guitarristas).

Por exemplo, é muito difícil recriar digitalmente um timbre tipo Crunch (limiar entre o som limpo e quando ele começa a saturar). Por outro lado, timbres mais “high gain”, como a onda mais quadrada, fica mais fácil reproduzi-los digitalmente. Por isso, muitos guitarristas, que tocam som pesado, utilizam simuladores e distorções digitais: pela ausência de dinâmica já citada acima.

A explicação está toda aí, agora o gosto de utilizar uma ou outra opção é com você (achou que eu ia dizer qual é melhor?).

Sugiro que teste tudo, do mais digital ao mais analógico, escolhendo sons que agradem seus ouvidos, sejam eles senoides perfeitas ou ondas quadradas que incomodam outros ouvintes. Seu timbre será sempre construído nessas combinações, que tornarão tudo que você tocar único e reconhecível.

Fique à vontade para colocar suas dúvidas que terei prazer em respondê-las e conversar.

A gente se vê na próxima oportunidade.

Grande abraço!

Kleber K. Shima, endorsee SANTO ANGELO, é professor de guitarra desde 1991 e proprietário do Instituto Musical Kleber K. Shima (IMKS), situado na capital de São Paulo. Bacharel em música pela FAMOSP e pela extinta ULM, é professor dos cursos de “Set Up” e “Prática de Bandas” da EM&T SP. Colaboradora regularmente com a revista “Total Guitar Brasil” e já lançou dois CD’s instrumentais autorais.

 




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