Guitarras Icônicas – Jimmy Page: “Double Neck”
por Dr. Alexandre Berni
Olá pessoal, aqui é o Alexandre Berni, mais conhecido como o Dr. SANTO ANGELO. Este será o 13º post que redijo reconhecendo a história e criação das guitarras icônicas, principalmente essa de hoje, que fez parte da História do Rock.
Vocês podem estar se perguntando: por que uma série de 13 artigos sobre Guitarras Icônicas?
Porque esse será o tema do calendário 2016 que a SANTO ANGELO publicará para venda e distribuição entre os leitores do blog. Fique atento para as promoções que a empresa promoverá nas redes sociais e nos meses que antecedem o ano novo para ganhar o seu.
Voltando ao nosso homenageado e respectiva guitarra icônica de hoje, vocês já devem ter percebido que falaremos de Jimmy Page, um dos mais influentes guitarristas de todos os tempos.
Jimmy Page é o nome artístico de James Patrick Page, nascido em 09 de janeiro de 1944, em Heston, Middlesex no Condado de Londres. Aos oito anos de idade cantava no coral da escola, onde chegou a ser campeão de corrida com salto de obstáculos. Entusiasmado por arte, sua grande paixão aconteceu quando seus pais lhe deram uma guitarra em 1957. Esse fato me lembra um post formidável sobre pais que não receiam a carreira musical para seus filhos.
Ou seja, aos 13 anos de idade ele iniciou seu aprendizado em guitarra (embora tenha aprendido quase tudo sozinho) e suas primeiras influências foram os guitarristas de Rockabilly: Scotty Moore e James Burton. Ambos tocaram em gravações de Elvis Presley. Outro músico que o influenciou foi Johnny Day, que tocou guitarra com os “Everly Brothers”.
Destaco que uma das suas canções favoritas era “Baby Let´s Play House” de Elvis Presley, mas as preferências musicais de Jimmy, abrangiam também o Folk acústico, os sons do Blues (de Elmore James e B.B. King) e o Skiffle britânico.
Em 1957, Page participou de um concurso para novos talentos da TV inglesa, o “Search for Stars” da BBC1. Quando perguntado sobre o que desejava fazer depois de se formar, Jimmy respondeu:
“Quero fazer pesquisa biológica para encontrar uma cura para o Câncer, se não for descoberto até então.”
Entretanto, mesmo sendo entrevistado para um emprego como assistente de laboratório, o seu amor pela guitarra e pela música obrigou-o a mudar de caminho, deixando a Danetree Secondary School, em West Ewell, para perseguir a carreira musical.
Pouco depois de abandonar a escola, aceitou o convite para se juntar à banda de “Neil Christian and The Crusaders”, que o tinham visto tocar em um salão de baile da região.
O jovem Jimmy Page, com 15 anos, começou a adquirir uma reputação considerável entre outros músicos. A sua carreira com a banda durou apenas dois anos, pois a rotina de ter de andar por todo país numa camionete foi um problema para a sua saúde.
Para o restabelecimento da saúde, Jimmy voltou uma de suas antigas paixões: a pintura e durante 18 meses, em meados de 1963, frequentou uma escola de arte. Mas não se afastou completamente da música. As reuniões com outros amigos músicos em sua casa eram frequentes, dentre eles, Jeff Beck.
Jimmy passou por algumas bandas na adolescência e, em meados para o final dos anos 60, tornando-se um dos mais requisitados músicos de estúdio de Londres, tocando literalmente em centenas de gravações de artistas como Dust Springfield, Billy Furry e Dave Berry. Nos créditos dos álbuns aparecia seu nome como Little Jimmy Page. Sobre essa fase, ele escreveu:
“Ganhei fama quando um amigo meu e técnico da marinha Inglesa, Roger Mayer que depois seria técnico do Jimi Hendrix, me deu de presente um pedal de distorção chamado ‘2000 Pound Bee’. Só eu tinha esse som na Inglaterra. Fiquei famoso como músico de estúdio aos 17 anos de Idade”.
Acredita-se que neste período, Page chegou a criar e executar em estúdio os riffs de ‘You Really Got Me’ do “Kinks”. Há ainda outra lenda, que conta que ao visitar os “Beatles” no famoso estúdio em Abbey Road, Page acabou se enturmando e deixou sua contribuição no solo de ‘Helter Skelter’.
Quando Page chegou aos “Yardbirds”, em uma semana depois já estava tocando guitarra, formando com Jeff Beck uma dupla de solistas. Essa formação ficou cinco meses em ativa e, infelizmente, apenas poucas músicas foram registradas, entre elas “Happenings Ten Years Time Ago”, “Stroll On”, “Psycho Daisies” e a famosa “The Train Kept A Rollin” que foi uma gravação feita para a trilha sonora do filme “Blow Up” (“Depois Daquele Beijo” – 1966).
O auge da banda foi quando Eric Clapton entrou, mas Jeff Beck resolveu abandonar os “Yardbirds” em meio a uma excursão em novembro de 1966. Jimmy Page então seguiu adiante levando à frente a banda enquanto pôde, até que o grupo se desfez.
Jimmy Page então resolveu montar uma nova banda. Um amigo então cita o nome de um certo vocalista, chamado Robert Plant, que na época fazia parte da pequena “Band Of Joy”. Nessa banda também tocava o baterista John Bohan e, juntamente com o baixista Chris Deja, a nova formação passaria a se chamar “The Yardbirds”.
Logo depois, visto que seu som não se encaixava com o que a banda produzia, Chris Deja é substituído por Jonh Paul Jones, que já havia gravado com os “Rolling Stones”. Entretanto, o nome da nova banda não duraria muito.
Foi quando o baterista do “The Who”, Keith Moon comentou que o som que do “The Yardbirds” fazia era pesado como chumbo – Led – e leve como um Zeppelin – famoso dirigível da história. Assim, logo na volta da turnê que o “The Yardbirds” fez na Escandinávia, a banda trocou o nome para “Led Zeppelin” e começou assim um dos mais elogiados e influentes grupos da história.
Com as músicas “Good Times, Bad Times”, “Kashmir” e a imprescindível “Stairway to Heaven”, cuja letra originou uma infinidade de interpretações desde sua publicação, em 1971, o grupo vendeu ao longo dos anos mais de 300 milhões de cópias no mundo todo.
Logo após a separação dos integrantes do “Led Zeppelin”, em 1980, Page tentou dar forma a mais um super grupo com ex-membros do “Yes” que se chamaria XYZ, mas que não deu em nada.
Em 1982, foi convidado pelo realizador Michael Winner para gravar a trilha sonora do filme “Death wish III”. No ano seguinte, Page fez um retorno bem sucedido aos palcos com a série de concertos de caridade “ARMS Charity”.
Depois, Page juntou-se a Roy Harper para a gravação de um álbum e digressão. Em 1984, gravou com Robert Plant “In the guise of The Honeydrippers”. Vários outros projetos se seguiram como “The Firm” (com Paul Rodgers), de estúdio (para Graham Nash, Box of Frogs, e Robert Plant, um álbum a solo Outrider), uma colaboração com David Coverdale (em Coverdale Page) e um álbum ao vivo dos “Black Crowes”.
Em 1994, Page reúne-se novamente com Robert Plant para o penúltimo MTV “Unplugged”. O especial de 90 minutos chamado “UnLedded” foi premiado com as mais altas audiências da história da MTV. A trilha sonora desse concerto seria editada em 1995 como “No quarter”.
Depois de uma digressão altamente bem sucedida em 1995 para a divulgação de “No quarter”, Page e Plant gravaram “Walking into Clarksdale” em 1998, seu primeiro CD completo desde 1979. Page foi um membro do “Led Zeppelin” que deixou sempre aberta a opção para uma reunião do grupo.
Desde 1990, Jimmy Page envolveu-se em vários concertos de caridade e trabalhos afins, particularmente em “The action for Brazil’s children trust” (ABC Trust), fundado pela sua esposa, Jimena Gomez-Paratcha, em 1998. Em 2005 recebeu a condecoração da Ordem do Império Britânico por seu trabalho em causas beneficentes.
Em 2007, no dia 10 de dezembro, todos os ex-integrantes do “Led Zeppelin”, junto ao filho do baterista falecido, Jason Bonham, se reuniram e fizeram um show chamado de “Reunion Concert”. Jason Bohnam deu conta do recado, criando várias expectativas de uma turnê com essa formação. Entretanto, mesmo com Jimmy ter declarado querer uma volta do “Led Zeppelin” para alguns shows, Robert Plant as tem recusado, fazendo ir por terra todas as expectativas criadas.
Em 2008 participou do documentário “A todo volume” (It Might get Loud) ao lado de The Edge (U2) e Jack White (The White Stripes).
Depois de relembrar parte da história e carreira de Jimmy Page, vamos ao foco deste post, descrevendo suas guitarras.
Page, como todos já sabemos, é admirador de Les Pauls. Existe uma citação que resume bem sua história com uma delas, uma Les Paul 1959 que adquiriu em 1969.
“Ela virou minha esposa e minha amante… sem pensão!“
O instrumento foi oferecido por Joe Walsh, que seria o futuro guitarrista dos “Eagles” na época. Quando se pôs a tocá-la, Page imediatamente se apaixonou pelo braço mais fino e elíptico (moldado após lixamento), pela robustez e pelo som firme e encorpado que marcou presença em todos os álbuns do “Led Zeppelin”.
Além do braço, outras modificações foram feitas: a ponte foi arredondada (para que Page pudesse tocar todas as cordas com o arco de violino, não só as Mi’s) e dois switches foram instalados embaixo do escudo (um para divisão de fase e outro para por os captadores em série ou paralelos). Os knobs de volume também foram substituídos por modelos “push-pull” (para dividir os humbuckers em 2 ou 4 single-coils) e as tarraxas originais foram trocadas.
Ao longo dos anos, Jimmy utilizou outros modelos de guitarras, com propósitos diferentes:
Telecaster 1958 – Presenteada por Jeff Beck, com uma pintura psicodélica (botswana brown – bomba Marrom). Apelidada de Bomba Marrom, esse foi seu instrumento principal no “Yardbirds” e no primeiro ano do Led Zeppelin.
Stratocaster 1960 – Lake Placid Blue
Gibson SG Doubleneck: no lançamento do quarto álbum, Jimmy precisava de um instrumento mais versátil, que lhe possibilitasse executar as nuances de ‘Stairway to Heaven’ no palco. A resposta veio com a Gibson SG Doubleneck: doze cordas no braço superior, seis no inferior, com dois humbuckers cada. Page usou esse instrumento no palco para ‘Stairway to Heaven’, ‘Tangerine’, ‘The Rain Song’ e ‘The Song Remains The Same’. No estúdio, Jimmy a utilizou em ‘Carouselambra’ do álbum ‘In Through the Outdoor’.
Gibson Les Paul 1973 Standard: outra guitarra que virou lenda nas mãos de Page. Na cor vermelha e dois humbuckers pretos, sem cobertura, foi usada principalmente na tour do álbum ‘Presence’ em 1977. Vinha equipada com um sistema B-Bender Parsons/White, um mecanismo, até então mais comum em Telecasters de guitarristas country.
Danelectro 1959 DC Body: outra guitarra que em 90% deve sua fama a Page. Nesse exemplar, a guitarra foi montada juntando as melhores partes de duas Danalectros e equipada com uma ponte Badass. Usada no palco para ‘Babe I’m Gonna Leave You’, ‘White Summer/Black Mountain Side’, ‘In My Time Of Dying’, e, às vezes para “Kashmir”, especialmente depois de 1977.
Gibson Les Paul “Black Beauty”: usada ainda na época dos “Yardbirds” e na tour de 1970. Equipada com um vibrato Bigsby foi roubada durante a tour de 1970 a caminho do Canadá. Número de série # 06130, caso alguém lhe ofereça para comprar aqui no Brasil.
Assim como todos os guitarristas icônicos já descritos neste blog, não foi diferente com Page: algumas empresas desenvolveram instrumentos e acessórios com suas especificações para comercialização.
A Gibson desenvolveu um modelo Signature baseada na Les Paul 59 conhecida como “Number Two” e também uma série da Double Neck EDS-1275, atualmente com produção descontinuada.
A Seymour Duncan desenvolveu um captador duplo para guitarra sob suas especificações:
Tal é o ícone Jimmy Page que está até nos brinquedos, com as “figures”, que cá entre nós, são bem caras mas bem legais de ter na prateleira.
Eu considero a Double Neck Gibson EDS-1275 a digna icônica representante de Jimmy Page, porque é impossível não associarmos ao seu nome a figura desta guitarra.
Acredito que a maioria dos leitores concordará comigo, mas estamos abertos para discussão sobre essa escolha, desde que comentem ou deixem outras sugestões nas redes sociais da SANTO ANGELO. Aliás, podem adicionar outros detalhes, tanto na carreira com nas guitarras usadas por Jimmy Page que eventualmente eu tenha esquecido.
Forte abraço e até a próxima.