Jingles políticos: posicionamento ou trabalho?

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Calma pessoal, que não falarei de política nem de políticos, tudo bem?

Algumas cidades brasileiras (55 no total), devido às escolhas políticas de suas populações, realizam (dia 30/10) o segundo turno das eleições municipais 2016.

Como o financiamento das campanhas esse ano foi mais contido do que nos anos anteriores, graças à Operação Lava Jato, rolaram muitas músicas e jingles na promoção dos candidatos nas rádios e carros de som.

Alguns desses jingles tem visualizações gigantescas, apesar de qualidade duvidosa e bem “pegajosas” como nesse exemplo abaixo:

Falando sério agora, como aqui no blog estamos sempre propondo aos músicos mais opções de viver da Musica resolvemos consultar um músico e um produtor musical para saber qual é a visão deles sobre esse trabalho:

Os Jingles Políticos

Não vá me dizer que nunca ouviu uma adaptação (paródia) de música famosa ou uma criação original com o número do político.

Apesar de serem hilárias (o que não é algo bom quando se fala de algo sério como política), elas marcam e muitas vezes acabam convertendo os votos para o candidato.

O músico, nessa época, tem boas oportunidades de trabalho, não precisando necessariamente se alinhar à posição do político (claro, se isso conflitar com o que você acredita, é outra história).

Pensando do lado do “business”, é um período e tanto.

Começamos com a visão do músico, nosso endorsee Nenel Lucena que saiu de sua cidade natal (Recife/PE) e foi para Petrolina para trabalhar nesse ramo.

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Tão comprometido e envolvido com o trabalho, Nenel passou seu primeiro Dia dos Pais trabalhando (buscando garantir o futuro do filho). Veja o que ele conta:

A época das campanhas políticas está acabando. Muitas cidades já elegeram seus prefeitos e vereadores que estarão a frente de suas cidades á partir de 2017. Outras estão aguardando o segundo turno.

O que normalmente marca uma campanha de um político é a sua música. Sim, são os jingles e trilhas que preenchem os programas de TV, Rádio e também as músicas que tocam nas ruas para o povo!

É muito bacana assistir a TV e ver um jingle ou trilha que você tocou preenchendo todo o programa e também tocando nas ruas. A execução, gravação e mixagem de todos os instrumentos da campanha abaixo foi feita por mim.

Esse período de campanha política é muito interessante para nós músicos! Muitos músicos conseguem um bom dinheiro durante esse período. Mas, o que é preciso para conseguir entrar nesse circuito?

Sabemos que cada músico tem uma “praia” que curte mais, como rock, blues, jazz, pop, mas um músico que pretende se dar bem em uma campanha política precisa ser bem eclético e saber tocar vários estilos.

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Às vezes é necessário, por exemplo, gravar um jingle de forró para um candidato e depois adequar a mesma composição em outro estilo, como Reggae, Samba, Axé, dentre outros.

Também é necessário ser rápido durante a gravação, pois normalmente muitas composições trilhas e jingles são feitas, então quanto mais qualidade e velocidade você garante, mais requisitado você será.

Mas posso dizer que o principal ponto (e mais complicado) é conseguir entender o que está dentro da cabeça do solicitante.

Sim, muitas vezes nos deparamos com sentimentos e sensações que os políticos (ou produtores contratados por eles) querem gerar nos ouvintes/eleitores a partir de elementos musicais, sejam eles rítmicos, harmônicos ou melódicos, em uma trilha política para TV e/ou rádio.

É um desafio e tanto.

Por fim, mas não menos importante, seja uma pessoa com facilidade para se relacionar. Não adianta ser o melhor músico do mundo e não ser uma pessoa educada, gentil, pontual e responsável (olha o profissionalismo ai).

O período de campanha política é grande, e muito material é gerado com música, se não conseguir conviver fácil com as outras pessoas em um ambiente que normalmente se torna estressante por conta da grande demanda e correria você não terá sucesso.

E do outro lado temos os donos de estúdio e produtores contratados, como é o caso do Paulo Pollon, dono do PSP Estúdio em Guarulhos/SP e técnico de áudio que nos ajudou na Expomusic 2016. Leia o que ele tem a dizer sobre esse período e o trabalho que ele gera.

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Ano de eleição, sempre é um ano de correria e muito estresse. Em 2 ou 3 meses de corrida eleitoral o telefone não para de tocar. Mas dessa vez não são artistas e produtores que querem gravar e sim candidatos a vereadores e prefeitos.

Os jingles políticos, mesmo te monetizando de forma interessante, exigem muito preparo, pois você está conversando com pessoas que são leigas nas áreas de áudio e música e a comunicação acaba sendo um enorme desafio.

Consigo enxergar alguns tópicos que permeiam a vida do produtor/dono de estúdio nesse período, são eles:

  1. A letra

Nesse tipo de projeto o mais importante é o conteúdo da letra, que é feito unicamente para atrelar a uma melodia marcante e fixar uma mensagem na mente do eleitor. No caso, o número, o nome do candidato e o nome do partido são as principais informações.

  1. Criação ou cover?

Existem duas grandes possibilidades ou você faz uma música/melodia do zero e encaixa uma letra (como disse o Nenel acima) ou você pega uma música já existente para inserir a letra. Abaixo um exemplo dessa última possibilidade que gravei para esse ano de 2016:

As duas possibilidades são válidas, mas é interessante você conhecer um pouco sobre o perfil do candidato, porque de repente você consegue trazer um pouco da personalidade dele para o teor da letra e escolher o estilo certo de música para ele.

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  1. Arranjos

Em grande parte os jingles políticos são bem caricatos. Querendo passar uma ideia de algo divertido e descontraído.

Pessoalmente sempre achei um pouco irônico esse fato, por se tratar de política, algo que passa uma imagem estritamente formal e séria. Mas faz parte do marketing, então se temos a oportunidade de aliviar a tensão, vamos fazer da melhor forma possível.

Sempre buscando trazer arranjos e produção de acordo com o perfil do candidato.

  1. Voz

Em termos mais técnicos, mixagens, edições e afins, você deve se preocupar muito com a voz.

Se a dicção está boa, se está bem audível. Ela deve estar em destaque da banda/base.

  1. Mixagem

A equalização é fundamental, pois o jingle irá tocar em carros de som.

E geralmente é difícil um carro de som com um sistema de áudio com qualidade, geralmente a música fica muito abafada ou até mesmo distorcida.

Sem falar que o fator físico interfere bastante também.

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Eu, particularmente, tenho um radio simples ligado ao meu sistema de som para esse tipo de teste, traz realidade ao que será ouvido.

  1. Paciência:

Tenha muita paciência. Pois você terá que refazer esses jingles após finalizados.

E não será apenas uma vez.

E isso não por conta de não terem gostado do seu trabalho, mas porque querem mudar letra, querem alterar a edição final do jingle, etc.

E não fazer significa perder um cliente, um bom cliente.

  1. Prazos:

Você terá que atender a prazos para entrega que são um tanto quanto ridículos e impossíveis. Isso porque o tempo de divulgação é curto.

Mas se você conseguir atender essa necessidade isso dará uma tremenda credibilidade para seus clientes.

Já é a segunda ou terceira eleição na qual faço e os mesmos partidos estão sempre comigo por quanto da eficiência, dedicação e agilidade.

As dicas do Nenel e os tópicos levantados pelo Paulo podem ser de grande ajuda na próxima eleição para quem decidir caminhar nessa direção.

Se acha que é um período morto para o músico, pense na quantidade de partidos e políticos que procuram esse tipo de serviço.

Você pode oferecer seu talento (no instrumento ou na produção) para partidos que se alinhem com seu pensamento ou não, o importante é manter o foco profissional e fazer o melhor.

Quem sabe seu jingle não possa marcar uma geração nas próximas eleições.

Votem conscientemente, para quem precisar e até a próxima!

Dan Souza é Relações Artísticas, Baixista e fissurado em tecnologia e música, além disso, é apaixonado por Publicidade, Propaganda, Literatura e Filosofia. Formado em Marketing pela UNINOVE/SP, atualmente é CMO da equipe de Marketing da Santo Angelo.




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