Socorro, meu filho NÃO quer ser musico!
por Maurício Alabama
Antes de começarmos o papo, queria me apresentar. Meu nome é Maurício Alabama, sou professor de guitarra no I.M.A., instituto que leva meu nome, em Indaiatuba-SP e fui convidado pela SANTO ANGELO para fazer esse artigo. Você podem pensar que esse artigo já foi escrito, mas não, desta vez é o inverso do outro post, que você pode ler aqui.
Passado o natal e os presentes já abertos, algumas crianças e adolescentes devem ter ganhado seu primeiro instrumento musical e já estão correndo atrás de aulas. Mas e depois de 1 mês? Onde esse instrumento vai estar? Em muitas situações, ele será esquecido depois da euforia, depois que perder o status de “presente”, sendo substituído por um smartphone ou vídeo game.
Antes de prosseguirmos a questão de ser ou não ser músico, é necessário ressaltar os inúmeros benefícios que a arte da música proporciona ao ser humano. As utilidades têm se expandido ao longo dos anos e atualmente, seus usos acabam extrapolando o campo da arte, invadindo o campo educacional e terapêutico (como a Musicoterapia), além de ser presença central em diversas atividades coletivas. A musica estimula, desenvolve, melhora a autoestima, expressão corporal, equilíbrio emocional, melhora a capacidade de concentração e gera um respeito mutuo, fora outros inúmeros benefícios, que ficaríamos dias listando (e esqueceríamos algum).
Hoje, estamos passando por um cenário crítico referente aos estudantes de música. A quantidade de informações disponíveis na internet que poderiam ser um beneficio também geram certo comodismo e confusão por não terem um segmento didático. Os exemplos que hoje geram obstáculos para o estudante de música, seja criança ou adolescentes, são muitos. Entre eles o acumulo de atividades impostas pela sociedade, que acabam sendo cobradas pelos pais (como falar mais de um idioma, fazer cursos extracurriculares e esportes), comprometendo a carga necessária de treino diário com um instrumento musical, gerando uma fadiga (por mais energia que uma criança tenha), diminuindo o interesse e a concentração do aluno em seus estudos. Outro equivoco comum é o aluno acreditar que um mês de aula é suficiente para tocar todos aqueles solos de guitarra de seus sonhos, ou até mesmo aqueles solos que o mesmo já brinca no Guitar Hero. Não se esqueça de que seu guitarrista favorito acumulou anos de estudos e experiências antes de criar o solo que você admira tanto.
Como testemunho de 15 anos atuando como professor de música, observei erros nos 3 pilares: pais, professores e alunos.
Quanto aos pais, um erro comum é tentar suprir sua frustração por não ter estudado música, obrigando a criança a fazê-lo. Música não pode ser obrigada, ela tem de vir de dentro da criança. Claro que se pode dar um empurrão, colocando o filho(a) em uma escola especializada em alfabetização musical, percebendo se haverá interesse e para qual instrumento a criança penderá. Mas nada obrigatoriamente. E lembre-se, pesquise sobre a escola que matriculará seu filho(a), qual a formação dos professores e se a escola oferece bons métodos didáticos.
Sei que isso gera mais trabalho para os pais, monitorando seus filhos. Como não posso deixar de mencionar, sei que os dias estão cada vez mais corridos, sendo muito mais cômodo aos pais colocar a criança na frente de um vídeo game, um tablet ou um smartphone para acessar redes sociais ou fica jogando um “Candy Crush”.
Entrando na área do docente, é necessário que se tenha, bem definida, uma sequência didática. Esse tipo de estratégia gera motivação, resultados mais aparentes em menos tempo e qualidade na absorção dos ensinamentos. Uma aula de música sem esse “norte” gera frustração no aluno, desorganização de ideias e a possível (e quase certeira) desistência de seus estudos. Perdi a conta de quantas pessoas me disseram, “Eu tentei fazer aula, mas não tenho o dom”. Eu não acredito que seja necessário ser dotado de talentos extraordinários para tocar um instrumento. O que o aluno precisa é de um profissional capacitado e muita disciplina.
Por fim, não podemos deixar de colocar o aluno na equação, que sofre influência direta do professor e dos pais. Comunicação às vezes é a chave para que um estudante mantenha-se focado e inspirado a continuar. Alunos devem conversar com seus professores e pais, demonstrar os pontos fortes e os pontos a serem melhorados. Às vezes o problema é fácil de resolver, mas o silencio pode dificultar. Se você acha que seu professor conta muitas piadas na aula, converse com ele primeiro, peça para que se foque mais na aula. Se não der certo, pergunte aos seus pais se há a possibilidade de trocar de professor ou mesmo, em casos mais extremos, de escola. A aula é para ser divertida e culturalmente rica, mas você não está pagando para ver um show de stand-up semanal, não é?
Vale ressaltar também que, acima de todos esses pontos de pais, professores e alunos, prevalece uma deficiência cultural (que precisa ser sanada logo), de que o ofício do músico, tocar por hobby ou mesmo ser estudante de música, não é bem quisto pelos olhos da sociedade. O blog da SANTO ANGELO já falou sobre isso, clique aqui e relembre.
Ser músico e fazer música é algo gratificante e de muita responsabilidade, pois temos a capacidade de tocar o coração das pessoas. Porém, ensinar música, é como plantar uma semente que irá germinar se bem regada, mas pode não dar o fruto esperado se regada pouco ou erroneamente, fazendo com que se colha um Futuro não músico.
Até a próxima.
Muito bom esse assunto! Gostei das dicas, Maurício! Parabéns!!!