Tá doendo pra tocar?

por Dr. SANTO ANGELO – Alexandre Augusto Berni

Continuando nosso tema sobre a Saúde, principalmente dos músicos, no qual relembro ou recomendo para quem ainda não leu o post sobre saúde auditiva (http://migre.me/j41W4), nosso assunto de hoje é sobre tendões, articulações e músculos.

Acho importante escrever sob isto porque sempre me impressiono quando leio sobre a doença do guitarrista Tony Iommi da banda britânica “Black Sabbath”. Ele revelou em uma recente entrevista à BBC de Londres que está passando por um tratamento com células-tronco para tentar curar uma lesão na mão. Tony, que tem 61 anos e toca guitarra há mais de 40,  teve que suspender seu trabalho por um determinado tempo para se tratar. Lembrando também que ele teve Linfoma (Câncer Linfático – o mesmo diagnosticado e curado na Presidente Dilma Roussef) em 2011. Isto mostra que, infelizmente, nossos Guitarheros (não confundir com a presidente) não estão isentos de sofrer as mesmas doenças que nós, humildes mortais. Por um longo tempo Tony usou uma proteção para a lesão na mão e também abusou de analgésicos e anti-inflamatórios. Mas, estas medidas não funcionaram e o guitarrista optou por um tratamento radical com células-tronco adultas, que podem restaurar ou regenerar as estruturas como músculos, tendões e cartilagens das articulações  doentes.

guitarrista Tony Iommi da banda britânica “Black Sabbath”.
guitarrista Tony Iommi da banda britânica “Black Sabbath”.

Muitas pessoas já leram ou escutaram sobre LER (Lesão de Esforço Repetitivo) e nos últimos anos a Medicina do Trabalho começou a chamar de DORT (Doenças Osteoarticulares Relacionadas ao Trabalho ). Se não tomar os devidos cuidados, um musico pode apresentar estas duas doenças. Se for amador, quando doente seria denominado com LER e se fosse um profissional seria denominado DORT devido estar relacionado ao trabalho e não ao seu lazer.

Ao se falar em doenças ocupacionais, muitos imaginam que apenas as grandes empresas tais como Centros de Processamento de Dados, Operadores de Telemarketing ou outros prestadores de serviços, associados ao uso de computadores, sujeitam seus empregados a tais riscos. Isto é verdade, mas não exclusividade, pois na grande maioria das profissões, existem pessoas que adquiriram algum tipo de lesão no decorrer de sua vida profissional. Em outras palavras, a LER ou DORT é considerada atualmente como a doença dos tempos modernos. No caso dos músicos que, antigamente desenvolviam essas lesões eram classificados como portadores de “Reumatismo”. Era comum ouvir dos músicos profissionais: “Meu pulso abriu e não consigo mais tocar”. Felizmente, hoje em dia, após a grande evolução tecnológica na área de diagnósticos, sabemos exatamente qual estrutura anatômica foi atingida pela doença.

Uma pergunta que você pode estar pensando agora é: “Será que um instrumento musical pode ocasionar mais lesões que outro?” Na minha humilde opinião, todos os instrumentos podem ocasionar lesões quando o músico não segue orientações básicas de uso, por desconhecimento, por “preguiça” de se prevenir ou até que um dia a doença “bate na sua porta”.

Para vocês terem uma ideia do problema, em 2008 o jornal “Folha de São Paulo” mostrou uma reportagem citando que pesquisa com 93 pianistas, 92% deles se queixavam de dores, fadiga muscular e dormência: http://migre.me/j41F8

Tocar um instrumento deve ser praticado com os movimentos mais naturais possíveis, e para isso devemos observar-nos no espelho, sendo músico profissional ou não. Ao estudar jamais devemos continuar tocando após sentir quadros dolorosos, cansaço ou câimbras. O correto seria aprimorar a técnica para ordenar, de maneira racional, todos os nossos movimentos com concentração, pois a falta de atenção pode nos levar a praticar movimentos errados e forçados. Lembrando que a fadiga muscular é a sensação de cansaço após um longo período de estudo do instrumento. A dor que este cansaço produz é um aviso da Natureza de que os músculos, tendões e nervos já estão no limite, porque fizeram o máximo de esforço.

Tente agora identificar o que você está fazendo de errado com este breve resumo:

– Usar Força em Excesso: isto pode acontecer durante um processo de aprendizagem do instrumento, bem como durante uma apresentação. O que não pode ocorrer é tornar uma regra geral na sua atividade musical.

– Postura Inadequada: Não é só para tocar um instrumento, mas sim para ler, assistir TV, sentar-se a mesa para as refeições, etc. Ao trabalhar com a postura ideal para cada instrumento, um fato tem que ficar bem claro: ninguém possui o mesmo corpo, muito menos o mesmo tamanho de membros. Portanto o professor deve ficar atento às particularidades físicas de cada aluno, sem, no entanto, se afastar da postura ideal e correta para cada instrumento. Pessoas muito grandes ou muito pequenas merecem uma atenção maior em relação à postura, pois os instrumentos na maioria das vezes não se adaptam bem ao seu tipo físico.

– Compressão Mecânica: Quando digitamos no teclado do computador ou tocamos violão, não percebemos que estamos, muitas vezes, ocasionando uma compressão mecânica de nossos antebraços ou punhos. No violão, o problema pode ser amenizado colocando-se uma flanela dobrada na região do antebraço que sofre esta compressão.

– Ambientes Frios: Os ambientes com aparelhos de ar condicionados são confortabilíssimos em épocas de calor, sempre lembrando que todo estúdio de gravação é “recheado de aparelhos de ar condicionados”. Nestes ambientes frios a circulação sanguínea nas extremidades do nosso corpo é diminuída, promovendo maiores chances de ocasionar lesões aos músculos, nervos e tendões.

O alto grau de performance exigido dos instrumentistas, dada a evolução e técnica dos instrumentos, acaba por solicitar uma excessiva dedicação do músico que, na tentativa de conseguir a perfeição e o total domínio técnico, muitas vezes ultrapassa seu limite físico. O instrumentista seja solista, músico de orquestra, integrante de qualquer outro tipo de agrupamento musical ou um dedicado amador, arca com enormes demandas físicas, sendo estas consideravelmente potencializadas por pressões financeiras e profissionais. O estresse diário de atividades repetitivas, rotineiras e necessárias para um bom desempenho técnico é prejudicial ao organismo e o efeito acumulativo de substâncias tais como as catecolaminas (adrenalina, noradrenalina e dopamina) e o cortisol nos tecidos pode eventualmente exceder o limiar de tolerância fisiológica natural.

Essas atividades repetitivas, acrescidas de posturas viciosas inadequadas ultrapassam os limites de tolerância das estruturas anátomo-fisiológicas e produzem incapacidades. O estresse psicológico associado às injúrias decorrentes do excesso pode prejudicar ou mesmo interromper uma carreira musical.

Com certeza você já escutou falar sobre estas doenças que vou apenas citar. Elas podem ser diagnosticadas dentro das síndromes que estamos abordando: L.E.R e D.O.R.T

– Tenossinovite Ocupacional

– Tenossinovite Estenosante

– Dedo em Gatilho

– Síndrome de Quervain

– Síndrome do Túnel do Carpo

– Síndrome do Canal de Guyon

– Síndrome do Pronador Redondo

– Síndrome do Supinador

– Cisto Sinovial

– Epicondilite

– Fibromialgia do Pescoço

– Síndrome do Desfiladeiro Torácico

O que devemos fazer então?  Como o ditado popular nos ensina que “é melhor prevenir do que remediar”, devemos ficar atentos e observar a nossa postura durante os momentos de estudo e execução do instrumento musical, deixando de lado as posturas incorretas do nosso dia a dia. Como regra geral o músico deve seguir os seguintes procedimentos:

– Exercícios Físicos para condicionamento geral

 – Fazer alongamentos antes, durante, depois e sempre quando lembrar.

– RPG ( re-educação postural global ).

– Correção dos hábitos posturais, principalmente ao uso do instrumento

– Evitar longos períodos de gravação, estudo ou shows, lembrando de parar por 10      minutos a cada hora trabalhada,

 Como ilustração de exercícios para a mão e os dedos, eu uso e recomendo aparelhos como o “Pega Firme” distribuído pela SANTO ANGELO que, mais do que um item comercial, deveria estar no bag de todo musico que, como eu, toca um instrumento musical de corda.

Nas figuras abaixo, descrevo alguns exercícios de alongamento e para as mãos:

Exercicios Pega Firme
Exercícios Pega Firme
Exercicios
Exercícios

Lembro também que ao juntar consumo de álcool em excesso, drogas e  outros elementos da vida pouco saudáveis muito comuns no meio artístico, os músicos ainda podem desenvolver lesões de esforços repetitivos. E posso afirmar de “camorote” que a única pessoa que pode lhe ajudar é VOCÊ mesmo. Assim, recomendo que você consulte sempre um medico de confiança, caso sinta algum dos sintomas que descrevi neste post.

O resto você já sabe, escreva-nos contanto suas experiências para que todos possamos aprender juntos e evoluir como seres humanos.

Abraço forte e até a próxima.

 

 

 

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