Pandemia e distância social no Music Business

E aí, querida leitora ou estimado leitor do blog da SANTO ANGELO? Tudo bom?

Seja você conectado – desculpe o trocadilho- ou não à Música, essa teoria do “mundo VUCA”, que falamos no post anterior realmente faz a gente enxergar as situações com olhos diferentes, não é?

Se você ainda não sabe do que eu estou falando, clique no link do parágrafo acima para ler ou reler sobre esse conceito do mundo corporativo.

Depois que parei para pensar e escrever aquele texto, comecei a reparar mais em como a Música (em seu estado de arte e business) está reagindo aos cenários incertos.

Aliás, quer cenário mais volátil, incerto, complexo e ambíguo que as recomendações do Ministério da Saúde para uma hora é ficar todo mundo em casa, depois muda para reabrir de acordo com indicadores de contaminações, para, em seguida, voltar atrás?

A gente não sabe direito como se preparar para o dia seguinte, concorda?

Ouvi de um podcast, que acompanho semanalmente, que nesse momento não temos mais dias da semana ou dias do mês, temos apenas ontem, hoje e amanhã.

É uma forma bem “VUCA” de pensar no momento porque decisões de 2 ou mais dias atrás já não são tão eficazes no hoje, quanto mais no amanhã.

Pensemos juntos nas lives: na primeira semana, que ótima ideia. Na segunda, sucesso de audiência e arrecadações. Terceira semana, polêmicas. Da quarta para a frente, parece que o mundo cansou um pouco desse formato de entretenimento e continua cansando quanto mais o tempo passa.

Como já sabemos, as fórmulas de “sucesso” não são mais as mesmas, fora que nenhuma delas de fato garante sua empreitada, seja ela musical, seja ela em qualquer mercado.

Pensando nas volatilidades, nas incertezas e nas complexidades do momento – deixando um pouco a ambiguidade de lado – comecei a buscar ideias que as pessoas estão tendo para continuar fazendo Música.

Aliás, não só fazendo Música, mas também podcasts, não é mesmo? E já que usamos multiplataformas para comunicar nossas ideias, lembro que você poderá ouvir esse post clicando na figura abaixo, ou procurando por “Blog SANTO ANGELO” no seu agregador preferido de podcast, combinado?

Não só estudando – sobre isso já falamos exaustivamente aqui no blog SANTO ANGELO – mas compondo, criando, ensaiando, ou simplesmente só se reunindo virtualmente com amigos, músicos e público.

Imagino que o primeiro sentimento que aparece em músicos é o de saudades de compartilhar um estúdio, um palco ou mesmo aqueles momentos pré e pós o ato de tocar.

E de jeito nenhum eu estou sugerindo que você alugue uma sala, reúna pessoas para um pequeno confinamento e possibilite a infecção de qualquer um pela COVID-19, bem entendido?

Mas como ensaiar ou tocar com os outros sem aquela interação, aquela VIBE que só a amizade impulsiona?

Acho que, de todas as possibilidades, essa é uma das que mais está enraizada no nosso mundo e já possui muitas ferramentas que podem ser utilizadas, mas claro que sempre vão aparecer “amigos” que te aconselharão a não seguir em frente porque “logo mais tudo voltará ao que era antes”.

Lembra quando disse que mencionaria várias vezes o livro “EU S.A” do baixista linguarudo do KISS, Gene Simmons? Leia esse trecho do Capitulo 15 que separei para o post de hoje:

“Se você está em casa de folga, não desperdice seu dia em frente à TV, como um pedaço de argila: trabalhe, planeje, faça contatos”.

“Livre-se dos amigos que querem que você passe o dia todo como eles sem fazer nada. Eles não são seus amigos. São seus inimigos. Seus amigos devem torcer pelos seus interesses empresariais. Seus amigos não deveriam sugar todo o seu tempo valioso. Como vampiros, esses amigos o deixarão sem vida”.

Fortes essas palavras, não é mesmo? Mas entenda que são pensamentos de quem teve que se esforçar muito, como imigrante pobre, em uma sociedade fechada como a norte-americana.

No entanto, a posição que ele atingiu com o KISS permite até afirmar que Gene é um Gênio (se você é da geração X ou Y, pegou essa referência) no Music Business, arriscando até dizer que esse termo foi cunhado por causa dele.

Concordo em não desperdiçar todo o seu tempo com TV, Streaming ou qualquer outra atividade procrastinante – apesar de ter seus benefícios de acordo com estudos de Roy Baumeister, Dianne Tice, Adam Grant    , Frank Partnoy e Jessica Gall Myrick os quais você pode conferir nos links no nome de cada pesquisador (todos em inglês) – mas dizer hoje em dia que um tempo de qualidade, relaxando com seus amigos ou familiares “sugam seu tempo valioso”, é radical demais, mesmo para os conceitos VUCA que venho desenvolvendo com você.

Tendo em mente, tanto a leitura do Gene e de muitos estudiosos em ambos os espectros, – dos que são a favor da produtividade ininterrupta até os mais relaxados – o que eu humildemente sugiro é você tirar suas próprias conclusões, buscando o equilíbrio.

Se você traçou seus objetivos, não deixe que coloquem barreiras para alcançá-lo, mas também não seja aquele que desfaz laços afetivos com gente que realmente torce por você, seja profissionalmente ou emocionalmente.

Moderação, na minha opinião, é a chave para que o sucesso seja sustentável no contexto VUCA que nos baseamos para buscar soluções em ambientes voláteis, incertos, complexos e ambíguos. 

Acredite: existem muitas boas soluções surgindo nesse momento no qual a maioria das pessoas enxerga sem saída.

Um exemplo que achei muito bonito, foi o da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, em Brasília, já conhecia? Explico melhor.

O maestro Claudio Cohen reuniu seus 22 músicos para executar “Heal the World”, famosa música de Michael Jackson – não confundir com “We Are the World” – em homenagem aos profissionais da Saúde. Confira abaixo a matéria sobre o tema em vídeo:

Essa forma de gravação não tem muito segredo: alguém cria uma guia, manda para os músicos, cada um capta na sua casa o que precisa, enviam todos para um editor de vídeo (que pode ser alguém da banda que conheça um pouco caso a grana esteja curta) e pronto.

Caso a ideia seja criar uma live com os integrantes da banda para ser transmitida, aplicativos como o Zoom, o Whereby, o Instagram, o Youtube ou mesmo o Whatsapp podem ser usados de maneiras diferentes e resolver sua transmissão.

Apesar de você ter que lidar com instabilidades de conexão, com hardwares diferentes (afinal, cada um tem um celular ou um computador que difere do outro) e com as situações que cada um se encontra, o resultado pode ser bem positivo.

Lembrando que você não sabe muito do que pode acontecer depois, mas simplesmente reaja: faça, aprenda se algo der errado e faça novamente.

Se quiser um exemplo mais “elétrico”, só conferir o que um dos mais antigos parceiros da SANTO ANGELO, o Ernani Júnior, fez nesse tempo de pandemia também:

Agora, nos coloquemos como quem presta um serviço musical a uma casa de espetáculos, shows ao vivo ou até mesmo, nas cervejarias e casas noturnas.

Sabemos que músicos e bandas, para muitos estabelecimentos, eram o convite perfeito para uma casa cheia. Casas de show e bares aliavam muito bem e, desde sempre, os interesses de entretenimento musical, gastronômico e socialização – bebedeira em alguns casos, mas já fazendo um Disclaimer nesse momento, aviso que eu não estou rotulando todos frequentadores desses estabelecimentos como alcoólatras, certo?

Quando da situação atual, que mesmo com reabertura parcial e restrita em alguns locais do Brasil e do mundo, você acredita que o público (incluindo eu e você) ainda terá a mesma a confiança que tinha antes de frequentar esses espaços?

Acho difícil essa Confiança voltar até que uma vacina seja descoberta e aplicada com sucesso em toda a população brasileira e mundial.

Então como resolver aquele #sextou fora do espaço físico?

A tecnologia e as boas ideias são armas incríveis para as incertezas futuras, por isso alguns locais aliaram essas duas expertises para agirem bem rápido e se manterem vivos e manter os artistas com suas remunerações.

É o caso do Blue Note, com unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro.

O bar utiliza o Youtube para transmitir uma “live show” – o show de estreia foi do pianista cubano Chucho Valdés, Jazz forte – e integra um QR Code onde as pessoas podem doar para o projeto Mesa Brasil, realizado pelo SESC – projeto que visa distribuir doações de alimentos para instituições de amparo.

Para ter movimento de Caixa e pagar o cachê do músico, o bar movimentou sua cozinha usando aplicativos como iFood, Ubber Eats e Rappi, tudo isso comunicado na live.

Uma ideia que movimentou o bar, garantiu o pagamento do músico, manteve o emprego dos funcionários e, melhor de tudo, clientes e espectadores satisfeitos.

Outro exemplo de sucesso é o projeto Couvert Digital, do Pub O’Malleys.

De quinta à sábado, o estabelecimento promove shows dos artistas que frequentavam a casa “ao vivo”. Pelo projeto, todo dinheiro arrecadado pela live no Instagram e no Facebook vai para a banda. A venda e entrega da comida segue o caminho pelos aplicativos já citados no caso do Blue Note.

Veja que, apesar de cenários complexos, pois os bares dependem da venda de comida e bebida para sobreviver, as tecnologias disponíveis podem ajudar muito na retomada econômica pós pandemia e, por que não, na nova economia que certamente surgirá.

Devo também dar espaço ao Terra Café, de Recife/PE, que faz a programação de shows online, porém, 100% focada na cena musical independente.

Eles utilizam a Sympla como forma de contribuição voluntária e os estilos musicais variam bastante, coisa que não acontece nem em São Paulo, nem no Rio de Janeiro. Explico melhor:

Na programação, uma hora tem Rock e outra hora tem Moda de Viola. Estilos ecléticos para um público cada vez mais exigente.

Mas se, de alguma forma existe resistência a ações online, ainda é possível fazer ações “presenciais” nesse cenário de incertezas. Não acredita?

O DJ Alok realizou um show da sacada do seu apartamento para quem pudesse ver, com direito a show de Luzes e Laser.

Entendo a grandiosidade que o Alok conseguiu, mas temos visto em todos os cantos, pulularem ações musicais: seja de um casal de músicos, que sentou em uma escadaria de seu prédio, com certa distância da entrada e atendia à pedidos de pessoas do prédio e de motoqueiros que vinham entregar comida, seja de pessoas que montam playlists para os médicos trabalharem melhor em seus cotidianos atualmente preocupantes, ou ainda, seja dos professores de música que, por mais que eu tente não falar deles, fazem uma diferença na saúde mental das pessoas que só faz com que os passos à frente sejam levemente menos incertos.

Já dizia Coy Freitas, parceiro da SIM: “A Música é Medicina, tem esta capacidade de trazer a ancestralidade para que possamos fortalecer nosso ser a partir da raiz. Sem música, esta jornada seria muito dura”.

Dias sem precedentes vieram e ainda virão, exigindo que pensemos mais.

Agir é necessidade, reagir é questão de sobrevivência, entender cada passo na hora que ele é dado é nosso novo dia a dia.

E precisamos fazer isso, pois mais de 5% da mão de obra nacional se concentra no setor cultural, e essas pessoas precisam continuar vivendo e produzindo, além de se alimentar, cuidando de si e dos familiares e, por que não também se divertindo?

Músico ou não músico, colaborador ou empresário, é hora de pensar em uma sociedade mais culta, preparada para as mudanças e pronta a enfrentar, em unidade, o que virá, usando as tecnologias disponíveis e disruptando as ideias para que o tal do “Mundo VUCA” não nos derrube permanentemente – pois é isso que o mundo normal já faz com muitos.

E antes que você pense que é a primeira vez que o mundo enfrenta esse enorme desafio geral, mas também em relação às Artes e à Cultura, veja no link uma frase de 1935 atribuída ao presidente Norte-americano Franklin D. Roosevelt, arquiteto do New Deal:

“O país precisa – e, a não ser que eu me engane quanto à vontade popular, exige – experimentação ousada e persistente. É questão de bom senso escolher um método e experimentá-lo; se fracassar, reconhecer o fato francamente e experimentar outro. Sobretudo, porém, tentar alguma coisa”.

Agora me conta: têm visto ações inusitadas no mercado musical acontecendo? Percebeu algum profissional ou estabelecimento que mudou simples ou radicalmente a forma de agir para vencer nesse período de mais e mais incertezas? Ou o que você está fazendo para se reinventar como profissional?

Comente por aqui e nas redes sociais da SANTO ANGELO, pois só compartilhando ideias que todos nós teremos bons insights para superarmos as dificuldades que nos afetam nessa caminhada.

Nos vemos, espero sempre saudáveis, na semana que vem.

Um grande abraço.

 

 

Dan Souza (IG: @danhisa) é músico e profissional de Marketing, Relações Artísticas, Branded Content e Music Business, formado pela UNINOVE.

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