Endorsee ou endorser: Qual a diferença?
Olá pessoal?
Alguém já te pediu emprestado seu cartão de crédito para fazer uma compra porque o dele (ou dela) estava bloqueado? Ou para ser avalista num contrato de aluguel? Ou ainda fazer uma dívida em seu nome porque o dele (ou dela) está “sujo” no SPC (Sistema de Proteção ao Crédito)?
Claro que nossos leitores nunca entrariam numa fria dessas porque, se algum imprevisto acontecer, é você quem deverá pagar aquela conta, certo?
Por isso, quem avaliza uma operação qualquer é chamado de avalista ou fiador e a outra parte de avalizado. Pois bem, em nosso universo musical, “endorsee” é o fiador (ou avalista) e endorser o avalizado. Portanto, quando uma marca avaliza um musico, esse é o endorser. Quando o musico avaliza uma marca, ele se torna endorsee. Simples assim.
Mas será que é mesmo?
Claro que não, porque muita responsabilidade está contida em ambas as denominações e vou usar um fato recente para explicar melhor.
Por mais que as Olimpíadas tenham acabado, alguns fatos repercutiram para além do encerramento dos jogos em 25/08/2016. E um deles chamou bastante a atenção nacional e mundial: a história do assalto sofrida por parte equipe de natação americana, medalhista de ouro, envolvendo Ryan Lochte e mais 3 atletas.
Você pode ler uma linha do tempo mais completa no site do G1, mas basicamente, o grupo saiu para comemorar em uma balada e na volta inventaram a história de um assalto para encobrir um ato de vandalismo e atrasarem a entrada na Vila Olímpica.
Mentira tem perna curta, apesar do tamanho dos nadadores.
A repercussão negativa do caso foi tão grande que, além de impedir os outros nadadores de voltarem para os EUA para prestar depoimento (o principal acusado já estava em terras norte-americanas), causou desconfortos entre os países (já que eles evidenciaram um estereótipo que os estadunidenses não gostam, que é o de chegar, bagunçar tudo e ir embora), raiva nas mídias sociais (novidade) e prejuízos para o esporte e para os atletas.
O nadador era endorser de várias marcas, mas 4 delas rescindiram os contratos de patrocínio: Speedo, Ralph Lauren, Syneron-Candela e Airwave. Resumindo: Ryan Lothe perdeu os contratos em apenas 24 horas devido a sua falta de ética e a não se alinhar com o MVV (missão, visão e valores) daquelas marcas.
Claro que chegamos ao que interessa.
Com a proximidade da Expomusic, relembro alguns posts os quais já falamos sobre endorsement (que você pode ler aqui e aqui), um manual de etiqueta de como se comportar com as empresas que lá estarão (para ler, acesse esse link) e todo o trabalho que deve ser feito com a parte de Relações Públicas (leia mais nesse post).
E esse caso me traz à tona todas os músicos com quem já conversei em eventos e pelo email, tanto como casos de antigos artistas patrocinados.
Conseguir que uma marca avalize seu talento e trabalho é uma tarefa dificílima: você deve apresentar o “Curriculum”, montar um projeto, mensurar retorno para ambas as partes, ou seja, fazer um baita esforço para que eles “assinem” seu trabalho. Ou seja, para ser endorser (músico) de uma endorsee (marca) é como se pedisse para eles te “emprestarem” o cartão de crédito para você gastar no que quisesse.
É uma situação diferente daquela quando são os artistas é que avalizam a marca, demonstrado pelo famoso dito: “Eu uso”. Nesse caso, é o seu cartão de crédito que a marca irá gastar.
Muitas empresas, no papel de endorsees, não toleram a questão do álcool e do tabagismo, o que pode ser um ponto crucial na manutenção do seu contrato como endorser, por exemplo.
Conheço casos de que grandes artistas perderam patrocínios por estarem quase 100% do tempo alcoolizados. Isso não combina com a imagem das empresas.
Da mesma forma, como você se sentiria se ao avalizar (endorsee) uma marca, descobrisse que ela entrega produtos sem qualidade ou não paga ninguém? Pior seria descobrir que ela emprega mão de obra escrava ou infantil em algum país asiático, não é mesmo?
E quando um músico recebe um “fee” ($$$) para usar determinado produto ou marca?
Isso já outro departamento. Não se trata de endorser ou endorsee. É um contrato comercial entre 2 pessoas (jurídicas ou não) com uma determinada finalidade que não é para o seu bem, pode acreditar.
Em outras palavras, uma marca paga à um músico (ou música) para usar determinados produtos. Às vezes, ele ou ela nem precisam falar que usam: só aparecerem numa foto fingindo que estão usando. Estou certo que já viu essa cena em alguma revista ou feira.
Sim, sabemos que todos precisam sobreviver, mas como fica a consciência de cada um? Seus pais não lhe ensinaram a fazer para os outros tudo o que gostaria que lhe fosse feito?
Imagine que você odeie o encordoamento X, mas ame a marca Y. Devido à sua carreira bombástica, os empresários da marca X entram em contato contigo e te oferecem um fee (pagamento mensal) para falar bem da corda deles, sendo que, em toda a sua vida de músico, você usou a Y.
Além de irreal (seu depoimento nunca será verdadeiro o suficiente) pode ser um problema para sua carreira (imagina a alcunha de mercenário quando seus fãs descobrirem).
Também já falamos aqui que Networking conta muito.
Diga-me com quem andas que direi quem tu és (vocês conhecem essa). Assim, para detonar uma carreira construída com tanto trabalho e suor, basta um “fee” mensal aparentemente inocente, mas sem noção ética ou respeito aos músicos de todo o Brasil.
Falando em pagamento e enganação, lembro a vocês uma prática usada por algumas marcas que eu, particularmente, acho injusta: chama-se Guelta.
Consiste em pagar, como forma de incentivo, uma “comissão” aos vendedores das lojas para que ofereçam/vendam um produto X ou Y no lugar daquele que você quer comprar. Já passou por essa situação?
OK, se você ainda nunca possou por isso por nunca ter trabalhado em áreas comerciais, deixe-me explicar melhor: imagine que uma marca X paga guelta e marca Y não paga nada aos vendedores de uma determinada loja.
Por que você acha que isso acontece? A marca X gosta dos vendedores? Ou quer mostrar um produto superior aos músicos? Ora, temos certeza que nossos leitores não são ingênuos, assim como a imensa maioria dos músicos brasileiros. Alguma vantagem tem nesse procedimento, certo?
Então, você confiaria em um vendedor que insiste em te vender um cabo da marca X, se você quer um SANTO ANGELO, só para que ele se dê bem?
Acho que sua resposta é tão óbvia que vou passar direto para o próximo assunto.
Como a SANTO ANGELO se posiciona: endorser ou endorsee?
Somos endorsees de novos talentos e endorsers de artistas mais conhecidos. No entanto, preferimos uma relação de confiança entre nossos músicos e não pagamos “fees” para quem quer que seja.
Existem pagamentos por trabalhos prestados. Por exemplo: um dos nossos artistas fará um workshop numa loja que nos interessa como treinamento aos vendedores lojistas. Tem todo direito a receber um valor em dinheiro.
Outro gravará uma masterclass para nossas redes sociais sobre um tema bem difícil: também receberá o justo pagamento pela prestação desse serviço.
E o caso daquele músico que se envolveu numa história mirabolante e mentiu para justificar sua atitude imatura? Merecerá a justa rescisão do patrocínio.
Entenderam?
Até a próxima e olho em nossas postagens sobre a Expomusic 2016.
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Dan Souza é CMO, Relações Artísticas, fissurado em tecnologia e música, além de baixista nas horas vagas e apaixonado por Publicidade, Propaganda, Literatura e Filosofia. Formado em Marketing pela UNINOVE/SP, faz parte, desde 2013, da equipe de Marketing SANTO ANGELO.