Instrumentos musicais e sonoridades inusitadas

2016-05-25 - FB

Olá pessoal.

Você conhece alguém capaz de falar horas a fio sobre as vantagens (e desvantagens) de um tipo de madeira na fabricação de guitarras (como já falamos bastante nesse post)? No outro extremo, também já deve ter visto aquela galera maluca tocando com copos de vidros de vários tamanhos ou com quantidades diferentes de água? Ou daquela grande performance de um “guitarhero” no Rock’n’Rio comparando o outro lado de algum artista de rua imitando um saxofone com uma pequena folha de árvore?

Isso mostra o quanto a criatividade musical do ser humano pode encontrar sons em qualquer lugar e aproveitá-los em diversas situações, sem o discurso que as lendas da guitarra que tentam (principalmente as revistas do setor) nos fazer acreditar, que só com esse ou aquele instrumento se tem um bom som.

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Aproveitando a nossa série de construção de pedais (que você confere, clicando aqui), vamos falar um pouco sobre as aparentes “bugigangas”, que parecem muita coisa, menos um instrumento musical de verdade.

Voltemos um pouco na história.

Já houve um tempo que não se existiam nem matérias primas apropriadas, nem métodos de fabricação e muito menos máquinas para cortar um simples pedaço de madeira que fosse para criar um instrumento musical como hoje conhecemos. Na Grécia antiga, lar de filósofos e historiadores, um dos instrumentos mais comuns de se ver e ouvir era a “Khetara Grega” ou “Fidícula”, uma harpa feita com dois pedaços de madeira curvados e um reto transversal, encaixados em (pasmem) um casco de tartaruga. E você achando que a gaita de fole escocesa era estranha.

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Outro exemplo interessante, porém bem mais contemporâneo é o instrumento que Jack White constrói no vídeo abaixo, que é a abertura do documentário “It Mighty get Loud” (ou, A Todo Volume, em tradução livre), usando um pedaço de madeira, dois pregos, uma garrafa de vidro (aquelas antigas de refrigerante), um arame e um captador single-coil. E ainda termina dizendo:

“Quem disse que você precisa comprar uma guitarra?”

Esse tipo de coisa aguça nossa criatividade, não é? Mas como esse pessoal consegue extrair timbres de qualquer coisa? E para nossa maior surpresa, até que maneira simples e fácil? O segredo é que esses “inventores” experimentam ideias novas incansavelmente e chegam à muitas soluções, por dois motivos: ou por terem uma boa inspiração ou, às vezes, por não ter a grana suficiente para comprar um instrumento.

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O músico Márcio Petracco, antigo guitarrista da banda TNT, formada nos anos 80, já construiu instrumentos musicais com caixa de goiabada, madeira de entulho, latas de óleo e maços de cigarro.

Também relembramos outro assunto já contado aqui no blog, sobre a invenção do Pau Elétrico ou Guitarra Baiana, para a qual temos um cabo especialmente desenvolvido para esse instrumento genuinamente brasileiro (conheça-o clicando aqui) como um desses típicos casos onde, na falta de um instrumento apropriado, Dodô e Osmar reinventaram o Carnaval baiano com a criação do trio elétrico.

Uma dessas construções mais atuais se destaca pela força que tem no mercado musical americano.

Ela é chamada de “Cigar Box Guitar” e tem muitos adeptos em muitos estilos. O guitarrista Billy Gibbons do ZZ Top também já usou um desses instrumentos. O valor dessas “caixinhas” varia de acordo com o material, ou seja, quanto mais “Vintage” a caixa de cigarro utilizada, mais caro fica.

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Confira o som desse instrumento com um cover de Muddy Waters:

Outro caso interessante saiu da cabeça de Carlos Iraldi, inventor e integrante do grupo musical argentino Les Luthiers. Ele inventou um misto de exercício físico e música, que batizou de Mandocleta. O instrumento era formado por uma “bike” com um pequeno teclado no guidão, ligado à um Mandolin que tinha suas cordas tocadas quando se pedalava.

Coisa de louco ou de gênio, não acham?

Para entender melhor o funcionamento, veja o vídeo:

E quem diria que um cano de PVC pode se tornar um instrumento musical?

O pessoal da Orquestra Plástica, ação desenvolvida pelo programa NEOJIBA (Salvador/BA) aproveitou a pesquisa dos luthiers Andre-Marc Huwyler, David Matos, Alan Jonas e Natan Paes para criar instrumentos de corda feitos de PVC.

Hoje o programa já conta com duas oficinas e têm uma orientação social. Os instrumentos são feitos com matéria-prima reutilizável, usando um projeto que enfatiza a maior durabilidade em decorrência da resistência à umidade, maior resistência a impactos físicos, redução de custo com a manutenção do instrumento, colagem e ajustes. Ou seja, tornando mais acessível a possibilidade de tocar um instrumento musical com poucos recursos.

Confira um pouco mais sobre a concepção desses instrumentos e da acessibilidade que ele dá:

Esse pessoal já está sendo requisitado para se apresentar em grande e renomados espaços. E tudo isso com muito estudo e canos de água. Legal, não?

E tem gente que vai mais fundo, e nem precisa de instrumentos, a não ser o próprio corpo para criar música. O grupo Barbatuques, que já está com quase 20 anos de estrada, cria uma orquestra com o que podemos chamar de percussão corpórea. Eles criam uma performance quase teatral, com seus 15 integrantes, batendo os pés, pernas, barrigas, bochechas ou fazendo uma concha com as mãos e assoprando nelas. Foram até chamados para contribuir com a trilha sonora do filme RIO 2, da 20th Century Fox.

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Além das apresentações, Fernando Barba, fundador do projeto, conta com o Auê Núcleo de Ensino Musical, que ensina música, de forma orgânica e simples, a pessoas de todas as idades (apesar do interesse maior recair sobre as crianças).

Confira o som dos corpos dessa galera!

Vemos que todos esses instrumentos (ou formas de criar sons) são uma prova de que a criatividade não está só no fazer solos, criar arranjos, mas na adaptabilidade dos músicos, que buscam novas possibilidades sonoras à todo o tempo, não importando a sua fonte.

E você, conhece algum outro instrumento construído com materiais diferentes? Conte pra gente e vamos conhecer um pouco mais desse vasto mundo da música para evoluir cada dia mais.

Até a próxima.

Dan Souza é CMO, Relações Artísticas, fissurado em tecnologia e música, além de baixista nas horas vagas e apaixonado por Publicidade, Propaganda, Literatura e Filosofia. Formado em Marketing pela UNINOVE/SP, faz parte, desde 2013, da equipe de Marketing SANTO ANGELO.




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