Música: Um hobby apaixonante!

Olá leitora e leitor, tudo bom?

Pela primeira vez, aqui no blog SANTO ANGELO, vou dedicar esse post a você, que não tocava seu instrumento musical há muito tempo e que resolveu voltar a estudar Música, nesses duros tempos de isolamento social.

Seja bem vinda, ou bem vindo e acredite: tempos melhores certamente virão.

E para quem também está chegando agora, lembro que nesses quase dois meses de distanciamento humano que estamos passando, tratei bastante sobre a questão de utilizar esse tempo de “confinamento” para adquirir mais conhecimentos focados na sua carreira, seja ela focada só em Música ou não.

Se você não tem uma carreira musical, ou amigos que levem uma vida profissional atribulada longe da Música, e desejam apenas um novo hobby para se desligar um pouco do dia a dia (seja das infinitas reuniões online, seja das notícias que cada vez mais os preocupem) quero mostrar-lhes que a Música pode ser uma ótima opção que contribuirá de diversas formas para melhorar seu ânimo físico e psíquico.

Faço agora, um breve intervalo para repetir o que muitos dos nossos leitores estão cansados de ler e ouvir: cuide-se e cuide de quem está à sua volta, conhecendo ou não. Lave as mãos, higienize tudo que vem da rua e, se puder, fique em casa.

Se não puder ficar em casa, tome todas as precauções, no transporte e trabalho, para continuar saudável e imune à pandemia da COVID-19.

E gostaria que me ajudasse a pedir, junto a todos que estejam em melhores condições financeiras, que auxiliassem a quem mais precisa: hospitais, entidades de acolhimento, negócios locais, serviços essenciais e aos “invisíveis”, pessoas circundam pelos bairros e que, muitas vezes, nunca são percebidas.

Um gesto simples já faz uma diferença imensa.

De minha parte tenho sempre ajudado moradores de rua com alimentos ou, quando peço algum delivery de comida, compro uma água a mais para dar para o entregador – os aplicativos e alguns restaurantes não oferecem nem água para os motoboys – que também estão em situação de risco nessa pandemia.

Às vezes, só de você levar álcool em gel e oferecer a esses profissionais, já os protegerão por mais tempo.

Pense e aja em prol de uma sociedade mais solidária que todos queremos e, certamente, sairemos dessa pandemia mais fortalecidos como cidadãos.

Recado dado, voltemos à programação de hoje.

O conceito de “Hobby”, não o definido pela nossa imortal e loiríssima dançarina do Tchan, mas o considerado pelo dicionário Priberam é: “Atividade favorita que serve de derivativo às ocupações habituais”. É a palavra em Inglês, cujo plural é “Hobbies” para o termo  “Passatempo” em Português.

Em palavras bem contemporâneas, Hobby é o que você faz que não seja trabalho.

Poucos são aqueles que conseguem trabalhar com o que amam e, quando isso não acontece, chegar em casa e ter algo que você pode fazer, que vai te tirar do Zeitgeist (ou o espirito do tempo/época que você vive) ou mesmo te distanciar um pouco dessa orbe caótica que é a vida moderna, faz uma diferença gritante na Qualidade de Vida.

É nesse ponto que faço uma interrupção para citar novamente o livro “EU, S.A” de Gene Simmons, baixista do KISS, que já tinha alertado aos leitores, em meu post anterior, nesses trechos do Capitulo 15:

“Se somos afortunados o bastante e temos um emprego, normalmente trabalhamos 5 dias por semana e temos 2 dias de descanso nos finais de semana. Algumas vezes, temos até finais de semanas de 3 dias (lembre-se que no Brasil, podem ser até 4 dias sem trabalho, nos feriadões com dias ponte emendados). A maioria de nós, que está empregada, tem um mês por ano de férias remuneradas. Também temos todos os tipos de feriados. Recebemos durante as licenças-saúde e mulheres recebem durante sua licença maternidade.”

“Se você somar tudo isso, a maioria passa relativamente pouco tempo trabalhando ou focando em nossas carreiras. Podemos até ter mais tempo livre do que de trabalho”

Ora, se você tem mais tempo livre, por que não escolher um hobby, ou uma atividade que possa contribuir com aquilo que realmente ama fazer?

No mínimo, os benefícios extras obtidos com essa atividade vão deixar sua mente e espírito mais preparados para o mergulho de volta ao cotidiano.

Se isso for o mínimo, imagine o máximo que um hobby prazeroso pode alavancar sua vida?

Claro que é aí que a Música entra, para quem sente o chamado!

Ah, e se você está ocupado no momento, mas quer continuar com esse conteúdo, clique no player abaixo ou abra seu agregador favorito de podcast, para ouvir esse e outros posts do blog SANTO ANGELO nos headphones.

Lembrando que não é só agora que tratamos de quanto a Música pode te desenvolver como ser humano aqui no blog. Existem muitos outros posts que explicam como a Música pode te ajudar na Criatividade, no Bem Estar, nos Processos Cognitivos e, por que não, na Socialização em geral.

Aliar algo que você faz para relaxar com a melhoria da sua qualidade de vida parece o Nirvana das situações. E, de fato, é muito possível.

Só deixando claro aqui: qualquer hobby é válido.

Cozinhar algo diferente (o que eu também faço), desenvolver-se num Esporte (indoor ou outdoor), ler um livro há tempos parado na prateleira, jogar aquele game que acabou de ser lançado (por exemplo: Final Fantasy VII Remake, que eu indico demais), pintar um quadro ou brincar em casa com seu animal de estimação são formas diversas e igualmente legítimas de buscar o que te faz sentir-se melhor.

Escolhemos a Música por dois motivos: é parte do nosso ser (meu e da SANTO ANGELO) e por entendermos que ela transpassa o título de hobby.

Apesar de não encontramos tantos estudos voltados aos PEA (População Economicamente Ativa) que no Brasil compreende – a meu ver, erroneamente – pessoas dos 15 aos 60 anos, podemos tirar conclusões bastante sólidas de artigos voltados à “1ª idade”.

Com base na tese de pós-graduação de Pablo Y Castro para a Unicamp, temos alguns aspectos que podemos nos debruçar.

AUTODISCIPLINA

Este tópico já deu origem a inúmeras pesquisas, sendo que sua base argumentativa geralmente reside no fato de que o domínio de um instrumento musical costuma ser um processo longo e trabalhoso.

Essa característica exigiria que o estudante estabelecesse um hábito de disciplina e dedicação bastante acentuado que, por conseguinte, seria transferido a outros domínios da vida do sujeito.”¹

Estudos mais antigos, de 1992 e 2002, são usados para embasamento da tese e demonstram que existem consequências extremamente positivas na organização e disciplina do indivíduo.

Seguir um método – o que já falamos por aqui – definir um tempo de estudo, focar no que se faz para depois ir colhendo os benefícios do aprendizado não só ajudam na construção do seu hobby como também vão se estender para seu trabalho e por que não, seu dia a dia – o “mise en place” da Vida, eu diria.

 

MOTIVAÇÃO

Uma proposição explicativa poderia se apoiar no fato de que a percepção de evolução na área da Música devido ao esforço próprio conferiria ao aluno o que é chamado de locus interno de causalidade, ou seja, a crença de que muitos dos eventos que ocorrem em sua vida têm causa em suas próprias decisões.

Não se sentiria, nesse caso, um ser passivo frente aos fenômenos, mas sim teria a crença de que o esforço próprio lhe traz resultados, o que, por sua vez, conferiria maior nível de motivação a quaisquer objetivos aos quais se propusesse.”²

Aqui o que aumenta é sua motivação interna, de que sua evolução vem do seu esforço e, se você continua se esforçando, o benefício vem. Como a Música é um exercício físico e mental, essa sincronia acaba trazendo boa parte da realização e tem alimentando ciclicamente.

Pense naquela peça clássica dificílima. Quando você consegue, com seus estudos e treinos, realizá-la, você comemora – claro – entende que melhorou e já busca uma próxima música desafiadora para “tirar”.

E isso vai se refletir no montante da sua vida. Seja para cozinhar algo difícil, correr uma maratona, seja para derrotar aquele chefão de nível mais alto ou para bater aquela meta no seu trabalho que parece impossível em um primeiro momento.

PERSEVERANÇA

Os benefícios de tal qualidade, ao indivíduo, são evidentes, e se supõe que o aprendizado musical, (…), tem potencial de desenvolvimento de tal

característica. Isto poderia ser explicado através da verificação das longas horas de estudo necessárias à execução de determinadas peças musicais, notadamente aquelas que exigem grande demanda técnica do instrumentista.

Indo além, podemos pensar em instrumentos como, por exemplo, a flauta transversal, que possui notas que só são passíveis de serem executadas após longo período de treino.

Dessa forma, para que o sujeito realize a simples tarefa de produzir determinada sonoridade, são exigidas longas horas de estudo, o que possibilita que infiramos um ganho em perseverança a partir de tal atividade.”³

Eu e você sabemos bem que a primeira pestana é trabalhosa de se fazer, mas não desistimos e treinamos até fazê-la – de forma a não acabar com nossos músculos da mão.

Aquela abertura de pentatônica com 3 notas por corda “a lá Paul Gilbert” não acontece da noite para o dia. E decorar todas as armaduras de Clave, dureza. Mas nem por isso deixamos de estudar.

Fazer até conseguir é característica de quem estuda Música, afinal, se você não realiza – ou encontra forma de realizar – a Música simplesmente não sai.

Obviamente isso se estende à Vida, como perseverar depois de um revés amoroso ou financeiro, tentar reintegrar algum parente à família ou mesmo continuar em um projeto próprio mesmo em situações complicadas.

AUTO-ESTIMA

A correlação positiva entre Música e esse constructo parece ser algo bastante plausível, sendo, a nosso ver, decorrente das experiências de sucesso que o aluno pode ter através da participação em aulas de Música, como, por exemplo, as bem-sucedidas apresentações em público.”⁴

Pensando no conceito do “Eu Refletido” proposto por Charles Cooley, a Estima do estudante de Música costuma ser positiva por enxergar a opinião – explícita ou implícita – dos outros e construir algo em torno disso.

Se me consideram um bom músico, certamente sou um bom músico.

Esse tipo de contribuição pessoal é de extrema importância para certa saúde psicológica. Em exagero pode criar “Axel Roses”, mas moderadamente te faz entender melhor seu interior e reagir de forma mais positiva às situações.

Contudo, existem discordâncias entre pesquisadores sobre isso. É um terreno um pouco arenoso, pois envolve o estudo de psicologia e a certeza de que

 

todas as respostas e testes feitos sejam precisos, mas nessa hora cada um entende internamente o quanto pode ou não contribuir.

CRIATIVIDADE

Alguns estudos, tais como Hodges (1987), Curnow (1987), Duarte Jr. (1991), e Zampronha (2002), atestam o potencial da Educação Musical como propulsora do pensamento criativo, sendo algumas atividades especialmente relacionadas a esta meta: sessões de improvisação instrumental, geralmente associadas à música popular, além da prática de improvisação de letras – o que poderia ser aplicado com facilidade em estilos como, por exemplo, o Partido Alto (estilo de samba caracterizado pela presença de estrofes improvisadas e repetidas por um coro de cantores), o RAP, ou então o repente nordestino.”5

Deixei-a para o final pois é a que mais se prolongará no texto e que se destaca para os leigos musicais, o quanto a simples execução da famosa “Penta de Am” abre milhares de possibilidades para criar.

Não dá nem para contar quantas músicas foram criadas em cima da progressão de Cannon in D Major de Johann Pachelbel. Sim, a Criatividade.

O professor de Neurociência Cognitiva Arne Dietrich, locado na Universidade Americana de Beirute no Líbano, em seu livro “How Creativity Happens in the Brain” (“Como a Criatividade Acontece no Cérebro”, em tradução livre) constrói quatro pilares para explicar esse processo.

Deliberada ou Espontânea. Cognitiva ou Emocional.

As primeiras se combinam com as segundas formando estilos de Criatividade, como veremos a seguir. Todas ocorrem, basicamente, no lobo frontal (Córtex Pré-frontal) com acionamentos do lobo temporal e transitando entre a esquerda (parte mais voltada ao racional) e a direita (emocional) do cérebro.

A Deliberada e Cognitiva junta sua capacidade de atenção/foco e a criação de conexões entre conhecimentos. Exemplificando musicalmente, você testa mil escalas para sua nova composição até achar as que se encaixem perfeitamente, visto que você já estudou todas elas antes.

A Deliberada e Emocional se debruça em sensações. Essa no mundo dos sons é fácil de explicar: as músicas mais belas ou mais marcantes são feitas em momentos que o emocional do músico está meio “quebrado” – fim de relacionamento, momento complicado de vida – e ele foca em fazer sua criação artística em cima desses sentimentos.

A Espontânea e Cognitiva junta todo o seu conhecimento, mas fora do foco. Sabe aqueles momentos que não conseguimos de forma alguma resolver algo? Aí você sai, toma um café e enquanto dá o último gole percebe que a solução era simples.

Se você viu o filme “Bohemian Rhapsody” sobre a banda Queen, muitas das soluções musicais criadas vinham disso: estar focado na música. Se ela não ficava boa, por um momento eles saiam para espairecer e a resposta vinha – eu sei que a quantidade de entorpecentes ali era altíssima, mas não precisa recorrer a eles para encontrar a sua Criatividade, OK?

Por fim, a Espontânea e Emocional é como “desligar o cérebro racional”.

Ela não se manifesta com base em conhecimentos, mas sim algumas habilidades que você tem e que estão ali no lobo temporal (emoções básicas).

Acho que o melhor exemplo é Imagine do John Lennon. Ele acordava com a música pronta, como se fosse uma experiência extra-sensorial.

Ufa, fomos longe hoje não?

Basicamente, essas explicações e pesquisas todas foram para te convencer – se já não for um adepto do aprendizado musical – que a Música é um hobby que pode trazer inúmeras experiências maravilhosas para a sua vida.

Citando novamente Gene Simmons no livro “EU, S.A”: “Você pode e deve usar todo o tempo que tem para evoluir. Eduque-se. Sonhe grande. E faça algo grande”.

Compartilhe esses conceitos com seus amigos que ainda estão relutantes. Conte-lhe suas experiências e traga essa galera para mais perto dos dórémis.

E você, ainda leva a Música como hobby ou já profissionalizou? Qual outro hobby que você tem e que te faz evoluir em outras situações? Conta aqui pra nós, pois uma atividade “extra-curricular” não deixa de ser um conhecimento a mais na nossa vida. Compartilhe.

Obrigado por você que leu até aqui e espero que o texto, com suas teorias e citações, tenha trazido uma motivação a mais para se dedicar à Música com amor.

Até a próxima semana.

Um abraço!

 

[1] Y Castro, Pablo. Os Benefícios Psicológicos da Aula de Música: Um Estudo Científico com Adolescentes de 5as. E 6as. Séries do Ensino Público Brasileiro. Campinas: Unicamp, 2007. cap. 4, p. 83.

[2] Ibidem, p. 82.

[3] Ibidem, p. 85

[4] Ibidem, p. 84

[5] Ibidem, p. 81.

 

 

Dan Souza (IG: @danhisa) é músico e profissional de Marketing, Relações Artísticas, Branded Content e Music Business, formado pela UNINOVE.

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