Tocar e falar bem: chaves que abrem atenções!
Olá discursadora leitora e tribuno leitor, tudo bom?
Sei que você já sabe, mas não custa lembrar: pessoas que falam bem acabam despertando mais atenção e sendo mais ouvidas.
Explico melhor: aquele sujeito com o discurso afinado e bem pontuado acaba – atualmente, mesmo sem embasamento – sempre se destacará de quem traz à fala incertezas e vogais extensas – o famoso “éééééééé” de ligação entre frases.
Os de fala “mole” acabam sendo considerados engraçados, rufiões, ou vai me dizer que você não acha minimamente divertido toda vez que ouve alguém se enrolando com a própria língua?
Esses parágrafos introdutórios servem para explicitar um pouco daquilo que tangenciamos em vários posts aqui no blog SANTO ANGELO, mas nunca abordamos à fundo: a famosa – e de certa forma esquecida – arte da Oratória.
Escrevi, nos idos de 2014, sobre como se tornar um bom redator, dando algumas dicas sobre como escrever bem e consequentemente, tornar-se um bom letrista.
No ano seguinte, minha amiga Carol Gasparini – que trabalhava também na equipe de comunicação da SANTO ANGELO – deu algumas dicas sobre licença poética na hora de escrever, sejam textos ou letras, as quais eu uso em abundância escrevendo meus “textocasts” – pegou?
E finalmente em 2019, a Lygia Teles que nos deixou há pouco, deu dicas importantes para compor boas músicas.
Conhecimento para escrever um texto ótimo, temos aqui de sobra. Mas e quando esse texto necessidade de uma apresentação formal como, por exemplo, na hora que precisar explicar o conteúdo das aulas que você leciona? Ou ainda, quando precisar explicar as vantagens do seu modelo de negócios musicais precisa com segurança para patrocinadores ou investidores?
Note que qualquer semelhança com o que temos escutado quando os músicos nos pedem um endorserment não é mera coincidência.
Ah…hum….veja bem…ééééé….tipo assim…..
Sim, sim, é agora que entra a arte da Eloquência.
Para poder explicar direito esse assunto, farei dois posts: o de hoje e o outro nas próximas semanas. O primeiro passará um guia de práticas interessantes para você se tornar um bom orador e o segundo sobre os vícios de linguagem que podem te sabotar – que eu imagino que será um texto interessante e engraçado, quero feebacks, beleza?
Caso a falta de tempo para leitura tenha te alcançado, ouça esse post apertando o Play do Spotify ou procure no seu agregador favorito o podcast do “Blog SANTO ANGELO” para escutar a mim e a Thais Andrade falando sobre cada aspecto dessa habilidade.
Antes de entrarmos nos tópicos, já digo que a Oratória acaba se fundindo com outra “arte” milenar e exaustivamente usada no berço da civilização ocidental – a Grécia – chamada Retórica.
Em uma rápida explicação, a Oratória é a arte de falar em público (ou para uma câmera numa LIVE) de maneira estruturada e deliberada, enquanto que a Retórica seria a forma de se comunicar através da linguagem de forma eficaz e até persuasiva.
Se você tiver mais curiosidade sobre a Retórica, escreva aqui nos comentários do nosso blog ou nas mídias sociais da SANTO ANGELO que eu faço um post só sobre isso. Mas chega de divagações, vou pedir à Thais que continue a narrativa no podcast, enquanto eu desenvolvo o que interessa ao nosso assunto de hoje.
CONTROLE OS NERVOS
O primeiro e invisível inimigo da Oratória é o nervosismo. Ele pode derivar de diversas variáveis psicológicas, como por exemplo a falta de conhecimento pleno do assunto, alguma trava emocional ou social em falar em público, pensamentos negativos e auto depreciativos no momento da fala ou, até mesmo, fatores alheios ao seu discurso.
Só de observar cada um desses fatores, você já pode pensar em formas de resolver.
Estudar bastante os temas, procurar ajuda para debloquear seu potencial de apresentação, pensar sempre em coisas positivas sobre o que você fará e tentar se extrair dos problemas que te circundam, pelo menos, por aquele momento.
Se seu esforço não der certo, procure profissionais da Psicologia que te ajudarão nisso – evite os famosos e ineficazes “coachs quânticos” de destravamento mental porque, provavelmente nem eles sabem o que falam.
INSPIRE E ESPERE
Às vezes, parece que uma apresentação nada mais é do que uma corrida das palavras para que acabem logo e façam com que o orador saia fora do palco rapidamente. Ou será que você nunca passou por isso na escola, quando tinha aquele trabalho sobre Capitanias Hereditárias que precisava ser exposto na frente da sala?
Isso tudo se dá pelo fato do já citado nervosismo e pela falta de respiração.
Entenda as pausas que você precisa fazer, utilize as vírgulas como suas aliadas – não as sacrifique no caminho – e use e estude sobre “timing” (não tem tradução para o português, mas é usar momentos adequados para inserir ações).
Recomendo ver shows de “stand-up comedy” para entender as pausas, que de certa forma, é onde os humoristas aguardam a reação da plateia e aproveitam para “tomar ar”.
POSTURA, MOVIMENTO E CONFIANÇA
A linguagem do seu corpo também contribui com as palavras. Ficar curvado, olhando para o chão e com as mãos no bolso o tempo todo só vão passar uma imagem de despreparo, vergonha e insegurança.
Nessas horas, ligue o “modo italiano”, ajeite a coluna bem ereta e gesticule com parcimônia – sem a mãozinha do “ma che”. Sua movimentação precisa ser natural, sem robotizar, pois, aí parecerá que você está forçando algo.
Cuidado também com gestos involuntários, como: coçar o nariz ou olhos – ainda mais em pandemia, evite –; tamborilar os dedos, que não é exclusividade dos percussionistas; mexer nos cabelos, ainda mais o pessoal do rock; ou mesmo ficar tocando algum objeto do seu vestuário como relógios ou colares.
Esses gestos podem se tornar o verdadeiro foco da sua apresentação.
Outra parte importante é o olhar. Varie os seus lugares de foco, olhe um pouco para cada canto da plateia e crie esse contato geral. Se você escolheu alguém para olhar durante alguma parte da sua fala, ou mesmo se está fitando seu aluno de música, não desvie essa atenção. Demonstre essa atenção.
E por fim, interagir é parte da postura de bons oradores, professores ou mesmo, líderes. As vezes uma exposição unilateral pode sabotar toda a preparação que você faz por semanas ou meses.
Demonstre que você sabe bem sobre o que está falando e use esses trejeitos corporais para atrair atenção dos dispersos e fidelizar os que já estão absortos com seu discurso.
SINTESE À NIVEL MOLECULAR
Esse é algo que todos nós precisamos melhorar, inclusive o Dan, que você acompanhou nesses últimos posts, sabe que ele é prolixo demais, ou seja, escreve palavras demais para exprimir um ponto de vista, as vezes muito simples.
Um tema, durante a fala, precisa passar por uma condensação pois algumas palavras ou mesmo informações menos relevantes só tiram a atenção e acabam deixando a fala cansativa.
Entre no site do TED Talks e veja qualquer palestra para perceber que nenhum dos oradores fica tempo demais destrinchando uma pequena informação, porém, resumem tudo em micropontos como “punchlines” – mais um termo em Inglês que humoristas e roteiristas usam demais – e constroem um cenário macro com essas pequenas peças.
Tente ser suscinto, porém informativo e atrativo com cada informação e essa habilidade te ajudará também em outros aspectos da sua vida profissional e pessoal.
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
Traduzindo o “Storytelling” literalmente, conte uma história com o tema que você quer abordar, independente de qual conhecimento você está explorando, e posso exemplificar na Música com facilidade.
Você está aprendendo sobre a composição Caprice nº 5 de Nicollò Paganini e ai seu professor comenta sobre os mitos sinistros que envolviam a técnica e “presença de palco” desse músico clássico, e abordando o quanto essa influência do abismo teve várias histórias séculos seguintes, até chegar em Robert Johnson e o filme Crossroads.
A possibilidade de você se lembrar para sempre dessa aula é muito maior do que apenas “leia a partitura e execute”.
Construindo pequenos épicos em volta do que precisa apresentar ou ensinar, você criará vínculos emocionais com quem ouve e os retornos são muito mais interessantes.
VISUAL E PROIBIÇÃO DE LEITURA
Caso você decida levar uma apresentação visual para sua fala, pense e trabalhe bastante nela.
Estude teoria das cores para que as pessoas não fiquem desconfortáveis com seus slides, distribua bem as informações, prefira fontes sem serifa – que são pequenos traços nos finais das hastes das letras – pois elas complicam a leitura em tamanhos menores, e peça ajuda de profissionais de imagem (como designers ou desenhistas) para que tudo fique harmonioso.
Por mais que a apresentação fique incrível, feita ela no PowerPoint ou contratando a Disney Pixar para desenvolver a parte visual da sua fala, ler é completamente proibido.
Apresentador de costas para a plateia, lendo o que todos podem ler, não contribui em nada na confiança que você passará durante a exposição. Por isso, estude a ordem dos slides, o conteúdo deles a ponto de, com um breve olhar, você possa se lembrar do assunto e discorrer sobre ele com naturalidade.
Recomendo ver as apresentações de novos games da Square Enix, Sony, Nintendo e Microsoft no Youtube, pois são exemplos incríveis de visual e palestrantes muito preparados para interagir com a plateia e passar as informações necessárias para gerar grandes ovações.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Apesar de sua preparação, sempre podem surgir dúvidas e perguntas de quem te assiste, seja de uma pessoa sozinha na aula, seja de muitas pessoas em um auditório lotado.
É importante se preparar previamente, estimando algumas perguntas que podem aparecer dentro do tema que você abordará, mas fique atento pois são mentes diferentes que, eventualmente, vão te colocar em situações mais complexas.
Ao ouvir uma pergunta, repita-a em voz alta, para que você use esse tempo para fazer as sinapses e pensar em uma boa resposta, mas não dispare a responder, aguardando o tempo de uma respiração para iniciar sua conclusão.
Caso você não saiba responder com propriedade a pergunta, assuma que irá atrás da informação e a disponibilizará em um momento futuro – e faça isso assim que puder para não esquecer e deixar seu público descontente.
PLANO B
Muitas coisas podem acontecer para sabotar a sua fala – Murphy, conhece?
Para isso você precisa estar preparado para agir rápido e continuar de forma a ainda prender a atenção de todos.
Se a luz acabar, faça a fala a luz de velas; se a internet cair, grave a disponibilize depois; se o PowerPoint não funcionar, gesticule mais e traga a atenção para si.
As situações inesperadas são muito complexas e diversas, por isso, tenha frieza para agir de forma que o público confie mais ainda em você.
TREINO E MAIS TREINO
Você, que toca um instrumento musical, sabe que só se executa uma música muito bem, como já expliquei nesse post, depois de estudo e treino, até que seu cérebro enxergue aquele som como algo natural e fluido.
Então, treine suas falas com pessoas do seu círculo social e peça que elas te deem feedbacks para que faça correções, visando uma apresentação cada vez mais apurada e natural.
Não dá para fugir do treino.
Com essas “moderatas” dicas, espero tê-lo ajudado à melhorar sua Oratória, fazendo com que seus fãs se liguem cada vez mais em você e que seus amigos e parceiros comerciais te enxerguem como um músico que, além de tocar bem, entende dos assuntos que trata.
Lembrando que você deve usar esse avanço em sua habilidade de forma responsável, com informações devidamente acuradas e embasamento científico – no conceito de método.
Nada de espalhar Ódio, Preconceitos e Fake News, combinado?
Que tal agora, fazermos um exercício de avaliação com tudo o que aprendeu até agora?
Aproveitando o desafio VINHETA 2020 SANTO ANGELO, que ocorreu entre 2 grupos que a marca mantem no Facebook, fiz uma rápida análise dos vídeos dos finalistas, observando suas apresentações neste vídeo.
O Marcelo Caster foi bem suscinto em sua fala, demonstrou segurança no que explicou sobre sua inspiração da criação da vinheta, usando até um certo storytelling e não demorou entre os pensamentos e falas. Foi bem, só ter mais atenção nos sibilados, típicos do sotaque carioca.
O Hugão Away fala pausadamente e usa muito bem as palavras, mantendo um storytelling apoiado no vídeo da vinheta. A meu ver foi bem também, mas precisa trabalhar um pouco a empostação da voz, tomar cuidado com “e aí” e “então” e não esquecer de se apresentar logo no início.
Finalizamos com o Paulo Vitor que também foi bem, aproveitando o recurso da “contação de histórias” e usando adequadamente os maneirismos do ambiente online. No entanto, falou muitos “ééés”, uma ou outra gagueira e pausas de pensamento em momentos que quebraram a linha original do raciocínio.
Enfim, todos podemos sempre melhorar, não é mesmo?
Se concordar, indico a Alura ou a Udemy que oferecem cursos com até 7 horas de duração e por preços muito acessíveis, à partir de R$ 25,99. Recomendo também procurar cursos de Canto, Locução ou mesmo os serviços de um Fonoaudiólogo para melhorar as questões de voz como Empostação e Dicção.
O importante é que as dicas que aprendeu hoje te ajudem a espalhar mais conhecimento para quem ouve você, pois como já é sabido e dito pelo cientista Charles Darwin:
“Na História da Humanidade, aqueles que aprenderam a colaborar e improvisar, mais efetivamente prevaleceram”.
Se puser, agora nos conte sobre suas experiências apresentando conteúdos ou mesmo dando aulas: Sua Oratória está em dia? Pretende melhorá-la quando? Conhece oradores ou palestrantes que tenham discursos perfeitos que sempre te prendem?
Espero que eu e a Thais Andrade tenhamos ajudado e na semana que vem, a gente conversa sobre um tema mais leve, mas por favor, sempre saudáveis e protegidos da COVID-19.
Um abraço!
Dan Souza (IG: @danhisa) é músico e profissional de Marketing, Relações Artísticas, Branded Content e Music Business, formado pela UNINOVE.