Vender música ou serviços musicais funciona durante a pandemia?

Olá, socialmente afastada leitora ou quarentenado leitor, tudo bem com você?

Como está o isolamento social na sua cidade? O prefeito já decretou a flexibilização do comércio ou ainda estão todos trancados em casa? Pressão para “salvação” dos empregos formais e informais, além das lojas, está muito forte?

Não vou entrar no mérito se as vidas as pessoas ou a economia é mais importante, mas independentemente da situação da sua cidade, siga sempre as orientações do Ministério da Saúde e da Secretaria da Saúde da prefeitura local para evitar o espalhamento do COVID-19 que, pelos dados apresentados, ainda vai ficar por perto um bom tempo.

Sei que estou sendo repetitivo com essa recomendação, mas se cuide sempre, seja em casa higienizando tudo o que vier de fora ou usando máscaras, distanciamento social e álcool em gel se precisar sair.

Tome muito, mais muito mesmo, cuidado com você e com os seus.

Quanto à economia seguir funcionando, esse tempo todo, as pessoas criaram cada vez mais possibilidades de continuar fazendo seus trabalhos de casa ou à distância e, sendo repetitivo mais uma vez,  sei que isso você já deve estar cansado de ler aqui no blog SANTO ANGELO ou ouvir em jornais matutinos ou vespertinos.

Também já falei bastante sobre os desafios que pousaram sobre os músicos quando tudo que era presencial foi fechado e cada um precisou se virar lecionando online ou mesmo fazendo suas “lives” para se manter relevante entre os fãs ou nas respectivas redes sociais.

Aliás, mesmo hobbistas anônimos, tiveram seu momento de fama, tocando das sacadas para vizinhos na Itália ou para profissionais da Saúde nas ruas defronte aos hospitais.

Apesar de sabermos bem que os músicos profissionais oferecem sempre um serviço, seja ele em aulas, em shows ou mesmo nos cultos religiosos, será que não é possível “flertar” com transformar a Música em um “produto”?

Notou que utilizei aspas na palavra produto?

Escrevi assim porque existe, no mundo da administração e do empreendedorismo, uma definição bem clara entre produto e serviço, sendo o primeiro algo tangível, que se pode ter ou tocar e o segundo sendo a parte intangível, que tem hora para começar e acabar e você não pode guardar – a não ser na memória.

A sonora arte, de certa forma, se encaixa em um limbo nesse meio, pois apesar de a Música – com M maiúsculo – ser intocável como arte, ela pode ser física, quando adquirimos, por exemplo, um quase ancião CD.

Você até pode me dizer que “mas o CD é o produto e a música é o serviço”, porém, não está comprando um álbum de sua banda favorita só pela mídia, que deve ser de boa qualidade e durável: está adquirindo e guardando pelo que todo que ela representa.

Pensando nesse limbo semi-tateável, que fui atrás de entender como hoje, além do streamings e das clássicas vendas de álbuns e DVDs os músicos que não são professores, podem capitalizar sua arte na forma de um “proviço” (ou “serduto”, como você achar que soe melhor).

A primeira forma que quero citar é a venda de músicas autorais em plataformas como o AudioJungle e o Pond5. Esses sites permitem ao compositor que ele se cadastre, coloque suas músicas em um catálogo e defina os valores para a venda de cada composição sua na plataforma.

Como ambas trabalham com o “royalty-free”, a partir do momento que a música foi comprada por quem irá utilizá-la, normalmente o pessoal do Audiovisual e Marketing de agências de publicidade, não há a necessidade de pagamentos recorrentes.

Para situar, quando uma música registrada (com ISRC e cadastro registrado na Biblioteca Nacional) é utilizada em uma obra e executada, o músico autor ganha um valor sobre essa execução, como por exemplo, qualquer novela que usa músicas de bandas ou artistas em suas aberturas.

Quando a música se encaixa, devido ao compositor, no “royalty-free”, ela não vai receber por execução, e sim, pela obra. Relembre que já escrevi sobre direitos autorais nesse post.

Ainda nesse universo das músicas vendidas online, outros serviços como o BMG Production Music e o Evolution Media Music, mudam um pouco a direção do serviço.

Esses sites recebem previamente briefings de empresas de publicidade e produtoras de vídeo, para em seguida reenviarem aos músicos compositores cadastrados.

Dentre eles, os que desejarem participar dessa “concorrência”, compõem suas obras que, futuramente, serão enviadas ao cliente para que eventualmente escolha a que melhor lhe agradar. As questões de royalties são discutidas após a escolha da música “vencedora”.

Essas formas demandam bastante trabalho criativo e até um pouco de sorte para acertar o que nem mesmo o “cliente” sabe o que deseja, mesmo com a emissão de briefings prévios.

Porém, e se eu disser que existem formas mais rápidas e personalizadas de você vender suas músicas? E mais, ainda criando vínculos mais duradouros com pessoas do que com empresas?

Se você optou por ouvir esse post no formato de podcast, tanto no Spotify, como em qualquer outro agregador que preferir, vai ouvir as respostas na voz da música Thais Andrade, outra articulista do blog SANTO ANGELO e que se soma, a partir dessa edição, a equipe de comunicação da marca.

Em tempos de pandemia do novo coronavírus e isolamento / afastamento social, alguns desses “proviços” voltou à tona ou mesmo foram criados pelo senso de oportunidade.

Um dos exemplos é o do Trovadores Urbanos, grupo de artistas paulistanos, que mescla Teatro, Música e Poesia há 30 anos.

Começaram o formato indo de fato nas janelas das pessoas homenageadas com as serenatas que eles promoviam e criando encontros semanais gratuitos na Casa dos Trovadores. Também contam com o Instituto Trovadores Urbanos que promove cursos de Musicalização para crianças de 5 a 12 anos na zona sul da capital paulista.

Nesses momentos de isolamento social, eles oferecem covers seja à janela da pessoa (com distanciamento e cuidado para não gerar aglomeração, com no máximo 4 pessoas) ou em formato de vídeos, tanto gravados quanto por plataformas de live’s, que por sinal, são os mais procurados nos últimos meses, inclusive com uma possibilidade via Whatsapp.

Apesar de ser um serviço, o vídeo final desses covers acaba sendo um produto que será guardado e que eternizará aquele momento para todas as pessoas envolvidas.

Com forma parecida, mas aí já voltado para o autoral, o projeto A Nossa Música, entrega uma música composta exclusivamente para o cliente, de acordo com o mote passado.

Idealizado durante os piores momentos da pandemia pela pianista Júlia Tygel e formado por um coletivo de músicos, esse tipo de formato é bem interessante e particular, fazendo com que os músicos que trabalham na plataforma desafiem-se criativamente através dos pedidos, toquem e cantem sobre assuntos diversos e criem certo vínculo com quem receberá a música.

Benjamim Taubkin, que é compositor, pianista e produtor musical, faz a curadoria dos assuntos, trabalhando as exigências do pedido e encaminhando para os músicos que mais se assemelham em quesitos de estilo, instrumentos e imagem.

O pagamento é feito pelo site e tem um valor base, porém, o cliente pode pagar mais caso ache válido, como forma de um extra pelo bom trabalho dos artistas.

Com viés solidário, o projeto ainda destina parte do valor para o fundo emergencial Conexão Música que visa ajudar músicos e profissionais do mercado de entretenimento que estão passando por dificuldades devido ao fechamento de casas de show, bares e escolas de música.

As ideias desses músicos são só alguns exemplos, pois tais serviços estão bem espalhados pela rede. Porém, caso você julgue que está em um momento de certa fama com seus seguidores, você pode capitalizar de mais uma forma.

A plataforma Manda Salve, capitaneada pelos empreendedores geeks Alexandre Ottoni e Deive Pazos – mais conhecidos como Jovem Nerd e Azaghal, respectivamente – oferece um local onde as pessoas podem encomendar de seus ídolos mensagens para outras pessoas, pagando um certo valor (que varia de R$ 25,00 à R$ 150,00).

O tempo limite das mensagens é de 1 minuto, porém, é bem possível fazer uma composição nesse tempo, já bem mostrado pelo pessoal do A Nossa Música.

Interessante é que pouquíssimos músicos estão na plataforma, três para ser mais exato: Nandico Aquino, baixista; Nato PK, DJ e Paula Landucci, cantora e violonista. É uma plataforma pouco explorada por músicos que agregam muitos seguidores.

Soma-se à isso que o ídolo – nomenclatura usada pelo próprio site – pode destinar parte do valor ao GRAAC, ou seja, mais um agregador de responsabilidade social por parte de quem capitaliza sua imagem.

Finalizando esse assunto, imagino que muitas outras possibilidades estão por ai, às vezes até sem sites, só utilizando-se de aplicativos como Whatsapp e Telegram, mas o que vemos nesses movimentos é que se expandem as formas de manter-se fiel ao trabalho musical e explorar formas das mais diversas de capitalizar seu esforço e talento.

Só com ideias novas e o compartilhamento dessas, conseguimos fazer chegar nosso trabalho à mais cantos do mundo e não nos deixar ser pegos desprevenidos independente dos desafios que o mundo (VUCA) nos impõe.

E você, tocou na varando ou no térreo do seu condomínio para os vizinhos, de graça ou remunerado? Já conhecia serviços de serenata citados acima? Já se aventurou em algum e teve experiências positivas? Ou mesmo tem a curiosidade de fazer ou entrar nessas plataformas? Chegou sua hora de participar também do nosso blog.

Relate sua experiência nos comentários abaixo ou nas mídias sociais da SANTO ANGELO para que possamos entender juntos se são experiências válidas e por que não, utilizá-las.

Espero que essas novas indicações façam com que durante os momentos de isolamento ou afastamento sociais passem com mais tranquilidade e total saúde física, mental e financeira.

Na semana que vem vamos abordar outro tema tão interessante como esse, mas até lá, espero que se cuide muito bem.

Um abraço!

 

 

Dan Souza (IG: @danhisa) é músico e profissional de Marketing, Relações Artísticas, Branded Content e Music Business, formado pela UNINOVE.

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