Tocar e falar bem: chaves que abrem atenções – parte II

Olá, fluente leitora ou desenvolto leitor, tudo bom?

No post passado, eu e a Thais Andrade falamos bastante sobre o quanto a Oratória é importante para qualquer função na vida, quando alguém quiser comunicar-se com eficácia e confiança com as demais pessoas, transmitindo quaisquer informações que sejam.

E já que o blog SANTO ANGELO é dedicado aos músicos, acabamos também mesclando alguns tópicos sobre apresentações com a boa Oratória, são muito importantes para quem precisa, no dia a dia, comunicar-se com alunos ou mesmo, com seguidores nas redes sociais.

Apesar do guia estar disponível e de termos indicado até plataformas com cursos, sabemos que, no nosso cotidiano, cometemos pequenas gafes na hora de falar.

Mesmo sem perceber, cada um desses pequenos erros, somados, pode prejudicar nossa atuação diante de um público mais exigente e até trazer-nos a fama que não queremos: a de nos tornarmos memes e viralizarmos no mundo digital.

No desenvolver desse texto, quero que você internalize, percebendo as gafes e erros, essa frase de um dos mestres em Oratória, chamado Sidney Miranda:

“Oradores de sucesso pensam o que falam e não falam o que pensam”.

Olhando assim, parece fácil mudarmos nossa Oratória atual para melhor, mas acredite: é muito difícil, principalmente depois que a Pandemia da COVID-19 chegou ao Brasil e nos obrigou a parar tudo o que fazíamos, isolando-nos em casa e sem trabalho.

Desde então, o desânimo e a frustação se abateram sobre muitos, gerando insegurança sobre o alcance dos objetivos que se propuseram a realizar neste ano.

Por isso eu te pediria para reler esse post sobre suas Metas de 2020 e se auto perguntar:

Eu quero, realmente, falar melhor e me destacar entre a multidão?

Se não estiver convicto da resposta, eu te peço para deixar de ler este post agora e voltar ao assunto mais tarde e só quando conseguir certificar-se que ninguém está prestando mais atenção ao que fala.

Tem uma frase naquele post atribuída ao filosofo grego Aristóteles que eu gosto muito e que sempre usei na minha vida e te recomendo também:

“Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade”

Ah…você está aí? Parabéns por decidir se transformar num orador melhor e para que tenha uma experiência mais completa, aconselho que aperte o play abaixo para me ouvir, além das explicações, tentando reproduzir cada erro no áudio.

Listei, na pesquisa, onze tópicos que provavelmente você se deparará com algum que já cometeu durante a sua vida. Não se preocupe e vamos aproveitar essa (ou essas) lembranças (agora) engraçadas como ótimas oportunidades de aprendizado. Vamos juntos?

AS DESCULPAS

Logo ao começar sua fala, você já pode incorrer em um erro imenso e que já vai acabar com a vontade das pessoas te ouvirem durante o resto de sua apresentação:

Pedir desculpas por qualquer motivo, como primeira frase.

Além de passar insegurança, as desculpas demonstram que sua fala irá incomodar os ouvintes, logo, não há motivo para prestar atenção no que você tem a dizer.

Para piorar essa situação, a justificativa da desculpa só vai deixar o público com uma imagem muito negativa sua, chegando até a demonstrar expressões de clemência.

Portanto, deixe as desculpas para o final da sua fala, se realmente tiver acontecido algum problema de força maior que prejudicou seu discurso.

O EGOCENTRISMO

Entendemos que você estudou o tema, que se graduou para estar ali demonstrando todos os seus conhecimentos e por isso mesmo está disponibilizando uma apresentação para discutir sobre o assunto.

Sendo assim, ninguém precisa ouvir você se gabar de sua formação ou do que precisou fazer para chegar a esse conhecimento durante toda a fala, concorda?

O ideal é demonstrar o motivo pelo qual as pessoas devem ouvi-lo no início da fala, durante a sua apresentação principalmente (caso você não seja apresentado por algum mediador), falando sobre o local onde você se formou, o que e como estudou o conteúdo.

Dessa forma você passa propriedade e, depois, foca-se no assunto. Deixe o ego de lado.

ARTICULAR O INESCRUTÁVEL

Basicamente, significa falar difícil ou com palavras pouco utilizadas nas conversações.

Sei que você, aqui no blog SANTO ANGELO, já leu algumas palavras mais obscuras da Língua Portuguesa e não há problema algum em explorar o seu vocabulário mais erudito.

Porém, durante uma fala, é interessante que os termos sejam acessíveis à maioria dos ouvintes.

Certas situações vão exigir mais rebuscamento, como em uma audiência jurídica ou em uma mesa de discussão sobre a Ética Estoica de Cleantes de Assos, mas, no geral, linguagem simples funciona muito mais e evita que você se embole ou que as pessoas não entendam.

VÍCIOS DE LINGUAGEM

And the Oscar goes to…. Se podemos dar uma estatueta pela performance de algum dos erros mais comuns da Oratória, com certeza os vícios de linguagem seriam o John Willians dessa categoria.

Os vícios mais comuns são o “éééé”, “né”, “tá”, “daí”, “OK” “veja bem” e “entende?” e eles trazem à tona uma certa falta de consciência no que você está falando.

Vícios culturais também são problemáticos, como o paulistano “tipo assim”, o carioca “qual é” ou mesmo o “arriégua” do Ceará. Termos em desuso também devem manter esse status como exemplo do “a nível de” ou o “nunca na história desse país”, muito utilizado por políticos.

Nessa categoria também se encontram os vícios de pausa, ou ruídos que o orador emite, muitas vezes inconscientemente, enquanto aguarda o início de uma próxima frase, deixando a plateia desconfortável e podendo perder um gancho que você pretendia criar.

UPTALK

Um costume das pessoas mais novas é afirmar jogando a tonalidade do final da frase para cima (o que é normal para frases interrogativas) e esse tipo de hábito acaba ficando para a fase adulta, quase um “bend” ao final do solo, que o pessoal das cordas entende muito bem.

Musicalmente falando, um bend termina o solo, mas não a composição, e por mais que ele finalize a música, existe um fade-out ou uma queda de volume.

Com frases não é diferente.

Quando você faz o uptalk, acaba demonstrando falta de firmeza quando afirmar algo, dando esse ar de “adolescência” na sua apresentação.

Por isso, tente sempre finalizar suas frases com ponto final, com tonalidade e volume descendentes.

PALAVRAS DESAGREGADORAS

A ideia da sua fala é passar conhecimentos, ideias, impressões, porém, dependendo dos termos usados, você pode sabotar o que o público vai levar para casa como experiência.

Palavras que não exercem funções de reforço devem ser excluídas.

Um dos exemplos mais comuns é o “acho” que exerce função de dúvida para quem está ouvindo, fazendo-os pensar se você sabe o que está falando.

O “tentar” também pode exercer a mesma sensação. Semi-parafraseando a rainha dos memes Bella Gil: “você pode substituir o acho e o tentar porque sei e fiz”.

FALHA DE SINAPSE

Confiar plenamente na sua memória pode te colocar em situações complexas ou silêncios “ensurdecedores”, pois por mais que você treine suas sinapses o tempo todo, elas podem vir à a falhar.

Nada pior durante uma fala do que o esquecimento de algo importante que você tem a dizer.

Leve sua apresentação digital ou a tenha sempre escrita em papel de fácil acesso – use os conhecimentos adquiridos em programas de auditório, como aquela ficha que não sai da mão do apresentador, pois esse pequeno gesto previne dores de neurônios.

O ELÓQUIO DE MORFEU

Apesar do título inventado, exaltando o deus grego dos sonhos, podemos chamar esse fenômeno de “voz de abajur” ou “tom sonífero”, pois esse tipo de erro se caracteriza nas pessoas que falam sempre no mesmo tom, sem variações ou ênfases em partes importantes.

Nada mais chato para o público ouvir alguém que não varia sua voz, por mais filósofo que essa pessoa seja. Aliás, recomendo fortemente este vídeo (bem curtinho) do Clóvis de Barros Filho, mostrando que filósofos também se expressam muito bem.

Pense nos pontos onde sua voz irá variar, as famosas e já faladas repetidamente aqui no Blog SANTO ANGELO de “punchlines” e as aproveite para retomar atenções dos perdidos e fidelizar os já absortos no seu discurso.

Entra, também nessa parte, o ritmo que deve imprimir à sua fala.

Você pode ter as melhores nuances vocais do mundo, mas se sua apresentação for travada, ou rápida demais, não adiantará as variações de tonalidade.

Pensar e treinar ajudam muito a corrigir isso.

O LIMITE DO HUMOR

Fazer piadas ou colocações engraçadas faz parte do desenvolvimento de uma Oratória de qualidade, porém o cuidado com o tipo de humor utilizado é essencial.

Você possivelmente vai dizer sobre a questão de o mundo estar chato, mas lembre-se que o humor serve para criticar e divertir, não para ofender alguns grupos já fragilizados.

Utilize exemplos de humor que exploram as veias críticas em sua fala e dessa forma, além dos ouvintes enxergarem você como um profundo conhecedor do assunto em debate, ainda o verão como alguém seguro o suficiente para inserir colocações bem humoradas e inteligentes no texto.

Monty Python, apesar de antigo, é um exemplo interessante de observar.

OBSERVE OS PONTEIROS

O tempo influencia muito na percepção de uma boa fala, principalmente quando ela se encaminha para o final.

Atrasos muito grandes ou finalizações que são postergadas acabam desrespeitando o público, que separou um horário para ver sua apresentação e certamente espera ter esse momento respeitado.

Em eventos, é comum que as pessoas agendem-se para ver muitas palestras, então, um atraso ou uma demora na conclusão pode destruir a agenda do seu público, fazendo com que não consigam ficar até o final da sua fala e ainda fiquem com a impressão de que você não dá a mínima para eles.

Novamente, treine sua fala em casa, cronometre e evite a ira de Chronos, e consequentemente, do seu público.

MAS ACABOU?

Tudo o que você quer após uma fala é a ovação de seu público – qualquer semelhança com um show é mera coincidência, logo, pense muito em como você irá concluir e pegue exemplos de grandes palestras no site TED Talks ou mesmo busque grandes falas históricas.

Você pode ter arrasado durante os primeiros 49 minutos da sua apresentação, mas a frase final é:

“Acho que era isso que eu tinha que dizer. Obrigado”.

Todo seu esforço se torna uma piada aos olhos do público pois, além de repentina, uma finalização dessa é muito pra baixo e tudo o que você quer é que as pessoas saiam da sua palestra motivadas e lembrando da maravilhosa experiência de te ouvirem.

Pense bastante em como encerrar com maestria sua fala pois isso é meio caminho andado para a próxima sala cheia de pessoas ou mesmo para que seus alunos retornem com vontade de ouvir mais de você.

São muitos pontos a se perceber e melhorar antes de se tornar um bom orador, independente do seu propósito.

Sabendo falar bem, portas se abrem e oportunidades aparecem em maior número, e para você, músico dos nossos tempos que é cada vez mais cobrado no desenvolvimento de diversas “skills”, é algo que considero essencial.

Iniciar uma conversa com um possível parceiro, dar uma boa entrevista, comunicar-se de forma eficaz com o público de seus shows ou com seus estudantes só soma a uma imagem de um profissional completo e que excede, em muito, as expectativas de uma sociedade que faz tão pouco da cultura.

Sua voz é tão importante quanto o timbre do seu instrumento ou suas composições.

Esperamos, eu e a Thais, que esse texto tenha te interessado em desenvolver mais habilidades e que uma delas, seja a Oratória.

E para deixar mais leve, compartilhe conosco alguma cilada na qual você se meteu durante uma aula ou palestra que ministrou ou mesmo alguma situação cotidiana em que viu acontecerem um ou mais dos tópicos que tratamos.

Com essas experiências, todos crescemos juntos e nos fazemos ouvir mais e mais.

A gente se vê na semana que vem, com desejo de muita saúde e proteção.

 

 

Um abraço!

 

Dan Souza (IG: @danhisa) é músico e profissional de Marketing, Relações Artísticas, Branded Content e Music Business, formado pela UNINOVE.

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