O ABCdário e a Pauta Reduzida

 

Olá leitora e leitor do blog SANTO ANGELO: tudo tranquilo com você?

Antes que pare de ler, achando que estou alienado com a realidade desses dias, explico que usei a Ironia, uma figura de linguagem para a palavra Tranquilidade, para ressaltar que ninguém está deboas numa hora dessas em que devemos manter o Isolamento Social, principalmente agora que surgiram as primeiras vítimas do Covid-19, com menos de 60 anos e sem histórico de doenças pré-existentes.

Claro que a aceleração do número de infectados é preocupante, mas o problema real é o esgotamento de UTIs e leitos disponíveis na rede hospital brasileira, pública ou privada que é muito limitado e não algo para se brincar.

Assim, não importa se você é jovem, saudável e está fora do grupo de risco:  pense nos outros, independente de sua religião.

Eu te agradeço, de coração e pulmão, se respeitar essa verdade: a economia se recupera, mas não pessoas que se vão.

Recado dado, voltemos, então, ao nosso tema sobre aprendizado musical.

Apesar do título desse post parecer de um livro do C. S. Lewis (O Leão, A Feiticeira e o Guarda-roupa) e eu ter mordido minha língua de que não ia falar sobre isso, você, leitor ou leitora, é quem vai guiar os assuntos por aqui.

Por isso continuo pedindo: comente e compartilhe.

Assim, te convido para entrar novamente em um túnel do tempo de volta à década de 70. Fui bastante à fundo e conversei com músicos mais experientes (em idade e tempo de ensino) para entender uma febre que se apossou dos estudantes de música e dos autodidatas, principalmente dos violonistas e guitarristas daquele período.

Essa febre tinha um nome: Revistas de Cifras

A moeda da época era o Cruzeiro (Cr$); o Brasil tornara-se tricampeão mundial da Copa FIFA de futebol; a televisão à cores começa a se tornar popular; as músicas compostas por Gilberto Gil, Chico Buarque, Raul Seixas e Jorge Ben Jor eram interpretadas nas rádios por Elis Regina e outros intérpretes.

Ah…também perdemos Elvis Presley e os Beatles acabaram.

Isso para te dar um panorama de quanta coisa estava acontecendo – não compare com os dias de hoje, pois naquela época, com a tecnologia disponível – era muita coisa mesmo.

E por falar em tecnologia, você também pode ouvir meu post através do seu agregador de podcasts mais vantajoso. Clique no link abaixo, se você usa o Spotify. Se usar o Deezer , Google Podcast,  ou Soundcloud  busque por “Blog SANTO ANGELO” e ouça também os episódios anteriores.

As bancas de jornais traziam essa novidade: revistinhas pequenas e com uma simplificação das músicas. As cifras já existiam, mas se popularizariam a partir daquela época aqui no Brasil.

Não consegui a informação de quando exatamente a febre começou nos EUA, por isso, foquemo-nos no nosso país.

A Cifra nada mais era do que a letra da música transcrita com a notação musical ocidental (ABCDEFG) e escrita no exato momento da troca do acorde.

Basta entrar nos sites do Cifraclub ou do Cifras e ver, em formato digital, como eram essas informações naquele período.

Passei até em algumas bancas de jornal antes desse “half-lockdown” (ou semi-isolamento em bom Português) para ver se encontrava algumas dessas e por incrível que pareça, algumas ainda estão lá – antigas, mas com seu lugar na prateleira.

Para quem é colecionador dessas relíquias musicais, no Mercado Livre tem alguns vendedores que comercializam as revistas, desde as mais antigas até a últimas lançadas.

Criar esse subterfúgio para facilitar o aprendizado de muitas músicas, deixando um pouco a teoria de lado, foi um método que formou ótimos músicos nas décadas seguintes.

Dessa forma, a Cifra revelou a possibilidade de um certo Autodidatismo por um custo extremamente acessível e englobando muitos instrumentos.

Piano, violão, baixo, guitarra eram os maiores focos desses pequenos compêndios musicais, porém, não era vetado ao violoncelista ou ao trompetista, formalmente instruídos nas partituras, que utilizassem as Cifras para “tirar” uma música.

Deixando a formalidade dos métodos até então utilizados – conservatório, escolas de música, professores com formações acadêmicas – as revistas com cifras fizeram surgir um interesse que, até então, a música não trazia: o de aprender para se divertir, da forma mais rápida e democrática possível.

Tanto isso é verdade, que até hoje essa revolução se mantém forte, agora através de canais online que oferecem um catálogo infindável de músicas e que continuam crescendo, em termos de acervos e acessos.

Sem dúvida – para os marketeiros de performance – esses canais online tornaram-se cases invejáveis de sucesso.

O Lucas Leal, dono do site UkeCifras – site com 5 anos de existência e que é um dos mais novos repositórios de cifras para essa onda, chamada de Ukeleles, que varre o Brasil desde 2015 – diz que em um mês são mais de 5 milhões de visualizações pelo mundo, somando site e app (disponível para Android e PC). E para atender essa demanda o site já está lançando sua versão em Espanhol.

Afirmar que o Luau surgiu com a cifra seria presunção demais do meu conhecimento histórico, mas que nesse momento eles aumentaram em quantidade e qualidade, acho possível de imaginar.

Mais gente tocando e entendendo de música, gerou mais uma simplificação, e essa que iniciou um “clash” entre músicos com educação formal e autodidatas.

Estou falando das Tablaturas.

Sim, as conhecidas TAB’s: a simplificação da partitura focada em instrumentos de corda temperados.

Baixos, guitarras – americanas e baianas –, violões, cavaquinhos e ukuleles entraram em uma nova era de aprendizado.

Por outro lado, os clássicos: violinos, violas, violoncelos e contrabaixos ainda hoje dependem de um ensino bem mais profundo e tradicional.

Com ela, todos poderiam e podem se tornar um autodidata. Bandas se formando para lá e para cá – mesmo com os bateristas não tendo essa facilidade já que a notação musical deles se parece com a de cordas, porque os símbolos mudam – e muita gente se aprofundando mais e desenvolvendo técnicas através do estudo à frente do computador e do tão famoso GuitarPro.

A pauta de 5 linhas começou a variar para o número de cordas do instrumento.

As colcheias e as semibreves deram lugar aos números que identificavam as casas onde se deveria pressionar os dedos.

Mantiveram-se os ornamentos como Vibrato, Trinado, Appoggiatura e Quiáltera, porém, completamente esquecidos os Mordentes e os Grupettos.

Esses muitos cortes “teóricos” na partitura serviram para um entendimento fácil até para os mais novos interessados em aprender um instrumento.

Tão forte é a presença da Tablatura que, arrisco dizer, ela nunca será deixada de lado para quem deseja tocar um instrumento musical.

Com essa força, professores e sites do mundo todo começaram a deixar mais visuais e didáticas as suas aulas, ora inserindo um link nas descrições de onde “baixar” as tablaturas (ou os .gp3) ora, para aqueles que dispunham de mais recursos, inserindo vídeos com uma TAB que acompanha o músico enquanto ele toca.

É impossível viver no Brasil musical e não citar o Cifras ou o CifraClub como o cases de sucesso. Porém, debrucemo-nos em um deles.

Inaugurado em 1996, o CifraClub oferecia inicialmente apenas letra de música e respectivas cifras.

Depois de um tempo, com mais gente tendo acesso aos computadores e softwares, disponibilizavam a tablatura no formato GuitarPro e a possibilidade de trocar a tonalidade da música, visualizando o diagrama do acorde e mudando o instrumento.

Por ser colaborativo, a quantidade de cifras que eles disponibilizam chega a ser incontável. Hoje oferecem afinador e metrônomo próprios e gratuitos (disponíveis em todas as lojas de aplicativos), canal pago de aulas e além de tudo, um Youtube de dar inveja a qualquer professor.

TAB + ABCDEFG + WWW = EVOLUÇÃO

Essa conta fictícia bem simples nos mostra que as transformações tecnológicas, mais a revolução do pensamento dos docentes da música ou de qualquer um que resolveu disruptar – essa palavra as vezes não cai bem, mas aqui se aplica perfeitamente – a forma de aprender, trouxe esse universo de sons, pontinhos pretos e hastezinhas para mais perto das pessoas.

Como venho concluído nos textos, é de cada pequena parte desse progresso no aprendizado que a música vai entrando na casa das pessoas com mais facilidade, trazendo tudo aquilo que ela tem de bom: a emoção, o conhecimento, o relaxamento, a saúde mental e física e a reflexão.

Cada novo músico que decide ser professor, me traz uma brisa fresca de que é mais uma cabeça trabalhando em prol do crescimento da Música e colocando os neurônios pra ferver, pensando em como ensinar mais pessoas de maneira mais qualitativa e rápida, fazendo com que todos os interessados aprendam a fazer Música e nunca mais a abandonem.

Enfim, como já escrevi aqui no blog SANTO ANGELO, não precisa ser o Bona ou o Pozzoli, mas sim qualquer método, qualquer forma, VHS, DVD ou Streaming quando a intenção é aprender a tocar um instrumento musical.

Aliás, podem ser usadas todas elas juntas, como nesse brilhante post do parceiro e violonista clássico Ricardo Giuffrida que tratou, em 2016, da importância da transposição de partituras para músicos.

O importante é manter o compartilhamento de conhecimento sempre e tentar trazer evoluções a cada dia. Eu agradeço a você, professor, por se forçar a isso sempre.

Agora me fala: tem ideia de quantas TABs e Cifras você já usou/decorou?

Conhece outras formas simples de tirar músicas? E nos outros instrumentos, quais formas, fora a clássica, vocês conhecem que facilite o ensino? Não deixe de contar para a gente aqui no blog ou nas redes sociais da SANTO ANGELO.

Lembrando: compartilhe, deixe seu comentário e indique o texto ou o podcast para seus amigos.

Vamos continuar no fomento do apresentado musical.

Novamente, eu agradeço a leitura e nos falamos logo mais!

Cuide bem de você e de sua família compartilhando #ficaemcasa

Grande abraço!

 

 

 

Dan Souza (IG: @danhisa) é músico e profissional de Marketing, Relações Artísticas, Branded Content, Performance e Music Business, formado pela UNINOVE.

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