Professor de Música: quer uma sala de aula com 20 mil alunos? Pergunte-me como

por Isis Mastromano Correia

A frase do titulo não lhe é estranha, né? Parece vinda diretamente de um daqueles programas que vendem produtos milagrosos de madrugada pela TV. E é isso mesmo. Essa coisa de prometer mundos e fundos “por um precinho que você não vai acreditar”, saltou do mundo das quinquilharias de saúde e beleza e tem se instalado como uma praga no mundo da Música.

Enquanto as salas de aula de professores altamente capacitados têm sido frequentadas mais pelas traças do que por alunos e penam para atrair gente para aprender a tocar, na internet, pessoas desconhecidas do meio musical, que graças ao Marketing Digital, tem encontrado o espaço que precisavam para vender ilusão e promessas de ensino da música em semanas mesmo para aqueles que nunca seguraram uma guitarra ou um violão nas mãos.

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Basta uma busca superficial pelo Google e você vai dar de cara com várias dessas instituições online recém-inauguradas. E pasmem: algumas delas já possuem mais de 20.000 seguidores, enquanto você, professor que nos lê, tem quantos fãs em seu perfil no Facebook mesmo? É pra escandalizar qualquer um que tenha se dedicado anos a fio estudando e se preparando para lecionar.

Já falamos no blog SANTO ANGELO sobre os benefícios do estudo pela internet (leia o artigo aqui), portanto, de forma alguma é na virtualidade onde mora o problema. Longe disso, sabemos que o ambiente online facilitou demais a nossa vida e, nas mãos certas, tem feito maravilhas em termos de contribuição para o ensino musical. Nosso alerta é para iniciativas surgidas do nada com promessas que sabemos ser de difícil realização.

O problema que aqui apontamos está no oportunismo daqueles se valem de práticas modernas de Marketing Digital para vender facilidades e atiçar a vontade legítima de todo brasileiro de tocar um instrumento musical. Nossa intenção é esclarecer os verdadeiros professores e escolas sérias de ensino para o perigo que correm ao serem comparados com preços e promessas irreais.

Por mais da metade do valor de aulas sérias, com métodos consagrados e técnicas de ensino, as escolas por trás do computador conseguem fisgar alunos e tem sobrevivido. Com promessas de “toque mais rápido do que a luz” também. O que eles não informam é que nesse pacote de facilidades não estão inclusos sequer o aprendizado da leitura de cifras ou tablatura a contento muito menos avisam que há um equipamento extremamente necessário para além do instrumento para ingressar nessas aulas: o cartão de crédito e todos os seus dados. É preciso muito cuidado quando mensagens assim aparecem em nossos computadores. Afinal, anúncios segmentados são o forte das mídias sociais como o Facebook e o LinkedIn.

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De certa forma, essas escolas virtuais pretendem ser uma alternativa ainda barata de estudar um instrumento musical para quem não tem tempo nem dinheiro. Porém, como você julgaria uma escola cujo principal mote é um simplório “toque mais rápido do que um foguete”? Ao invés do clássico selo “como visto na TV”, que tipo de carimbo levariam esses produtos? “Como visto no DVD do Michael Angelo Batio?”

Além disso tudo, não é difícil suspeitar da seriedade de algumas dessas escolas virtuais de Música: uma visitinha à página principal de algumas delas já é capaz de quebrar a confiança do consumidor em cinco pedaços. Erros de português na apresentação do produto e bônus oferecidos com descontos imperdíveis fazem parte desse pacote de ilusão.

Essas soluções de ensino não formam novos músicos e provavelmente se aplicam àqueles que não pretendem se embrenhar seriamente no campo da canção”, diz o professor de música Antônio Vieira, 48 anos, que leciona guitarra e violão em escolas convencionais de música há 23, em São Paulo.

Vieira defende as aulas online desde que os professores estejam engajados e apoiados em métodos sérios de ensino. “As aulas à distância já estão super estabelecidas em vários campos do conhecimento, na Música não seria diferente e nele atuam diversos excelentes e renomados profissionais. O problema mesmo é o aluno cair em armadilhas no meio desse mundo de páginas que oferecem aulas de violão, guitarra e etc, sem procedência alguma”.

Mas, de quem é a culpa desse terrível panorama, onde escolas e professores de Música agonizam e outros menos fiéis aos princípios da educação prosperam? Pessoas competentes tem ficado pra trás, pois, não encontram espaço nas cabeças consumidoras iludidas pelo rápido e barato. Sabemos que para o consumidor – no nosso caso, o aprendiz de Música – esse custo benefício sairá caro mais tarde. Cabe então buscar meios de beliscar essa gente para trazê-las de volta a realidade, engaja-las na importância da Música.

Muitas das repostas para a solução de seus problemas o professor encontrará justamente nas técnicas de Comunicação que tanto seus oponentes têm se beneficiado. Digamos que para uns sobra embasamento musical e para outros falta propaganda. Para esses últimos vale o investimento no estudo de técnicas de Marketing, a começar vasculhando justamente pela web (já falamos que quem navega com coerência encontra muita coisa boa em termos de ensino!). Quem puder pôr a mão no bolso e investir em livros e cursos, tanto melhor.

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Para iniciar essa guinada nos negócios, também valem iniciativas mais simples como oferecer seus serviços nas escolas do ensino formal da sua redondeza. Parece que só Inglês, Ballet, Futebol e Judô são atividades extracurriculares para a moçada em idade escolar. Mude isso: promova sua escola ou suas aulas particulares nesse ambiente, por que não? Se os pais não souberem que “há vida além da natação” quem além de nós irá fazer essa ponte?

Fique de olho também nas feiras de profissões das escolas. Diretores sempre estão em busca de profissionais que queiram falar sobre seus ofícios e dificilmente um músico pinta por lá. Aliás, pra falar a verdade, nós nunca vimos um deles nesses eventos.

Ofereça também uma palestra fora do calendário convencional de atividades da escola e aproveite para falar de seu instrumento musical. Nunca subestime o poder de apresentar Música, equipamentos e acessórios (cabos de guitarra, inclusive!) para uma comunidade de jovens: essa que vos escreve se apaixonou pela guitarra justamente porque uma professora permitiu a visita dessa maravilhosa “intrusa” na turma da 8ª série para uma pequena apresentação musical.

CRISE INTELECTUAL

É certo que todas as áreas da produção intelectual têm sofrido muito com esse nosso modo de viver que é bastante hábil em mensurar o quanto vale o trabalho de um engenheiro baseado na quantidade de tijolos que leva uma construção, mas, fracassa em fazer o mesmo sobre uma tarefa abstrata como a Música.

Tem chamado atenção o exemplo das escolas que “vendem” um estilo de vida e fazem o aluno se sentir parte de um grupo social especial. Repare nas grandes escolas de música que circulam na mídia. Elas trabalham com a ideia de um mundo particular para seus integrantes, oferecem benefícios concretos e também intangíveis e assim conseguem envolver toda a comunidade, mesmo gente que nunca pisou na escola é capaz de propagar suas ideias.

Sendo a Música praticamente uma causa, uma militância, quem é que pode ser favorável a tamanha degradação do ensino, do apodrecimento justo das bases, das raízes dessa “planta” tão delicada?

No Brasil apenas os cursos superiores de graduação à distância têm de obedecer a uma regulação e por isso são supervisionados e avaliados constantemente pelo MEC (Ministério da Educação). As demais modalidades de cursos online sobrevivem à sua maneira cabendo ao consumidor avaliar se são de qualidade e aos formadores de opinião fazerem o alerta.

Em entrevista publicada na revista “Superinteressante” (Super poliglotas: como funciona a cabeça das pessoas que aprendem dezenas de idiomas; maio/2012), o professor de psicologia da Universidade de Nova York e especialista em linguística, Diogo Almeida, explica que “não importa a idade, dizem que você precisa de 10 mil horas para tocar bem um instrumento. Ou seja, tocar melhor porque aprendeu aos 5 anos pode ser apenas uma vantagem incidental, porque teve mais tempo para estudar“.

Com isso ele tenta explicar que quanto maior o tempo dedicado ao estudo de um instrumento musical, mais competência, destreza e habilidade o aluno terá. Essa é uma constatação com bases na observação sistemática cientifica que dá na cara dos métodos milagrosos de ensino.

Pais, e principalmente os alunos, precisam rever suas posições na hora de avaliar onde estudar, ir atrás de informações fidedignas e de métodos comprovadamente eficazes e não confiar nos produtos “modernos” e porque não dizer sobrenaturais de ensino de guitarra, baixo, teclado e afins. Se está difícil para quem estuda cinco horas por dia, imagina para quem fica sentado em frente ao computador? Conselho garantido ou seu dinheiro de volta!

E professores, é urgente: passou da hora de estudarem plataformas mais convidativas para atrair essa gente, geralmente iniciante, que, claro, se encanta com promessas de um mundo colorido que os deixará par e passo com Yngwie Malmsteen. Só que não. Analisem esses cursos com inteligência e estudem argumentos para que possam esclarecer alunos e seus pais sobre o desserviço que tais produtos impingem aos verdadeiros instrutores de Música online ou off-line.

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Queremos saber como vocês, mestres, tem driblado essa concorrência desleal de mercado, caso já tenha chegado à sua área de trabalho. Seu exemplo tem dado certo ou a grama do vizinho continua mais verde? E a todos que já tiveram a oportunidade de testar algum desses métodos milagrosos para aprender a tocar, conseguiram avançar um pouquinho na Música ou foi uma decepção total? Dá para indicar esses cursos pros amigos?

Compartilhem suas experiências com a gente e com os demais porque só assim evoluiremos juntos.

Até a próxima!




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