Music Business: Educação Musical
Olá. Para quem estiver chegando agora, é preciso saber que esse post é mais uma das entrevistas com profissionais que tem se destacado no negócio da Música (ou Music Business, como dizem os especialistas), porém, em áreas e mercados ainda pouco vislumbrados.
A ideia é apresentar para vocês caminhos diferentes e alternativos ao do clássico rock star, mostrando que podemos fazer música, independente do nosso papel, sem abrir mão de fazer o que gostamos e viver disso. Sim, é possível trilhar um caminho de sucesso dentro da área de educação musical.
E aí? Que tal explorar a área de coordenação da educação musical?
Acompanhe a entrevista com o talentoso Wanderson Bersani, guitarrista, autor e orientador musical, especialista em Música Popular. Atualmente Wanderson é coordenador pedagógico do IG&T e editor da revista Total Guitar Brasil. Aliás, um dos diretores do IG&T, Célio Ramos, já escreveu aqui no blog sobre a filosofia dessa escola.
Calcula-se que mais de 30 mil guitarristas já tenham estudado com as apostilas escritas por Wanderson ao longo de 24 anos de carreira musical.
Assim, nesta entrevista ele aborda vários aspectos do tema Educação Musical e o papel dos agentes (professores, família, escolas e empresas do ramo) na formação de novos músicos, inclusive, com sua opinião pessoal sobre endorsement, veja aqui
SANTO ANGELO: Quem é o Wanderson Bersani? Conte-nos um pouco sobre sua história.
WANDERSON BERSANI: Bem, sou guitarrista, pós-graduado em Música Popular, enfim, um músico que tem dedicado uma vida ao ensino e à pedagogia da guitarra: ano que vem comemoro 25 anos de professorado. Atuo como coordenador didático e professor do IG&T (Instituto de Guitarra e Tecnologia de São Paulo), onde implantei a metodologia de ensino, que hoje conta com mais de 40 escolas licenciadas em todo o país.
Nos últimos dois anos também sou editor da revista Total Guitar Brasil, ambiente esse que tenho visto como um veículo para a ampliação dessa veia didática – uma vez que a transmissão de múltiplas informações, associadas ao vasto universo da guitarra, abre um leque ainda maior de possibilidades, neste que é um tipo bastante específico de mídia de comunicação.
SA: Por que você escolheu seguir carreira na área de ensino musical?
WB: Essa escolha surgiu apenas por uma característica pessoal, que é a de desde cedo gostar de organizar, compilar, pesquisar os diferentes assuntos do amplo campo do instrumento, com a visão sempre focada em uma frase: “de que forma eu poderei passar à frente essa informação? ”
Ou seja, uma motivação pessoal por buscar um formato pedagógico que seja fruto de toda essa informação por mim processada, porém sob a ótica do aprendiz e não do mestre. Acho fascinante a ideia de se colocar na posição daquele que aprende! Isso te abre os olhos para perceber que existem diferentes formas de passar uma informação musical, seja ela qual for, pois as pessoas são diferentes, têm um histórico diferente, portanto vivências diferentes, o que reflete na forma com que se relacionam com a música. Sem falar no mais aparente, de que algumas pessoas são mais matemáticas, racionais, outras mais intuitivas, emocionais.
Sempre há diferentes formas de abordar um tema, tantas quantas forem às diferenças individuais entre as pessoas. Mesmo quando há um método (caso explícito é o do IG&T), a importância do tutor é imprescindível, pois é ele quem tem a responsabilidade de tratar sobre diferentes óticas o conteúdo ali descrito. Assim, o livro serve como um guia, dando uma linha pedagógica de início e fim.
O aluno sabe onde pode e deve chegar do ponto de vista de conteúdo, apresentando uma meta clara e objetiva – o que, sob meu ponto de vista, é o grande polo motivador. Agora, veja que falei em início e fim, já o meio, este é o grande campo de batalha do professor. Uma certa maleabilidade para adequar a informação a cada grupo, e ainda dentro de cada grupo, a cada indivíduo, com suas particularidades, limitações e habilidades, esse é o papel do verdadeiro professor.
SA: Se voltasse no tempo, acredita que hoje poderia chegar aonde chegou, como professor?
WB: Uma coisa que as antigas filosofias ensinam é que as coisas fluem nas nossas vidas. Gosto do termo “novela de vida”: situações, dramas, teia de enredos. O personagem é criado pelo autor e pelo ator, ele cresce durante os capítulos, há uma direção, uma cenografia, uma locação. Ou seja, você atua, mas ainda é apenas uma novela, entende?
A gente tem a total responsabilidade nas coisas: se preparar e se dedicar, essas são obrigações suas. Objetivar é algo importante para se obter algo, agora, a vida vai apresentando as situações – a tal da novela, sabe? E tudo o mais vai surgindo em cadeia, fruto daquela motivação inicial.
O caminho profissional é de cada um, único, e seguir os passos de outro pode não levar aos mesmos resultados. O único trunfo é estar preparado para quando as oportunidades aparecerem, e ter o coração aberto para perceber se aquele é um bom caminho a seguir. Se eu voltasse no tempo? Não sei, acho que naturalmente seria outra novela, nem pior, nem melhor.
SA: Em sua opinião, o que os pais devem fazer para incentivar os filhos a tocarem algum instrumento musical ao invés de outras atividades?
WB: Mais uma vez, a resposta é a motivação. Perceber na criança ou no adolescente quais os pontos que possam atraí-lo para a Música. E de uma maneira ainda que escusa, notar em que pontos ele pode melhorar com a Música em sua vida.
A Música traz disciplina, paixão, abre o caminho para o belo e também para o cacofônico, desarmonioso – as dualidades são importantes para o autoconhecimento. Trazer a Música para a vida dos filhos pode ser uma abertura para a percepção, a análise, a estética e um bom ponto para trabalhar auto-superação, exposição e compartilhamento.
São muitos os casos de estudantes que melhoram a concentração na escola regular, outros que usam a música como ‘válvula de escape’ para o excesso de energia que têm, ou ainda outros que deixam de ser tão tímidos ou com melhorias na autoestima. Alguns pais têm a consciência desses benefícios.
Já outros pais, contrariamente, podem se encantar pelo lado artístico, por imaginar seus filhos como grandes artistas, fazendo seus vídeos como jovens virtuoses ou ambicionando grandes mídias. OK: que partamos do mais aparente em direção ao mais sutil! Mas com uma boa orientação (aí o papel do tutor), mais cedo ou mais tarde a função da Música, de formação do Ser, surgirá. E os frutos só serão bons, acredite!
SA: Em sua opinião, como será a educação musical nos próximos anos?
WB: É evidente como a internet e as novas tecnologias mudaram o paradigma de aprendizado musical. O Youtube é um forte facilitador, não somente pelos seus vídeos tutoriais, também como fonte de observação dos próprios músicos referenciais através de suas performances. Se antes tudo o que tínhamos era um disco em vinil e a foto dos músicos na contracapa, hoje você tem vídeos ensinando a tocar todas as partes de guitarra do álbum que saiu mês passado! Isso é fantástico, e essa nova geração evolui tecnicamente em poucos meses o que levávamos anos para desenvolver.
Porém, caímos agora num paradoxo, pois há um excesso de informação que ainda se encontra desconexo com a prática. O músico precisa se relacionar com outras pessoas, nada substitui um encontro num estúdio para criar uma música, muito menos a emoção de estar num palco. O ambiente virtual é muito estéril, costumo chamá-lo de laboratório.
É preciso uma orientação para trazer o experimento para a prática real para se manter Arte. Caso o contrário, viraremos depósitos de informações musicais desligados do verdadeiro propósito musical que é pautado na relação. Prevejo um ponto de equilíbrio, em resposta à sua pergunta: a presença de um tutor que utilize das ferramentas digitais para ilustrar as diferentes técnicas, os diferentes estilos e épocas (uma aula de “12-Bar Blues” pode partir de “Black Keys”, ir para “Led Zeppelin” e chegar à “Ottis Rush”!) e até mesmo para criar playbacks para tocar junto, apps para compartilhamento de gravações, grupos de discussões e tudo mais.
Mas não queira que o estudante saiba sozinho, lidar com tudo isso de uma maneira positiva: ele precisa de uma orientação. Assim, acredito numa tendência em chegar a um meio termo entre o digital e a experiência presencial, humana. Afinal, é disso que a Música trata.
SA: Como você vê o papel das empresas do setor no fomento de novos músicos?
WB: Acho que no Brasil ainda não acertamos o ponto. Mas acredito que é uma questão de tempo. Muitas empresas se encantaram com o mundo digital, apostando todas as fichas nos novos talentos em vídeos, baseados nos números de visualizações (views). A questão é que, na grande maioria dos casos, uma carreira ainda não foi construída!
Quando um artista constrói uma carreira, ele consolida sua experiência não apenas num estilo musical, mas também numa estética, numa atitude, num discurso que vai além do musical. O que as empresas lá fora já sacaram há muito tempo é que a escolha do artista que irá representar a sua marca deve partir da coerência entre a imagem que ele passa e a imagem que o seu produto deve passar ao consumidor.
É só ir pra NAMM e você perceberá que a relação dos artistas com as marcas é bem mais próxima, pois há um vinculo muito forte de identidade do artista com o produto. Na maioria das vezes o artista trabalha no desenvolvimento do próprio produto, trabalho esse baseado unicamente na sua experiência.
Aqui no Brasil, os novos talentos se apegam à palavra endorsement como um Santo Graal, como se ter vários deles fosse sinal de status. E o consumidor hoje está mais antenado, já sentiu a banalização da palavra.
Em minha opinião, as marcas podem achar caminhos bastante alternativos para incentivar novos talentos, ajudando-os no processo de desenvolvimento de uma carreira. E podem investir pesado na associação de seus produtos com artistas formadores de opinião: eles são o contato direto com o consumidor final.
Obrigada, Wanderson Bersani, por dividir sua bela trajetória dentro da música e do ensino. Desejamos ainda mais sucesso e reconhecimento.
Animado com a carreira de sucesso do nosso entrevistado? Qualquer dúvida é só comentar aqui no blog, nas redes sociais da SANTO ANGELO ou com o próprio Wanderson Bersani pelo site, acesse aqui
Abraços e até a próxima!
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Lygia Teles, é Relações Públicas e pós-graduanda em Gestão de Marketing pelo SENAC-SP. Desde janeiro/16 integra a equipe de Marketing e Comunicação da SANTO ANGELO.
Muito boa entrevista!
Vlw Angelo!