Aplicando conhecimentos financeiros: Quanto custa para tocar? Parte 2
por Dan Hisa
Quem leu nosso post anterior, reclamou muito dos valores ali calculados com base no que os contratantes pagam atualmente. A Ana Klara A., que curte nossa fanpage no Facebook até escreveu: “só em sonho alguém vai pagar R$700,00 po um show num bar, hahahaha.” Nós concordamos com ela e sabemos da realidade enfrentada pelos músicos na hora de receber um cachê justo. No entanto, os números do post estão corretos e tenha certeza que, se os contratantes não pagam, você é quem estará pagando aqueles custos. Por isso é que vamos continuar no tema, explorando mais as saídas e pensando como empresários no ramo musical.
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Considere primeiro esses conceitos:
Custos são todos os valores gastos com a execução ou diretamente ligados à execução do seu serviço. Ou seja, tocar guitarra. Assim, cordas e regulagens (que você pode fazer sozinho baixando nossos ebooks aqui) também se enquadram nos custos.
Despesas são outros 500. São os valores gastos com atividades não relacionadas ao seu serviço, como por exemplo, alimentação, agentes de trabalho, seguro, publicidade e marketing.
Ambas podem ser fixas ou variáveis.
E temos também as Receitas, que nesse nosso “case” será o quanto o mercado (casa de shows, bares, bandas, igrejas, etc) pagará pelos seus serviços de musico.
Comecemos com os valores de aquisição do post anterior e estimando novos prazos de durabilidade para seus equipamentos:
Tentamos ficar próximos à realidade quando se trata na vida útil. Pedais terão maior durabilidade, pois são acionados muito menos que as guitarras e amplificadores, com tempo de vida médio, porém mais alto que os cabos e acessórios. Esses não dependem apenas dos seus bons cuidados, mas podem sofrer avarias de terceiros ou efeitos derivados do clima do local das apresentações.
Agora, calcularemos os valores que você precisa ter de volta, começando pelo retorno sobre o investimento nos equipamentos, baseado no prazo de vida útil:
Perceba que com o aumento das durabilidades, o custo diminuiu se comparado ao nosso exemplo anterior (clique aqui e veja). Caso aumentemos o número de apresentações mensais, apesar do custo final não sofrer alterações, teremos uma diluição maior do custo por show. Seguindo, temos os custos (relacionados com nossa atividade).
Explicando a tabela:
1. Você precisa ter aulas e estudar para continuar evoluindo e oferecendo qualidade para seus clientes, logo esse é um custo fixo.
2. Ser um Microempreendedor Individual também é um custo, pois se relaciona diretamente com sua atividade, e só se altera quando há reajustes ditados pelo governo.
3. Já as cordas e palhetas são consumíveis quando você toca, logo, quanto mais tocar, mais vai consumir. O mesmo raciocínio podemos ter com os ensaios: quanto mais apresentações, mais tempo dedicado a ensaios você precisará.
Agora, as despesas:
1. O seu seguro também é um valor fixo, pois não mudará de acordo com o número de apresentações que você tiver, ou seja, ele não se relaciona diretamente com a sua atividade (é apenas uma garantia de que, se acontecer algo ruim, você consiga continuar se apresentando).
2. Já alimentação (você precisa de palhetas e cordas, mas não de hambúrgueres) e o agente, são despesas que variam de acordo com o número de shows. Lembrando que o agente, apesar de não ser um colaborador para artistas e bandas iniciantes, acaba ficando com uma parte para que você ganhe tempo extra para ensaiar mais e compor, ou seja, fazer o seu trabalho, que é tocar cada vez mais.
Agora digamos que você receba R$ 100,00 por apresentação. Como estimamos 2 apresentações mensais, temos R$ 200,00 de receita.
E o que saiu do seu bolso (gasto) será o seguinte: Custos R$ 656,84 (onde constam R$ 82,64 do reinvestimento nos equipamentos, R$ 241,20 dos custos fixos e R$ 333,00 de custos variados); Despesas: R$ 450,00 (onde R$ 350,00 de despesas fixas e R$ 100,00 de despesas variáveis). Somando tudo o que se gasta, temos R$ 1.106,84.
Recebeu R$ 200,00, certo? Logo, ficou com um saldo negativo de R$ 906,84 ($1.106,84 – $200,00). Ruim, não é.
Fazendo essa conta básica, o seu cachê mínimo, com essas duas apresentações mensais deveria ser de R$ 667,00 para empatar seus gastos com suas receitas, considerando que você não teve lucro algum.
Agora digamos que você faça 10 apresentações por mês, com os mesmos R$ 100,00 de cachê. Seguindo essa lógica, seu gasto seria a soma de R$ 1.998,84, sendo R$ 82,64, pois não mudamos a vida útil dos equipamentos; R$ 241,20 de custos fixos e R$ 1.665,00 (R$ 333,00 x 5) de custos variáveis; mais R$ 850,00 (despesas de R$ 350,00 fixas e R$ 500,00 variáveis) totalizando R$ 2.848,84.
Com a receita, R$ 1.000,00, você teve um prejuízo de R$ 1.838,84. Ou seja, mesmo fazendo 10 apresentações no mês, você não conseguiu equilibrar suas contas.
Mas, em contrapartida, o seu preço mínimo de apresentação (para equilibrar a conta e sair sem lucro nenhum) diminui significativamente, ficando em torno de R$ 330,00 por dia de show. Ou seja, você consegue equilibrar seu custo com um cachê menor, e as vezes, mais negociável.
Claro que estamos falando em hipóteses e em casos reais, esses números podem ser bem diferentes, como a comissão de 20% para o agente (aquele que vende seus serviços para o dono do bar) não existir. Ou então, você conseguiu um patrocínio para os encordoamentos e não precisa gastar com eles. No entanto, esses gastos existem e mais dia menos dia você terá que arcar com eles.
Nosso intuito é alertá-lo para que estabeleça limites, mas acredite, não queremos que você pare de tocar como esses números dão a entender.
Estabelecer limites é pensar de maneira mais “business” para que as suas contas se adequem e você consiga prosseguir com segurança na vida de músico (profissional ou amador). Desejamos que a sua conta do banco, ou o caderninho de planejamento financeiro e controle de gastos, fique sempre no azul e que seus sonhos e metas se realizem.
Ninguém disse que é fácil (e que profissão é), mas seguimos ajudando com o que conhecemos para que vocês aprendam, nos ensinem e ajudem mais e mais músicos a conquistar seu lugarzinho na palco, mesmo que junto com outro emprego em outra área que você goste, certo?
Até a próxima!
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