A bola tocada fora de campo: jogadores que inspiraram músicos

por Isis Mastromano Correia 

Desgraça pouca parece mesmo bobagem. No último post sobre os jogadores que se aventuraram na Música citamos uma das obras onde Pelé se arriscou ao microfone. É um dueto de 1969 com Elis Regina chamado … Vexamão. É isso mesmo: o “grande vexame”. Infelizmente, garimpamos a Música certa com antecedência e, feito uma guitarra desafinada, nos despedimos da nossa série de artigos sobre futebol e Música aqui no blog SANTO ANGELO conforme prometido, falando dos jogadores cujas biografias foram merecedoras de serem imortalizadas em forma de canção.

Pelé, que circulou bastante entre os músicos, abocanhou títulos também como inspiração dos artistas. Foram muitas as canções em homenagem ao rei do futebol a começar por Jackson do Pandeiro, que sempre esteve às voltas com o futebol e não deixou de homenagear o maior de todos os tempos. Jackson registrou em 1974 “O Rei Pelé”, um belo resumo da vida do craque até aquela década, quando ajudou a seleção a se sagrar tricampeã do mundo na Copa de 1970, no México.

O Rei Pelé – Jackson do Pandeiro

 [youtube]https://www.youtube.com/watch?v=a9OMwQyttAw&feature=kp[/youtube]

Registrando a orfandade dos campos sem o atleta do século segundo o jornal francês L´Equipe ou, do maior atleta de futebol do século XX, segundo a Fifa, Cecílio José Carneiro gravou “Deus Negro” que fala da imensidão da arte de Pelé e a falta dele para os gramados.

Deus Negro – Cecílio José Carneiro

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=67_7remfEkU[/youtube]

Outro grande imortalizado em notas musicais foi Garrincha, o botafoguense das pernas tortas devido à poliomielite, desenganado pelos médicos sobre o sonho de jogar bola um dia, esse sim, um fenômeno por ter contradito tudo o que lhe era desfavorável. Para Garrincha, cuja intimidade com a música começou dentro de casa – foi casado com a cantora Elza Soares – a “Balada nº7”, de Alberto Luiz consagrada na voz de Moacyr Franco.

Balada nº7 – Alberto Luiz (na voz de Moacyr Franco)

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=ZAuzeAbVRr4[/youtube]

Zico, o Galinho de Quintino, tem inspirado obras musicais e homenagens de gente consagrada como Jorge Ben Jor (Camisa 10 da Gávea), Moraes Moreira (Saudades do Galinho) e João Bosco e Aldir Blanc (Gol Anulado) e também de nomes do presente da música como Alexandre Pires (É o Nosso Rei) e Marcelo D2 (1967). Um samba enredo pro eterno atacante do Flamengo também existe: sua história faz parte do enredo “Uma vez Flamengo” da Estácio de Sá, no carnaval carioca de 1995.

Moraes Moreira – Saudades do Galinho

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=2kS0vdVQdQc[/youtube]

Outro da velha-guarda a ganhar a voz e as homenagens de Jorge Ben Jor foi Falcão, que, em 1983, teve uma canção do artista para chamar de sua. Consagrado como “o Rei de Roma” quando foi jogar no futebol italiano, Ben Jor se arriscou no idioma estrangeiro para a homenagem musicada. Ben Jor é definitivamente um dos artistas que mais se inspirou no futebol para compor. É dele uma das homenagens mais conhecidas a um jogador: Fio Maravilha, de 1972, que fala do jogador do Flamengo e que, nas mãos da torcida se tornou hino. A música é um verdadeiro clássico e por isso já falamos bastante dela por aqui nos outros posts sobre música e futebol.

Jorge Ben Jor – Falcão

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=1DuXphiJe2k[/youtube]

Da jovem-guarda da bola, Ronaldo, o fenômeno, foi lembrado por Marcelo D2 na canção “Sou Ronaldo” e Ronaldinho Gaúcho surgiu em música homônima do grupo de pagode Jeito Moleque. “Neymar vem ao gosto da maioria de seus fãs, com um Funk estilo carioca, daqueles bem duvidosos, com MC Suzy entoando exaustivamente “Vem Neymar”. Reflexos do comportamento musical que anda a solta por ai e por nós, claro, combatido com veemência e à base de nossas guitarras, baixos, teclados e baterias.

Marcelo D2 – Sou Ronaldo

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=I3CEbqdfO3w[/youtube]

MC Suzy – Vem Neymar

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=Fc9S8YI1caU[/youtube]

Na ala roqueira, Rogério Ceni, o goleiro do São Paulo, foi inspiração para o Dr. Sin que cantou os feitos do jogador em “Número 1” e rendeu elogios ao jogador em 2008 quando ele se sagrou campeão brasileiro com a equipe tricolor.

Dr. Sin – Número 1

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=8B_ltu5qMEs[/youtube]

Quando começamos a série sobre Música e futebol no blog SANTO ANGELO, claro, não imaginávamos o desfecho da participação da seleção brasileira na Copa e apostávamos que o legado desse nosso mergulho histórico no baú que contem as duas paixões da nação não iria além do engrandecimento cultural. Agora, sabedores do vexame que ocorreu dentro de campo com o time canarinho, entendemos que para o Músico e para o estudante de Música, outras lições também podem ser aproveitados na vida prática.

O “apagão” sofrido pela equipe brasileira dentro do gramado parece ter nascido do ego mal trabalhado da equipe (o que inclui os comandantes também), e, o ego mal trabalhado é capaz de gerar verdadeiros monstros. No mundo da Música não é diferente: entre artistas há sempre muito ego envolvido e por isso é importante estar sempre atento à própria saúde psicológica e também a de seus parceiros de estrada. Saber escutar a opinião alheia, acatar sugestões com humildade, tudo é importante para adquirir uma visão global do trabalho não só dentro de campo, mas, em cima do palco também. 

A derrota por 7 x 1 também escancarou a importância da formação de bons profissionais e do investimento necessário no desenvolvimento de quem está começando uma carreira. Isso requer, além de tempo, uma verdadeira reformulação de valores. Não a toa, a presidência da República e o Ministério dos Esportes correram declarar que, agora, precisam achar maneiras de intervir no fomento ao futebol, fazendo com que o esporte retorne à sua característica desportiva e seja afastado do ramo maniqueísta dos negócios. Perdeu-se a essência.

Com o Músico a coisa não é diferente: precisamos também dessa tal base formadora de novos talentos, o que poderia ser alcançado com a aplicação pra valer da lei federal 11.769/08, que instituiu o ensino da Música nas escolas públicas. Dentro do futebol, jogadores experientes, cansados dos mandos e desmandos do alto escalão do esporte, formaram o movimento Bom Senso Futebol Clube que discute e busca a aplicação de melhorias para os esportistas. E na Música? Será quer não passou da hora dos profissionais se movimentarem nesse mesmo sentido?

No caso do futebol, por interesses escusos, se protelou até hoje essas reformas profundas. Não deixemos que a Música dê de cara com esse mesmo fundo do poço para que atitudes transformadoras sejam tomadas.

Até o próximo post, com nossa “programação normal”!

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