Eu com Steve Vai no EM&T
por Kleber K. Shima
Fala pessoal, tudo bem? Para quem não me conhece, meu nome é Kleber K. Shima, guitarrista, professor, endorsee da SANTO ANGELO e hoje quero contar uma história para vocês.
Sexta feira, 19 de junho de 2015. Recebo, no meu Whatsapp, uma mensagem da diretoria do EM&T (Escola de Música & Tecnologia, em São Paulo), escola onde leciono as aulas de Setup. A pergunta na mensagem dizia: “você poderia ajudar na montagem do equipamento do Steve Vai, nos workshops dos dias 21 e 22 de junho, no Auditório Mix Hall da própria EM&T?”
Aceitei na hora!
Imaginem minha felicidade. A experiência iria agregar muito no meu aprendizado e valorizar meu currículo como professor de guitarra e de Setup, porém, nem fazia ideia da aventura que eu estava prestes a embarcar.
A princípio pensei que o Steve Vai iria trazer toda uma equipe técnica, ou pelo menos um Guitartech e um Roadie próprios, por isso estava bem tranquilo, pensando que iria apenas dar assistência caso ele precisasse de ajuda.
O dia foi passando e as coisas começaram a tomar um rumo completamente diferente, pois quando recebi o “rider” – documento com a lista de equipamentos, interligações, etc -, descobri duas coisas: primeiro, que eu seria o Guitartech, pois ele viria sozinho, apenas com o “promoter” pois algumas marcas que o patrocinam não teriam autorizado as respectivas divulgações. Assim, a segunda coisa que descobri é que muitos itens eu mesmo teria que providenciar e assim fiz, utilizando os produtos que uso normalmente: velcro para prender os pedais, cabos de guitarra – levei cabos SANTO ANGELO modelos Fusion e Shogun – alguns pedais para os convidados que iriam participar da Jam Session entre outros que citarei adiante.
Agora o desafio estava começando a aumentar…
Ao chegar no auditório Mix Hall do EM&T no domingo às 11:00 pra montar as coisas, comecei pela pedaleira dos convidados que eu montei na minha casa. Já para o Steve, ele solicitou um Boss DS-1, um Boss DD-3 ou DD-7 e um Wah Dunlop 95Q. Providenciei os pedais e coloquei num pedalboard da Creation FD com a fonte Fire Power Bridge. A importadora oficial da marca Carvin trouxe dois amplificadores Legacy (cabeça e caixa) para ligar os dois amps em estéreo e fiquei esperando chegada da guitarra e dos pedais que seriam utilizados pelo cara. Nesse meio tempo, recebi a notícia de que a apresentação no dia anterior em Recife quase foi cancelada por problemas técnicos, mas que felizmente foram resolvidos na última hora.
A “responsa” aumentou.
Quando finalmente o “promoter” trouxe os pedais, alguns estavam diferentes do “rider” e, para minha surpresa, eles já vieram montados num pedalboard feito pela empresa nacional “Guitar Tech”, que construiu a fonte e fez todo o cabeamento, além de um compartimento para 12 baterias, sendo que cada pedal poderia ser alimentado com bateria ou com fonte, além de possuir vários recursos extras, como Seletor de Fase, Jacks de Loop, Slave, In & Out. O pedalboard ficou por conta da “Purple Cases”, muito bonito, por sinal, com acabamento todo de madeira. Eles também trouxeram um pedalboard de convidados, com os mesmos pedais que havia no “rider”, fazendo com que o meu pedalboard ficasse de backup.
Melhor prevenir do que remediar, não é?
Como em Pernambuco tiveram que desmontar o pedalboard inteiro por causa do Huming, no domingo a “Guitar Tech” veio do Rio de Janeiro pra São Paulo só pra arrumar o pedalboard e deixar tudo funcionando.
A cadeia ficou da seguinte forma: Guitarra Ibanez FLO III com Fernandes Sustainer indo pro Whammy DT, Morley Bad Horsie, Ibanez Jemini indo pra entrada do Legacy. No send do Legacy entrava o Morley Little Aligator, Boss Super Chorus CH-1, cada saída do CH-1 entra nos dois Delays da Boss DD-3 e a saída de cada DD-3 vai para os dois amps, no return do primeiro amp (principal) e no return do segundo amp (slave).
Recebi o bag de Steve Vai com a guitarra Ibanez Jem FLO III para eu trocar as cordas e ao abrir o bag vi que só tinha um encordoamento Ernie Ball 0.09 para guitarra de 7 cordas. Descartei a sétima corda e com todo o cuidado do mundo, troquei as cordas, tirando uma de cada vez, pois como a ponte é flutuante, não se deve tirar todas as cordas ao mesmo tempo, caso contrário, a ponte fica totalmente desregulada. Quem ainda não troca as cordas desse jeito, sugiro a leitura desse post.
Imagina a situação, ser responsável pela troca de cordas do Vai. Loucura, não é?
Por volta das 16h00, quando tudo estava pronto, ele chegou no auditório com a diretoria do EM&T. Diferente do que se pensa de uma grande estrela do rock, ele foi super educado com a equipe, cumprimentando um por um, sempre sorridente e simpático.
Assim que ele ligou o seu notebook com os backing tracks, pediu para que os retornos fossem em estéreo. Quando plugou a guitarra, alguns problemas de Huming começaram a aparecer, principalmente quando ligava os dois amplificadores em estéreo, mas rapidamente foi resolvido pela “Guitar Tech” arrancando o pino terra das tomadas e invertendo as posições até que todas ficassem em fase.
Com o horário previsto para começar às 16h30, Vai utilizou um método interessante. Ele ligou o backing track às 16h00 e começou a tocar até a hora do início do evento, pois ele gosta de ir se aquecendo enquanto o show não começa. Quando abriu as portas do Mix Hall, Vai já estava no palco tocando.
Que recepção, não é?
Muito brincalhão e bem humorado, Vai respondeu sobre assuntos diversos, desde equipamentos até questões religiosas, dinheiro, casamento, vida de rockstar, yoga e praticamente usou todo o tempo para responder perguntas dos participantes. O bacana é que quem foi nos dois dias viu duas apresentações completamente diferentes. Ele praticamente não repetiu nenhum assunto e as músicas que ele tocou (média de 4 músicas por dia) também não foram repetidas. Ele atendeu aos pedidos da galera, conforme disponibilidade dos backing tracks (ninguém pediu para ele tocar Raul, rs..).
No segundo dia, tive que chegar mais cedo, pois me ligaram dizendo que o Steve tinha passado o som e estava dando problema. Como o pessoal da “Guitar Tech” já havia voltado pro Rio, coube a mim a responsabilidade de resolver esse problema.
Hora de colocar a mão na massa e garantir que a apresentação fosse impecável.
Cheguei a tarde e verifiquei os possíveis problemas. Realmente percebi que ao ligar o wah wah, um loop de graves aparecia, que incomodava muito. Mudei a posição dos amps, que no segundo dia ficaram mais angulados e apontados para o pedalboard. Chequei se estavam fora de fase, pois tudo foi desligado da tomada no dia anterior, por causa do “Meet & Greet”.
Coloquei o pedalboard no case pra isolar o pedalboard do chão. Feito isso, a sobra continuava nas frequências graves. Testamos com outro pedal Morley Bad Horsie e o problema continuou. Então vi no “rider” o wah wah que o Vai tinha pedido, o Dunlop 95Q não estava lá, mas um Bad Horsie. Isso aconteceu porque o Steve Vai não trouxe nada, apenas a guitarra. Então todos se ajudaram e emprestaram os pedais (eu mesmo emprestei um Ibanez Jemini e um Digitech Whammy). Provavelmente, na montagem, foi colocado um Bad Horsie, visto que é difícil encontrar o Dunlop 95Q. Por sorte, a loja “Made In Brazil” conseguiu o pedal. Ligamos o 95Q e o problema foi resolvido. Era o Bad Horsie que estava dando “pau”.
Som arrumado e Mr. Steve Vai entra para passar o som. A tensão era grande, pois faltava meia hora pra começar e sobraria pra mim se algo desse errado!
Ele ligou os amplificadores, ok!
Ligou o drive, ok!
Quando ele pisou no wah e tocou, quase infartei!
Ele parou e disse: “It works!” (“está funcionando!”) Ufa! Uma das pessoas ali presentes até se ajoelhou e ergueu as mãos para o céu! Foi uma cena no mínimo interessante.
Depois de todo esse desafio, ainda fui presenteado com um autógrafo em uma de minhas guitarras e pedais, ganhei uma palheta e o melhor “gift” de todos: tocar com esse guitarrista que tanto admiro.
Outra coisa que me deixou muito feliz também foi o elogio que ele dirigiu à mim, dizendo que gostou da forma como eu tocava e minha técnica. Esse tipo de coisa nos impulsiona mais ainda.
Resumindo: dois dias realmente memoráveis.
E observando todos esses dias de apresentação, vi que muitos dos endorsees da SANTO ANGELO também tocaram com ele. Apesar de um papo mais descontraído, pela parte do Steve vai, acho que todos nós extraímos conhecimentos legais para passar aos nossos alunos e a todos que um dia querem estar em um patamar mais alto na música.
E agora, o depoimento dessa galera:
“O que mais achei incrível foi a humildade e a forma como a guitarra faz parte dele. Ele recebeu todo o público já tocando, como se fosse um prelúdio para o que viria a acontecer naquela noite. E sempre com muito bom humor. Vê-lo ao vivo é realmente diferente. Sentimento, tranquilidade, serenidade, agressividade em alguns momentos, mas acima de tudo tocando fácil, é realmente incrível! Ele domina completamente o seu instrumento.
Foi uma honra e um momento único dividir o palco com ele! Foi muito divertido, pois ele realmente procurou interagir conosco.
Pude realmente ouvir a voz da experiência tanto profissional como musical”.
“Ele cria uma proximidade muito interessante com o publico. Ele destacou muito o fato de ter entrado na banda do Zappa, disse que para isso não media esforço em transcrições e treinos. Contou uma história muito interessante dizendo que cada musica que pegava para treinar, ele precisava tocar 11 vezes sem errar. Caso errasse na décima vez ele voltava do início.
Qual a moral disso? Não existe um milagre pra ser bom. Falo para meus alunos sempre que tudo isso esta dentro de você, basta explorar o seu melhor com foco e determinação.
Estar nesse workshop é a realização de um sonho”!
“A coisa mais interessante no workshop do Steve é sentir a vibração e a paixão que ele tem pela música. A forma que ele conduziu a carreira e a humildade em que ele transmite tudo isso, são os pontos culminantes da palestra.
Steve Vai é um músico dotado de muita expressividade com o instrumento. A maneira dele explorar os sons e as possibilidades de efeitos e timbres, me fez voltar a tomar muito gosto também por essa seara e é um assunto que pretendo levar adiante, na minha rede de adeptos.
Fui convidado pelo produtor do evento no Recife, pra dar uma palhinha com o Vai. Foi uma experiência muito agradável e marcante, dividir aquele momento com um dos guitarristas mais cultuados dos últimos 25 anos. Ele se mostrou muito generoso, ouvindo e estimulando o diálogo musical. Fiquei ainda mais fã do cara!
Me deixou muito à vontade e pude soltar umas frases típicas da nossa música, para que ele pudesse conhecer também o nosso sotaque. Ele gostou e me disse isso pessoalmente no final do evento.
Uma noite de extrema importância para a guitarra, onde pudemos ver de perto um grande mestre, dos mais virtuosos e a história de vida de um ser iluminado.”
“Ele respondeu, humilde e simpático, às perguntas, pessoais e profissionais, olhando nos olhos de cada um, respondendo prontamente e tentando nos ensinar algo com as respostas e experiências vividas. Sua musicalidade e sua performance, que todo mundo já conhece, nem preciso comentar né?
Falou muito sobre espiritualidade, relaxamento, meditação, musicalidade e composição. As dicas e experiências que ele deu ensinando a controlar um pouco a voz critica que existe em nosso pensamento, a voz que julga e critica tudo, que te faz pensar em só em padrões e velocidade e não na musica na hora de um improvisar. Segundo ele, quando conseguimos neutralizar essa voz, conseguimos encontrar a porta para a inspiração e produzir, compor e fazer algo grandioso e verdadeiro (não só no mundo da música).
Era um momento de confraternização, ele deixou os participantes calmos e relaxados, seguindo o ritmo da pessoa e se divertindo, sem muitos “malabarismos” (a la Crossroads), simplesmente fantástico!
Nada melhor que conhecer pessoalmente, trocar algumas palavras e sair com uma guitarra autografada de um Guitar Hero lendário e carismático, que cresci ouvindo e admirando.”
“Achei interessante a forma de como ele conduziu as respostas, motivando sempre as pessoas dizendo de que são capazes de conquistar seu sonho e claro, sua precisão na hora de tocar e suas dicas de composição. Ele deixa bem claro (como todos nós, professores de música) que estudo, disciplina, dedicação, amor pelo que se faz e motivação são itens que precisam ser trabalhados em sala de aula e devem ser estendidos ao ambiente e ao cotidiano dos alunos.
Tocar com ele realmente é uma emoção única. Poder dividir o palco com um dos maiores nomes da guitarra de todos os tempos, isso é fantástico! Em meio de tantas notas tocadas o que mais transcende ao público e a quem está tocando é a emoção que sai em meio ao som das guitarras.
É um momento quando o sonho de um garoto se torna realidade!!!“
Até a próxima, pessoal.
Fotos: Guitargeek, José Luis Luna e Flavio Tsutsumi Tsunami
Cara, fiquei curioso agora, teria como pegar os vídeos das apresentações dos endorsees com ele e colocar tudo junto em um post só? Ficaria mais fácil para ver e divulgar, se não me engano, só consegui ver um até agora.
Claro, se não der muito trabalho pra fazer tudo isso né, se for difícil, deixa pra lá haha
Obrigado!
Pedro,
a ideia é ótima, só não podemos pegar os vídeos sem que eles autorizem. As vezes, quem filmou não foi o artista, mas sim, alguém da imprensa que estava no evento, logo, não podemos usar sem autorização. Mas tentaremos.
Vlw pela ideia e grande abraço!