Mozart Mello uma vida dedicada ao Ensino Musical
Isis Mastromano Correia
Se promessa é dívida estamos aqui para pagar a nossa feita em nosso último post com o mestre Mozart Mello falando para muito além do “que dica você dá para quem está começando?”.
Em tempos em que a Educação é uma das reivindicações mais pujantes e necessárias no País, o mago da guitarra falou com exclusividade para o blog Santo Angelo sobre seu papel como educador e as necessárias adaptações que o ensino da Música está passando para satisfazer o estudante moderno e formar novas frentes de gente capacitada na Música.
Envolvido profissionalmente com a Música desde o fim da década de 1960, as atividades didáticas estão na vida de Mozart desde 1977 em várias escolas, conservatórios, workshops, seminários, cursos por todo Brasil incluindo universidades, livros, apostilas, vídeo-aulas e na coordenação didática do IG&T (Instituto de Guitarra e Tecnologia em São Paulo) desde 1988.
Mozart, além de Músico, é também responsável pela formação de muitos outros musicistas ao longo das últimas três décadas e “culpado” pela formação de boa parte dos grandes professores de guitarra da atualidade nos quais muita gente se espelha e admira.
Mozart Mello falou sobre a importância da luta pela Educação Musical no Brasil, sua empreitada na formação de profissionais que passem adiante o conhecimento e, enfim, porque o ensino da Música ainda não acontece em larga escala nas escolas convencionais.
É mais do que claro que estamos passando por um momento de revisões sociais, políticas e econômicas no mundo e a Música não está de fora disso já que ela embala a humanidade desde que os hominídeos resolveram descer do topo das árvores para fazer as coisas acontecerem aqui em terra firme!
A opinião de Mozart sobre a relação dos últimos acontecimentos no Brasil com a Música você confere agora!
SANTO ANGELO – Explique um pouco sobre suas atividades de formação de formadores para a Música e da necessária composição de novas linguagens que satisfaçam os desejos do estudante da atualidade.
MOZART MELLO – Tenho trabalhado muito forte tentando dar um upgrade em todo o material didático que produzi nessas três últimas
décadas. Estamos vivendo um outro mundo, tudo muito volátil, muita informação e pouca formação. Seguindo esse raciocínio, há quatro anos produzi quatro livros com 18 DVDs e quatro CDS sobre harmonia. Em 2012 chegou a hora de rever os meus conceitos do Fusion (tenho uma vídeo aula feita há 27 anos!).O material começou a ficar muito interessante. O meu test-drive foi, e ainda são, os meus alunos de ponta.Um grupo de 10 a 15 alunos abraçou esse projeto e tem feito incríveis contribuições. Assim, nada mais justo que fazer uma parceria com eles.Todos já são profissionais e trabalham em vários lugares pelo estado de São Paulo.Com essa atitude não será preciso o aluno se deslocar por grandes distâncias para ter acesso ao material. Por isso será preciso ainda esse ano fazer a publicação física desse material, no momento, somente uma somatória de apostilas. Especificamente esse material tem como público alvo estudantes de guitarra e também profissionais que buscam por um bom upgrade. Paralelamente a esse projeto estou sendo praticamente intimado a fazer um método para iniciante/iniciado.Tenho feito algo pontual, mas, pensando numa iniciação musical mais ampla será a primeira vez. Não tenho nenhuma preocupação logística, por enquanto, somente pedagógica. É um bom desafio! Fazer algo que estimule o estudante de Música que tem um celular, iPad, iPod, pois,não tem como não considerar essa nova ordem. A idéia é utiliza-la com extremo bom senso e equilíbrio. Não podemos esquecer que estamos de alguma maneira dando a nossa contribuição na educação do jovem.
SA – Por que é importante investir em Educação Musical?
MM – Acho que especialmente nesse período de manifestações fica muito fácil fazer uma leitura. O brasileiro não está sendo educado há décadas. Quando o noticiário diz que a passeata é pacífica, mas, temos baderneiros, vândalos, enfim, todos são brasileiros e estão no mesmo pacote. Estamos “produzindo” todos os tipos de brasileiros. Uma geração crescente de “não educados” que muitas vezes alimentam esse noticiário. Gerações de consumidores de todo o tipo de droga começando pelo álcool (e leia-se também futebol, cerveja). Gerações de jovens completamente desinteressados pelo seu próprio País. Muitas vezes a única saída tem sido a proliferação de igrejas fazendo o papel que seria a princípio do Estado. O músico, o professor de Música tem de assumir a sua parte como educador. Novas gerações estão preocupadas com a sua carreira solo, mas, nem um pouco com cidadania. Esse movimento de passeatas, que ainda não sabemos aonde vai dar, serve como uma boa reflexão para toda a classe musical. O que fazer? Qual a minha contribuição nesse processo todo? Ainda não temos uma resposta, mas é o começo.
SA – Como convencer as pessoas sobre a importância da Educação Musical e ainda os governos de que a lei federal 11.769/08, que institui o ensino da Música nas escolas brasileiras, é um marco para a construção de um país melhor?
MM – Com a nova legislação sobre Música nas escolas abrimos uma nova e fundamental perspectiva para a formação do estudante no Brasil, pois, até então só se falava em inclusão através dos esportes (aliás, vem por aí as Olimpíadas!), a inclusão digital, enfim. Como educador musical me parece totalmente óbvio a importância da Música na formação de um cidadão. Está no discurso das autoridades também, mas, na prática, envolve um jogo de interesses e poder que acaba desviando os reais objetivos.Confesso que fiquei com uma pontinha de esperança após, pois, somente no estado de São Paulo estamos falando da educação musical de cinco milhões de crianças e jovens.É claro que esse número encheu os olhos de muita gente e se conseguirmos fazer uma gestão razoável já será bom para todos: estudantes, músicos, fabricantes, importadores, lojistas, ou seja, para todo o mercado.
SA – Por quais motivos não só escolas, mas, empresas têm despertado para a importância da Educação Musical?
MM – Eu estou com atividades didáticas há pelo menos 37 anos, eu vi muita gente aparecer, muita gente sumir, empresas abrindo, empresas quebrando… Para mim a educação musical continua sólida, resiliente muitas vezes. Poucos empresários perceberam essa cadeia ou pirâmide montada a partir de cada professor de Música. Por exemplo, já dei aulas para os alunos, para os filhos deles, para uma parte significativa de profissionais que já formaram outros profissionais… Se nós não formos formadores de opinião quem é? Grande parte dos empresários querem resultados imediatos e não plantam para colher lá na frente e olha que sempre teremos novas sementes e colheitas consistentes. É uma progressão geométrica. Cansei de ter reuniões e expor essas idéias. Para se lançar um livro é quase impossível conseguir patrocinadores ou parcerias e só esse fato já mostra o que se pensa sobre educação. Lamentável.
SA – Ainda há muito amadorismo que envolve a profissão de Músico, seja como professor ou não. Como você encara essa questão?
MM – A profissão de Músico jamais teve uma representatividade legítima, então, cada Músico deve estabelecer a sua ética, o nível ou o patamar de profissionalismo. O Músico acaba agindo como um prestador de serviços autônomo então quem ele poderia procurar? Existe alguém na classe política realmente interessada? Algum sindicato que lute por ele? Posso citar a minha rotina como exemplo: aonde convivem “pacificamente” relações profissionais e relações completamente amadoras tanto como músico como didata, portanto sem nenhum benefício trabalhista. Pode ter a certeza que estou falando de 90% da minha classe. Com a internet tudo isso ficou bem mais complicado. Uma pessoa com um ano de estudo de violão publica aulas “gratuitas” e esse é apenas um pequeno exemplo embora que por esse prisma todas as profissões estão sendo prejudicadas.
SA – Por que a Educação Musical ainda não deslanchou no Brasil na escola convencional?
MM – Quando eu fiz o ginásio numa escola do Estado eu tinha inglês, francês, Música, etc. O que aconteceu com as nossas escolas, professores, educadores? Bom, a resposta já sabemos: gestores despreocupados e descomprometidos com educação, governantes mais preocupados em perpetuar o poder dando “migalhas” e discurso populista. Não quero politizar a conversa, é apenas uma constatação. Ouvi outro dia alguém falando: “aqui no Brasil o que você plantar você colhe. Quer fazer hospitais? Consegue. Quer fazer uma Copa do Mundo? Consegue. Quer fazer boas escolas? Consegue”. Temos dinheiro e força para construirmos o que quisermos, mas, as gestões corruptas estão impedindo que tudo aconteça naturalmente. A educação musical está completamente inclusa nesse pacote.
E como prometemos também no post anterior, vamos sortear entre os inscritos no blog Santo Angelo até o dia 31/07/13 o livro “Estudos de Guitarra” autografado pelo Mozart. O sorteio ocorrerá no dia 01/08/13 às 14h na sede da SMA Cabos e Sistemas Ltda. em Guarulhos, São Paulo.
No próximo post falaremos sobre o aprendizado da guitarra por vídeo aulas.
Até lá!