A história do Rock no Brasil

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por Dan Souza

Dia 13 de julho, o Dia Mundial do Rock. E o Brasil, como fica nessa história?

A trajetória do britânico Bob Geldof e o Live Aid já é bastante conhecida (se não lembra, clique aqui e refresque a memória). Nesse dia, muitas homenagens são feitas pelos músicos e aos músicos de rock. A atitude e a forma de agir, contestando e propondo novas formas de pensar, solidificaram essa mitologia do rock.

Sempre nos lembramos de Led, Purple, Guns e Floyd e acabamos deixando o Brasil de lado. A cena roqueira do Brasil vem de muito tempo também. Podemos comparar o estilo de Elvis com o que Roberto Carlos fazia no começo da carreira, como um exercício para entender a evolução do estilo por aqui.

E tudo começa na década de 50…

Os LP’s (ou discos de vinil) chegavam ao Brasil e a cantora Nora Ney ouviu a música “Rock Around the Clock” de Bill Haley. Sem pensar duas vezes, gravou-a e começou a distribuí-la no Brasil (não tinha internet e os direitos autorais eram mais fracos na época). Aproveitando o cometa que pousava no país, Heleninha Ferreira fez uma “versão brasileira” para a mesma música que logo alcançou o topo das paradas.

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Na segunda metade da década, Miguel Gustavo compôs e Cauby Peixoto cantou no primeiro álbum original de rock em português, o marco na história, “Rock and Roll em Copacabana”. Nesse meio tempo também surgiam os primeiros “Rockstars Brazucas”, Tony e Celly Campello. Celly é conhecida pelo seu “Estúpido Cupido” que entrou e não saiu dos ouvidos da galera, e graças a isso, participou de inúmeros programas jovens no rádio e na TV.

E segue na década de 60…

Surgem inúmeras bandas como The Jordans e The Clevers, que depois se tornariam a banda Os Incríveis. Ronnie Cord lança duas músicas que marcariam o começo dos anos 60: “Biquíni de Bolinha Amarelinha” e “Rua Augusta”. E o pessoal começava a delirar com as composições.

Também no começo da década, surgia o rei Roberto Carlos, emplacando com facilidade sucessos como “Splish Splash”, “Parei na Contramão”, “É Proibido Fumar” e “O Calhambeque”, foi logo cooptado pela Rede Record no programa Jovem Guarda, junto a Erasmo Carlos (famoso “Tremendão”) e Wanderléia (com a alcunha de “Ternurinha”). No lançamento, já arrebentava com 90% de audiência no horário, era o rock ganhando força.

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Seguindo o sucesso, bandas e artistas se lançavam a todo o momento, inspirados nos nacionais e nos Beatles, surgia assim o “Iê- Iê- Iê”.

Apesar de tudo estar correndo bem, o pessoal da MPB, encabeçados por Elis Regina e Jair Rodrigues, fizeram a “Passeata contra as guitarras elétricas”, um manifesto que visava a exclusão do rock do país.

Chegava 1964 e a ditadura militar

Os artistas que tinham letras mais debochadas não podiam divulgar suas músicas devido à censura imposta pelos militares e às consequências de um desrespeito à lei eram pesadíssimas. Nesse meio tempo, surgia a Tropicália liderada pelos Mutantes, Sergio Dias e Arnaldo Baptista. Em seguida, Caetano e Gil também começaram a aparecer com suas letras. Não deixemos de lado Gal Costa, Tom Zé e Nara Leão, que contribuíram muito com o movimento.

E chega a década de 70…

O regime militar se endurecia, o que levou Gilberto Gil e Caetano Veloso a procurarem exílio fora do país, gravando álbuns no exterior. Os Mutantes perderam Rita Lee, que começou uma carreira solo bem sucedida, acompanhada pela banda Tutti Frutti, lançando os sucessos “Agora só Falta Você”, “Esse tal de Roque Enrow” e “Ovelha Negra”. Sua antiga banda se adaptava ao rock progressivo, porém, graças às diversas mudanças de formação, dissolveu-se em 1978.

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Em 1793, Ney Matogrosso liderava o surgimento dos Secos & Molhados com sua poesia em forma de música e a imensa e inesquecível “Rosa de Hiroshima”, referência à bomba atômica da II Guerra Mundial.

Neste mesmo ano, surgia outro ícone do rock nacional, o nosso Maluco Beleza Raul Seixas. Esoterismo, filosofia e uma pitada de loucura faziam parte das músicas desse grande artista que trouxe aos nossos ouvidos músicas como “Eu Nasci há Dez Mil Anos Atrás”, “Maluco Beleza” e “Metamorfose Ambulante”.

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Em todo o Brasil surgiam novos nomes como Milton Nascimento e seu “Beatlesco” e a “Invasão Nordestina”, que juntava sertanejo e rock nas vozes de Zé Ramalho e Belchior. Os estilos também começavam a variar, mesmo com pouco espaço na mídia. O Terço mandava o “Prog.” e o Made in Brazil ia de Hard Rock. Época muito fértil para o rock nacional.

Muita coisa aconteceu para chegarmos aos anos 80…

Finalmente o rock já fervia no mundo todo e estava se popularizando no Brasil. Surgiam então Titãs, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho e, é claro, Legião Urbana. Essa explosão de bandas teria seu movimento conhecido como “BRock”. Interessante lembrar que muitas das músicas dessa época estão nos ouvidos dos mais novos ouvintes.

Letras contestadoras, arranjos distorcidos e atitudes às vezes até exageradas começaram a formar o panteão do rock nacional. Cazuza e Renato eram exemplos dessa juventude que trabalhou para o estilo crescer no Brasil.

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Para qualquer lugar do Brasil que você fosse, as bandas estavam lá, enchendo o ar de Overdrive. No Rio de Janeiro, Kid Abelha, Lulu Santos e Lobão; São Paulo contava com Ultraje a Rigor, Ira!, RPM e Kid Vinil; Brasília era espaço do Aborto Elétrico, que se tornaria Capital Inicial, e Plebe Rude; no Rio Grande do Sul, quem mandava o recado eram os Engenheiros do Havaí e o Nenhum de Nós. Em Minas, a coisa ficou bem pesada com o surgimento do Sepultura. Complementando o time do Metal, o Viper foi fundado em São Paulo. Tinha rock para todos os gostos.

E nos anos 90…

A música ganhava um espaço importante na televisão brasileira com a MTV, mas quem se beneficiou muito disso foram as bandas de rock nacional, criando clipes e usando a TV como seu principal meio de divulgação, já que os jovens da época passaram a ver a emissora como um celeiro de boa música.

Pato Fu, Jota Quest, Raimundos, Charlie Brown Jr. e Skank surfaram nessa onda no começo da década e se firmaram como grandes bandas. Em Recife, surgia o Mangue Beat com Chico Science & Nação Zumbi usando a percussão com raízes africanas e a guitarra elétrica, mistura essa que funcionou muito bem.

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Em Guarulhos/SP, surgiam os irreverentes Mamonas Assassinas, que apesar de parodiarem muitos estilos, eram considerados rock, um fenômeno nacional que espalhou mais ainda o nosso querido rock. O metal também ganhava força, agora com o Angra, e o rap também se misturava às “fileiras roqueiras” com Gabriel o Pensador e Pavilhão 9.

Com tudo isso acontecendo, as bandas da década anterior tiveram que se reinventar para continuar nos ouvidos dos novos fãs de rock.

E viramos o milênio…

Apesar de uma entrada ruim com a perda de alguns músicos e o acidente de Herbert Vianna, a primeira década do século XXI trouxe mais das bandas antigas, se reinventando e evoluindo, e novidades como Detonautas, CPM 22, Tihuana, Cachorro Grande e Pitty.

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O Underground também não ficava de fora, com Matanza, Dead Fish, MopTop e muitos outros. No mundo do metal, Shaman, Hangar e Shadowside apareciam e as bandas já consagradas só aumentavam sua fama, tanto no Brasil como internacionalmente. O rock cristão também ganhava força com os católicos do Iahweh e com os evangélicos do Oficina G3.

Graças à internet, muitos conseguiram seu lugar no palco, como foi o caso do NX Zero, Fresno e Strike, conquistando o público jovem e ligado em tecnologia que não saía do falecido Orkut.

E chegamos ao cenário atual…

Com a década ainda pela metade, podemos esperar muita coisa nova, como a onda do “Happy Rock”, que perdeu sua força, mas teve seus anos de fama. A melhoria das tecnologias coloca em nossas “timelines” cada vez mais artistas surpreendentes, o que faz com que os grandes precisem se reinventar a todo momento para não perder espaço, o que é bom para eles e ainda melhor para o público.

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O acesso à “net” e a facilidade para se ter equipamentos de som também contribuiu com novas dimensões do rock nacional instrumental, que sempre andou meio adormecido e agora tem ganhado espaço aos poucos.

Mesmo estando “de fora” das rádios, o estilo continua forte e cada vez arrebanhando mais adeptos. São mais de 60 anos de história desse estilo que tanto nos atrai e agrada, e você achando que rock é só lá fora.

Aproveite para conferir nossa homenagem ao Dia Mundial do Rock. Dê o play e confira:

Vida longa ao rock, no Brasil e no mundo!

Foto de capa: Jornal da Chapada




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