Racks para guitarras sem mistério
Olá amigos leitores. Tudo bom com todos?
Para quem já leu meus posts anteriores (se ainda não, clique aqui e aqui) já sabe que procuro trazer para o blog da SANTO ANGELO os temas mais interessantes e tecnológicos que a galera tem me perguntado nos workshops que faço. Por isso, o tema de hoje pode parecer meio obscuro para alguns, mas tenho certeza que todos gostarão: falarei sobre os Racks para guitarras!
O que são? Para que servem? Qual sua vantagem sobre amplificadores normais? Quais os pontos positivos? Quais os negativos?
Bom, tenham calma e vamos procurar entender o início da criação desses produtos.
Desde sua origem, os amplificadores vêm encantando o mundo e até hoje são uma febre. Mas por volta dos anos 80, a tecnologia MIDI começou a ganhar o mercado e atrair cada vez mais guitarristas, devido a praticidade e incremento de possiblidades de “presets”.
Sistema MIDI?
O significado da sigla MIDI, em inglês, é Musical Instrument Digital Interface (Interface Digital de Instrumentos Musicais). De maneira resumida, é um sistema que funciona apenas como controle de informações e não sinal sonoro em si. O sistema age como um controle remoto, mapeando todo equipamento compatível, tornando possível a interação entre dois ou mais aparelhos diferentes, desde que conectados via essa interface. Para esclarecer, uma regra simples e bem funcional: todo IN é o controlado e todo OUT, o controlador.
Portanto, se alterarmos um banco no rack com saída OUT, teremos uma alteração automática da mesma forma no rack de conexão IN. Nos sistemas digitais podemos mapear isso como OMNI, mas isso seria um assunto mais especifico, para um post futuro (como por exemplo, uma explicação do mapeamento MIDI).
Sempre é bom lembrar que a interface MIDI exige cabos dedicados, com conectores tipo DIN 5 pinos e condutores com Impedância característica. Por isso, fique à vontade para usar os cabos modelo AC33, produzidos pela SANTO ANGELO, com um padrão de qualidade compatível com a tecnologia MIDI.
Voltando a nossa matéria, usando MIDI, um guitarrista pode criar a possibilidade de inúmeros “presets” como uma pedaleira, porém com melhor resolução sonora. Pode-se interagir gerando, ao mesmo tempo, o som característico da guitarra limpa e/ou distorcida ou apenas um ligando efeitos simultâneos com uma “pisada”.
Além disso, os racks permitem outra possibilidade: a mistura de itens de marcas diferentes.
Vamos relembrar, simplificadamente, os “pedaços” da construção de um amplificador (que você pode ter mais detalhes lendo esse post).
- Pré-amplificador: define características em relação aos graves, médios e agudos, representado no amplificador pelos potenciômetros no painel. Também faz parte do pré o knob de presença;
- Potência: amplifica o som produzido no pré-amplificador, enviando aos alto-falantes;
- Alto-falantes: reproduz o som produzido pela interação entre o pré-amplificador e a potência.
No caso dos racks, tem-se isso de maneira dividida por unidade, como podemos ver no exemplo abaixo:
Como é possível notar no setup acima, podemos utilizar diferentes marcas de pedais ou periféricos em cada função do conjunto. Sendo mais especifico, de cima para baixo temos:
- Filtro de linha Fuhrman;
- TC Electronics G-Force (rack de efeitos, substituindo o uso de pedais);
- Marshall Preamp JMP-1 (pré-amplificador valvulado com 2 opções de canal limpo e duas opções de canais de drive);
- Mesa Boogie El84 20/20 (Potência estéreo de 20 watts, completamente valvulada).
Além dessa mistura de timbres e características particulares de cada fabricante, podemos ainda escolher: em qual caixa ligar; com quais e quantos alto-falantes eles vão interagir.
Agora faz sentido para você o motivo da febre dos racks desde os anos 80?
Tem-se como uma das primeiras unidades de rack os modelos da linha 9000 da Marshall, que foram lançados em 1989 na NAMM Winter Show. Através desse novo sistema, a empresa oferecia aos guitarristas dessa época, em que os efeitos estavam em evidência, a possibilidade de mapearem com riqueza de possibilidades todo seu set, podendo destinar cada preset a uma música específica.
A partir dessa data podemos dizer que tivemos a “largada” para que outras marcas também investissem nesse segmento de produtos e mercado. Alguns exemplos desses modelos mais antigos e de como hoje essa tendência vem novamente ganhando força entre os guitarristas é algo muito legal a ser discutido.
Da década de 90 até os dias atuais, podemos citar alguns principais modelos (alguns deles hoje-em-dia, muito difíceis de se encontrar em bom estado).
Marshall linha 9000 (preamp e potência). Um clássico.
ADA MP-1 e linha de potências ADA. O rack valvulado MP-1 permitia ao músico a possibilidade de usar seus timbres de alta qualidade e ainda por cima mapear cada preset via MIDI. É possível escutar a qualidade desse equipamento usado durante muito tempo nas mãos do grande Paul Gilbert na década de 90.
Marshall JMP-1. Usado até hoje nos shows do “Iron Maiden”, esse rack da Marshall conta com 99 presets disponíveis para 2 opções de Clean e 2 opções de Drive (Low Gain e High Gain). Valvulado, esse equipamento possui um som tão incrível que está presente nas mãos de grandes artistas como Dave Murray e Frank Gambale. Pode-se dizer que dentro desse preamp você encontra as sonoridades de modelos consagrados como da linha JCM. Eu mesmo tenho um JMP-1 há 10 anos e posso garantir que é maravilhoso!
Mesa Boogie Triaxis. Nunca saiu de produção e está presente nas turnês do “Dream Theater” nas mãos de ninguém mais, ninguém menos que John Petrucci. É baseado nos amplificadores consagrados da linha Mark, apresentando 90 presets contendo inúmeras combinações de som limpo e distorções de baixo e alto ganho. Absolutamente versátil, ainda mais por chegar próximo ao som do consagrado Mark IV.
Como a “corrida armamentista” (busca do timbre ideal) das guitarras” nunca para, é possível encontrar softwares de alta resolução também em formato de rack como os exemplos a seguir:
ENGL E530 e E570. Os racks dessa grande marca, que apoia artistas como Steve Morse, o ENGL E530 e o E570 são maquinas de “destruição”, com sons High Gains de alta qualidade, interagindo absolutamente bem em qualquer situação, apresentando excelente sonoridade e timbres matadores!
Fractal Audio AXE FX II. Conhecido mundialmente como um dos melhores, com alta qualidade e resolução quando o assunto é simulação de amplificadores. Com um processador de alta performance, o Fractal AXE FX II contém inúmeras combinações de amplificadores, caixas, heads, microfones entre muitos outros recursos, além de uma saída USB. É possível encontrar essa máquina incrível nos palcos acompanhando John Petrucci (na foto abaixo), Guthrie Govan, Tom Quayle, Marco Sfogli, entre outros.
DigiDesign Eleven Rack. Unidade de rack compatível com o ProTools, pode ser considerado também como um dos produtos “carro chefe” na simulação de amplificadores, caixas, microfones, heads e efeitos. Também conta com um conversor de alta resolução. Tem sido usado em inúmeros estúdios ao redor do mundo, devido sua qualidade e preço mais acessível perante outros simuladores.
Kemper Amp Profile. Tido como “a grande novidade mundial” na questão da tecnologia em guitarra nos dias de hoje, esse “Clonador” de amplificadores (que muito breve terá uma matéria exclusiva aqui no blog), também se apresenta na versão Rack. Para resumirmos, sua tecnologia de amp profiler permite ao Kemper copiar qualquer amplificador do mundo, uma vez que sejam feitos todos os passos propostos no processo. Com simulações de alta resolução o uso do Kemper, tanto ao vivo como em estúdio, cresce disparadamente no mundo todo.
Mas existem sistemas de racks com valor mais acessível?
A resposta é sim e vou aproveitar para dar uma de consultor de setup para fazê-lo entender como montar o seu kit de rack e já entrar nessa onda.
Separei alguns modelos que acho interessantes e que, certamente, atenderão uma faixa bem ampla de guitarristas. É importante termos sempre em mente a noção de custo x beneficio, ou a “arte” de pagar um valor justo, tirando o máximo proveito do que se comprou.
Sendo assim, ao falarmos dos racks mais “em conta”, entendamos que o preço mais baixo não quer dizer qualidade inferior, mas sim que dentro desse investimento menor teremos que extrair o máximo para atender nossos anseios timbrais.
Comecemos falando de linhas que vou chamar aqui de “Plug and play”, como por exemplo, a linha GT Pro da BOSS, lançada em meados de 2006. A grosso modo, podemos dizer que é uma GT-8 no formato de rack. Tem alguns diferenciais como uma saída balanceada estéreo (XLR), por exemplo. Por não ser um modelo atual, teve seu valor de venda reduzido, mas a qualidade permaneceu a mesma. A linha GT-6 e GT-8 da BOSS conquistou muitos guitarristas ao longo dos anos, muitos que inclusive não se renderam aos modelos seguintes, mantendo-se fieis às companheiras de estrada.
A GT Pro possui todos os efeitos da fabricante e uma boa quantidade de simuladores de amplificadores consagrados e um preço bem mais acessível que racks considerados de ponta.
Mesmo caso se aplica as linhas da POD Pro ou POD X3 Pro da Line6, que se enquadram como grandes simuladores, que apesar de não serem as versões mais recentes da fabricante, não perderam a qualidade. Muito pelo contrário, oferecem ao músico uma gama infinita de possibilidades de uso.
Na versão atual temos a POD HD Pro.
Outra opção comumente utilizada, principalmente nos anos 90 e até hoje muito funcional era a combinação de racks. Sendo assim, pode-se utilizar um preamp como o SANS AMP da TECH21, que simula, com qualidade, marcas como Marshall, Fender e Mesa Boogie a um preço acessível.
Tendo um bom pré-amplificador como esse, podemos partir para a linha de efeitos, onde encontraremos racks super baratos como o MIDIVERB 4 da ALESIS, que não tem uma gama ampla de efeitos a disposição, mas dentro do mínimo aceitável para utilização de efeitos, resolve com segurança a situação.
Subindo um pouco os degraus de preço, temos racks como o G major da TC Electronics (substituído por G Major2), ou ainda o Marshall JFX que teve sua fabricação encerrada há anos, mas ainda sim continua muito funcional. As mesmas possibilidades podem ser feitas com racks da Rocktron.
Ufa, é bastante informação.
Mas quais as vantagens e desvantagens desse tipo de sistema?
Podemos apontar como vantagens:
- Possibilidade de interação entre equipamentos de marcas distintas, podendo se adequar mais a característica pessoal de cada guitarrista;
- Otimização do trabalho, já que com apenas uma pisada no controlador é possível ligar quantos efeitos forem necessários;
- Qualidade sonora de alta resolução;
- Praticidade de transporte no caso de setups pequenos;
- Possibilidade de variação de caixas, já que pode atuar como um head alimentado por potências, ou no caso de usar apenas os preamps, cria-se a possibilidade da ligação direta no Loop de efeito de outros amplificadores, mas precisamente no return;
- Processo de mapeamento fácil e rápido.
Porém, também observemos as desvantagens:
- Preços caros e poucos acessíveis no caso de algumas marcas;
- Em modelos que já não são mais fabricados, podemos ter problemas na reposição de peças ou componentes sobressalentes;
- Dificuldade de encontrar alguns modelos, como potências de tamanho menor, ou ainda, racks muito antigos e específicos;
- Manutenção mais cara.
Bom, agora é com vocês!
Pesquisem, comparem, ouçam e busquem conhecer quais sonoridades os agradam mais. E quem tiver dúvidas ou quiser saber um pouco mais, pode deixar seu comentário no blog ou nas mídias da SANTO ANGELO. Ou então, entrar em contato direto comigo via Facebook.
Grande abraço e até a próxima!
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Éric Paulussi é guitarrista profissional há 10 anos. Atua também como sideman e professor de Setup de instrumento nas licenciadas do EM&T do interior de São Paulo. Endorsee de marcas nacionais e internacionais, Éric desenvolve workshops passando conhecimentos sobre assuntos envolvendo guitarra e tecnologia.