Se tá difícil agora, imagina na eleição!

por Isis Mastromano Correia

Por que os fazendeiros votam nos candidatos ruralistas? Por que os ambientalistas votam nos defensores dos orgânicos? Por que comerciantes optam por quem promete reduzir impostos e os industriais escolhem os que garantem incentivar a indústria? Porque, de um modo geral, as pessoas votam naqueles candidatos que representam seus interesses.

Então, como seria lógico de supor, por que não vemos Músicos tomando partido por gente afinada com os mesmos ideais que os deles? Não vemos professores abrindo fogo contra candidatos que nem mencionam a palavra Música junto com Educação? Não vemos pais direcionando seus votos em relação ao direito dos filhos de receberem uma alfabetização musical embora sejam totalmente favoráveis a esse isso.

Pelo contrário, a menos de uma semana da eleição para escolha de presidente da República a deputados estaduais, ainda tem muita gente perguntando o que é que a Música tem a ver com Política. E isso é assustador porque tem tudo a ver!

Da educação musical nas escolas públicas, que mesmo sendo obrigatória por lei ainda não acontece integralmente, ao instrumento caríssimo de difícil acesso e ao show com ingresso cada dia com preço mais exorbitante, tudo se relaciona com as decisões políticas de incentivar ou não as artes, a cultura e a educação, no nosso caso específico, com um olhar especial sobre a Música.

Algumas comunidades decidem mesmo sem recurso arcar sozinhas com o ensino da Música

E olha que podemos dizer que nossa tarefa nem é das mais árduas já que infelizmente são poucas as opões de candidatos que levantam a bandeira das artes e representam de fato os interesses de uma educação de qualidade que leva em conta a Música como um dos ingredientes fundamentais.

Hoje, na maioria das escolas, a Música integra as aulas de Artes – disciplina que já foi chamada de Educação Artística – e assim tem de dividir um acirrado espaço com desenhos, pintura e outros temas de um universo muito abrangente.

Educação de um modo geral sempre é um tema muito proferido pelos candidatos, mas, quase sempre naquele sentido já muito bem estabelecido, conformado e que não funciona mais sem que ocorram mudanças estruturais profundas. Pelo contrário, de uns anos para cá, quem ganhou todo o espaço no discurso dos governantes foi a Educação Técnica Profissionalizante, mais compromissada em engrossar a massa trabalhadora e geradora de renda ao país. Essa modalidade de ensino, é claro, tem de ter seu nobre espaço assegurado, porém, o que verificamos é que a formação de base, de um ser humano integral, onde a Música se insere, tem ficado para trás.

Basta parar e olhar pra sua própria história, caro leitor, sobretudo os egressos da escola pública: você aprendeu Música enquanto estava na escola? Depois da aula de Português, era normal ter aulas de Música? Música era uma matéria obrigatória no currículo ou aparecia de vez em nunca em alguma atividade de recreação?

E seu filho? Ele tem aulas de Música na escola hoje em dia? A alfabetização musical dele aconteceu na escola mesmo? Você teve de se “virar nos 30” muitas vezes tirando recursos extras do próprio bolso para que ele aprendesse a tocar guitarra, baixo ou outro instrumento?

Se dependesse só dos pais e professores, o ensino da Música nas escolas já estarai a todo vapor

E agora, ao professor de Música: você dá aula em alguma instituição pública regular de ensino ou o grosso do seu trabalho é ainda direcionado às escolas particulares de Música onde há o acirramento para conseguir alunos e o mercado de trabalho é mais limitado? Quando quer tirar do papel alguma ideia cultural que beneficie a comunidade, é fácil faze-lo?

Todas essas perguntas são apenas provocações e bem sabemos o conteúdo de suas respostas. Para mudar esse panorama, além de direcionarmos nosso voto a quem mereça, faz parte da nossa tarefa estimular aqueles que estão a nossa volta a fazerem o mesmo, trazendo a questão pra mesa de jantar, pro “happy hour” e, como nós da SANTO ANGELO, levantando o tema para ser debatido nas redes sociais, principalmente no Facebook, que pasmem, já tem 88 milhões de brasileiros inscritos.

Outra parte importante do nosso trabalho como cidadão – e essa tarefa quase todo mundo tem aberto mão – é a de se engajar politicamente em movimentos sociais em prol da Música, da Cultura e da Educação. Parte do trabalho sujo da mídia e até mesmo de muitos políticos nos últimos anos foi o de semear a ideia de que movimentos sociais estão geralmente ligados à baderna e que sequer dependemos da política para ter condições melhores de vida, que, sozinho, quem quer mudar alguma coisa, vai lá e faz por conta própria.

Essa é uma ideia maquiavélica! Se fosse assim, você, professor de Música que dedica horas do seu trabalho em projetos sociais já teria mudado a realidade de vida de várias comunidades, não é? Afinal, só dependeria da sua vontade e do seu esforço pessoal.

E em sala de aula? Uau, amanhã mesmo a Lei 11.769/08 que instituiu a obrigatoriedade do ensino da música nas escolas públicas de ensino básico sairia do papel já que vontade de que ela seja aplicada não falta por parte dos pais que, afinal, querem o melhor para a educação e formação de seus filhos.

Esse objeto já deveria fazer parte da lista de material para as aulas

A atuação em grupo só traz beneficio e é um modo de agir político bem como dar atenção sim ao que os políticos fazem ou deixam de fazer. O resto do discurso não passa de um jeito de fazerem com que a gente deixe em paz o próprio sistema que não nos tem beneficiado em nada.

O cientista político Alberto Carlos Almeida, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), demonstra em seu livro “Reforma Política: Lições da História Recente” que 71% dos eleitores esqueceu em quem votou para deputado federal na última eleição. E não são apenas os eleitores de menor escolaridade que sofrem de “amnésia eleitoral”: 53% das pessoas com nível superior também não se lembram para quem deram seu voto.

Assim sendo, na TV (aquela mesma que só oferece entretenimento fácil e informação simplificada ao eleitor) não faltam lições de moral da mídia e da Justiça Eleitoral sobre como não sabemos votar. E em parte, eles estão certos.

E mais do que esquecer em quem votou, há o agravante de que passada a eleição, ninguém faz questão de acompanhar o andamento dos mandatos. Sabe quem representou todas as questões ligadas aos músicos nos últimos quatro anos no Congresso Nacional? Tiririca (PR/SP). O deputado integra a Comissão Parlamentar de Cultura, sabiam?

E se eu te perguntar quem é Alice Portugal? É uma cantora nova? Não, ela é simplesmente a porta voz de todos os músicos na Câmara e junto ao Ministério da Cultura, ela é a deputada (PC do B/BA) que preside essa comissão. Pois é, deputados, justamente a função para a qual pesquisas apontam o maior número de eleitores indecisos: sete entre cada oito.

E não é só em termos de combate a corrupção que deveríamos estar atentos ao andamento dos trabalhos, mas, sim, pelo fato de que a maior parte dos políticos propõe e aceitam leis que pioram a vida da maioria da população e que se beneficiam muito com a turma do “e eu com isso?”. Você conhece gente com esse discurso? Então seu papel é fundamental: o de transformar mentalidades assim.

Não vamos retroceder para a época do Regime Militar no Brasil, quando o governo ditatorial fez uma reforma educacional e simplesmente extinguiu o ensino da Música nas escolas. A retomada desse direito, como podemos ver, não está sendo fácil, portanto, não podemos agora abrir mão dessa reconquista.

Como você está se posicionando nessa eleição diante da questão do ensino de qualidade que leva a Música em consideração e a eleva entre as questões mais fundamentais da nossa Educação? Já escolheu candidatos afinados com esse tema? Queremos saber sua opinião e somar nossas forças porque nós queremos uma educação de qualidade que coloque a Música em seu devido lugar de importância.

Até a próxima.

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