SEXO, DROGAS E ROCK N’ ROLL ANDAM JUNTOS?
por DR. SANTO ANGELO – Alexandre Augusto Berni
No post de hoje, vamos abordar um assunto que muitos conhecem como a trilogia do rock: “Sexo, Drogas e Rock’n’Roll”. Alguns dos nossos ídolos na música seguiram ou seguem esta trilogia até os dias atuais. Muitos deles sofreram as conseqüências e não estão mais presentes para contar a história. Já outros, conseguiram se recuperar a tempo, levando uma vida saudável na medida do possível, como ensina a filosofia dos 12 Passo do AA (Alcoólicos Anônimos).
A trilogia teve seu início por volta dos anos 50, mas segue “assombrando’ a vida de pessoas que são adeptos ao Rock’n’Roll, imprimindo uma imagem negativa aos músicos roqueiros ou até mesmo aos fãs do gênero.
Por isso, vocês devem estar pensando: esta frase é verídica até os dias atuais? Sexo e Drogas são exclusivos do Rock”n”Roll?
Antes de respondermos, devemos esclarecer a origem da “lenda”. Os primeiros passos do Rock’n’Roll foram dados na década de 50, quando o ritmo ainda era muito influenciado pelo Blues. Considerado como o pai do Rock, Bill Haley transformou a música baseada no Country e criou uma batida rápida, acentuada e dançante. Evoluindo, em 1955 o mundo conheceria do Rei do Rock, Elvis Presley, que conquistou uma legião de fãs com canções que uniam vertentes como Folk e Rhythm & Blues.
Já no final da década de 60, o período histórico mais conturbado do mundo em consequência do pós II Guerra Mundial e das tensões da Guerra Fria, da Coréia e Vietnã, de repente a população percebeu-se em Paz, mas pressentindo como se não tivesse novos objetivos ou rumos para seguir.
Então, em 1969, quatro jovens idealizaram um festival de música sem ter noção de que o mesmo se tornaria o maior evento mundial consagrado do Rock. Eram eles: John Roberts, Joel Rosenman, Michael Lang e Artie Kornfeld. O evento foi realizado em uma área campestre a 129 quilômetros de Nova Iorque, na região de Bethel, com intenção de atingir 100 mil pessoas. Entretanto superando as expectativas, atingiu 400 mil nos dias 15, 16 e 17 de agosto de 1969. Este evento chamou-se de Woodstock e seu lema era “Três dias de Paz, Amor e Rock and Roll”. Como resultado, alguns artistas consagrados regionalmente tornaram-se conhecidos mundialmente neste festival: Janis Joplin, Jimmy Hendrix, Joe Cocker, Jefferson Airplane, Santana, Bob Dylan dentre outros nomes do Rock.
O Festival de Woodstock foi, sem dúvida, um evento de sucesso, mas teve seus lados da precariedade. A estrutura montada não foi suficiente para atender a multidão presente no local, ocasionando problemas de higiene, falta d’água, etc. Além disso, as drogas tomaram conta do lugar, sendo idolatradas naquele momento. Assim, em minha humilde opinião, o legado negativo que Woodstock deixou para a história foram as drogas!
Em síntese e voltando ao tema proposto, pode-se afirmar que Woodstock simbolizou valores da juventude da década de 60, protestando contra a guerra e contra o capitalismo, criando o conceito de liberdade artística e ao amor. Contudo, já se passaram quase 45 anos e, desde então, muitas mudanças ocorreram na sociedade e na música.
Alguns rock stars, como Gene Simmons, Keith Richards e Jim Morrison, viveram, ou ainda vivem, uma vida de luxúria e drogas. É verdade que a trilogia é a filosofia de muitos músicos (e não músicos também), mas será que não seria possível curti-los separadamente? Gene Simmons pode ser invejado por muitas pessoas, pois já afirmou, em várias entrevistas, que teve relações sexuais com mais de quatro mil mulheres.
Eu pergunto: foi sexo seguro? Com proteção? Estava sóbrio em todos estes relacionamentos. Entenda sóbrio como sem usar drogas lícitas e ilícitas.
Jimi Hendrix, um dos mais famosos guitarristas do mundo, morreu aos 27 anos, em 1970, sufocado pelo próprio vômito como resultado de uma overdose. Curiosamente, foi de remédios para dormir, embora ele sempre tenha usado drogas segundo a história. A cantora Janis Joplin morreu com a mesma idade, um mês depois de Hendrix, também de overdose. Um ano depois, Jim Morrison, vocalista do “The Doors”, foi encontrado morto na banheira de casa, aparentemente pelo mesmo motivo que matou Hendrix e Joplin. Se contabilizarmos todos os artistas famosos que morreram desde a década de 60 devido a combinação de drogas lícitas e ilícitas, teríamos várias linhas de texto. Só para ficarmos nos mais famosos, você se lembram do Kurt Kobain, Whitney Houston, Amy Winehouse, Chorão, Elis Regina, etc.
O filme “Cazuza – O Tempo Não Para”, mostra a vida de vícios e diversão que o artista teve. Entretanto, o trágico final do cantor foi a morte aos 32 anos de idade, em 1990, em conseqüência por ter contraído o vírus da AIDS. Podemos imaginar, após assistir o filme “Cazuza – O Tempo não para”, que se o motivo não tivesse sido este certamente poderia ter sido de overdose também. Outro exemplo parecido foi Fredy Mercury, que faleceu 24 horas depois de declarar à mídia que era portador de AIDS.
Entre tantas mortes, há aqueles que sobreviveram à trilogia, Ozzy Osbourne foi um deles. Depois de tratamentos em clínicas de recuperação, hoje o cantor mantém uma vida saudável, mas já disse em várias entrevistas que não sabe como ainda está vivo depois de tantas loucuras que fez.
Horrível, não? Mas e se eu lhes disser que muitos de nós, sem querer ou saber, já fizemos apologia das drogas? Cito um exemplo pessoal, quando no inicio do meu aprendizado como guitarrista, tocava músicas muito famosas, sem a mínima idéia, na época, qual o significado delas na trilogia ligada ao gênero musical: “Sister Morphine”- Rolling Stones, “Cocaine” – Eric Clapton, “Heroin” – Lou Reed, “Girls, girls, girls” – Mötley Crüe, entre muitas outras.
Eu acredito que se consideramos o agente mais devastador para a nossa saúde, dentro da trilogia, seria as drogas uma vez que no passado seu uso era um elemento de integração, utilizado na maioria das vezes por adultos e até com objetivos místicos ou religiosos, em grupos ou em determinadas circunstâncias. Atualmente, porem, o uso de drogas funciona como um elo desintegrador da intimidade das relações interpessoais e principalmente familiares. Portanto, tanto a prevenção como o tratamento dos dependentes devam ser encarados com muita responsabilidade por todas as sociedades. No entanto, a droga é tratada mais como uma questão econômica do que como de saúde pública. A plantação, produção e comércio das drogas envolvem quantias astronômicas, atingindo o terceiro lugar na classificação dos “negócios” que mais movimentam o mercado financeiro internacionalmente.
Após este breve relato histórico, desmembremos a trilogia e suas consequências:
Sexo
As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são transmitidas, principalmente, por contato sexual sem o uso de camisinha com uma pessoa que esteja infectada e geralmente se manifestam por meio de feridas, corrimentos, bolhas ou verrugas. As mais conhecidas são gonorréia e sífilis.
Algumas DST´s podem não apresentar sintomas, tanto no homem quanto na mulher. E isso requer que, se fizerem sexo sem camisinha, procurem o serviço de saúde para consultas com um profissional da área periodicamente. Essas doenças, quando não diagnosticadas e tratadas a tempo, podem evoluir para complicações graves, tais como infertilidade, cânceres e até a morte lenta e dolorosa.
Usar preservativos em todas as relações sexuais (oral, anal e vaginal) é o método mais eficaz para a redução do risco de transmissão das DST, em especial do vírus da Aids, o HIV. Outra forma de infecção pode ocorrer pela transfusão de sangue contaminado ou pelo compartilhamento de seringas e agulhas, principalmente no uso de drogas injetáveis. A Aids e a Sífilis também podem ser transmitidas da mãe infectada, sem tratamento, para o bebê durante a gravidez, o parto. E, no caso da Aids, também na amamentação.
Não podemos deixar de alertar ao risco de se adquirir Herpes e as Hepatites B e C que tem um caráter crônico, ou seja, manifestam-se depois de muitos anos do contágio, atacando principalmente o fígado que, inclusive, pode destruí-lo levando à morte do portador.
O tratamento das DST´s melhora a qualidade de vida do paciente e interrompe a cadeia de transmissão dessas doenças
Drogas
As drogas são definidas como toda substância, natural ou não, que modifica as funções normais de um organismo. Também podem ser chamadas de entorpecentes ou narcóticos. A maioria das drogas são produzidas à partir de plantas (drogas naturais), como por exemplo a Maconha e o Ópio. Outras são produzidas em laboratórios (drogas sintéticas), como o Ecstasy e o LSD.
A maioria causa dependência química ou psicológica, e podem levar à morte em caso de overdose. A seguir, um breve resumo que julgo importante conhecermos:
Drogas Naturais
- Maconha: uma das drogas mais populares sendo produzida a partir da planta Cannabis sativa.
- Ópio: droga altamente viciante, o Ópio é feito a partir da flor da Papoula. Os principais efeitos são sonolência, vômitos e náuseas, além da perda de inteligência (como a maioria das drogas). Opiáceos: codeína, heroína, morfina, etc.
- Psilocibina: é uma substância encontrada em fungos e cogumelos, a Psilocibina tem como principal efeito as alucinações DMT – Dimetiltriptamina: A principal consequência do seu consumo são perturbações no sistema nervoso central. Utilizada em rituais religiosos.
- Cafeína: é o estimulante mais consumido no mundo, presente no café, no refrigerante e no chocolate. Não precisa se desesperar lendo isso, apenas use como informativo.
- Cogumelos Alucinógenos: alguns cogumelos, como o Amanita muscaria podem causar alucinações.
- Nicotina: Esta substância está contida dentro do cigarro, junto com a cafeína são estimulantes usados diariamente por muitas pessoas.
Drogas Sintéticas
- Anfetaminas – Seu principal efeito é o estimulante. É muito utilizada no Brasil por caminhoneiros, com o objetivo de afastar o sono e poder dirigir por longos períodos.
- Barbitúricos – Um poderoso sedativo e tranquilizante, causa grande dependência química nos seus usuários.
- Ecstasy – Droga altamente alucinógena, causa forte ansiedade, náuseas, etc.
- LSD – Outro poderoso alucinógeno que causa dependência psicológica.
- Metanfetamina – Era utilizada em terapias em muitos países, mas foi banida pelo uso abusivo e consequências devastadores da droga. Não podemos confundir com anfetaminas largamente usadas por médicos endocrinologistas no tratamento da obesidade.
Drogas Semi-Sintéticas
- Heroína – A Heroína é uma das drogas mais devastadoras, altamente viciante e causa rápido envelhecimento do usuário e forte depressão quando o efeito acaba.
- Cocaína e Crack – A Cocaína é o pó produzido a partir da folha de coca, e o Crack é a versão petrificada dessa droga. Altamente viciantes, deterioram rapidamente o organismo do usuário, causando também perda de inteligência, alucinações, ansiedade, etc, até morte por diversos fatores além de seu uso.
- Morfina – É uma droga utilizada principalmente para o alívio de dores em todo o mundo. Também causa dependência química nos seus usuários.
- Oxi – outra droga derivada da pasta de cocaína, infelizmente promete ser mais barato, portanto de mais fácil aquisição para o consumo e muito mais devastadora. Muitos estudiosos no assunto arriscam dizer que em um estágio avançado de uso as pessoas se transformam em “mortos-vivos”. Existem alguns vídeos deprimentes no Youtube sobre usuários em quadros de abstinência ou em pleno uso da droga.
Álcool
Propositadamente, eu deixei o item Álcool em separado porque, apesar do desconhecimento por parte da maioria das pessoas, o Álcool também é considerado uma droga psicotrópica. Ela atua no sistema nervoso central, provocando uma mudança no comportamento de quem o consome, além de ter potencial para desenvolver dependência.
O Álcool é uma das poucas drogas psicotrópicas que tem seu consumo admitido e até incentivado pela sociedade. Esse é um dos motivos pelo qual ela é encarada de forma diferenciada, quando comparada com as demais drogas. Se prestarmos atenção, muitos eventos de Música, que já frequentamos durante toda nossa vida, foram patrocinados por empresas que vendem alguma espécie de bebida ligada ao Álcool.
Apesar de sua ampla aceitação social, o consumo de bebidas alcoólicas, quando excessivo, passa a ser um problema. Além dos inúmeros acidentes de trânsito e da violência associada a episódios de embriaguez, o consumo de Álcool em longo prazo, dependendo da dose, freqüência e circunstâncias, pode provocar um quadro de dependência, mais conhecido como alcoolismo. Desta forma, o consumo inadequado do Álcool é um importante problema de saúde pública, especialmente nas sociedades ocidentais, acarretando altos custos e envolvendo questões médicas, psicológicas, profissionais e familiares.
Eu acredito que hoje em dia, o estilo roqueiro de ser ou pensar, assim como o Rock como gênero musical, não fazem parte exclusiva da trilogia tema do post, bastando observarmos que as drogas podem estar ligadas a qualquer ser humano, estando ele em uma manifestação artística ou não. Por exemplo, nas festas tipo “Rave”, que conhecemos como encontros de músicas eletrônicas, não há a menor preocupação em esconder a existência do grande consumo de drogas. Pessoalmente, eu já trabalhei como médico em diversos eventos de manifestações artísticas: Festas Juninas, Carnaval, Shows de Hip Hop, Rap, Sertanejo e suas variantes inclusive o Universitário, Forró, Reggae, Jazz e muitos outros estilos musicais, e em todos havia uso abusivo de drogas, fossem elas lícitas ou ilícitas.
Concluindo, cito o pensamento de um famoso psicanalista brasileiro, Içami Tima, “o ser humano é o único que pode mudar sua história, pois tem inteligência e criatividade. Basta acrescentar a motivação”.
Enquanto escrevo o próximo post, recomendo que curtam qualquer gênero musical, façam sexo seguro e não usem drogas!
Até a próxima.