CONSTRUÍNDO COLLABS DE SUCESSO!

 

Para os guitarristas que ainda não me conhecem, meu nome é Jorge Mathias, sou baixista profissional e estudei com Nico Assumpção, Arthur Maia além de John Patitucci, na Bass Collective em Nova York (EUA). Já toquei com alguns endorsees da SANTO ANGELO, tais como Alex Martinho, Ricky Furlani e Carlos Maranhão, mas atualmente toco ao lado do guitarrista Dalton Santos na banda Organic Reaction, que tem o CD de estreia já mixado e masterizado.

No entanto, toda essa bagagem não garante que meu trabalho continue sendo reconhecido depois do cancelamento de shows e apresentações devido às medidas para garantir o distanciamento social no combate à propagação da COVID-19 pelo Brasil.

E se esta falta de reconhecimento acontece comigo, depois de tanto tempo de estrada, imagine para quem ainda não se firmou na profissão, como deve ser o caso da maioria dos leitores do blog SANTO ANGELO e até mesmo de você, que me acompanha agora.

Mas fique tranquilo que vou te dar, durante a leitura deste post, o meu testemunho sincero do que eu acho importante para você se tornar mais conhecido através de collabs certeiras e não como a maioria das que tenho assistido ultimamente, que nada acrescentam aos fãs e seguidores.

Para começar, você sabe o que é uma collab?

A melhor definição que encontrei na internet é:

“Collab” é uma palavra que se refere a “colaboração”, ou seja, quando marcas, pessoas, artistas ou empresas colaboram uma com a outra no intuito de ampliar seus públicos, consolidar suas marcas, aumentar sua visibilidade, alcançar mais reconhecimento, conseguir mais vendas.

Eu entendo que “vendas” para nós, músicos, é o reconhecimento pelo público do nosso trabalho, além do aumento do número de seguidores em nossas redes sociais, mas independente de qual seja o seu entendimento, uma colaboração tem como principal intuito o de unir forças em prol de resultados significativos para todos os envolvidos, concorda?

No entanto, o que tenho visto de collabs por aí é uma intensa competição entre os músicos e a palavra “Competição” nos remete a outros dois sentidos: disputa e ganhador/perdedor.

 

Na Música não existe e nem pode existir nem uma coisa, nem outra.

 

Quando músicos se reúnem para compor ou simplesmente tocar, o que acontece é uma troca de informações, uma interação entre esses instrumentistas em prol de um objetivo em comum, que é fazer Música.

Não há vencedores e derrotados nesta união, porque todos saem ganhando.

Não é uma prova para saber quem é o mais virtuoso, quem lê partitura melhor, quem sabe mais harmonia, quem tem mais pegada, ou ainda pior: quem tem o melhor instrumento e acessórios musicais.

Pelo menos não deveria haver esse tipo de preocupação, já que o resultado final é baseado em um mecanismo onde todas as engrenagens onde exercem seu papel e têm sua importância.
Como se fossem um relógio mecânico (e não os digitais) da melhor marca suíça.

E foi exatamente com esse pensamento que criei uma série de collabs chamada “Música não é competição!”, abrindo um espaço para interagir com músicos de diferentes formações, estilos e instrumentos, para juntos, fazermos arte da melhor qualidade.

A ideia era para cada músico convidado gravar um vídeo executando a mesma composição, com o intuito de mostrar que todos poderiam contribuir positivamente, imprimindo suas visōes pessoais no arranjo e mostrando que a Música poderia ganhar novos ares ao ser interpretada por instrumentistas diferentes.

Uma peça fundamental no projeto foi a presença do baterista André Polvo, que atualmente toca na banda da Preta Gil, que prontamente aceitou o convite e abraçou a ideia, entregando uma base incrível, para os músicos convidados desenvolverem suas ideias.

A título de curiosidade usei o Logic Pro X para gravar o áudio por meio de uma placa Focusrite e o Adobe Premiere Pro para editar os vídeos. Filmei com uma câmera Cânon t5i usando lente de 50mm. O set up foi um baixo Tagima Premium com cordas D’Addario de nylon, pré Nig Bass Shaper, compressor AMT, com todos os equipamentos interligados com SANTO ANGELO.

 

O processo se desenrolou da seguinte maneira:

  •  Primeiramente escrevi a levada, o tema principal e o espaço para os solos. Depois de ter gravado minhas partes, enviei para o André adicionar a bateria. Geralmente costumo regravar os baixos usando o track do baterista como referência. Desta maneira, sinto que a gravação fica mais orgânica.
  •  A próxima etapa foi chamar amigos músicos para gravarem suas participações e dar o pontapé inicial. E foi aí que o objetivo desta série realmente ficou claro, e de um jeito bem mais interessante do que o esperado.
  •  Conforme os instrumentistas iam criando suas versões, a composição vestia novas roupagens e ganhava vida própria. A partir de um único tema começaram a surgir arranjos e logicamente músicas completamente diferentes. O primeiro a gravar foi o Renato Soares, seguido de  Dalton Santos e Gustavo di Pádua, todos guitarristas.

Desde a primeira semana pude perceber que a cada vídeo, a composição ia para lugares totalmente distintos e inesperados.

E o fascinante é que não havia uma versão melhor que a outra. Eram simplesmente versões diferentes, pois cada músico imprimia sua própria personalidade mudando a música de acordo com o que ele achava mais adequado.

Tiveram arranjos com uma pegada mais rock/fusion, usando guitarras distorcidas. Teve versão jazzística com guitarra clean. Um tecladista optou por uma interpretação mais progressiva do tema e a cada músico convidado, as influências brasileiras seguiram aparecendo em diversos instrumentos como o bandolim, a viola e o tamborim.

Em resumo, a Criatividade foi o ponto alto desta série, onde alguns músicos dobraram o tema, outros adicionaram uma segunda voz, uns preferiram não fazer o tema e focar apenas na base, uma vez que o baixo já estava executando a melodia principal.

E por fim, teve um músico que criou uma introdução tão diferente e inusitada, que achei que ele tivesse mandando um arquivo diferente. Só quando a bateria entrou, percebi que era a minha composição.

Ou pensando melhor, a música já não era só minha, pois foi ganhando outros co-autores à medida que o projeto se desenrolava. Recapitulando, teve de tudo nesta série.

A maioria dos participantes mandou suas partes (áudio e vídeo) já editadas e mixadas, o que facilitou muito o trabalho e me fez constatar uma realidade.

O músico de hoje tem que entender pelo menos o básico de gravação, mixagem, filmagem e edição de vídeos, pois esses conhecimentos agilizam bastante o trabalho e criam liberdade e independência em relação a terceiros.

A realização destas collabs foi realmente inspiradora, pois cada um contribuiu de maneira única, mostrando que música é colaboração e parceria, estando longe de uma disputa.

 

Não faz sentindo especular que um artista é melhor que outro.

 

Música é arte e arte é subjetiva. Um estilo ou um músico pode agradar ou não, dependendo do tipo de público para quem ele se apresenta e isso não tem referência com a qualidade do intérprete ou da composição, e sim da adequação entre artista e plateia.

Cada um tem sua própria voz na medida que somos únicos e a música nada mais é do que o reflexo de quem somos.

Nossa educação, nossa formação musical, cada livro que lemos, cada música que ouvimos, nossas experiências, sejam elas musicais ou não, nossas influências e os nossos gostos estão implícitos direta ou indiretamente na maneira em que compomos, tocamos e enxergamos a música.

Como recomendações finais a você, que já se decidiu a chamar seus músicos parceiros para uma collab nos moldes que descrevi, aviso que, em um mercado cada vez mais concorrido, a internet possibilita que todos tenham seus próprios espaços.

O importante é acreditar em seu talento, buscar sua identidade artística, ter determinação, estar atento às novas tendências musicais e de marketing e se dedicar.

 

Na verdade, existe sim uma competição, mas ela é interna. É consigo mesmo. É buscar crescer enquanto músico a cada dia.  O caminho é árduo, mas gratificante.

Espero ter sido claro nas minhas palavras e te desejo sucesso em suas próximas collabs.

Abraço forte.

 

 

Jorge Mathias é Baixista e Cantor, além de Bacharel e Mestre em Música pela UFRJ e endorsee SANTO ANGELO, Tagima, Nig, Fire, Grupo Estudio Brazil, Mendes Luthieria e parceiro Boss. Também faz parte do Coro do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e seus vídeos podem ser encontrados no link: youtu.be/9xEdUI3yycE

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