Como diferenciar entre desafios externos e autoimposto?

Olá inspirada leitora e instigado leitor, tudo bom?

Queria confessar uma dúvida que não me sai da cabeça desde que conversei com o Frank Solari no post anterior sobre Vivaldi. Será que você também sentiu isso?

Olhando para trás e pensando sobre o quanto já enfrentamos e ainda vamos enfrentar a cada dia que passa, existindo ou não a vacina contra a COVID-19, podemos refletir sobre quem somos, como vivemos ou mesmo como reagimos aos desafios que nos foram impostos, mais ou menos como essa parte da letra música “Faça Desse Drama” da banda paulista “5 à Seco”, que diz em seu refrão:

Se naufragou, faça desse drama sua hora

Faça disso a hora de recomeçar

Para conviver com a dor

Para a dor também saber passar

Se já passou, dê um sorriso à cara

E vá embora

Esse trecho me fez lembrar o quanto tenho vivido situações nada confortáveis, quase como aquele primeiro pulo na piscina funda, que não dava pé, mas que no meu caso, só não desisti antes porque minha namorada estava perto e me vendo. 

Ou então, se você é músico, como aqueles primeiros acordes com gente olhando, que não foram tão perfeitos quanto esperava que a plateia reagisse?

Se faz ou fez parte de uma banda, lembra daquela composição, que deu um frio na barriga no dia do lançamento, mas que não atingiu o topo das paradas como a banda toda queria?

Você percebeu que cada momento desses foi um desafio colocado de fora para dentro da minha e da sua mente, dos muitos que nos são propostos à exaustão diariamente na mídia?

Ou vai dizer que você nunca viu um filme daquela banda que luta contra todos os perrengues para dar certo, com todos os integrantes superando os milhares de percalços e no final do filme, conseguem chegar lá, só porque todos aceitaram superar os desafios externos?

Você mesmo já deve ter passado por situações onde alguém te colocou na cabeça “ou faz isso, mesmo com adversidades, podendo fracassar ou vencer, ou nunca saberá se poderia ter saído do mesmo lugar, porque não tentou”?

Apesar de não sermos fãs da cultura do coach tóxico, aquela frase “mesmo sabendo que era impossível, foi lá e fez” pode parecer apropriada para o que vou te contar sobre a dúvida que tive logo no começo deste post:

Mas antes quero te lembrar que você pode ouvir este e outros conteúdos do nosso blog SANTO ANGELO no formato de podcast no Spotify, clicando na figura abaixo, ou então buscar (e seguir) por “Blog SANTO ANGELO” em qualquer outro agregador preferido de streaming.

Voltando ao tema de hoje, minha dúvida é saber quando foi a última vez que me desafiei por minha própria vontade. E trazendo você para pensar comigo: quando foi que se desafiou por si mesmo?

Ficou confuso? Deixe-me explicar melhor: No cotidiano, já sabemos que a influência do que nos rodeia acaba gerando provocações de todos os tipos e que atingem diferentes faculdades, habilidades ou mesmo a falta delas em nosso “eu”, como pessoa única no universo.

Fisicamente falando, você já deve ter se deparado com determinado guitarrista (ou outro músico da sua área musical) que demonstrou uma técnica que, até então, julgava impossível de ser feita por alguém com raízes terrenas (só executável por seres de outros planetas). 

Você, já reconhecido como um bom músico entre seus pares e público, sabe que não pode ficar para trás, mas, ao mesmo tempo sabe quais são os seus limites. O que vai fazer?

Só existem 2 opções a seguir: ou diz que não tem mais a agilidade dos seus 20 anos e assume a sua “velhice” ou se posta em frente de um metrônomo, coloca a guitarra no colo e internaliza que não sairá dali até ter, pelo menos, aprendido em como superar aquele guitarrista.

Entendeu agora o que é um auto desafio e não um desafio imposto pelos outros?

Outro exemplo de um desafio imposto pelos outros é quando alguém, da plateia onde está se apresentando, pede uma música de um estilo que você não está acostumado e, outras pessoas vendo que pode ser legal (ou sádico) conferir sua reação tocando esse som, pedem também a mesma música. 

Mas e se você, agora por vontade própria, resolve tocar outros estilos ou compositores somente para aumentar seu repertório ou cultura musical, sem falar na Criatividade?

Percebeu que, além de ter que se adaptar fisicamente para a nova música (técnicas e nuances diversas), você vai precisa derrubar alguns paradigmas já sedimentados pela sua “zona de conforto musical”?

Você sabe muito bem o quanto nós, aqui no blog SANTO ANGELO, o incentivamos a buscar a superação de limites, até mesmo com relação aos instrumentos musicais, como neste post de 2016, porque sabemos que desafios autoimpostos somam muito mais à carreiras que, de fato, se destacarão.

Preste atenção que não estou dizendo que os desafios impostos pelo outros são errados, pois as dificuldades quase incontáveis, as dores presentes e todas essas negatividades podem parecer insuperáveis e até frustrantes, se estiver ou sentir-se sozinho. 

Mesmo assim, muitas vezes conseguirá obliterar tais desafios mudando as perspectivas de como você está enxergando, encarando-os como uma oportunidade evolutiva do grupo que estiver inserido e, claro, pedindo ajuda. 

Desafios externos compartilhados são mais fáceis de superar e geram sentimentos de satisfação em quem estiver envolvido nas soluções, mas será que só isso basta para o seu “eu”?

Repetindo, quando foi a última vez que você se desafiou?

Essa pergunta está colocada novamente, porque é muito capciosa e complicada de responder.

Lembra-se dos posts anteriores que fizemos falando sobre a mente humana? Seus bloqueios, formas de funcionamento, aprendizado e os gatilhos emocionais que disparam em nosso interior, por um determinado motivo? 

Quero que utilize tudo que aprendeu por lá para seguirmos juntos em frente.

O isolamento social, devido à pandemia da COVID-19, acabou colocando bastante gente, por um tempo, em um estado de inércia, como se fossemos ficar para sempre fechados em casa. 

Claro que, em muitos casos, teve gente que aproveitou aqueles momentos para “colocar um sorriso na cara” e compor mais, como mostra esta matéria do Estadão.

Algumas pessoas resolveram se desafiar voltando a estudar Música ou aprimorando ainda mais seus instrumentos musicais, adicionando o termo “multi” antes de instrumentista. 

Outras pessoas derivaram a aprender novas línguas ou mesmo sobre cozinhar melhor, conforme já comentei em um dos primeiros posts sobre o isolamento social. 

Diversas foram atrás de cursos para se aperfeiçoarem, tanto profissionalmente com cursos de tecnologia quanto pessoalmente, aprendendo além de alta Gastronomia, até mesmo os famosos DIY (“Do It Yourself” ou “Faça você mesmo”). 

Quem não parou, era desafiado a repensar hábitos para evitar a contaminação (de si mesmo e dos outros) e respeitar distanciamentos sociais, normas novas de higiene e dinâmicas diferentes no trabalho.

Apesar de extremo, veja exemplos nessa matéria de pessoas que se desafiaram a correr ultramaratonas de 5 mil quilômetros, a cumprirem percursos muito longos de natação que passam por aguas frias, tubarões e ondas gigantes; ou mesmo uma corrida de 220 quilômetros pelo meio à Selva Amazônia, antes dos incêndios, é claro. 

Você não precisa arriscar tanto a vida para se desafiar, mas algo diferente para sair da sua zona de conforto e isso pode ser desde a forma de tocar como a sua visão de mundo.

Como um exemplo de quem se desafia em níveis mais próximos da realidade, recomendamos que assista um papo que nosso endorsee Maurício Alabama fez com o sertanejo Eduardo Costa, onde o cantor humildemente fala de sua paixão por guitarras e do quanto entende que precisa se tornar um músico melhor, entendendo de acordes, técnicas, composição e improvisação.

Desafios pessoais em distância média do dia a dia podemos pensar no padre católico inglês Kenny Petrie, que integra a banda MrSpankey and the Hipthrustes. 

Além de se auto desafiar, tocando guitarra (e detonando, cá entre nós) depois dos 50 anos, ele quebrou o paradigma de que religiosos não tocam músicas seculares e ainda conseguiu integrar uma banda com músicos bem mais novos do que ele.

E para colocarmos algo que parece impossível e impensável de fazer, a Vitória Kethellen mostra que mesmo com adversidades limitantes, se alguém se propõe a fazer, certamente esse alguém se adaptará e fará acontecer.

 

Ela nasceu prematura de 5 meses em uma família que passava por dificuldades financeiras graves (algo bem comum no nosso Brasil, infelizmente). Seus membros não tiveram desenvolvimento completo, porém, isso não a impediu de aprender violão e ukulele (tem vídeos dela tocando Pink Floyd, pode procurar).

As adversidades são muitas, as mudanças no mundo são imparáveis (lembra do Mundo VUCA) mas algo dentro de nós precisa se mexer, fazer acontecer, independente das dificuldades que se levantem à nossa frente.

Esses exemplos e a breve reflexão que fiz nesse post vai de encontro ao que trataremos no próximo, para ver o quão inserido num mundo onde muitos dos “challenges” ficaram para trás e se tornaram novas realidades, onde paradigmas caíram por terra, onde o nosso próprio quintal, o mundo da música, cada dia acorda com um tipo de grama e árvores diferentes.

Considere que, mais do que desafios, cada novo cotidiano traz aprendizados, melhorias e claro, oportunidades para você como músico, como profissional na sua área e mais ainda, como pessoa participante de uma sociedade líquida e ativa.

Depois de tanta reflexão, conte para toda a galera que nos segue: Como anda seu ritmo de desafios? Tem superado muitos deles ou está travado em algum? Pensou em outras saídas para cumprir seus objetivos e metas?

Compartilhando suas experiências ou mesmo pedidos de ajuda é que fazemos com que nosso mundo musical cresça ainda mais, dividindo sucessos ou dores, além de fazer com que cada indivíduo dentro desse louco planeta sonoro, tenha suas oportunidades e consiga expressar sua arte da melhor maneira que lhe convier.

Seguro de que nos veremos, nessas novas realidades desafiadoras, na semana que vem, despedimo-nos.

Um abraço 

 

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Dan Souza (IG: @danhisa) é músico, podcaster (IG: @somnascentepod), profissional de Marketing, Relações Artísticas, Branded Content e Music Business, formado pela UNINOVE.

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