Interação analógico x digital
Olá amigos, tudo bom?
Quero aproveitar essa semana, com o gancho do ultimo post sobre racks, para falar mais sobre um assunto tão interessante e que gera certa polêmica (entre puristas e adeptos da tecnologia) quanto “valvulados x transistorizados” (leia mais aqui): a interação entre o sinal digital e analógico. Meu amigo Kleber K. Shima também já explorou esse tema nesse post e também o consultor de áudio, Denio Costa, nesse outro.
Mas, afinal, o que é melhor?
Há quem diga que analógico e digital são como água e óleo, nunca se misturam. Outra corrente de pensamento (até parece filosofia) concorda que em inúmeras situações ambos se completem, mas nem sempre. Outros acreditam que tudo combina com tudo.
Indiferente da sua visão ou opinião sobre o assunto, entender de que maneira podemos transformar (de acordo com o momento) esses dois recursos em poderosas armas, trabalhando a favor do nosso timbre, torna a conversa muito mais interessante (e as amizades são mantidas, garanto).
Primeiro devemos diferenciar os processadores analógicos e digitais. Os primeiros não convertem o som, mantendo o sinal elétrico. Já o segundo faz duas conversões, iniciando com o sinal analógico tornando-se digital, sendo sua resolução medida em bits, e em seguida, transformando-o novamente de digital para sinal analógico.
Está aí uma das grandes sacadas. Ao entendermos que, o ponto chave na qualidade de um pedaleira digital está no conversor AD/DA (Analogic Digital/Digital Analogic), temos a explicação do porquê de alguns modelos “soarem” mais analógicos que outros.
Vamos um pouco além.
Existem excelentes recursos que podem deixar ainda mais real o som e, ao mesmo tempo, proporcionar a otimização dos recursos que você utiliza, como por exemplo, o uso de drives analógicos ligados ao loop da pedaleira. Os “loops” da pedaleira tem a função de interagir com sistemas externos, acrescentando mais “cor” ao som projetado.
Um exemplo interessante das pedaleiras digitais é a linha BOSS GT onde é possível, na inserção dos pedais em loop, especificarmos qual a posição deles, antes ou depois do pré-amplificador e até o tipo de loop que teremos. Confira na foto abaixo onde nota-se o uso de pedais em uma GT-6:
Nessa ligação, a sequência é a saída pelo SEND onde podemos colocar uma cadeia de pedais analógicos, retornando, no último pedal para a entrada RETURN da pedaleira. Dessa maneira é possível misturarmos o som do pedal analógico ao som processado, com a vantagem de, em apenas uma “pisada,” acionar tudo que você configurou já que, nesse caso, o efeito ficaria ligado o tempo todo e a opção de liberação do sinal vem de um acionamento no switch.
Isso, sem dúvida alguma, tornou mais fácil a vida de quem não usa muito tipos de drive e precisa de vários efeitos.
De uma maneira mais prática, vamos supor que nos bancos da pedaleira eu use respectivamente:
- Som limpo no banco 1;
- Drive com Chorus e Delay no banco 2;
- Drive com Delay em outro tempo e Phaser no banco 3; e
- Drive com Chorus, Reverb, Delay e Harmonizer no banco 4.
Todos esses “presets” poderiam ser acionados com apenas uma pisada mesmo com pedal externo que, estando agora mapeado ao loop, conectou-se à pedaleira, no caso a BOSS GT-6, que só libera o som do Drive externo com o controle do loop de efeitos acionado.
Essa é uma possibilidade muitas vezes deixada de lado pelo mito de que a alteração de um som processado com buffer interno destruiria a qualidade do drive, quando muitas vezes devido a excelente qualidade dos conversores resultam em timbres incríveis.
Esse “nirvana” (não a banda) de interações não se resume aos inseridos em pedaleiras, mas também com pedaleiras que se tornam “footswtiches” ou “midi controlers” de inúmeros equipamentos de ponta como na foto abaixo. Observe o BOSS GT-6 controlando um JVM da Marshall.
O grande truque, nesse exemplo, é possível controlar, através da pedaleira, a escolha de qualquer um dos 4 canais do JVM em conjunto com quantos e quaisquer efeitos da pedaleira seja necessário, simultaneamente (o que, cá entre nós, é estupendo, tendo em vista a praticidade gerada pelo mapeamento de sistemas via MIDI como já falamos na última matéria).
Observando as tendências do mercado, por mais que a tecnologia MIDI tenha ficado em evidência com os racks há algum tempo, ela foi recentemente “esquecida”. Entretanto, sua funcionalidade vem voltando com força total, devido a praticidade e a possibilidade de inserção a equipamentos de ótima qualidade sem comprometer a qualidade final dos resultados.
Lembrando que o MIDI IN do amplificador está conectado ao MIDI OUT da pedaleira (se o amplificador não contar com entrada MIDI, não funciona). Importante também dizer que esses sistemas são encontrados em inúmeras pedaleiras de outras marcas, como por exemplo, a linha POD da Line6 (que funciona da mesma forma).
Mas em geral, enquanto as pedaleiras comuns têm apenas um loop, a concorrência fez fabricantes, como a TC Electronics, revolucionarem o mercado com as linhas “Nova System” e “G System”, que trazem um processador digital de múltiplas funções e excelente qualidade, contando com mais opções de loops e altíssima resolução sonora.
No caso da “Nova System” e também da linha M9 ou M13 da Line6, temos um exemplo de pedaleiras sem os pré-amplificadores e simulações de caixa, com um sistema de buffer interno que se assemelha ao “true by-pass”, trazendo a possiblidade de ligar drives externos sem precisar do loop de efeitos. Os outros pedais entram no INPUT desses pedais e depois de processados, entregam um resultado surpreendente (deixando puristas de queixo caído).
Outra pedaleira que conquistou o mercado internacional, inclusive nos pés de grandes artistas como o grande mestre Steve Vai, foi a “G-System” que trouxe consigo uma proposta inovadora de controle total entre sistemas MIDI, amplificadores e pedais simultaneamente combinados a seus efeitos de alta resolução.
Isso possibilita ao musico que, com apenas uma pisada, tenha controle absoluto de todos os recursos disponíveis.
Fácil!
Confira o exemplo abaixo:
Com relação aos custos, posso afirmar que temos equipamentos que fazem excelente interação digital/analógico com preços muitos acessíveis, encontrados principalmente em modelos mais antigos, mas com ótimas funcionalidades.
Portanto, vale a pena pesquisar qual deles é ideal para o seu som!
Existem muitas opções de produtos disponíveis, mas agora que entendemos o básico disso tudo, de uma maneira prática, tudo ficará muito mais fácil! Entender o funcionamento dos sistemas que integram nosso instrumento nos traz clareza na hora da escolha e na concepção do que realmente vai nos agradar quando falamos de timbres.
Isso faz toda diferença na hora de tocar!
Estar à vontade com o seu setup representa 80% do caminho na busca do seu timbre pessoal ou, se preferir, da sua assinatura sonora.
Gostaram? Então comentem e me mostrem como vocês montam seus sistemas de interação AD/DA. Se não gostaram, me digam como podemos melhorar nossa abordagem da próxima vez.
Enfim, aguardo vocês no próximo post, onde falarei sobre mais um assunto importante à vida do músico. Curioso? Fique de olho nas mídias sociais da SANTO ANGELO e nos meus perfis para aprender um pouco a mais sobre essa maravilhosa carreira de músico.
Um grande abraço e até a próxima.
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Éric Paulussi é guitarrista profissional há 10 anos. Atua também como sideman e professor de Setup de instrumento nas licenciadas do EM&T do interior de São Paulo. Endorsee de marcas nacionais e internacionais, Éric desenvolve workshops passando conhecimentos sobre assuntos envolvendo guitarra e tecnologia.