Lições da Pandemia: Rádio ou Streaming?
Olá sintonizada leitora e audível leitor, tudo bom?
Fale a verdade: você não está cansado de tanto ouvir as pessoas reclamando da pandemia e de como o isolamento e a suspensão das apresentações musicais “detonou” toda uma classe artística que não sabe fazer outro trabalho?
Para essa galera, mais abalada emocionalmente com a dura realidade, preparamos a série de posts sobre saúde mental, barreiras mentais, gatilhos emocionais, hábitos e Derrota Social. Se você estiver chegando agora ao blog SANTO ANGELO invista um tempinho para lê-los porque são resultado de muita pesquisa que fizemos para que você tenha uma curadoria de quem pensa sempre no músico.
Mas nem tudo são más notícias, não é mesmo?
A revista VEJA, edição no 2708, de 14 de outubro de 2020, publicou um artigo bastante interessante cuja chamada “As Guitarras Renascem na Quarentena” que trata do aumento de vendas de instrumentos musicais em nosso país.
Claro que a SANTO ANGELO, sempre pensando nos músicos que vivem da música, já tinha sentido o aumento da procura por professores de Música, quando tratamos desse fenômeno nesse post de 15 de abril de 2020.
Aliás, sempre incentivamos que mais músicos se dedicassem à carreira de professor, como nesse post de 2016 e outro mais recente de 2019.
No entanto, hoje temos uma “professora” muito mais difícil, cujas lições nos são postas no melhor estilo socrático, quando somos forçados a encontrar as respostas por nós mesmos.
O nome dessa “professora” é PANDEMIA.
E quais lições a PANDEMIA tem ensinado a todos nós, que buscamos soluções para seguirmos em frente, vivendo da Música? O que você aprendeu até agora com essa “professora”?
Bem, não vamos encontrar todas as lições aprendidas somente nesse post, mas sem dúvida alguma, muito mais pessoas estão usando seus smartphones para facilitar a vida. Até as lojas, que nunca venderam pela internet, hoje o fazem com muito menos preconceitos que tinham antes de março de 2020.
E você, como músico, certamente está usando muito mais o Streaming, que tratamos nesse post para divulgar suas músicas, acertei?
Depois de uma “tsunami” de conhecimentos sobre o comportamento humano e o quanto aprender com a nossa mente nos faz pessoas mais preparadas para enfrentar a liquidez da vida, hoje vamos mudar um pouco nosso foco das ondas cerebrais (elas voltam, fique tranquilo) para as ondas que transmitem os dados e os transformam nas músicas que escutamos diariamente.
Apesar de sabermos que as ondas invisíveis que rodeiam quase todas as pessoas do mundo enviam dados de lá para cá, elas têm funções distintas.
Algumas levam seu SMS, via ondas da telefonia, outras trazem os dados daquele podcast que você ouve semanalmente (como o nosso, que você já conhece bem) e mais algumas transmitem o seu programa de rádio favorito.
Apesar de uma música um pouco antiga, nosso ex-Ministro da Cultura, Gilberto Gil, faz uma boa metáfora dessas ondas virtuais na música “Pela Internet”, de 1997, que além de ser um ótimo guia para quem quer montar uma estratégia online (sim, ele começa montando um site) mostra-nos o seguinte trecho:
“Um barco que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve meu e-mail até Calcutá
Depois de um hot-link
Num site de Helsinque
Para abastecer”
Um reconhecimento de que a Internet quebraria barreiras politicamente impostas (as famosas fronteiras) para que os músicos pudessem consumir ou distribuir suas músicas para qualquer lugar no mundo.
Reparou que essa música e respectiva premonição já tem mais de 20 anos?
Enquanto procura de que ano é a música do Gil, gostaria de te lembrar que pode ouvir este e outros conteúdos do nosso blog SANTO ANGELO no formato de podcast no Spotify, clicando na figura abaixo, ou então buscar (e seguir) por “Blog SANTO ANGELO” em qualquer outro agregador de Streaming.
Com o crescente domínio da internet nas nossas vidas e desde que a “mestra” PANDEMIA começou suas aulas, nossa comunicação depende cada vez mais daquela LIVE ou vídeo chamada no Whatsapp / Streaming que nos deixa relaxar em algum momento do dia.
Nesse contexto, muita gente pensou que as formas analógicas de consumo musical pareciam fadadas a desaparecer: as músicas do programa de rádio com aquele carismático apresentador seriam substituídas pela inteligência artificial do Streaming, cujo algoritmo irá mostrar músicas que você, quase com certeza, gostará por se “ajustarem” ao seu gosto musical.
Esse cenário poderia responder, com certa facilidade, a melhor opção à proposta do título deste post, se pensarmos em 4 ou 5 anos atrás.
Porém, A PANDEMIA está nos mostrando que o rádio, mais do que nunca, entende a questão do Streaming e dos podcast, agregando-os ao seu funcionamento para se beneficiar desses movimentos.
AM e FM continuam relevantes no cenário brasileiro.
Estudo divulgado pela Kantar Ibope Media em 2019, feito em 13 regiões metropolitanas, mostra que cerca de 83% da população ainda ouve rádio e que, dessa fatia, cerca de 60% o fazem diariamente. Fora o tempo de rádio que fica em torno das 4h30m.
Faz tempo, a gente já falou por aqui sobre o papel do rádio na expansão do consumo de música e o quanto isso também é marco zero da formação de muitos streamings.
Um meio de comunicação tão importante, forte e ainda por cima, “inventado” por um padre brasileiro (italianos torcem seus bigodes agora) não poderia apenas morrer, por isso, se adaptou.
A movimentação de oferecer o conteúdo tanto na internet como em aplicativos próprios, seja ele para ser consumido ao vivo ou “à la carte”, fez com que as rádios se tornassem também podcasts.
Em um comparativo do mesmo estudo, o tempo de consumo médio dedicado às rádios que tem suas versões online chegou a 2h40m diários, enquanto a média do streaming ficou em 2h31m.
Os públicos são bem equilibrados entre homens e mulheres (quase metade para cada lado, dentro das margens de erro). Classes sociais também estão bem representadas, tendo uma boa divisão, com destaque da classe C (renda per capita entre R$ 291,00 e R$ 1.019,00).
Ou seja, o rádio atinge uma fatia muito maior da população do que os Streamings.
Outro ponto que se observa é que o pico de consumo do rádio é muito diferente da internet: enquanto no primeiro atrai audiência mais no começo do dia (até meio dia), o streaming começa a ter sua subida após as 14:00.
Você, que é músico, já consegue enxergar uma estratégia para seus futuros lançamentos?
E pasme: 70% das pessoas ouvem rádio em casa, seja fazendo suas tarefas do dia a dia ou mesmo naquele momento de relaxamento prestando atenção no seu programa favorito. Ou seja, ainda é um meio de comunicação tão presente quanto a televisão e o smartphone na vida das pessoas.
FALANDO DE MÚSICA
Vamos para os números mais focados na sonora arte, onde 62% das pessoas entrevistadas consideram que a Música constitui parte importantíssima da vida.
Aqui no Brasil, Sertanejo, Pop Internacional, Pop Nacional, Pagode e Gospel dominam as programações e preferências.
Desse pessoal, um dado muito interessante é que 77% do público que participou da pesquisa sabem o quanto é importante aprender coisas novas no decorrer da vida.
Façamos juntos esse cruzamento:
Pessoas que enxergam a música como importante + pessoas que enxergam que aprender é importante = possíveis novos companheiros para nós na música, certo?
FALANDO DE INFORMAÇÃO
Altas porcentagens (acima de 70%) também buscam informação no rádio, com jornais, programas de entrevista ou programas com storytelling (algumas rádios estão arriscando isso para competir com os podcasts).
A qualidade de produção das duas vertentes acaba se somando e fazendo um “cross media” (quando existe uma migração que soma plataformas ao conteúdo) que ainda cobra da qualidade do conteúdo.
Se você não percebe o esmero na criação de um podcast ou mesmo de um programa de rádio, possivelmente, vai abandoná-lo em breve.
Com a adaptação de conteúdos informativos (seja de esportes, política ou qualquer outro tema) para a internet, a podosfera cresceu com esses gigantes do rádio.
Essa movimentação que é vista por ambos os lados como muito positiva, pois um ouvinte só de rádio acaba conhecendo a mídia podcast e os consumidores assíduos de podcast acabam encontrando programas que se adequam aos seus gostos na rádio.
FALANDO DE GUERRA
Na nossa opinião, a única guerra que acontece é a da desinformação, pois streamings, podcasts e rádios somam forças em uma frente naval que visa desbravar novas ilhas cheias de pessoas interessadas em música e informação e que utilizam boa parte do seu tempo para isso.
É difícil enxergar um conflito que todos ganham, não é?
Interessante também trazer a visão dos Millennials para a mesa.
No artigo “Substitutability and complementarity of broadcast radio and music streaming services: The millennial perspective” (“Substituibilidade e complementaridade de serviços de transmissão de rádio e streaming de música: a perspectiva dos Millennials” em tradução livre) escrito pela Universidade da Flórida em parceria com a sul coreana Universidade de Kyungnam eles analisaram respostas de cerca de 1.100 pessoas entre 18 e 36 anos.
Primeiramente, fizeram um corte de consumo de rádio convencional, aplicativos de rádio e aplicativos de streaming. Depois o motivo desse consumo foi dividido entre escapismo, entretenimento, informação, socialização e passatempo.
Descobriu-se que o entretenimento é o maior motivador nas três plataformas. Em segundo lugar, o rádio é visto como passatempo e os apps de rádio e streaming, vistos como escapismo da realidade do dia a dia.
Os millennials também enxergam o rádio (aparelho e app) como complementar ao streaming, e não como um substituto, ainda mais quando buscam pontos de socialização.
Claro que não é o ideal visto o tipo de comportamento mais individualizado que essa geração tem que demanda mais controle no conteúdo e horários.
As pessoas que usam rádio complementaram que enxergam que falta um pouco mais de customização e interação no formato “broadcast”.
O que podemos tirar de mais importante dessa visão para o mercado da música é a adaptação.
Leviatãs antigos se misturando com nossos deuses dos mares musicais para a construção de um Olimpo sonoro que tenha espaço para todos.
Entendeu agora como a PANDEMIA pode te ensinar lições surpreendentes? Pense nessa movimentação e descubra, através dos números e de estudos mais aprofundados, como você pode continuar sua carreira de sucesso.
Agora comente conosco: Têm equilibrado seu tempo de streaming com tempo de rádio? Conhece emissoras de ondas curtas que façam programas interessantes ou que migraram para essa nova realidade com sucesso?
Suas impressões e conhecimentos são sempre muito bem vindos para somarmos a esse oceano de saberes diversos que só tornam nossa fauna musical mais completa. Compartilhe.
Com a certeza de que nós ouviremos, via ondas de dados ou de rádio, na semana que vem, despedimo-nos.
Um abraço!
—-
Dan Souza (IG: @danhisa) é músico, podcaster (IG: @somnascentepod), profissional de Marketing, Relações Artísticas, Branded Content e Music Business, formado pela UNINOVE.
TRILHA
Rádio – Rammstein
Rádio Pirata – RPM
Radio Gaga – Queen
Com O Rádio Ligado – Rádio Taxi
Pela Internet – Gilberto Gil
PODCAST
Effects: Activision, Apple, Viva, Warner Bros, Youtube (Arquivo CC). Music: “Born this Way” de Lady Gaga, “Cheia de Manias” de Raça Negra, “Com o Rádio Ligado” de Radio Taxi, “Ele me Guarda” de PG, “Evidências” de Chitãozinho & Xororó, “MUSIC” de SID, “Pela Internet” de Gilberto Gil, “Radio” de Rammstein, “Radio Ga Ga” de Queen, “Rádio Pirata” de RPM, “S” de SID, “Show das Poderosas” de Anitta & “Tudo Bem” de Luana Mascari.